Gestão Hospitalar N.º 14 2018
Entrevista a Usman Khan, European Health Management Association
Entrevista a Usman Khan, European Health Management Association
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JULHO AGOSTO SETEMBRO <strong>2018</strong><br />
Edição Trimestral<br />
N<strong>º</strong> <strong>14</strong><br />
GESTÃO<br />
HOSPITALAR<br />
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA aSSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE ADMINISTRADORES HOSPITALARES<br />
PROJETO PILOTO<br />
Patient Blood<br />
Management:<br />
A mudança<br />
do modelo<br />
de governação<br />
SERVIÇO NACIONAL<br />
DE SAÚDE<br />
Os Cuidados<br />
de Saúde Primários<br />
como pilar central<br />
do Serviço Nacional<br />
de Saúde<br />
CASE STUDY<br />
Fast Track<br />
do Tratamento<br />
Cirúrgico das<br />
Fraturas do Colo<br />
do Fémur<br />
ESPAÇO ENSP<br />
The internationalization<br />
process of ENSP-NOVA<br />
27 th EAHM CONGRESS<br />
Redefining the Role<br />
of Hospitals | Innovating<br />
in Population Health<br />
ENTREVISTA<br />
Usman Khan<br />
APOIAR<br />
A EXCELÊNCIA<br />
NA GESTÃO<br />
DA SAÚDE
GH SUMÁRIO<br />
julho agosto setembro <strong>2018</strong><br />
GESTÃO<br />
HOSPITALAR<br />
PROPRIEDADE<br />
APAH − Associação Portuguesa<br />
de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />
Parque de Saúde de Lisboa Edíficio, 11 - 1.<strong>º</strong> Andar<br />
Av. do Brasil 53<br />
1749-002 Lisboa<br />
secretariado@apah.pt<br />
www.apah.pt<br />
DIRETOR<br />
Alexandre Lourenço<br />
DIRETORA-ADJUNTA<br />
Bárbara Sofia de Carvalho<br />
COORDENADORES<br />
Emanuel Magalhães de Barros, Miguel Lopes<br />
EDIÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO<br />
Bleed - Sociedade Editorial e Organização<br />
de Eventos, Ltda.<br />
Av. das Forças Armadas 4 – 8B<br />
1600-082 Lisboa<br />
Tel.: 217 957 045<br />
info@bleed.pt<br />
www.bleed.pt<br />
PROJETO GRÁFICO<br />
Sara Henriques<br />
DISTRIBUIÇÃO<br />
Gratuita<br />
PERIODICIDADE<br />
Trimestral<br />
DEPÓSITO LEGAL N.<strong>º</strong><br />
16288/97<br />
ISSN N.<strong>º</strong><br />
0871–0767<br />
TIRAGEM<br />
2.000 exemplares<br />
IMPRESSÃO<br />
Grafisol, lda<br />
Rua das Maçarocas<br />
Abrunheira Business Center N<strong>º</strong>3<br />
2710-056 Sintra<br />
Esta revista foi escrita segundo as novas regras<br />
do Acordo Ortográfico<br />
4<br />
6<br />
12<br />
16<br />
24<br />
32<br />
33<br />
34<br />
36<br />
44<br />
46<br />
48<br />
50<br />
52<br />
58<br />
Editorial<br />
Congresso Europeu de Gestores <strong>Hospitalar</strong>es<br />
Alexandre Lourenço<br />
Projeto Piloto<br />
Patient Blood Management: A mudança do modelo de governação<br />
Dialina Brilhante, Jorge Félix, António Robalo Nunes<br />
Serviços de Urgência<br />
Utilizadores Frequentes da Urgência Geral do Hospital Garcia de Orta, EPE<br />
Andreia Mesquita, Carla Menino, Catarina Bekerman, Cátia Sousa,<br />
Joana Luís, Júlio Veríssimo, Margarida Freitas, Mª José Colaço,<br />
Pedro Lopes, Susana Saiote, Susana Sampaio<br />
Serviço Nacional de Saúde<br />
Os Cuidados de Saúde Primários como pilar central do Serviço Nacional de Saúde<br />
Vera Sofia Pinheiro Branco de Almeida<br />
Entrevista<br />
Usman Khan: Apoiar a excelência na <strong>Gestão</strong> da Saúde<br />
Iniciativas<br />
APAH vai distinguir as melhores práticas de gestão em saúde<br />
Iniciativas<br />
Financiamento e equidade marcam a 10 a edição do Fórum do Medicamento<br />
<strong>Gestão</strong><br />
O gestor nos hospitais públicos: fazer e queixar se vs fazer ou queixar-se<br />
Carlos Alberto Couto da Silva<br />
Case Study<br />
Fast track do tratamento cirúrgico das fraturas do colo do fémur<br />
Nuno Côrte-Real, Francisco Guerra Pinto, Rita Sousa Kadic,<br />
Sílvia Moreira da Silva<br />
Conferências de Valor<br />
Conferências de valor APAH<br />
Rita Alexandra Salgado, Miguel Cabral de Pinho<br />
Espaço ENSP<br />
The internationalization process of ENSP - Nova<br />
Rui Santana, Sílvia Lopes<br />
Opinião<br />
Lei de Bases da Saúde: o caminho para a reforma do setor?<br />
Luís Lopes Pereira<br />
Reflexões de Direito Biomédico<br />
Lei de Bases da Saúde: A proposta de <strong>2018</strong> - um testemunho<br />
André Gonçalo Dias Pereira<br />
Estudo<br />
Reinternamento materno após parto: caracterização e determinantes<br />
em hospitais públicos portugueses<br />
Miguel Papança, Sílvia Lopes<br />
A APAH marca a agenda<br />
3
GH editorial<br />
Alexandre Lourenço<br />
Presidente da APAH<br />
Congresso Europeu<br />
de Gestores <strong>Hospitalar</strong>es<br />
Em 1984, a Associação Portuguesa<br />
de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />
(APAH) organizou pela primeira vez<br />
o Congresso Europeu de Gestores<br />
<strong>Hospitalar</strong>es. Este quinto congresso<br />
teve lugar em Espinho e foi a consequência lógica de<br />
um trabalho iniciado por Eduardo Sá Ferreira junto<br />
da Associação Europeia de Diretores de Hospitais –<br />
tradução em voga da origem francófona da associação.<br />
Coube à Direção liderada por João Santos Cardoso<br />
abrir este V Congresso.<br />
Em 1999, a APAH vem organizar o XXVII Congresso<br />
pela mão da Direção de Manuel Delgado, desta feita<br />
em Lisboa. A sessão inaugural é honrada com a presença<br />
do Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio.<br />
Estes dois episódios de relevo para a nossa profissão<br />
são relatados pela Revista <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> (GH)<br />
– hoje disponível na íntegra no site da APAH. Durante<br />
o mês de outubro, acompanhando as tendências de<br />
portabilidade, iremos disponibilizar a GH para dispositivos<br />
móveis IOS e Android. Este novo recurso da APAH<br />
permitirá ainda a partilha de conteúdos relevantes para<br />
a gestão diária das organizações de saúde.<br />
Em 2015, Victor Herdeiro, enquanto membro da<br />
Direção da APAH e membro da Direção da European<br />
Association of Hospital Managers (EAHM),<br />
apresentou a candidatura portuguesa à organização<br />
do Congresso Europeu de Gestores <strong>Hospitalar</strong>es. Reconhecendo-se<br />
o passado da APAH e a credibilidade<br />
do trabalho desenvolvido por este colega no seio da<br />
EAHM, a nossa candidatura foi a vencedora, cabendonos<br />
organizar o 27.<strong>º</strong> Congresso Europeu de Gestores<br />
<strong>Hospitalar</strong>es.<br />
Pela primeira vez, fruto da adesão à agenda proposta<br />
pela APAH, este Congresso consegue assegurar que<br />
as mais reputadas organizações internacionais, como<br />
a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Comissão<br />
Europeia, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento<br />
Económico (OCDE), o Banco Europeu de<br />
Investimento, a Federação Internacional dos Hospitais,<br />
entre outras, sejam parceiras do evento e contribuam<br />
para o desenvolvimento do programa científico.<br />
Os nossos objetivos para este Congresso são ambiciosos:<br />
1) construir uma agenda europeia para a redefinição<br />
do papel dos hospitais através da inovação na gestão<br />
da saúde da população; 2) profissionalização da gestão<br />
de serviços de saúde.<br />
Esta GH conta com artigos de excelência e com<br />
uma nova rúbrica fruto da parceria com o Centro de<br />
Direito Biomédico da Universidade de Coimbra - Reflexões<br />
de Direito Biomédico. Convido-vos especialmente<br />
a ler a entrevista a Usman Khan. Depois de uma extraordinária<br />
palestra sobre a Liderança e <strong>Gestão</strong> da<br />
Mudança (emitida em streaming), na última edição<br />
das Conferências de Valor, esta entrevista vem<br />
dar corpo às ideias transmitidas.<br />
Melhor <strong>Gestão</strong>, Mais SNS. Ã<br />
4
GH projeto piloto<br />
PATIENT BLOOD<br />
MANAGEMENT<br />
A MUDANÇA DO MODELO<br />
DE GOVERNAÇÃO<br />
Pilar 1<br />
Período pré-operatório<br />
Pilar 2<br />
Período intra-operatório<br />
Pilar 3<br />
Período pós-operatório<br />
Deteção precoce e correção da anemia Hemostase meticulosa Enquadramento clinico-laboratorial do<br />
risco de transfundir, versus risco de não<br />
transfundir<br />
Avaliação e correção de alterações da<br />
coagulação<br />
Avaliação de medicação em curso e seu<br />
eventual impacto no risco hemorrágico<br />
Estabelecimento de plano transfusional<br />
individualizado<br />
Técnicas anestésicas / cirúrgicas com<br />
menores perdas hemorrágicas<br />
Monitorização de necessidade transfusional<br />
tendo em conta os valores hematológicos<br />
e perfil de co-morbilidades<br />
(lógica restritiva)<br />
Minimização de perdas hemorrágicas e<br />
de colheitas laboratoriais<br />
Utilização de agentes hematínicos para<br />
promoção de reabilitação hematológica<br />
Dialina Brilhante<br />
Diretora do Serviço<br />
de Imunohemoterapia do IPOLFG<br />
Jorge Félix<br />
Diretor Exigo Consultores<br />
Conceitos gerais (introdução)<br />
Desde há cerca de 3 décadas que se tem produzido<br />
evidência que associa a transfusão de componentes sanguíneos,<br />
no amplo espectro clínico da sua utilização, a um<br />
incremento global do risco de morbilidade e mortalidade.<br />
A conceptualização atual aponta no sentido de, apesar<br />
do seu incontornável papel no contexto dos cuidados de<br />
saúde, a transfusão constituir uma terapêutica com um<br />
perfil de risco biológico, custos associados e disponibilidade<br />
condicionada, que justifica a adoção concertada<br />
de estratégias conducentes à sua minimização. Importa<br />
enfatizar que ao transfundir um componente sanguíneo, se<br />
introduz um fator suscetível de se associar de forma independente<br />
a uma evolução desfavorável para o doente e<br />
com custos significativos. Daí a importância das estratégias<br />
transfusionais restritivas, as quais, na prática, significam<br />
transfundir menos sem que tal induza risco ao doente.<br />
A implementação de programas conducentes à utilização<br />
racional do sangue traduz-se num ganho assistencial pela<br />
diminuição dos riscos associados à transfusão e, por outro<br />
lado, a utilização de alternativas poder-se-á traduzir numa<br />
redução significativa dos custos.<br />
António Robalo Nunes<br />
Diretor do Serviço de Imunohemoterapia<br />
do HFAR - Pólo de Lisboa<br />
É neste âmbito que se enquadra o conceito de Patient<br />
Blood Management (PBM), que sendo de difícil tradução,<br />
se refere à valorização do sangue enquanto recurso<br />
único, e passa pelo princípio de abordagem individual<br />
no plano do doente e multidisciplinar no plano<br />
institucional. Não deve ser entendido com o objetivo<br />
estrito de poupar de sangue (embora possa resultar<br />
nisso pela referenciação a boas práticas), mas sim como<br />
um instrumento visando otimizar a prestação de<br />
cuidados ao doente. A atual visibilidade dos programas<br />
de Patient Blood Management resulta em grande parte<br />
da publicação recente de recomendações internacionais,<br />
nomeadamente emitidas pela Comissão Europeia.<br />
Para além da sua extensão atual a áreas clínicas menos<br />
habituais, o PBM assume um papel mais estruturado no<br />
período peri-operatório, tendo em conta que mais de<br />
metade das transfusões ocorrem neste contexto. A sua<br />
