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Como Eu Era Antes de Voce - Jojo Moyes

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era cúmplice do segredo dos Traynor. Indisposta e indiferente, liguei para Patrick<br />

para avisar que não estava bem e ia car em casa. Tudo certo, ele estava numa<br />

corrida <strong>de</strong> <strong>de</strong>z quilômetros, disse. Provavelmente, não teria terminado suas<br />

ativida<strong>de</strong>s no clube <strong>de</strong> atletismo antes das nove da noite. Nós nos veríamos no<br />

sábado. Ele pareceu distraído, como se já estivesse em outro lugar, mais além,<br />

em alguma pista <strong>de</strong> corrida mítica.<br />

<strong>Eu</strong> não quis jantar. Fiquei na cama até meus pensamentos escurecerem e se<br />

solidicarem ao ponto <strong>de</strong> eu não aguentar mais o peso <strong>de</strong>les, e, às oito e meia,<br />

<strong>de</strong>sci e quei sentada silenciosamente vendo TV, empoleirada ao lado <strong>de</strong> vovô,<br />

que era a única pessoa na nossa família que com certeza não iria me perguntar<br />

nada. Ele estava sentado em sua poltrona predileta e olhava xamente para a tela<br />

com intensos olhos vidrados. <strong>Eu</strong> nunca tinha certeza se ele assistia ao programa<br />

ou se sua mente estava em algo completamente diferente.<br />

— Tem certeza que não quer que eu faça nada para você, querida? —<br />

mamãe apareceu ao meu lado com uma xícara <strong>de</strong> chá. Para nossa família, não<br />

havia nada que não pu<strong>de</strong>sse ser resolvido com uma xícara <strong>de</strong> chá.<br />

— Não. Estou sem fome, obrigada.<br />

Vi a forma como ela olhou para papai. <strong>Eu</strong> sabia que, <strong>de</strong>pois, haveria<br />

murmúrios secretos sobre como os Traynor estavam me fazendo trabalhar<br />

<strong>de</strong>mais, e como o estresse <strong>de</strong> cuidar daquele inválido era muito pesado. <strong>Eu</strong> sabia<br />

que eles se culpariam por me incentivarem a aceitar o emprego.<br />

<strong>Eu</strong> precisava <strong>de</strong>ixá-los pensar que tinham razão.<br />

* * *<br />

Paradoxalmente, no dia seguinte Will estava <strong>de</strong> bom humor —<br />

surpreen<strong>de</strong>ntemente falante, cheio <strong>de</strong> opiniões, provocador. Ele falou mais do que<br />

no dia anterior. Foi como se quisesse discutir comigo, e se <strong>de</strong>sapontou quando eu<br />

não entrei no jogo.<br />

— Quando você vai terminar o trabalho?<br />

<strong>Eu</strong> estava limpando a sala. Olhei, batendo as almofadas do sofá.<br />

— Que trabalho?<br />

— Meu cabelo. Está pela meta<strong>de</strong>. Pareço um daqueles órfãos vitorianos. Ou<br />

um londrino idiota. — Ele virou a cabeça para que eu pu<strong>de</strong>sse ver melhor minha<br />

obra. — A menos que essa seja uma <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>monstrações <strong>de</strong> estilo alternativo.<br />

— Quer que eu continue a cortar?<br />

— Bom, achei que isso a <strong>de</strong>ixava feliz. E seria ótimo não parecer que vivo<br />

num hospício.<br />

Peguei uma toalha e a tesoura em silêncio.<br />

— Nathan está <strong>de</strong>nitivamente mais feliz agora que pareço um sujeito normal<br />

— disse ele. — Embora ele tenha observado que, agora que minha cara voltou ao

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