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Como Eu Era Antes de Voce - Jojo Moyes

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No sábado <strong>de</strong> manhã, fui à biblioteca. Acho que não voltava lá <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que estava no<br />

colégio, certamente por medo <strong>de</strong> que lembrassem do livro <strong>de</strong> Ju<strong>de</strong> Blume que<br />

perdi no segundo ano. Temia que, ao passar pelas colunas vitorianas da entrada,<br />

algum funcionário esten<strong>de</strong>sse a mão gru<strong>de</strong>nta para me cobrar as quatro libras <strong>de</strong><br />

multa.<br />

O local não era mais como eu me lembrava. Meta<strong>de</strong> dos livros tinha sido<br />

substituída por CDs e DVDs, havia gran<strong>de</strong>s prateleiras cheias <strong>de</strong> audiolivros e até<br />

<strong>de</strong> cartões <strong>de</strong> cumprimentos. E o lugar não era nada silencioso. O som <strong>de</strong> música<br />

e palmas vinha do setor dos livros infantis, on<strong>de</strong> alguma mãe com um grupo <strong>de</strong><br />

bebês estava com a corda toda. As pessoas liam revistas e conversavam baixinho.<br />

A seção on<strong>de</strong> os mais velhos costumavam dormir em cima dos jornais gratuitos<br />

tinha sumido, substituída por uma gran<strong>de</strong> mesa oval com computadores. Sentei,<br />

<strong>de</strong>sajeitada, na frente <strong>de</strong> um <strong>de</strong>les, esperando que ninguém reparasse em mim.<br />

Computadores, assim como livros, são coisas que pertencem à minha irmã. Por<br />

sorte, os funcionários parecem prever o medo que pessoas como eu sentem. Um<br />

bibliotecário veio até a minha mesa e me entregou um cartão e um papel<br />

plasticado com as instruções. Ele não cou atrás <strong>de</strong> mim, só me avisou, em um<br />

sussurro, que estaria à minha disposição caso eu precisasse <strong>de</strong> ajuda e me <strong>de</strong>ixou<br />

sentada sozinha com meu estranho casaco <strong>de</strong> capuz e a tela em branco.<br />

Há anos, o único computador que uso é o <strong>de</strong> Patrick. Ele só usa para baixar<br />

programas <strong>de</strong> ginástica ou comprar livros técnicos <strong>de</strong> esportes na Amazon. Se faz<br />

mais alguma outra coisa no computador, prero não saber. Mas obe<strong>de</strong>ci a<br />

orientação do bibliotecário, segui cada passo e, por incrível que pareça, <strong>de</strong>u certo.<br />

Não só <strong>de</strong>u certo como achei fácil.<br />

Quatro horas <strong>de</strong>pois, eu tinha iniciado a minha lista.<br />

E ninguém falou no livro <strong>de</strong> Judy Blume. Deve ter sido porque usei o cartão da<br />

minha irmã.<br />

No caminho <strong>de</strong> volta para casa, parei na papelaria e comprei um calendário.<br />

Não daqueles que tem uma ilustração diferente a cada mês ou então uma linda<br />

foto do Justin Timberlake ou pôneis da montanha. <strong>Era</strong> um calendário <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>,<br />

daqueles que você coloca no escritório, com os feriados nacionais <strong>de</strong>vidamente<br />

assinalados. Comprei-o com a eciente rapi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> quem adora mergulhar em<br />

tarefas administrativas.<br />

Abri o calendário no meu quartinho, pendurei-o atrás da porta e marquei o dia<br />

em que comecei a trabalhar nos Traynor, no início <strong>de</strong> fevereiro. Depois, contei os<br />

meses que faltavam e assinalei o dia doze <strong>de</strong> agosto, para o qual agora faltava<br />

apenas quatro meses. Dei um passo para trás e quei olhando para ele por um<br />

tempo, tentando fazer com que a pequena marcação em preto evi<strong>de</strong>nciasse um<br />

pouco do peso que tinha. E então percebi com o que eu estava lidando.<br />

<strong>Eu</strong> tinha <strong>de</strong> preencher os pequenos retângulos brancos do calendário com um<br />

monte <strong>de</strong> coisas que pu<strong>de</strong>ssem causar felicida<strong>de</strong>, alegria, satisfação ou prazer.

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