implementação operacional, dependente da articulação<br />
das diferentes especialidades cirúrgicas, da Anestesiologia,<br />
Cuidados Intensivos e da Imunohemoterapia bem como<br />
por outros profissionais que reflitam a matriz institucional,<br />
é classicamente baseada em 3 pilares:<br />
A Organização Mundial de Saúde (OMS), reconhece<br />
a importância dos programas de PBM e promove<br />
uma aproximação sistemática, recomendando aos<br />
estados - membro:<br />
- O estabelecimento, implementação e suporte deste<br />
tipo de programas.<br />
- O desenvolvimento de documentos orientadores.<br />
- Adoção das orientações constantes nos 3 pilares.<br />
Tendo em conta o caráter multidisciplinar deste tipo<br />
de programas, para além do envolvimento das diferentes<br />
valências e do papel central da Imunohemoterapia<br />
na sua articulação a nível institucional, é fulcral<br />
o envolvimento dos Conselhos de Administração. O<br />
objetivo a atingir é a melhoria de cuidados, aumento<br />
de segurança do doente e incremento de eficiência<br />
na utilização de recursos.<br />
No entanto, apesar do clima de recomendação para a<br />
implementação de programas de PBM, reconhecem-se<br />
algumas dificuldades à sua concretização, as quais importa<br />
contrariar. A primeira é a compreensão e subvalorização<br />
da anemia no contexto peri-operatório. Depois, a inércia,<br />
resistência cultural à mudança, valorização indevida dos<br />
riscos transfusionais, pressão da agenda cirúrgica, receio<br />
sobre o custo-eficácia destes programas, assimetrias de<br />
financiamento entre terapêuticas alternativas e transfusão<br />
e défice de sensibilização e formação.<br />
PBM em Saúde Pública<br />
Em 2017, o Anemia Working Group Portugal promoveu<br />
um estudo com o objetivo de avaliar o impacto<br />
na saúde pública e nos custos do Serviço Nacional de<br />
Saúde (SNS) relativos à implementação de um programa<br />
de PBM a nível nacional. Este estudo contemplou<br />
um modelo matemático de análise de decisão, o qual<br />
permitiu comparar dois cenários: “prática clínica atual”<br />
e “após implementação de PBM”.<br />
Para a caracterização de cada um dos cenários, foram<br />
considerados indicadores destinados a avaliar a efetividade<br />
da intervenção, e implicações em termos de<br />
saúde pública, tais como, mortalidade intra-hospitalar,<br />
anos de vida ganhos e anos de vida ajustados pela incapacidade<br />
(DALY), indicadores de atividade assistencial<br />
e consumo de recursos de saúde, incluindo, duração<br />
do internamento, taxa de reinternamento a 30-dias,<br />
consultas e transfusões/consumo de sangue e impacto<br />
económico, decorrente da mortalidade intra-hospitalar<br />
prematura, internamento, reinternamento, utilização de<br />
medicamentos, transfusões/componentes do sangue<br />
e respetivos efeitos adversos.<br />
A população considerada incluiu doentes assistidos nos<br />
hospitais do SNS nas seguintes áreas terapêuticas: cirurgia<br />
(ortopédica, cardíaca e urológica), hemorragia uterina<br />
anormal, gravidez, hemorragia gastrointestinal, oncologia,<br />
cardiologia, hemodiálise e doença inflamatória intestinal.<br />
O modelo analítico foi parametrizado com dados específicos<br />
dos hospitais do SNS, gentilmente cedidos<br />
pela ACSS 1 e pelo IPST 2 e com dados provenientes de<br />
uma revisão sistemática da literatura, realizada com o<br />
objetivo de inferir sobre a efetividade da implementação<br />
de um PBM nacional. Adicionalmente, tanto o modelo<br />
como a informação de suporte foram validados e as<br />
lacunas de informação completadas por um painel de<br />
peritos de âmbito nacional.<br />
Estimou-se que a implementação nacional de PBM<br />
possa abranger cerca de 384.700 indivíduos por ano,<br />
gerando uma redução de 57,3% na utilização de concentrado<br />
eritrocitário (CE) nesta população, e uma<br />
diminuição superior a 17 mil doentes transfundidos,<br />
redução de cerca de 177,4 mil dias de internamento<br />
(-8,4%), diminuição de 6.234 reinternamentos. Estimouse<br />
também que a implementação do PBM aumentará<br />
a necessidade de consultas hospitalares em cerca de<br />
<strong>14</strong>,5% (Tabela 1). }<br />
6 7
GH projeto piloto<br />
Indicador Situação atual Implementação PBM Δ Absoluta Δ Relativa<br />
Unidades de CE transfundidas 113.892 48.678 -65.2<strong>14</strong> -57,26%<br />
Doentes transfundidos 33.581 16.379 -17.202 -51,23%<br />
Total de dias de internamento 2.105.324 1.927.874 -177.450 -8,43%<br />
Número de reinternamentos 16.729 10.494 -6.234 -37,27%<br />
Total de consultas hospitalares 2.045.828 2.341.405 +295.577 +<strong>14</strong>,45%<br />
Tabela1 Impacto do PBM na utilização de recurso da saúde, nos hospitais do SNS.<br />
“<br />
O CONCEITO E ESTRATÉGIAS<br />
DE PBM ENVOLVEM VÁRIAS<br />
ABORDAGENS E ATORES,<br />
Indicador Situação atual Implementação PBM Δ Absoluta Δ Relativa<br />
Taxa de mortalidade intra-hospitalar<br />
4,01% 3,86% -0,15% -3,84%<br />
(%)<br />
Mortes intra-hospitalares 15.438 <strong>14</strong>.845 -594 -3,84%<br />
Anos de vida perdidos 39.788 38.308 -1.481 -3,72%<br />
DALYs 60.980 57.320 -3.660 -6,00%<br />
Tabela 2 Impacto do PBM nos indicadores de saúde pública em Portugal.<br />
Em consequência da redução do número de doentes<br />
transfundidos, da redução da duração do internamento<br />
e da redução da taxa de reinternamento, durante 1<br />
ano, poderão ser evitadas 594 mortes prematuras,<br />
representando um ganho de 1.481 anos de vida e<br />
uma redução de 3.660 DALYs em comparação com<br />
o cenário atual (Tabela 2).<br />
É expetável que a implementação de PBM resulte<br />
num benefício económico anual de 67,7 milhões<br />
de euros (M€), o que corresponde a uma redução<br />
de 6,3% nos custos de tratamento desta população<br />
-67,7 -53,8<br />
Custos totais<br />
Figura 1 Impacto do PBM nos custos dos hospitais do SNS.<br />
Internamento Sangue Reinternamento<br />
-17,9 -16,6<br />
-3,5<br />
nos hospitais do SNS em relação ao cenário atual.<br />
A poupança ao nível dos custos de internamento e<br />
reinternamento é a mais relevante, representando<br />
70,4 M€, seguindo-se a poupança com o sangue e<br />
transfusões (17,9 M€).<br />
No entanto, um programa de PBM implica uma gestão<br />
mais otimizada da situação clínica dos doentes,<br />
estimando-se um aumento do número de consultas e<br />
maior consumo de medicamentos, que em conjunto<br />
poderá ascender a uma despesa adicional de 24,1<br />
M€ (Figura 1).<br />
Mortalidade<br />
intrahospitalar<br />
+6,4<br />
Medicamentos<br />
+17,8<br />
Consultas<br />
Despesa<br />
Milhões €<br />
Poupança<br />
Este estudo demonstrou que a implementação de um<br />
PBM nacional é uma aplicação eficiente dos recursos<br />
públicos com um valor económico equivalente a 3,8<br />
Euros de diminuição da despesa do SNS por cada<br />
euro investido na implementação do PBM.<br />
PBM num hospital<br />
A deficiência de ferro é a principal causa de deficit<br />
nutricional isolado no mundo e também em Portugal.<br />
Estima-se que 1 em cada 3 portugueses tem ferropénia,<br />
e 1 em cada 5 tem anemia, configurando assim<br />
esta situação uma prevalência de 20%, constituindo um<br />
problema de saúde publica. O conceito e estratégias<br />
de PBM envolvem várias abordagens e atores como já<br />
foi referido, mas neste contexto não é de estranhar a<br />
importância que assume no hospital a identificação da<br />
ferropénia, estudo da anemia e respetivo tratamento.<br />
A deficiência de ferro está muitas vezes associada a<br />
fadiga, suscetibilidade a infeções e menor capacidade<br />
de trabalho e qualidade de vida e é a principal causa<br />
de anemia nos países desenvolvidos e em vias de<br />
desenvolvimento. Também, as co-morbilidades tanto<br />
do défice de ferro como da anemia com outras patologias<br />
têm sido associadas a um aumento do risco<br />
da morbilidade e mortalidade.<br />
A transfusão de concentrado eritrocitário, embora<br />
podendo constituir uma alternativa terapêutica da<br />
anemia, não vai à raiz do problema, poderá ajudar<br />
numa situação particular como no caso de hemorragia<br />
aguda, mas não invalida a necessidade do estudo da<br />
sua etiologia e correção. E se é verdade que a transfusão<br />
pode salvar vidas, também é verdade que há<br />
evidência crescente dos potenciais riscos associados.<br />
A abordagem do doente no seu todo, não só proporciona<br />
a correção da anemia como proporciona<br />
uma utilização racional das diferentes terapêuticas,<br />
incluindo o recurso à transfusão.<br />
A publicação do despacho n<strong>º</strong> 3387/<strong>2018</strong> (Patient<br />
Blood Management PBM), de 05 de Abril de <strong>2018</strong>,<br />
constitui a afirmação e disponibilidade para viabilizar<br />
um programa que tem como objetivo final a oti-<br />
MAS NESTE CONTEXTO<br />
NÃO É DE ESTRANHAR A<br />
IMPORTÂNCIA QUE ASSUME<br />
NO HOSPITAL A IDENTIFICAÇÃO<br />
DA FERROPÉNIA, ESTUDO<br />
DA ANEMIA E RESPETIVO<br />
TRATAMENTO.<br />
”<br />
mização das condições do doente, ao assumir uma<br />
estratégia de PBM.<br />
Perante um terreno de aplicação tão vasta, e com<br />
o intuito de proporcionar soluções, decidiu o grupo<br />
nomeado, iniciar a sua atuação na área dos doentes<br />
que irão ser submetidos a cirurgia programada, e<br />
nos quais está prevista a alocação de componentes<br />
sanguíneos como reserva operatória.<br />
Vivemos um cenário relativamente favorável já que a<br />
DGS tem publicado e atualizado uma serie de Normas<br />
de Orientação Clínica (NOC) que tem um papel<br />
adjuvante neste programa.<br />
Definimos uma série de indicadores com a preocupação<br />
de serem exequíveis nos diferentes hospitais<br />
que integram este programa piloto, sejam de acesso<br />
fácil, com recolha idêntica nas diferentes instituições<br />
com o duplo objetivo de nos compararmos entre<br />
nós, de realçar à gestão de topo a sua utilidade e de<br />
monitorizar a evolução do programa.<br />
Embora a comissão de acompanhamento seja essencialmente<br />
constituída por médicos Imunohemoterapeutas,<br />
é valorizada e realçada a importância do }<br />
8 9
GH projeto piloto<br />
trabalho em equipa multidisciplinar e recomendada<br />
a participação das Comissões de Transfusão dos<br />
diferentes hospitais. Esta recomendação insere-se<br />
justamente na necessidade de enquadramento sistémico<br />
desta estratégia e ampliação de pressupostos já<br />
contemplados nas diferentes NOC relativas à correta<br />
utilização da terapêutica transfusional e diagnóstico e<br />
tratamento da ferropénia.<br />
Também o facto de nela estar incluída um representante<br />
da ACSS e SPMS 3 indicia como é valorizado a<br />
avaliação da pertinência desta estratégia, que caso se<br />
revele adequada, poderá ser alargada a nível nacional.<br />
Foi publicada uma norma organizacional, Norma n<strong>º</strong><br />
11/<strong>2018</strong> DGS, que entre outros dados recomenda<br />
um algoritmo de aplicação aos doentes submetidos a<br />
cirurgia programada e em que se prevê a utilização de<br />
componentes sanguíneos, bem como a identificação<br />
da ferropénia e seu tratamento, tanto no pré como<br />
no pós-operatório, que no fundo sistematiza o que já<br />
