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Como Eu Era Antes de Voce - Jojo Moyes

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— As luzes estarão apagadas — explicou. — Ninguém vai olhar para você.<br />

Todos estarão atentos à música.<br />

— Você não enten<strong>de</strong> nada <strong>de</strong> mulher — falei.<br />

Acabei trazendo no ônibus quatro roupas diferentes, penduradas na velha capa<br />

para ternos <strong>de</strong> meu pai. <strong>Era</strong> a única maneira.<br />

Nathan chegou às cinco e meia para o intervalo do chá e, enquanto ele<br />

cuidava <strong>de</strong> Will, fui para o banheiro me arrumar. Primeiro, experimentei a roupa<br />

mais “artística”, um vestido ver<strong>de</strong> larguinho com enormes contas <strong>de</strong> âmbar<br />

aplicadas. <strong>Eu</strong> achava que as pessoas que iam a concertos <strong>de</strong>viam ser bem<br />

artísticas e exibidas. Tanto Will quanto Nathan olharam para mim assim que<br />

entrei na sala.<br />

— Essa roupa, não — disse Will, direto.<br />

— Parece algo que a minha mãe usaria — acrescentou Nathan.<br />

— Você não me contou que era filho <strong>de</strong> Nana Moskouri — disse Will.<br />

Os dois riram enquanto eu voltava para o banheiro.<br />

A segunda roupa era um vestido preto bem sério, <strong>de</strong> corte enviesado, gola e<br />

punhos brancos, que eu mesma tinha feito. Para mim, ele era ao mesmo tempo<br />

chique e parisiense.<br />

— Parece que você vai servir os sorvetes — disse Will.<br />

— Nossa, colega, você daria uma boa empregada doméstica — disse Nathan,<br />

elogiando. — Você <strong>de</strong>via usar essa roupa em um evento diurno. Devia mesmo.<br />

— Daqui a pouco vai pedir para ela espanar o rodapé.<br />

— Já que você comentou, essa roupa está mesmo um pouco empoeirada.<br />

— Amanhã, vocês dois tomarão chá com <strong>de</strong>tergente.<br />

Descartei a terceira roupa — calça amarela <strong>de</strong> boca <strong>de</strong> sino —, já prevendo<br />

que Will ia lembrar do ursinho Rupert e sua calça amarela, então vesti a quarta<br />

opção, um antigo vestido <strong>de</strong> cetim vermelho-escuro. O mo<strong>de</strong>lo fazia parte <strong>de</strong> uma<br />

fase minha mais frugal e eu sempre rezava para o zíper passar pela minha<br />

cintura, mas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>le cava com a silhueta <strong>de</strong> uma estrela <strong>de</strong> cinema dos anos<br />

1950. <strong>Era</strong> um vestido “sensação”, daqueles que fazem quem usa se sentir bem.<br />

Coloquei um bolero prata sobre os ombros, cobri o <strong>de</strong>cote com uma echarpe <strong>de</strong><br />

seda cinza, passei um batom combinando e entrei na sala.<br />

— Ulalá — exclamou Nathan, admirado.<br />

Will olhou o vestido <strong>de</strong> cima a baixo. Só então vi que ele estava <strong>de</strong> terno. Barba<br />

feita e cabelo penteado, o que o <strong>de</strong>ixou muito bonito. Não consegui conter o<br />

sorriso ao vê-lo. Não tanto pela sua aparência, mas pelo esforço em se arrumar.<br />

— É esse — disse ele. Sua voz estava inexpressiva e contida. E quando ajeitei a<br />

gola, ele completou: — Mas tire o bolero.<br />

Tinha razão. <strong>Eu</strong> sabia que não estava muito bom. Tirei, dobrei com cuidado e<br />

o coloquei no encosto da ca<strong>de</strong>ira.<br />

— E a echarpe também.

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