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Como Eu Era Antes de Voce - Jojo Moyes

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9<br />

Não dormi aquela noite. Fiquei <strong>de</strong>itada no meu quarto olhando o teto e<br />

reconstruindo cuidadosamente os dois últimos meses com base no que eu agora<br />

sabia. Foi como se tudo tivesse sido modicado, fragmentado e rearrumado <strong>de</strong><br />

outra maneira, em um padrão que eu mal reconhecia.<br />

Senti-me enganada, a estúpida subordinada que não sabia o que estava<br />

acontecendo. Senti que eles <strong>de</strong>viam ter rido escondido <strong>de</strong> minhas tentativas <strong>de</strong><br />

oferecer legumes para Will comer, ou <strong>de</strong> cortar seus cabelos — pequenas coisas<br />

para fazê-lo se sentir melhor. Qual tinha sido o sentido <strong>de</strong> tudo isso, afinal?<br />

Repassei diversas vezes a conversa que ouvi, tentando interpretá-la <strong>de</strong> algum<br />

outro jeito, tentando convencer a mim mesma <strong>de</strong> que eu havia entendido mal o<br />

que eles disseram. Mas a Dignitas não era exatamente o lugar a que se ia para<br />

tirar umas férias. <strong>Eu</strong> não conseguia acreditar que Camilla Traynor pu<strong>de</strong>sse<br />

pensar em fazer aquilo com o lho. Sim, eu a achava fria, e sim, esquisita perto<br />

<strong>de</strong>le. <strong>Era</strong> difícil imaginá-la fazendo carinho em Will, como minha mãe fazia<br />

conosco (<strong>de</strong> maneira rme, jovial) até nos afastarmos nos retorcendo, pedindo<br />

para ela nos soltar. Para ser sincera, eu achava que era assim que a classe alta<br />

lidava com os lhos. Anal, eu tinha acabado <strong>de</strong> ler o livro <strong>de</strong> Will, Love in a Cold<br />

Climate. Mas, ativamente, concordar em colaborar na morte do próprio filho?<br />

Pensando em retrospecto, o comportamento <strong>de</strong>la parecia ainda mais frio,<br />

suas ações imbuídas <strong>de</strong> alguma intenção funesta. <strong>Eu</strong> estava furiosa com ela, e<br />

com Will. Furiosa com eles por me fazerem acreditar numa fachada. Furiosa<br />

por todas as vezes em que quei pensando em como po<strong>de</strong>ria melhorar as coisas<br />

para ele, fazê-lo se sentir confortável ou feliz. Quando não cava furiosa, eu cava<br />

triste. <strong>Eu</strong> podia me lembrar da sutil interrupção na voz <strong>de</strong>la ao tentar confortar<br />

Georgina, e me senti muito triste por ela. Ela estava, eu sabia, numa posição<br />

insuportável.<br />

Mas, acima <strong>de</strong> tudo, eu me senti tomada <strong>de</strong> horror. Estava assustada com o<br />

que agora sabia. <strong>Como</strong> alguém po<strong>de</strong> viver com a consciência <strong>de</strong> que está apenas<br />

<strong>de</strong>ixando os dias correrem até sua própria morte? <strong>Como</strong> po<strong>de</strong>ria esse homem,<br />

cuja pele, hoje <strong>de</strong> manhã, eu tinha sentido sob meus <strong>de</strong>dos — cálida e<br />

viva —, querer simplesmente acabar consigo mesmo? <strong>Como</strong> po<strong>de</strong>ria ser que,<br />

com o consentimento <strong>de</strong> todos, dali a seis meses, essa mesma pele estaria se<br />

<strong>de</strong>compondo embaixo da terra?<br />

<strong>Eu</strong> não podia contar para ninguém. E isso era quase o pior <strong>de</strong> tudo. <strong>Eu</strong> agora

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