existe e foi adaptada das recomendações australianas<br />
que, nesta matéria, constituem uma vanguarda na sua<br />
aplicação hospitalar.<br />
Teremos nos próximos meses de aplicação (o programa<br />
tem previsto um tempo de aplicação de aproximadamente<br />
1 ano) de responder ao desafio de envolver<br />
os cuidados primários neste programa, uma<br />
vez que sem eles, ficará incompleto. O doente vem<br />
ao hospital realizar a sua cirurgia e terá alta para o<br />
ambulatório ou cuidados primários.<br />
O tempo de espera da cirurgia programada poderá<br />
constituir um tempo de preparação, para aqueles<br />
doentes que dele necessitem.<br />
Também é uma oportunidade de desenvolver no<br />
SNS numa perspetiva inicialmente contemplada, mas<br />
pouco executada, a colaboração dos hospitais com<br />
os cuidados primários.<br />
Também poderemos ter dados sobre um tempo<br />
nem sempre, valorizado, pela pressão dos números<br />
de execução que é o período pré e per operatório.<br />
Do exposto poderemos concluir que este programa<br />
constitui uma excelente oportunidade de melhorar<br />
os resultados nos doentes, criar sinergias com os<br />
diferentes grupos profissionais envolvidos - médicos,<br />
enfermeiros, farmacêuticos, técnicos e gestores - e<br />
quiçá ter dados que nos permitam investir no mix<br />
certo dos recursos.<br />
Construir um PBM num hospital é uma oportunidade<br />
de identificar meios, resolver problemas e investir na<br />
segurança do doente. Ã 1<br />
ACSS 1 - Administração Central do Sistema de Saúde<br />
IPST 2 - Instituto Português do Sangue e da Transplantação<br />
SPMS 3 - Serviços Partilhados do Ministério da Saúde<br />
10
GH Serviços de Urgência<br />
UTILIZADORES<br />
FREQUENTES DA URGÊNCIA<br />
GERAL DO HOSPITAL<br />
GARCIA DE ORTA, EPE<br />
Andreia Mesquita, Carla Menino, Catarina Bekerman,<br />
Cátia Sousa, Joana Luís, Júlio Veríssimo, Margarida Freitas,<br />
Mª José Colaço, Pedro Lopes, Susana Saiote,<br />
Susana Sampaio<br />
O<br />
uso excessivo ou inadequado dos<br />
serviços de urgência é um problema<br />
mundial. No Hospital Garcia de<br />
Orta EPE (HGO) temos assistido,<br />
nos últimos anos, ao aumento do<br />
número de episódios de urgência na sua maioria<br />
com situações “pouco urgentes” e “não urgentes”<br />
(codificados na Triagem de Manchester como verdes<br />
e azuis, respetivamente) e ao crescimento do número<br />
de utilizadores frequentes.<br />
Têm sido desenvolvidos vários estudos nesta área<br />
que na sua maioria definem como utilizadores frequentes<br />
(UF) os utentes que realizaram 4 ou mais<br />
episódios de urgência nos últimos 12 meses e como<br />
utilizadores muito frequentes, ou High Users (HU),<br />
os que realizaram 10 ou mais episódios no mesmo<br />
período de tempo.<br />
A crescente consciencialização desta problemática<br />
levou o HGO e o Agrupamento de Centros de Saúde<br />
Almada-Seixal (ACES) à constituição, em 2016, de<br />
uma equipa conjunta denominada “Grupo de Resolução<br />
de High Users” (GRHU), a qual é composta<br />
por um Gestor (Administradora <strong>Hospitalar</strong>), assim<br />
como Assistentes Sociais, Enfermeiros e Médicos das<br />
duas instituições.<br />
GRHU-ACES<br />
GRHU-HGO<br />
<strong>Gestão</strong> Susana Sampaio *<br />
Coordenação<br />
Carla Menino<br />
Maria José Colaço Médicos Catarina Bekerman<br />
Joana Luís<br />
Susana Saiote Enfermagem Júlio Veríssimo<br />
Pedro Lopes Carla Menino **<br />
Margarida Freitas S. Social Andreia Mesquita<br />
Cátia Sousa<br />
Secretariado Cláudia Cardoso<br />
* Administradora <strong>Hospitalar</strong><br />
** Acumula com a Coordenação<br />
Esta equipa tem como propósito a elaboração de<br />
um plano de intervenção para a redução do número<br />
de episódios de urgência dos utilizadores frequentes<br />
e muito frequentes, através do incremento de uma<br />
eficaz articulação entre as diferentes estruturas prestadoras<br />
de cuidados, gerando Ganhos em Saúde para<br />
a população alvo e, consequentemente, melhorar a<br />
capacidade e qualidade da resposta do Serviço de<br />
Urgência Geral do HGO às verdadeiras situações<br />
urgentes e emergentes.<br />
O projeto foi dividido em três fases. A primeira fase<br />
(de outubro 2016 a julho de 2017) caracterizou-se<br />
pela elaboração do perfil dos HU do HGO. Após a<br />
análise de uma amostra de 101 utentes que em 2016<br />
realizaram 10 ou mais episódios de urgência, concluiu-se<br />
o seguinte:<br />
• 101 HU realizaram 1.556 episódios de urgência,<br />
tendo cada um efetuado uma média de <strong>14</strong> episódios<br />
de urgência no ano, com um máximo de 66 episódios<br />
por doente;<br />
• 53% dos HU são do sexo feminino e 48% do<br />
sexo masculino, com uma idade média de 61 anos<br />
e moda 71 anos;<br />
• 46% dos HU apresentavam situações do foro psicossocial;<br />
• 21% dos HU revelaram agudização de doenças<br />
crónicas;<br />
• 6% dos HU tinham doença oncológica<br />
• 27% dos HU tinham outros problemas não incluídos<br />
nas tipologias anteriores;<br />
• 41% dos HU são também utilizadores frequentes<br />
da Unidade Saúde (ACES);<br />
• 84% dos HU são vigiados em pelo menos numa<br />
consulta no HGO;<br />
• 89% dos HU são seguidos pelo Médico de Família<br />
(MF);<br />
• Apenas 8% dos HU não tinham MF atribuído<br />
Após a caracterização dos HU, deu-se início à segunda<br />
fase do Projeto, que está a decorrer desde julho de<br />
2017. Esta fase corresponde ao início da elaboração<br />
e execução de Planos Individuais de Integração (PII)<br />
em colaboração com o HU e família ou cuidador de<br />
referência e a atribuição do Gestor de Caso (GC).<br />
A figura do GC baseia-se num modelo de continuidade<br />
de cuidados, que integra cuidados médicos e<br />
psicossociais, assim como todos os recursos individuais,<br />
familiares e comunitários existentes e adequados para<br />
aquele utente em concreto. Na sua intervenção, o<br />
GC realiza ou promove a realização das atividades<br />
consideradas necessárias tais como entrevista de avaliação,<br />
visitas domiciliárias, contactos intrainstitucionais<br />
e com estruturas comunitárias. O GC é designado<br />
pelo GRHU, de entre os seus elementos constituintes.<br />
Os HU vão sendo selecionados e assumidos pelo<br />
Projeto GRHU, de acordo com o critério da maior<br />
frequência de idas ao SUG e a disponibilidade do<br />
GRHU. São assumidos cerca de 10 HU, por mês.<br />
De referir que estes utentes, independentemente<br />
das intervenções do GRHU, seguem todos os trâmites<br />
normais em cada ida ao Serviço de Urgência<br />
do HGO (SUG).<br />
Desde o início da 2.ª fase do Projeto, têm sido realizadas<br />
no HGO e no ACES, várias sessões de apresentação<br />
e esclarecimento, de forma a sensibilizar os<br />
profissionais para esta problemática, divulgar o perfil<br />
do utente HU, explicar a construção e modo de<br />
“<br />
DESDE O INÍCIO DA 2.ª FASE<br />
DO PROJETO, TÊM SIDO<br />
REALIZADAS NO HGO<br />
E NO ACES, VÁRIAS SESSÕES<br />
DE APRESENTAÇÃO<br />
E ESCLARECIMENTO,<br />
DE FORMA A SENSIBILIZAR<br />
OS PROFISSIONAIS PARA<br />
ESTA PROBLEMÁTICA.<br />
”<br />
intervenção do GRHU, demonstrar a aplicabilidade<br />
e a eficácia do modelo de intervenção e partilhar os<br />
resultados que vão sendo obtidos<br />
O Projeto contempla o desenvolvimento uma plataforma<br />
informática conjunta – HUMA (High Users<br />
Monitoring Attendant), com o objetivo de centralizar<br />
e garantir uma partilha de informação clinica entre a<br />
sub-equipa GRHU-HGO e a sub-equipa GRH-ACES.<br />
Esta Plataforma estará ligada ao SClinico e irá monitorizar<br />
a frequência de episódios de urgência, disparar<br />
alertas em tempo real, aquando da presença de um<br />
HU/UF no SUG, gerar dados estatísticos e indicadores<br />
dos episódios de urgência e procedimentos realizados,<br />
assim como do estadiamento dos PII.<br />
A terceira fase iniciar-se-á com a operacionalização<br />
da Plataforma HUMA. Com o apoio de um aplicativo<br />
informático será possível alargar o foco de intervenção<br />
aos utilizadores frequentes do SUG. A possibilidade<br />
de envio automático de alertas à equipa de saúde<br />
familiar, dos utentes que se tornem UF, permitirá uma<br />
intervenção precoce dos Cuidados de Saúde Primários.<br />
Pretende-se incrementar uma mudança organizacional,<br />
melhorar o encaminhamento e planeamento das<br />
intervenções na comunidade e evitar novos HU. }<br />
12 13
GH Serviços de Urgência<br />
SUG - HGO: Episódios de urgência de Jan a Dez 2016<br />
Doentes % Episódios % Média<br />
≥ 4 < 10 3 239 5,2 15 986 16,5 4,9<br />
≥ 10 227 0,4 3 434 3,5 15,1<br />
≥ 4 3 466 5,5 19 420 20,0 5,6<br />
GH Serviço Nacional de Saúde<br />
OS CUIDADOS DE SAÚDE<br />
PRIMÁRIOS COMO PILAR<br />
CENTRAL DO SERVIÇO<br />
NACIONAL DE SAÚDE<br />
nível de contacto dos utentes com o sistema de<br />
saúde, onde são primeiramente apresentados os<br />
seus problemas de saúde e onde as necessidades<br />
básicas de cuidados preventivos ou curativos são<br />
satisfeitas. Estes cuidados devem ser holísticos, de<br />
proximidade, sem qualquer barreira de acesso e<br />
devem garantir a integração com outros níveis de<br />
cuidados, compreendendo todo o ciclo de vida do<br />
utente, desde que nasce até que morre [2].<br />
Neste contexto, é premente dar continuidade às<br />
estratégias preconizadas pela reforma dos CSP,<br />
que facilitem a gestão das Direções Executivas dos<br />
ACES e reforcem a centralidade dos CSP no SNS.<br />
Vários são os estudos que corroboram que os CSP<br />
devem estar no foco das estratégias de saúde para<br />
a resolução de muitos dos problemas que o SNS<br />
atualmente enfrenta.<br />
Um dos indicadores frequentemente utilizados para<br />
medir a qualidade dos CSP é a taxa de internamentos<br />
evitáveis. Loenen et. al. concluíram que um sistema<br />
de saúde centrado nos CSP permite reduzir a taxa<br />
de internamentos evitáveis, não só pela relação de<br />
confiança que se estabelece entre o médico de família<br />
e o utente, mas também pela melhor acessibilidade<br />
e adequabilidade da resposta às necessidades e<br />
problemas de saúde do utente [3].<br />
É também associado a um sistema de saúde centrado<br />
nos CSP a melhoria da qualidade de vida de utentes<br />
diagnosticados com doenças crónicas. Hansen et. al.<br />
analisaram dados de 27 países da União Europeia,<br />
concluindo que utentes com doença crónica teriam<br />
mais probabilidade de ter um melhor nível de saúde<br />
e melhor qualidade de vida em países com CSP centrados<br />
no sistema de saúde e bem articulados com<br />
outros níveis de cuidados (hospitalares e continuados)<br />
[4]. Weir et. al. reforçaram estas conclusões, analisando<br />
informação de 285.231 americanos com diabetes<br />
entre 2004 e 2010: 74% tinham multimorbilidades,<br />
a idade média era de 53 anos e 49% eram mulheres.<br />
Para medir o nível de integração de cuidados<br />
utilizaram o Índice UPC (Usual Provider Continuity)<br />
que calcula o número de visitas de um utente ao }<br />
Vera Sofia Pinheiro Branco de Almeida<br />
Diretora Executiva do ACES Lisboa Central<br />
O<br />
Serviço Nacional de Saúde (SNS)<br />
tem evoluído significativamente ao<br />
