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Como Eu Era Antes de Voce - Jojo Moyes

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— Sua vadia maluca!<br />

— Você anda dando amassos naquele monstro vesgo e cheio <strong>de</strong> doenças que<br />

trabalha na garagem e eu é que sou a vadia maluca?<br />

Mamãe virou-se para papai:<br />

— Você gostaria <strong>de</strong> uma xícara <strong>de</strong> chá, Bernard? Acho que está cando um<br />

pouco frio.<br />

Meu pai não tirou os olhos da porta da vizinha.<br />

— Seria ótimo, querida. Obrigado.<br />

Foi quando mamãe entrou em casa que reparei no carro. Foi tão inesperado<br />

que a princípio não o reconheci — a Merce<strong>de</strong>s azul-marinho da Sra. Traynor,<br />

discreta e <strong>de</strong> suspensão baixa. Ela abriu a porta, observando a cena na calçada, e<br />

hesitou por um instante antes <strong>de</strong> sair do carro. Ela cou parada, encarando as<br />

várias casas, talvez conferindo os números. E então, me viu.<br />

Saí do vestíbulo e percorri o caminho para carros antes que papai perguntasse<br />

aon<strong>de</strong> eu ia. A Sra. Traynor permaneceu ao lado da multidão, olhando para o<br />

caos como Maria Antonieta olharia para um bando <strong>de</strong> camponeses revoltados.<br />

— Briga doméstica — expliquei.<br />

Ela <strong>de</strong>sviou o olhar, como se estivesse quase constrangida por ter sido pega<br />

observando a cena.<br />

— Sei.<br />

— Para os padrões <strong>de</strong>les, é completamente construtivo. Quase uma terapia <strong>de</strong><br />

casal.<br />

O elegante tailleur <strong>de</strong> lã que ela usava, as pérolas e o cabelo <strong>de</strong> aparência<br />

chique bastavam para <strong>de</strong>stacá-la na nossa rua, no meio das calças <strong>de</strong> moletom e<br />

dos tecidos baratos e <strong>de</strong> cores berrantes das lojas <strong>de</strong> <strong>de</strong>partamento. Ela tinha uma<br />

aparência rígida, pior do que a daquela manhã em que chegou em casa e me<br />

encontrou dormindo no quarto <strong>de</strong> Will. Registrei em alguma parte distante da<br />

minha mente que eu não sentiria falta <strong>de</strong> Camilla Traynor.<br />

— Estava pensando se você e eu po<strong>de</strong>ríamos ter uma conversinha. — Ela<br />

precisou erguer a voz para se fazer ouvir acima da agitação.<br />

A Sra. Grisham agora jogava pela janela os vinhos nos do marido. Cada<br />

garrafa que explodia no chão era saudada com gritos <strong>de</strong> <strong>de</strong>leite e mais um<br />

sincero acesso <strong>de</strong> raiva e apelos do Sr. Grisham. Um rio <strong>de</strong> vinho tinto escorria<br />

por entre os pés da multidão, para <strong>de</strong>ntro do bueiro.<br />

Lancei um olhar para aquela confusão, e <strong>de</strong>pois virei para trás, para a nossa<br />

casa. Não conseguia pensar em levar a Sra. Traynor para a nossa sala da frente,<br />

com aquela confusão <strong>de</strong> trens <strong>de</strong> brinquedo, o vovô roncando silenciosamente<br />

diante da TV, mamãe borrifando essências para disfarçar o cheiro das meias <strong>de</strong><br />

papai e Thomas aparecendo para mumurar veado para as visitas.<br />

— Hum... não é uma boa hora.<br />

— Talvez possamos conversar no meu carro? Olhe, só cinco minutos, Louisa.

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