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O Gato Preto de Edgar Allan Poe

Capa feita usando o Illustrator, mockup feito no Photoshop e diagramação do livro no Indesign. Esse trabalho foi uma atividade acadêmica do quarto semestre de design gráfico na Universidade Anhembi Morumbi. Por Ian de Mello Stiepcich

Capa feita usando o Illustrator, mockup feito no Photoshop e diagramação do livro no Indesign.

Esse trabalho foi uma atividade acadêmica do quarto semestre de design gráfico na Universidade Anhembi Morumbi.

Por Ian de Mello Stiepcich

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dificulda<strong>de</strong> que minha mulher, uma criada e eu conseguimos escapar<br />

do incêndio. A<br />

<strong>de</strong>struição foi completa. Todos os meus bens materiais foram<br />

<strong>de</strong>struídos, e daí em diante mergulhei no <strong>de</strong>sespero.<br />

Sou superior à fraqueza <strong>de</strong> procurar estabelecer uma sequência <strong>de</strong><br />

causa e efeito entre a atrocida<strong>de</strong> e o <strong>de</strong>sastre. Limito-me, porém, a narrar<br />

uma ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> acontecimentos e não quero <strong>de</strong>ixar nem um elo sequer<br />

incompleto. Nos dias que se suce<strong>de</strong>ram ao incêndio, visitei as ruínas.<br />

As pare<strong>de</strong>s, à excepção <strong>de</strong> uma, tinham abatido por completo. Esta<br />

excepção era constituída por um tabique interior, não muito espesso,<br />

que estava sensivelmente no meio da casa, e <strong>de</strong> encontro ao qual antes<br />

ficava a cabeceira da minha cama. O reboco resistira em gran<strong>de</strong> parte à<br />

ação do fogo, fato que atribuo a ter sido pouco antes restaurado.<br />

Próximo <strong>de</strong>sta pare<strong>de</strong> juntara-se uma <strong>de</strong>nsa multidão e muitas<br />

pessoas pareciam estar a examinar certa zona em particular, com minúcia<br />

e gran<strong>de</strong> atenção. A minha curiosida<strong>de</strong> foi <strong>de</strong>spertada pelas palavras<br />

“estranho”, “singular” e outras expressões semelhantes. Aproximei-me<br />

e vi, como se fora gravado em baixo revelo, sobre a superfície branca,<br />

a figura <strong>de</strong> um gato gigantesco. A imagem estava <strong>de</strong>senhada com uma<br />

precisão realmente espantosa. Em volta do pescoço do animal estava<br />

uma corda.<br />

Mal vi a aparição, pois nem podia pensar que doutra coisa se<br />

tratasse, o meu assombro e o meu terror foram imensos. Por fim, a<br />

reflexão veio em meu auxílio. Lembrei-me que o gato fora enforcado<br />

num jardim junto à casa. Após o alarme <strong>de</strong> incêndio, o dito jardim fora<br />

imediatamente invadido pela multidão e por alguém que <strong>de</strong>ve ter cortado<br />

a corda do gato e o <strong>de</strong>ve ter lançado para <strong>de</strong>ntro do meu quarto, por uma<br />

janela aberta. Isto <strong>de</strong>ve ter sido feito, provavelmente, com a intenção<br />

<strong>de</strong> me acordar. A queda das outras pare<strong>de</strong>s tinha comprimido a vítima<br />

da minha cruelda<strong>de</strong> na substância do reboco recentemente aplicado e<br />

cuja cal, combinada com as chamas e o amoníaco do cadáver, tinha<br />

produzido a imagem tal como eu a via.<br />

Tendo assim satisfeito prontamente a minha razão - que não<br />

totalmente a minha consciência - sobre o fato extraordinário atrás<br />

<strong>de</strong>scrito, não <strong>de</strong>ixou este, no entanto, <strong>de</strong> causar profunda impressão na<br />

minha imaginação. Durante meses não consegui libertar-me do fantasma<br />

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