longo dos últimos anos, destacando-se<br />
o sucesso da reforma dos<br />
Cuidados de Saúde Primários (CSP)<br />
que se iniciou em 2005 e que tem vindo a registar<br />
desde então assinaláveis melhorias e ganhos em saúde.<br />
No entanto, a atual conjuntura tem-se caracterizado<br />
por fortes limitações financeiras e constrangimentos<br />
económicos, colocando inúmeros desafios à gestão<br />
do bem público e a um setor reconhecidamente<br />
complexo e dinâmico. O aumento da esperança<br />
média de vida, o acentuado envelhecimento da população,<br />
o aumento da prevalência das doenças<br />
crónicas e as crescentes expectativas e necessidades<br />
da população, têm gerado um aumento da procura<br />
e uma pressão financeira sobre o setor da saúde<br />
difícil de equilibrar.<br />
Esta mudança de paradigma tem retirado o foco da<br />
doença aguda e dos cuidados de saúde hospitalares<br />
(CSH), para a doença crónica e para os cuidados de<br />
saúde primários e cuidados continuados integrados<br />
(CCI). Há igualmente uma necessidade de reforçar<br />
a prevenção da doença e a promoção da saúde de<br />
forma a que as pessoas permaneçam mais tempo<br />
ativas e saudáveis durante o seu ciclo de vida [1].<br />
O Programa do XVII Governo reconheceu que os<br />
CSP devem ser “o pilar central do sistema de saúde,<br />
constituindo o primeiro acesso dos cidadãos à prestação<br />
de cuidados de saúde, assumindo importantes<br />
funções de promoção da saúde e prevenção da<br />
doença, prestação de cuidados na doença e ligação<br />
a outros serviços para a continuidade dos cuidados”<br />
(Decreto-Lei n<strong>º</strong> 28/2008 de 22 de fevereiro). Este<br />
decreto definiu também a criação de Agrupamentos<br />
de Centros de Saúde (ACeS) como “serviços públicos<br />
de saúde com autonomia administrativa, constituídos<br />
por várias unidades funcionais, que agrupam um<br />
ou mais centros de saúde e que têm por missão<br />
garantir a prestação de cuidados de saúde primários<br />
à população de determinada área geográfica”.<br />
Com efeito, os CSP devem representar o primeiro<br />
16
GH Serviço Nacional de Saúde<br />
Spain<br />
Portugal<br />
Greece<br />
Turkey<br />
Estonia<br />
Canada<br />
Slovakia<br />
Finland<br />
Ireland<br />
Luxembourg<br />
Hungary<br />
Sweden<br />
Australia<br />
Malta<br />
Slovenia<br />
Iceland<br />
Lithuania<br />
Average<br />
Italy<br />
Switzerland<br />
England<br />
Austria<br />
Germany<br />
Belgium<br />
New-Zealand<br />
Cyprus<br />
Czech Republic<br />
Latvia<br />
Norway<br />
Poland<br />
FYR Macedonia<br />
Romania<br />
Denmark<br />
Netherlands<br />
Bulgaria<br />
0% 10% 20% 30% 40% 50%<br />
Figura 1 Percentagem de utentes (cujo questionário foi válido para integrar a amostra)<br />
que recorreram a um serviço de urgência entre 2011 e 2013, por país [6]<br />
prestador de cuidados “mais visitado” (Médico de<br />
Família) sobre o n<strong>º</strong> total de visitas (independentemente<br />
do tipo de prestador). Um melhor nível de<br />
integração de cuidados (UPC ≥75%) foi associado a<br />
uma redução da taxa de mortalidade e a um menor<br />
número de internamentos hospitalares (7.2% vs.<br />
13.5), independentemente de estes utentes terem<br />
ou não multimorbilidades associadas. [5].<br />
A sobreutilização e procura desadequada aos serviços<br />
de urgências (SU) é igualmente utilizada como<br />
indicador para medir o desempenho dos CSP. Van<br />
den Berg et al. investigaram a probabilidade de uma<br />
ida à urgência estar relacionada com um melhor<br />
nível de acessibilidade aos CSP. Entre Outubro de<br />
2011 e Dezembro de 2013, aplicaram questionários<br />
a 60.991 utentes e 7.005 Médicos de Família de 34<br />
países europeus, incluindo Portugal, e concluíram que<br />
CSP com boa acessibilidade e com um bom nível<br />
de integração com outros níveis de cuidados têm<br />
maior probabilidade de reduzir a sobreutilização e<br />
procura desadequada dos SU. Identificaram igualmente<br />
diferenças entre os países e para diferentes<br />
perfis demográficos e sociais, estando uma maior<br />
afluência aos SU normalmente associada a classes<br />
sociais mais desfavorecidas, com menor nível de<br />
literacia, minorias étnicas e pessoas com pior nível<br />
de saúde. De entre os países analisados, Espanha,<br />
Portugal e Turquia lideraram a lista com maior número<br />
de idas à urgência [6].<br />
Está ainda associado a sistemas de saúde centrados<br />
nos CSP uma melhor gestão de recursos e um menor<br />
crescimento de custos. Flik et. al. analisaram os<br />
custos associados ao tratamento da síndrome do<br />
intestino irritável (SII) nos CSP vs. CSH. Concluíram<br />
para os três anos depois do diagnóstico comparativamente<br />
com os três anos prévios ao diagnóstico<br />
que os custos aumentaram em média 486€ para<br />
utentes monitorizados nos CSP e 2.328€ para os<br />
utentes monitorizados nos CSH. Para os grupos de<br />
controlo dos CSP e CSH não foram identificadas<br />
diferenças significativas entre o período anterior e<br />
posterior à data do diagnóstico. Estes resultados<br />
permitiram concluir que utentes com SII devem ser<br />
preferencialmente acompanhados nos CSP, exceto<br />
os que apresentem sintomas graves ou dúvidas no<br />
diagnóstico e tratamento [7].<br />
Resumindo, os CSP garantem a continuidade e integração<br />
de cuidados na medida necessária, apresentando<br />
melhores resultados em saúde para problemas<br />
que podem e devem ser resolvidos por um especialista<br />
de Medicina Geral e Familiar, no contexto<br />
da atividade da equipa de saúde familiar (médico,<br />
enfermeiro, secretariado clínico) e em estreita colaboração<br />
com outros profissionais que integram os<br />
CSP (psicólogos, assistentes sociais, fisioterapeutas,<br />
nutricionistas, terapeutas ocupacionais, terapeutas<br />
da fala, entre outros). Adicionalmente, e para um<br />
conjunto de doenças, os CSP são igualmente o recurso<br />
preferencial para evitar a utilização desnecessária<br />
de recursos hospitalares, prevenindo e controlando<br />
quer situações agudas de doença, quer situações de<br />
descompensação da doença crónica.<br />
Pese embora a evidência que os CSP devem ser<br />
o pilar central do SNS e os problemas de saúde<br />
da população requererem uma resposta integrada<br />
entre os diferentes prestadores, atualmente ainda<br />
são alguns os constrangimentos que “enfraquecem”<br />
esta posição.<br />
O SNS permanece ainda muito fragmentado e centrado<br />
nos Hospitais. Em 2017, 68% dos recursos<br />
humanos do SNS (90.070 profissionais) estavam<br />
afetos aos Hospitais, comparativamente com 18%<br />
afetos aos CSP (24.371 profissionais) [8]. Para além<br />
da assimetria da distribuição de recursos do ponto<br />
de vista das diferentes áreas de intervenção, é também<br />
relevante a sua assimetria a nível nacional [9].<br />
Outro desafio da reforma dos CSP está relacionado com<br />
as iniquidades geradas pelos diferentes modelos<br />
organizativos que estão atualmente em funcionamento<br />
nos CSP (Unidades de Saúde Familiares (USF)<br />
- Modelo A e B; e Unidades de Cuidados de Saúde<br />
Personalizados (UCSP).<br />
As USF são criadas no pressuposto de um processo<br />
de constituição voluntária da equipa e seleção dos<br />
respetivos profissionais, diferenciando inevitavelmente<br />
o acesso e a qualidade (avaliada pelo seu desempenho<br />
assistencial) dos cuidados de saúde prestados<br />
a utentes inscritos nas USF comparativamente com<br />
as UCSP, e dentro das UCSP diferenciando os que<br />
têm ou não Médico de Família atribuído. Estas iniquidades<br />
não são fáceis de colmatar pelo atual défice<br />
de médicos com especialização em medicina geral<br />
e familiar (MGF) e pela assimetria na distribuição<br />
destes recursos a nível nacional. Esta assimetria é<br />
acentuada pela dificuldade em criar nas zonas carenciadas,<br />
condições materiais e organizativas que<br />
estimulem e apoiem a constituição de novas USF e<br />
a redução gradual do desfavorecimento dos utentes<br />
que ainda não têm Médico de Família atribuído. Estas<br />
desigualdades colocam às Direções Executivas dos<br />
ACES desafios diários ao exercício das suas atividades<br />
de gestão de recursos humanos, materiais e financeiros,<br />
desafios agudizados pela limitada autonomia e<br />
incapacidade de responsabilização que efetivamente<br />
e na prática evidenciam.<br />
É reconhecido que os CSP devem ser o pilar central e<br />
a primeira “porta” de acesso ao SNS, mas o seu nível<br />
de enraizamento na cultura das organizações é ainda<br />
muito ténue. É essencial reforçar o papel dos CSP no<br />
SNS e promover uma maior literacia sobre a sua organização,<br />
interna e externamente. O desafio passa }<br />
Figura 2 Distribuição de recursos humanos por tipo de entidade e perfil profissional do SNS em 2017 [8]<br />
“<br />
É RECONHECIDO<br />
QUE OS CSP DEVEM SER<br />
O PILAR CENTRAL<br />
E A PRIMEIRA “PORTA”<br />
DE ACESSO AO SNS,<br />
MAS O SEU NÍVEL<br />
DE ENRAIZAMENTO<br />
NA CULTURA DAS<br />
ORGANIZAÇÕES<br />
É AINDA MUITO TÉNUE.<br />
”<br />
Entidade Médicos Enfermeiros TSS TSDT AT AO TS Inf. Outros Total<br />
Adminsitrações<br />
Regionais de Saúde<br />
7 267 7 088 433 744 5 368 2 151 1 077 94 119 24 341<br />
Estabelecimentos<br />
<strong>Hospitalar</strong>es<br />
18 787 31 195 998 6 343 8 585 20 955 2 098 365 744 90 070<br />
ULS 2 493 5 017 150 864 1 930 2 995 352 90 124 <strong>14</strong> 015<br />
Serviços Centrais 62 259 132 225 533 216 806 64 1 245 3 542<br />
Total 28 609 43 559 1 713 8 206 16 416 26 317 4 333 613 2 232 131 998<br />
Legenda: TSS - Técnico Superior de Saúde; TSDT - Técnico Superior das áreas de Diagnóstico e Terapêutica;<br />
AT - Assistente Técnico; AO - Assistente Operacional; TS - Técnico Superior; Inf. - Pessoal de Informática.<br />
18 19
GH Serviço Nacional de Saúde<br />
“<br />
É FUNDAMENTAL PROMOVER<br />
MUDANÇAS NA CULTURA<br />
ORGANIZACIONAL DO SNS,<br />
CONTRARIAR O DISCURSO<br />
“HOSPITALOCÊNTRICO”,<br />
DESLOCAR O EPICENTRO<br />
DA DOENÇA PARA A<br />
PROMOÇÃO DA SAÚDE,<br />
PRIVILEGIANDO O CUIDADO<br />
EM CASA E JUNTO DAS<br />
FAMÍLIAS SEMPRE<br />
QUE POSSÍVEL.<br />
”<br />
por identificar o nível de literacia dos profissionais<br />
que trabalham no SNS sobre o modelo pretendido<br />
para a organização e funcionamento da prestação<br />
de cuidados de saúde. Quantos profissionais do<br />
sector hospitalar saberão caraterizar, por exemplo,<br />
a diferença entre uma USF e uma UCSP e identificar<br />
inequivocamente os programas de saúde e recursos<br />
que os CSP disponibilizam? Não raras são as vezes em<br />
que os próprios profissionais evidenciam desarmonia<br />
com o preconizado no âmbito da respetiva atuação,<br />
sendo, por isso, natural e expetável que os utentes<br />
revelem igualmente alguma desorientação na forma<br />
como utilizam os serviços do SNS.<br />
Aliado ao desconhecimento generalizado da organização<br />
do SNS e sobre a forma como os diferentes<br />
níveis de cuidados se devem articular, os profissionais<br />
perspetivam o utente de forma diferente. Do ponto<br />
de vista dos CSP é idealizado um acompanhamento<br />
do utente saudável, do ponto de vista dos CSH é<br />
objetivado o tratamento da doença. Eventualmente<br />
um utente poderá ter uma doença diagnosticada,<br />
por exemplo diabetes, mas não estar doente, pois a<br />
doença está controlada. Esta dualidade na perceção<br />
do utente/doente, saúde/doença, conflitua muitas<br />
vezes com a tentativa de combater a fragmentação<br />
de cuidados e promover a necessária integração de<br />
cuidados de saúde [1].<br />
Não obstante as limitações e constrangimentos<br />
identificados, tem-se verificado uma evolução nos<br />
projetos desenvolvidos localmente com o objetivo<br />
de melhorar a comunicação dos profissionais dos<br />
diferentes níveis de cuidados, destacando-se a título<br />
de exemplo o financiamento de 35 M€ que a Administração<br />
Central do Sistema de Saúde (ACSS)<br />
atribuiu em 2017 ao Programa de Incentivo à Integração<br />
de Cuidados e à Valorização dos Percursos dos<br />
Utentes no SNS. As Direções Executivas dos ACES e<br />
os Conselhos de Administração dos Hospitais, a par<br />
dos Serviços Centrais (Ministério da Saúde, ACSS,<br />
Administrações Regionais de Saúde, SPMS), têm<br />
concentrado esforços para concretizar estas e outras<br />
iniciativas de igual âmbito no sentido de desenvolver<br />
mecanismos que melhorem a comunicação entre os<br />
profissionais de saúde e simplifiquem os circuitos<br />
de partilha de informação clínica e administrativa.<br />
Face ao exposto, é fundamental promover mudanças<br />
na cultura organizacional do SNS, contrariar o<br />
discurso “hospitalocêntrico”, deslocar o epicentro<br />
da doença para a promoção da saúde, privilegiando<br />
o cuidado em casa e junto das famílias sempre que<br />
possível. Esta mudança parte de uma forte estratégia<br />
de marketing, de modernização das infraestruturas<br />
e do reforço de competências do capital humano<br />
dos CSP. Parte igualmente da concretização de uma<br />
efetiva integração de cuidados que atualmente tanto<br />
se defende, colocando o utente no centro do sistema<br />
e oferendo-lhe uma resposta articulada, ininterrupta<br />
ao longo do seu ciclo de vida nas diferentes áreas<br />
de intervenção do SNS: da promoção da saúde e<br />
prevenção da doença, ao diagnóstico, tratamento<br />
e gestão da doença nas suas diferentes fases [1].<br />
Assim, tornar os CSP mais “atrativos” para que a<br />
população estabeleça uma relação de confiança com<br />
a sua “equipa de família” e promover uma integração<br />
efetiva com os CSH e CCI centrada no utente<br />
e suas famílias, permitirá seguramente ter um SNS<br />
mais sustentável, mais custo-efetivo, com melhor<br />
qualidade e acessibilidade e capaz de melhor reagir<br />
aos atuais desafios sociodemográficos e financeiros<br />
com que atualmente se debate. Ã<br />
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Amsterdam, (2016).<br />
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30-33 (<strong>2018</strong>).<br />
20 21
GH entrevista<br />
USMAN KHAN<br />
DIRETOR EXECUTIVO DA EHMA<br />
APOIAR A EXCELÊNCIA<br />
NA GESTÃO DA SAÚDE<br />
Presente em Portugal para uma palestra no âmbito das Conferências de Valor<br />
da APAH, dedicada à Liderança e <strong>Gestão</strong> da Mudança, Usman Khan,<br />
diretor executivo da EHMA, faz, nesta entrevista, o balanço da atividade<br />
da Associação Europeia de <strong>Gestão</strong> em Saúde. Ciente do extenso trabalho<br />
que há a fazer na melhoria dos sistemas de saúde, o responsável sublinha<br />
que a personalização será um dos desafios e refere que a mudança<br />
deve pautar-se por pequenos passos evolutivos.<br />
A European Health Management Association<br />
(EHMA) tem uma enorme experiência em gestão<br />
de cuidados de saúde, além realizar recomendações<br />
sobre política pública e económica em saúde. O que<br />
nos pode dizer sobre as atividades da associação?<br />
A EHMA existe há 35 anos e reúne diferentes comunidades.<br />
Integra os que ensinam a gestão da saúde,<br />
ao nível da pós-graduação, e os que investigam a<br />
gestão da saúde. Inclui associações, como a portuguesa<br />
APAH e outras semelhantes, assim como<br />
organizações prestadoras de cuidados de saúde, principalmente<br />
hospitais, atuando, também, ao nível dos<br />
organismos públicos, como por exemplo Marinha.<br />
Globalmente reunimos cerca de 100 organizações<br />
e membros individuais destes grupos.<br />
A nossa missão é apoiar a excelência na gestão da<br />
saúde. Por isso, reunimos grupos de interesses diversificados<br />
para que possam concentrar-se em aspetos<br />
particulares, como o desenvolvimento de cursos de<br />
formação, a realização de projetos de investigação<br />
ou o desenvolvimento de séries de webinars. }<br />
24 25
GH entrevista<br />
Temos várias formas de envolver as partes interessadas<br />
e de fomentar diferentes meios de divulgação<br />
do conhecimento, sendo essas as atividades centrais<br />
do nosso trabalho. Em termos de equipa, contamos<br />
com oito pessoas sediadas em Bruxelas, procurando<br />
potenciar valor e reunir diferentes grupos, de modo<br />
a habilitá-los a concretizar a nossa missão.<br />
Podemos dizer que a EHMA contribui para o desenvolvimento<br />
de competências de liderança e<br />
orientação dos profissionais para processos de<br />
gestão da mudança?<br />
Esse deveria ser um elemento de trabalho da EHMA.<br />
Por exemplo, termos uma Escola de Inverno onde<br />
poderíamos reunir um conjunto de programas académicos<br />
e encorajar os colegas das organizações<br />
afiliadas a participar, sendo que um desses cursos<br />
executivos poderia ser sobre liderança. Aliás, realizámos<br />
a nossa conferência anual em Budapeste, entre<br />
20 e 22 de junho, e contámos com a participação<br />
do Professor Lega, da Universidade de Bocconi, que<br />
poderia perfeitamente dar um curso sobre liderança.<br />
Outra forma de fomentarmos a aprendizagem é<br />
através do grupo de diretores dos programas, que<br />
desenvolvem os cursos para Bocconi, Frankfurt,<br />
Manchester ou Birmingham. Procuramos apoiar a<br />
forma como melhoram o ensino da liderança aos<br />
seus estudantes.<br />
Apesar da fase de diagnóstico estar concluída, parte<br />
das soluções para a mudança falham, refletindo, de<br />
certo modo, a incapacidade dos sistemas de saúde<br />
para inovarem com sucesso. Neste sentido, quais<br />
considera ser os principais fatores facilitadores<br />
dos processos de mudança nas organizações de<br />
saúde, de modo a que estes sejam passíveis de uma<br />
implementação eficaz?<br />
Estamos a trabalhar com diferentes sistemas de<br />
saúde, principalmente nacionais, mas também regionais,<br />
para conseguirmos perceber o seu contexto e<br />
ajudá-los nos seus desafios.<br />
Vejamos um exemplo tangível: cuidados integrados.<br />
POR QUE NÃO REUNIR O QUE SE FAZ EM PORTUGAL<br />
COM O QUE ESTÁ A ACONTECER NA CATALUNHA, “NA HOLANDA OU NA DINAMARCA?<br />
Há colegas em Portugal interessados em melhorar<br />
ainda mais, embora o país já tenha bons níveis.<br />
Podiam partilhar algumas dessas experiências para<br />
demonstrar o que estão aptos a fazer, identificando<br />
os aspetos positivos e, também, os que carecem de<br />
aperfeiçoamento e melhoria.<br />
Como conhecemos outros sistemas que trabalham<br />
em cuidados integrados, por que não reunir o que<br />
se faz em Portugal com o que está a acontecer na<br />
Catalunha, na Holanda ou na Dinamarca? Até porque<br />
os sistemas parecem semelhantes no que se refere<br />
a alguns dos seus desafios. A chave está no facto<br />
de existirem soluções diferentes que podem ser<br />
”<br />
adotadas e “muita pressão nos ombros” para uma<br />
espécie de “inovação inteligente”.<br />
Não devemos simplesmente agarrar na primeira<br />
ideia. A título de exemplo, podemos pensar que a<br />
reforma dos serviços de urgência é a melhor coisa a<br />
fazer. Ou não! Talvez o acesso aos cuidados primários<br />
seja mais correto. Há que compreender os desafios<br />
mais importantes antes de pensarmos em aplicar<br />
soluções já existentes, ou oferecermos as nossas<br />
soluções, a outros sistemas de saúde.<br />
Uma outra vertente que trabalhamos na EHMA é a<br />
análise das várias realidades financeiras. Reconhecemos<br />
que a vossa despesa em saúde, em percentagem }<br />
26 27
GH entrevista<br />
do PIB, é significativamente mais baixa do que em<br />
muitos Estados-Membros da UE, sendo que as hipóteses<br />
de conseguirem aumentá-la para a média da<br />
UE, ao longo da próxima década, é bastante baixa.<br />
O que significa que, para conseguirem acompanhar<br />
o ritmo dos outros, necessitam de incorporar uma<br />
abordagem assente na Inovação Inteligente.<br />
Veja-se o exemplo da Estónia em termos de saúde<br />
digital. Como não tinha nada, em vez de pensar<br />
em acompanhar o ritmo dos países desenvolvidos,<br />
implementou o seu próprio sistema. Penso que este<br />
é o potencial que os países com baixos níveis de despesa<br />
em saúde, face ao PIB, devem seguir: formular<br />
as suas próprias inovações inteligentes para avançar<br />
rapidamente, em vez de seguir um caminho linear.<br />
Por outro lado, as pequenas inovações são incrivelmente<br />
capacitantes. É o que tento salientar em<br />
termos de liderança. É possível habilitar as pessoas<br />
para crescer a partir da base, sendo realmente necessário<br />
que alguém encare o sistema de saúde em<br />
toda a sua escala.<br />
Na sua opinião, as politicas de saúde podem ser<br />
determinísticas para a adoção de mudanças organizacionais,<br />
para as quais as instituições não estão<br />
preparadas? Considera que o Estado ser o impulsionador<br />
da mudança ou, ao invés, as organizações<br />
devem despoletar os seus próprios processos de<br />
gestão da mudança?<br />
Há uma complexidade incrível subjacente à adequada<br />
prestação de cuidados de saúde que os políticos<br />
dificilmente compreendem. Por isso, encaram a reforma<br />
do sistema de saúde em termos muito mais<br />
simples do que a realidade. E muitas vezes perdem<br />
a paciência porque não veem as mudanças no prazo<br />
que esperavam. Também tendem a pensar que os<br />
recursos estão significativamente acima dos níveis<br />
necessários para alcançar o que pretende. Procuram<br />
resultados imediatos e não compreendem a complexidade<br />
que está inerente.<br />
Dou o exemplo das esperas de quatro horas nos serviços<br />
de urgência do serviço nacional de saúde britânico.<br />
É um sistema simples, que determina um período<br />
“<br />
SE OS POLÍTICOS NÃO COMPREENDEREM AS COMPLEXIDADES<br />
INERENTES AO SETOR, LIMITANDO-SE A ATRIBUIR RECURSOS,<br />
AS COISAS NÃO VÃO CORRER BEM.<br />
máximo de quatro horas em avaliação clínica para<br />
determinar a alta ou internamento do doente. Para<br />
tal, o governo aumentou o orçamento em cerca<br />
de 2% do PIB nos cuidados de saúde – e o certo é<br />
que atingiu o objetivo. Ao longo de um mandato de<br />
cinco anos alcançaram todas as unidades do país e<br />
conseguiram obter 90% a 92% de triagem de doentes<br />
supostamente encaminhados ao fim de quatro horas.<br />
Mas alcançaram este resultado fazendo tentativas<br />
díspares, para ver se alguma tinha sucesso. Como<br />
não queriam compreender os desafios, simplesmente<br />
continuaram a atribuir recursos, traduzindo-se numa<br />
forma incrivelmente ineficiente de conseguir um<br />
objetivo bastante ambicioso.<br />
”<br />
No mundo pós-2008, ninguém tem disponibilidade<br />
para desperdiçar recursos desta forma, e se os políticos<br />
não compreenderem as complexidades inerentes<br />
ao sector, limitando-se a atribuir recursos de forma<br />
desenfreada e esperando conseguir melhorias, as<br />
coisas não vão correr bem. É por isso fundamental<br />
pensar em inovação inteligente.<br />
A mudança deve começar nas organizações?<br />
Sim, deve começar nas organizações e nos microssistemas<br />
de saúde. Podemos começar a veicular a<br />
nossa ideia junto dos profissionais para conseguir<br />
micro mudanças, sendo certo que as melhorias do<br />
sistema envolvem muito mais atores. }<br />
28 29
GH entrevista<br />
“<br />
SE AS MUDANÇAS SE LIMITAREM À ORGANIZAÇÃO, SIM, É POSSÍVEL<br />
EVOLUIR, MAS É PROVÁVEL QUE SEJAM LIMITADAS E INEFICIENTES E<br />
NÃO SE REPERCUTAM EM MELHORIAS DA SAÚDE DA POPULAÇÃO.<br />
Na Holanda registaram-se ganhos bastante significativos<br />
devido à forma como os prestadores de serviços<br />
de saúde e os assistentes sociais conseguiram trabalhar<br />
em conjunto. É através deste investimento nos microssistemas<br />
de saúde que se começam a ver mudanças.<br />
A Catalunha é outro exemplo. Se as mudanças se<br />
limitarem à organização, sim, é possível evoluir, mas<br />
é provável que sejam limitadas e ineficientes e não<br />
se repercutam em melhorias da saúde da população.<br />
A solução deve passar pela capacitação das organizações<br />
de saúde e dos seus colaboradores para<br />
a gestão da mudança?<br />
Sim. É preciso compreender que grande parte da formação<br />
dos profissionais de saúde incide sobre a sua<br />
especialidade. Trata-se das competências que se adquiriram<br />
nesse âmbito, sendo difícil conseguir que diferentes<br />
grupos de profissionais de saúde se compreendam<br />
entre si, já para não falar em começar a trabalhar em<br />
conjunto para resolver problemas.<br />
”<br />
Parte da solução que estamos a tentar alcançar na<br />
EHMA passa por apoiar as organizações académicas,<br />
nossas afiliadas, no sentido de começarem a ensinar o<br />
trabalho interdisciplinar assim que o estudante entra na<br />
sala. Quer venham a ser fisioterapeutas, enfermeiros<br />
ou cardiologistas, têm de compreender que, sim, estão<br />
a adquirir as suas próprias competências e são especialistas<br />
numa determinada área, mas existem outros<br />
profissionais com quem vão ter de trabalhar. Esta ideia<br />
é particularmente relevante se quiserem retirar o máximo<br />
de proveito para eles e para a saúde da população.<br />
Embora esteja realmente a começar a acontecer, é,<br />
ainda, um longo caminho a percorrer.<br />
O mesmo se passa em termos de educação para a<br />
saúde. Colocá-la nos programas escolares custará<br />
apenas uns cêntimos. Mas é preciso vontade política<br />
para conseguir fazê-lo.<br />
De que forma as crescentes exigências dos utentes,<br />
as suas elevadas expectativas, a diversidade e<br />
autonomia do capital humano, cujo desempenho<br />
impactua na prestação de serviços e no grau de<br />
satisfação dos cidadãos, contribuem para acelerar<br />
um processo de mudança?<br />
Se observarmos qualquer outra área, como as<br />
companhias aéreas, vê-se que estão a responder<br />
à procura, existindo um mecanismo de mercado<br />
que funciona, seja para apanhar um avião ou para<br />
comprar uma sandes.<br />
Ora, no setor da saúde é muito mais difícil, porque<br />
não opera no mesmo ambiente de mercado de qualquer<br />
outro setor. É diferente e temos de reconhecer<br />
essa diferença. Não se ouve a voz do consumidor,<br />
do utente, não se ouve a voz da população a informar<br />
e impulsionar a mudança. Se solicitarmos uma<br />
reparação elétrica e se consideramos que não foi<br />
bem feita, reclamamos.<br />
Na saúde não conseguimos obter uma compreensão<br />
verdadeiramente real da forma como o mercado<br />
responde. É por isso que estamos sempre em busca<br />
de medidas alternativas, para compreender o caminho<br />
seguido pela procura e pela oferta, quando se<br />
entra na interface dos profissionais de saúde. Eles<br />
trabalham com os níveis de procura existentes e<br />
não com a forma como se podem gerir os níveis de<br />
procura. Nesse sentido, vão sempre querer mais, seja<br />
mais tratamento ou mais cuidados, em vez de mais<br />
prevenção. E é esta que deveria estar a impulsionar<br />
uma reforma do sistema de saúde, orientando a<br />
educação das pessoas para os aspetos relacionados<br />
com a prevenção em saúde.<br />
No seu entendimento, haverá um modelo ótimo a ser<br />
adotado na prestação de cuidados para implementar<br />
processos de mudança mais eficazes?<br />
O verdadeiro desafio é o acompanhamento. Posso<br />
exemplificar com a reforma dos serviços de saúde<br />
mental em Londres, que ocorreu no final dos anos<br />
90. A ideia era passar de um modelo de internamento<br />
de longa duração em instituições, para uma resposta<br />
à crise em certos modelos de proximidade, apoiando<br />
as pessoas no ambiente da sua casa. Na minha qualidade<br />
de Presidente do Conselho de Administração,<br />
supervisionava documentos que mostravam que,<br />
de mês para mês, as enfermarias começavam a ficar<br />
vazias. Passaram de uma taxa de ocupação de <strong>14</strong>0%,<br />
em que tínhamos de colocar os pacientes fora de<br />
Londres porque não havia camas, para 100%, 90%,<br />
80%, 70%, até que podíamos fechar aquela enfermaria.<br />
Ficámos surpreendidos por conseguirmos ver até que<br />
ponto se consegue mudar todo o sistema. Mas houve<br />
dois fatores fundamentais: liderança e investimento.<br />
USMAN KHAN<br />
(Diretor Executivo | EHMA)<br />
Usman Khan foi nomeado Diretor Executivo<br />
da European Heath Management Association<br />
(EHMA) em abril de 2016. Atualmente, Usman<br />
é Diretor da Modus Europe, uma Consultora<br />
Europeia sobre Políticas Públicas que<br />
fornece assessoria estratégica para políticas<br />
públicas e realiza estudos económicos e políticos<br />
relacionados em especial à saúde e assistência<br />
social.<br />
Usman tem mais de vinte anos de experiência<br />
em gestão e políticas públicas, tendo ocupado<br />
cargos de direção em organizações públicas,<br />
privadas e sem fins lucrativos, possuindo<br />
experiência em liderar projetos de gestão de<br />
mudança em vários países.<br />
Usman ocupa atualmente um cargo não executivo<br />
dentro do NHS e é professor de política e gestão<br />
de saúde na George Washington University.<br />
Como prevê que os sistemas de saúde europeus<br />
evoluam nos próximos 10 anos?<br />
Há ainda muito trabalho a fazer na reforma dos<br />
serviços de saúde, porque ninguém tem a solução<br />
certa. Os sistemas têm algumas coisas melhores e<br />
outras piores, não se podendo afirmar que os sistemas<br />
com mais recursos são os mais bem-sucedidos.<br />
O desafio é que as regras do jogo estão a mudar<br />
com a Medicina Personalizada. Penso que ela vai<br />
desafiar a própria noção de serviços de saúde.<br />
Costumo dizer que, se querem ver o futuro dos<br />
serviços de saúde, observem o que as pessoas da<br />
classe média estão a fazer.<br />
E se estas pessoas começarem a dizer “eu tenho um<br />
profissional que me informa sobre os programas de<br />
prevenção que devo seguir... faço várias atividades...<br />
tenho meios de diagnóstico em casa que me dizem,<br />
com antecedência, se alguma coisa está a acontecer...”,<br />
então saberei que as minhas soluções serão<br />
personalizadas para mim. Ã<br />
30 31
GH iniciativas<br />
GH iniciativas<br />
APAH VAI DISTINGUIR<br />
AS MELHORES PRÁTICAS<br />
DE GESTÃO EM SAÚDE<br />
FINANCIAMENTO<br />
E EQUIDADE MARCAM<br />
A 10 A EDIÇÃO DO FÓRUM<br />
DO MEDICAMENTO<br />
Prémio Healthcare Excellence <strong>2018</strong><br />
Reunião Final | 19 de outubro<br />
Secção Regional Norte da Ordem dos Médicos | Porto<br />
Fórum do Medicamento<br />
16 de novembro | 9h30<br />
Centro Cultural de Belém<br />
– Sala Fernando Pessoa | Lisboa<br />
A<br />
Associação Portuguesa de Administradores<br />
<strong>Hospitalar</strong>es (APAH),<br />
com o apoio da biofarmacêutica<br />
AbbVie, promovem, no próximo<br />
dia 19 de outubro, a 5ª edição do<br />
Prémio Healthcare Excellence, durante o qual serão<br />
apresentados os projetos finalistas, sendo distinguidos<br />
os três melhores no que diz respeito ao aperfeiçoamento<br />
do serviço prestado aos utentes, implementados<br />
durante o ano de 2017.<br />
Esta distinção pretende incentivar e reconhecer<br />
projetos de qualidade, orientados para a melhoria do<br />
serviço aos utentes, desenvolvidos e implementados<br />
em instituições de saúde portuguesas. A avaliação<br />
dos trabalhos, que terá como critérios a inovação e<br />
a replicabilidade dos projetos candidatos, fica a cargo<br />
de um júri constituído por quatro profissionais de<br />
reconhecido mérito na área da saúde: (i) Margarida<br />
França, APAH, que preside; (ii) Sofia Mariz, Administração<br />
Central do Sistema de Saúde, I.P.; (iii) Delfim<br />
Rodrigues, Hospital Senhora da Oliveira – Guimarães,<br />
E.P.E. e (iv) Dulce Salzedas, jornalista da SIC.<br />
Para Alexandre Lourenço, presidente da APAH, “com<br />
esta iniciativa queremos premiar a excelência na gestão<br />
das unidades de saúde, porque acreditamos que<br />
reconhecer os bons exemplos é contribuir para a<br />
melhoria efetiva dos cuidados de saúde em Portugal”,<br />
e, acrescenta: “A seleção das candidaturas finalistas<br />
foi uma tarefa bastante difícil pelo elevado interesse<br />
dos projetos e também pelo número e qualidade das<br />
boas práticas e inovação dentro do SNS. Acreditamos<br />
que o reconhecimento e disseminação de práticas de<br />
excelência asseguram a melhoria da qualidade de cuidados<br />
de saúde à população e, por isso, continuamos<br />
a nossa aposta neste prémio”.<br />
Na edição deste ano foram recebidas 16 candidaturas,<br />
representativas do território nacional e dos diversos<br />
níveis de cuidados, das quais 6 irão passar à fase final,<br />
sendo apresentadas publicamente. No decorrer da<br />
reunião final será eleito, pelo júri, o vencedor da<br />
edição <strong>2018</strong>, sendo-lhe atribuído um prémio no valor<br />
de 5.000 euros. Ã<br />
A<br />
pressão para o aumento do investimento<br />
na área da saúde, agravada<br />
pelo progressivo envelhecimento<br />
da população e pela evolução tecnológica,<br />
nomeadamente o desenvolvimento<br />
de novos medicamentos e de meios de<br />
diagnóstico mais eficazes, a par com as expectativas<br />
do cidadão, marcam profundamente as sociedades<br />
e os sistemas de saúde.<br />
Contudo, face às restrições orçamentais, os sistemas<br />
de saúde dos países mais desenvolvidos têm experimentado<br />
uma grande variedade de reformas nos seus<br />
modelos de financiamento, com o objetivo de reduzir<br />
a incerteza causada pela introdução, por exemplo, de<br />
novos medicamentos e o seu impacto na sustentabilidade<br />
económica e financeira, privilegiando-se uma<br />
aposta em modelos baseados na medição do valor<br />
e dos resultados.<br />
É sob o lema "Financiamento e equidade para um<br />
SNS sustentável" que a Associação Portuguesa de<br />
Administradores <strong>Hospitalar</strong>es (APAH), com o apoio<br />
da AstraZeneca, realiza na manhã do dia 16 de novembro,<br />
no Centro Cultural de Belém - Sala Fernando<br />
Pessoa, a 10.ª edição do Fórum do Medicamento, a<br />
qual será, uma vez mais, presidida por Francisco Ramos,<br />
presidente do Conselho de Administração do<br />
Instituto Português de Oncologia de Lisboa, Francisco<br />
Gentil, E.P.E..<br />
Em discussão na edição deste ano estarão os desafios<br />
do financiamento de medicamentos inovadores e a<br />
liberdade de escolha do utente, a par com o debate<br />
da equidade no acesso e da necessidade de serem<br />
encontradas respostas inovadoras face aos novos<br />
desafios que se colocam ao sistema. Mais uma vez,<br />
esta iniciativa trará até nós o estado da arte na Europa<br />
sobre estas temáticas, sendo dada voz aos diversos<br />
atores do Sistema para perspetivar as implicações e<br />
as alternativas para Portugal. À semelhança da edição<br />
anterior, o Fórum do Medicamento <strong>2018</strong> será emitido<br />
em live streaming permitindo, assim, a participação<br />
de todos os interessados. Ã<br />
32 33
GH gestão<br />
PUBLIREPORTAGEM<br />
O GESTOR NOS<br />
HOSPITAIS PÚBLICOS:<br />
FAZER E QUEIXAR SE<br />
VS FAZER OU QUEIXAR SE<br />
Carlos Alberto Couto da Silva<br />
Presidente do Conselho de Administração<br />
do Centro <strong>Hospitalar</strong> do Tâmega e Sousa, E.P.E.<br />
É<br />
bem antiga, recorrente e muitas vezes<br />
gasta, a velha afirmação de que<br />
é muito difícil ser-se gestor de um<br />
Hospital público.<br />
E é também antiga, recorrente e<br />
muitas vezes gasta, a perceção de grande parte da<br />
opinião pública de que os gestores dos hospitais<br />
públicos são maus.<br />
O que estará, então, errado neste processo?<br />
Há vários anos que os indicadores de Saúde apresentados<br />
pelos Hospitais públicos do SNS comparam<br />
muito bem com o que de melhor existe no mundo,<br />
fruto de estarem municiados por profissionais de<br />
grande qualidade e formação reconhecida.<br />
O que não está ao alcance da capacidade de decisão<br />
dos gestores nos Hospitais públicos são os mecanismos<br />
que lhes permitam fazer apelo à sua criatividade,<br />
modelos flexíveis e colaborativos.<br />
As teias burocráticas dos processos de compras<br />
públicas, recrutamento de pessoal, investimentos,<br />
etc, são de tal modo infernais, que somente o desconhecimento<br />
concreto dos mesmos pela opinião<br />
pública origina depois as opiniões menos positivas<br />
sobre o papel do gestor.<br />
'<br />
'<br />
Num tempo em que simultaneamente se faz apelo ao<br />
SIMPLEX e às desmaterializações, somos diariamente<br />
confrontados com pedidos repetidos, redundantes<br />
e para vários organismos diferentes sobre a mesma<br />
matéria, numa prática muito centralizadora que a<br />
história mostrou não ser a melhor.<br />
É evidente, e é preciso ser sério para reconhecer,<br />
que algumas vezes alguns gestores se “puseram a<br />
jeito” para que lhes retirassem autonomia porque por<br />
desatenção, falta de cuidado ou erros de avaliação,<br />
foram tomando medidas que vieram no tempo a<br />
mostrar-se desadequadas.<br />
Mas para estas situações, há hoje mecanismos disponíveis<br />
de análise de benchmarking, muitas delas<br />
de conhecimento público, que podem e devem ser<br />
cada vez mais utilizadas para avaliação das decisões e<br />
criação de incentivos à disseminação de boas práticas.<br />
À tutela deve cumprir a coordenação e orientação<br />
das políticas, garantindo os recursos necessários e<br />
esbatendo os desequilíbrios ainda existentes (e alguns<br />
deles cada vez mais acentuados) entre estabelecimentos<br />
e regiões. Porque as análises de benchmarking<br />
referidas deixam facilmente percetíveis sinais que,<br />
querendo, a tutela pode usar para amenizar desequilíbrios<br />
e definir tendências.<br />
Em conclusão, há objetivas situações em que os gestores<br />
podem “Fazer ou Queixar-se”, mas há muitas<br />
em que podem “Fazer e Queixar-se”. Enquanto no<br />
primeiro caso a maioria vai optar por se queixar,<br />
na segunda vão fazer e assim vão tornar-se mais<br />
credíveis no seu comportamento.<br />
Apesar das razões de queixa, há coisas que se podem<br />
fazer. Ã<br />
MANUEL EUGÉNIO<br />
Country Manager Philips Ibérica<br />
e Presidente Philips Portuguesa<br />
A Philips estará presente no Congresso Europeu de Gestores<br />
<strong>Hospitalar</strong>es participando numa mesa redonda sobre<br />
como transformar Big Data em melhores cuidados de<br />
saúde, qual é a abordagem da companhia neste âmbito?<br />
Os sistemas de saúde estão sob uma enorme pressão. O elevado<br />
crescimento da população, acompanhado de um consequente<br />
envelhecimento da população e aumento significativo<br />
das doenças crónicas estão a aumentar o gasto em saúde, num<br />
momento de escassos recursos financeiros e humanos. É preciso<br />
redefinir o papel dos hospitais – temática central da reunião<br />
EAHM <strong>2018</strong> – e repensar o modelo de prestação dos cuidados<br />
de saúde tal como o conhecemos. Ao mesmo tempo, o avanço<br />
tecnológico e a inovação em sistemas médicos estão a gerar<br />
uma enorme quantidade de dados dos quais apenas uma fração<br />
está a ser usada efetivamente para melhorar a qualidade e a<br />
eficiência dos cuidados. Se não forem tratados, mais dados não<br />
equivalem a mais informação, pelo contrário, podem ser um<br />
fardo para as pessoas. Para lhe dar uma ideia da quantidade de<br />
dados que se geram, só os equipamentos da Philips armazenaram,<br />
até hoje, mais de <strong>14</strong>5 bilhões de imagens médicas, somando<br />
mais de 23 petabytes (23 milhões de gigabytes) de dados<br />
de imagem. Portanto é aqui onde a Philips pode ajudar, graças<br />
à sua grande aposta no desenvolvimento de tecnologia baseada<br />
em inteligência artificial (IA), aplicada à promoção de hábitos<br />
de vida saudáveis, à medicina e à gestão hospitalar. A IA tem<br />
potencial para transformar grandes quantidades de dados em<br />
insights acionáveis que podem capacitar médicos, administradores<br />
hospitalares, pacientes e consumidores de serviços de saúde<br />
a alcançar melhores resultados de saúde a um menor custo. Em<br />
resumo, a IA pode ser uma grande oportunidade para avançarmos<br />
na direção de um sistema de saúde baseado em valor.<br />
Fala em repensar modelos de prestação de cuidados e<br />
oportunidades. De que maneira pode a IA revolucionar<br />
a medicina?<br />
Os últimos avanços tecnológicos vão permitir a captura de mais<br />
dados do que nunca sobre o corpo humano, os estilos de<br />
vida das pessoas, sobre as doenças e os seus tratamentos, e<br />
sobre os hospitais e os sistemas de saúde. As soluções com<br />
inteligência artificial podem ajudar a combinar grandes quantidades<br />
de dados médicos para gerar uma visão mais holística<br />
dos pacientes. Extraindo informação útil dos dados captados<br />
pelos sistemas médicos, as soluções habilitadas por IA podem<br />
ajudar os médicos a otimizar os seus fluxos de trabalho, tempos<br />
de procedimento, apoiar a tomada de decisões clínicas e<br />
a seleção do exame adequado para cada paciente, levando a<br />
melhores resultados para os pacientes e melhorando a saúde<br />
da população. A nível departamental e corporativo, a capacidade<br />
da IA de crivar grandes quantidades de dados pode ajudar<br />
os administradores hospitalares a otimizar o desempenho dos<br />
serviços, a aumentar a produtividade e a melhorar o uso dos recursos<br />
existentes, gerando economia de tempo e custos. Além<br />
das fronteiras do hospital, a IA oferece uma tremenda oportunidade<br />
à medida que vai sendo incorporada em soluções de<br />
cuidados domiciliários e promoção de um estilo de vida saudável.<br />
Isso permitirá que as pessoas assumam o controlo sobre<br />
sua própria saúde, apoiadas por sistemas de alertas inteligentes.<br />
Combinando o apoio à tomada de decisões clínicas com a auto<br />
gestão do paciente, a gestão da saúde da população também<br />
se pode beneficiar com a IA. Com base em insights preditivos<br />
extraídos dos dados acumulados das populações e pacientes,<br />
os profissionais de saúde poderão tomar medidas preventivas,<br />
reduzir os riscos à saúde e economizar custos desnecessários.<br />
Portugal precisa atualmente de um programa coerente de prevenção.<br />
Na maioria dos países, o sistema de saúde é muito<br />
reativo, em vez de ser pró-ativo e orientado para a saúde preventiva.<br />
É vital para o futuro e precisamos de avançar nessa direção.<br />
Uma das principais questões em debate no EAHM <strong>2018</strong><br />
é precisamente a implementação de modelos e soluções<br />
inovadoras de prestação de cuidados de saúde, como é<br />
que Philips pode apoiar o SNS neste sentido?<br />
Embora tenhamos uma profunda compreensão dos desafios<br />
que afetam o desempenho geral do nosso sistema de<br />
saúde, vemos inúmeras oportunidades para melhorá-lo. Na<br />
Philips acreditamos numa abordagem patient centric baseada<br />
em valor e não em indicadores de volume que é como estão<br />
organizados os cuidados de saúde atualmente. A transição<br />
a um sistema de saúde baseado em valor requer parcerias<br />
profundas e relações de confiança apoiadas na colaboração<br />
e na partilha de riscos e retribuições. Para nós, a verdadeira<br />
colaboração significa trabalhar de mãos dadas com nossos<br />
clientes para identificar e implementar soluções de valor<br />
adaptadas aos desafios e necessidades de cada organização.<br />
Somos a única empresa do sector presente em todo o ciclo<br />
de saúde das pessoas, com tecnologia inovadora que promove<br />
estilos de saudáveis; dispositivos que favorecem a prevenção<br />
de doenças; sistemas médicos que oferecem diagnósticos precoces<br />
e precisos à primeira; soluções de terapia que permitem<br />
tratamentos minimamente invasivos; tecnologia de cuidados<br />
domiciliários para pacientes crónicos e populações envelhecidas.<br />
Todos estes sistemas se conectam entre si através de plataformas<br />
cloud que recolhem e analisam dados. Acreditamos<br />
que o ciclo de saúde das pessoas deve ser uma experiência<br />
perfeita, integrada e altamente personalizada. Um percurso<br />
onde cada informação contribui para um maior conhecimento<br />
clínico e científico, que beneficia todos os agentes da saúde:<br />
administradores, profissionais de saúde, pacientes e sociedade<br />
em geral.<br />
34 35
GH Case Study<br />
FAST TRACK DO<br />
TRATAMENTO CIRÚRGICO<br />
DAS FRATURAS DO<br />
COLO DO FÉMUR<br />
Figura1 Taxa de mortalidade intra-hospitalar 2012-2015 nos doentes com tratamento cirúrgico da FCF<br />
(Hospital de Cascais vs média SNS, Fonte: SINAS - ERS).<br />
Nuno Côrte-Real<br />
Diretor do Serviço de Ortopedia<br />
do Hospital de Cascais<br />
Francisco Guerra Pinto<br />
Ortopedista,<br />
Hospital de Cascais<br />
Rita Sousa Kadic<br />
Diretora de Eficiência,<br />
Qualidade e Melhoria Contínua<br />
Sílvia Moreira da Silva<br />
Gestora de Eficiência<br />
e Melhoria Contínua<br />
Figura 2 Tempo médio porta-cirurgia para doentes com FCF e a percentagem de doentes com cirurgia em menos de 48h (2012-20<strong>14</strong>).<br />
Apresentação do Hospital<br />
O Hospital de Cascais, integrado no grupo Lusíadas<br />
Saúde, é um hospital do Serviço Nacional de Saúde,<br />
gerido em regime de parceria público-privada (PPP)<br />
servindo a população do concelho de Cascais e<br />
oito freguesias do concelho de Sintra, estas últimas<br />
exclusivamente na área materno-infantil, traduzindo-se<br />
em cerca de 330.000 habitantes. Em termos<br />
de atividade, em 2017 foram realizados cerca de<br />
169.000 atendimentos de urgência, <strong>14</strong>2.000 consultas,<br />
16.000 episódios de internamento, 9.900 cirurgias<br />
e 2.600 partos.<br />
O Hospital conta com a dedicação de cerca de 1.500<br />
colaboradores, equipa esta que já tem enraizada na<br />
sua cultura uma orientação acentuada para a Qualidade<br />
e Segurança - prioridade e uma aposta deste<br />
Hospital desde sempre. Exemplo disso é o facto de<br />
ter sido um dos primeiros hospitais em Portugal a<br />
obter a acreditação pela Joint Commission International<br />
(JCI), que avalia a qualidade e segurança dos<br />
procedimentos clínicos e não clínicos em hospitais<br />
de todo o mundo. Distinguiu-se, também, com o<br />
1<strong>º</strong> lugar na excelência clínica do Sistema Nacional<br />
de Avaliação em Saúde – SINAS (ex aequo com<br />
outro Hospital), obtendo o nível máximo em 5<br />
áreas clínicas, entre as quais Ortopedia – tratamento<br />
cirúrgico das fraturas proximais do fémur.<br />
O mais recente reconhecimento internacional foi a<br />
certificação em 2017, como o único do país e um<br />
de três da europa, com o nível 7 do Electronic Medical<br />
Record Adoption Model (EMRAM) pelo HIMSS<br />
Analytics. Para esta certificação foram avaliados os<br />
sistemas e tecnologias de informação na área hospitalar<br />
em benefício do doente.<br />
Em 2013 a UnitedHealth Group adquiriu o então<br />
Grupo HPP (atualmente Grupo Lusíadas Saúde),<br />
tendo o Hospital de Cascais vindo a reafirmar o<br />
seu projeto transversal de melhoria contínua de<br />
forma crescente e sólida, dando corpo ao lema do<br />
Grupo Lusíadas Saúde: “Sabemos Cuidar”.<br />
Enquadramento<br />
Ao longo dos últimos anos, o Hospital Cascais tem<br />
apostado em investimentos tecnológicos e procedimentos<br />
baseados nas melhores práticas de qualidade<br />
e segurança, sendo um resultado claro deste<br />
trabalho as certificações, acreditações e reconhecimentos<br />
atribuídos por prestigiadas entidades. Paralelamente,<br />
as diretrizes nacionais e internacionais<br />
suportadas por benchmarkings oficiais e por case<br />
studies com resultados academicamente validados<br />
têm desafiado as equipas operacionais a ambicionarem<br />
serem uma referência na excelência clínica.<br />
Neste contexto, e remetendo para a realidade de<br />
2015, surgiu uma preocupação acentuada com a<br />
taxa de mortalidade intra-hospitalar dos doentes<br />
com fratura do colo do fémur (FCF) elegíveis para<br />
o tratamento cirúrgico, que subiu de 3% em 2012<br />
para 8% em 2015, como pode ser observado na<br />
figura 1. A evolução interna deste indicador e a<br />
comparação com o benchmarking nacional do SI-<br />
NAS evidenciou a necessidade de analisar a fundo<br />
este processo e, consequentemente, implementar<br />
melhorias ao mesmo.<br />
Os estudos internacionais demonstravam uma correlação<br />
entre a cirurgia precoce (abaixo das 48 horas)<br />
e a diminuição da mortalidade intra-hospitalar<br />
[1-5], o que levou a uma reflexão clínica e a uma<br />
análise mais detalhada destes indicadores no Hospital<br />
de Cascais. Assim, aferiu-se que o tempo médio<br />
porta-cirurgia prévio ao projeto se situava nas 80<br />
horas (figura 2), tendo sido identificado este fator<br />
como uma das causas prováveis do problema supracitado,<br />
e apenas 50% desses doentes realizavam<br />
a sua cirurgia em menos de 48 horas, conforme<br />
recomendado pelas diretrizes internacionais. Mais<br />
do que um resultado que traduzisse uma média,<br />
a preocupação centrou-se em assegurar o maior<br />
número de doentes operados até às 48 horas e em<br />
garantir a menor dispersão do tempo porta-cirurgia<br />
entre os diversos doentes (figura 3). }<br />
36 37
GH Case Study<br />
Tempo porta-cirurgia (horas)<br />
432:00<br />
384:00<br />
336:00<br />
288:00<br />
240:00<br />
192:00<br />
<strong>14</strong>4:00<br />
96:00<br />
48:00<br />
0:00<br />
Tempo porta-cirurgia para doentes com FCF<br />
2013<br />
Figura 3 Gráfico de dispersão e diagrama de caixa para o tempo médio porta-cirurgia (em horas) para doentes com FCF - 2013-20<strong>14</strong>.<br />
Figura 4 Resumo do mapeamento da cadeia de valor AS WAS (com principais bottlenecks assinalados).<br />
A partir dessa análise, foram desde logo repensados<br />
alguns dos passos fundamentais do processo, dos<br />
quais salientamos as principais alterações:<br />
• Pedido de Raio X inicial pelo enfermeiro da triagem;<br />
• Novo protocolo de interrupção de anti-agregantes<br />
plaquetários (com administração de concentrados<br />
plaquetários);<br />
• Protocolos pré-operatórios de MCDT (concordância<br />
entre Ortopedia e Anestesiologia);<br />
• Menu de acesso rápido na barra lateral do desktop<br />
médico (ex: protocolos, consentimentos informados,<br />
pedidos de consulta de Anestesiologia).<br />
Numa fase posterior, já em meados de 2017 e tendo<br />
por base a maturidade tecnológica alcançada no<br />
Hospital, foi possível iniciar uma série de desenvolvimentos<br />
dos sistemas de informação que, através de<br />
automatismos e alertas, permitiram potenciar mecanismos<br />
de apoio à decisão clínica desde a entrada do<br />
doente na triagem até à respetiva cirurgia. Exemplos<br />
destes desenvolvimentos são os triggers automáticos<br />
de Fast Track tendo por base os fluxogramas e discriminadores<br />
selecionados na Triagem de Manchester<br />
(figura 5), cockpit da Fast Track no desktop médico<br />
(figura 6), iconografia da Fast Track transversal aos<br />
vários profissionais, mensagens automáticas de alerta<br />
por SMS para diversos profissionais (ex: pedido<br />
de consulta de Anestesiologia).<br />
A par de todas as funcionalidades acima descritas,<br />
foi realizada uma monitorização frequente de indicadores<br />
de processo e de resultado que permitiram<br />
contínuos ajustes e melhorias processuais,<br />
bem como medir os benefícios para o doente. }<br />
“<br />
O HOSPITAL DE CASCAIS<br />
APOSTOU NA CRIAÇÃO<br />
DE UM DEPARTAMENTO<br />
DEDICADO À IMPLEMENTAÇÃO<br />
DE PROJETOS DIFERENCIADORES<br />
QUE PERMITAM, ENTRE OUTROS,<br />
AUMENTAR A QUALIDADE<br />
E A EFICIÊNCIA DOS<br />
CUIDADOS PRESTADOS.<br />
”<br />
Objetivo<br />
O objetivo geral do projeto centrou-se em reduzir<br />
a mortalidade intra-hospitalar para os doentes submetidos<br />
a tratamento cirúrgico da fratura do colo<br />
do fémur como resultado da redução do tempo<br />
médio desde a entrada do doente na porta da urgência<br />
até à respetiva cirurgia, garantindo que este<br />
timing se situava abaixo das 48 horas. Numa segunda<br />
fase, o desafio da equipa de projeto tornou-se<br />
mais ambicioso, tendo como meta um tempo médio<br />
porta-cirurgia abaixo das 24 horas, almejando<br />
uma performance de excelência nesta área clínica.<br />
A Equipa<br />
Seguindo as melhores práticas internacionais, o<br />
Hospital de Cascais apostou na criação de um departamento<br />
dedicado à implementação de projetos<br />
diferenciadores que permitam, entre outros,<br />
aumentar a qualidade e a eficiência dos cuidados<br />
prestados. Para este projeto foi constituída uma<br />
equipa multidisciplinar, incluindo os departamentos<br />
de Ortopedia, Anestesiologia, Medicina Interna,<br />
Direção da Urgência Geral, assim como as Direções<br />
Clínica, de Enfermagem, de Produção, de<br />
Eficiência e Melhoria Contínua e de Sistemas de<br />
Informação. Esta equipa foi responsável pelo desenho<br />
do processo, pela implementação das ações<br />
de melhoria e pela sua monitorização.<br />
Metodologia de Implementação<br />
Para definir as principais etapas de implementação<br />
deste projeto foi realizada uma análise de processo,<br />
com um mapeamento extenso do percurso<br />
do doente desde a sua entrada no Hospital até à<br />
cirurgia (figura 4), identificando os principais bottlenecks<br />
processuais.<br />
Figura 5 Exemplos de desenvolvimentos informáticos – triggers automáticos na Triagem.<br />
38 39
GH Case Study<br />
Figura 6 Exemplos de desenvolvimentos informáticos – cockpit da Fast Track no desktop médico.<br />
Figura 7 Resumo do mapeamento da cadeia de valor em 2017 (após ações de melhoria implementadas).<br />
Figura 9 Gráfico de dispersão e diagrama de caixa para o tempo médio porta-cirurgia (em horas) para doentes com FCF - 20<strong>14</strong>-2017.<br />
Figura 8 Tempo médio porta-cirurgia para doentes com FCF e a percentagem de doentes com cirurgia em menos de 48h (2012-2017).<br />
Resultados<br />
Este projeto tem demonstrado impactos tangíveis<br />
e intangíveis, com resultados ao nível da qualidade,<br />
segurança e eficiência do processo. A otimização e<br />
normalização do processo permitiu uma redução<br />
de mais de 50% do tempo médio porta-cirurgia<br />
(figura 7) para os doentes com FCF no ano de<br />
2017, o que se traduz em praticamente menos 2<br />
dias de demora-média nesta fase da permanência<br />
do doente no Hospital.<br />
Este feito ímpar da redução do tempo médio porta-cirurgia<br />
coloca a performance média atual (39<br />
horas) consideravelmente abaixo da meta das 48<br />
horas. Mais do que o objetivo médio, verificou-se<br />
que um número notável de doentes (79%) realizou<br />
a sua cirurgia em menos de 48 horas (figura<br />
8), contra os apenas 50% no cenário inicial. Nesse<br />
contexto, e perseguindo as metas mais ambiciosas<br />
dos melhores casos mundiais [2], o novo desígnio<br />
da equipa clínica é atingir a marca das 24 horas para<br />
esta cirurgia.<br />
Complementando os resultados acima mencionados<br />
e indo ao encontro da excelência do cuidado<br />
defendida pelo serviço e pelo Hospital, cujo mote<br />
central é que cada doente conta, foi importante<br />
garantir uma menor dispersão dos tempos porta-<br />
cirurgia entre os doentes operados. Esse resultado<br />
é ilustrado na figura 9, na qual se corrobora esta<br />
clara tendência de uniformização.<br />
Como inicialmente mencionado, o principal objetivo<br />
na incursão deste projeto prendeu-se com a<br />
redução da taxa de mortalidade intra-hospitalar<br />
associada a estes doentes. Os resultados finais (figura<br />
10), com uma incrível queda desta taxa para<br />
os 2,2% em 2017 (2016-17≈38 mortes potencialmente<br />
evitadas), são o principal motivo de orgulho<br />
do Hospital, motivando a prossecução de projetos<br />
semelhantes em outras áreas clínicas.<br />
Embora fora do âmbito do projeto, complemen-<br />
tou-se a análise com a evolução da demora média<br />
global (permanência hospitalar, em dias) destes<br />
doentes com FCF em comparação com os restantes<br />
doentes cirúrgicos de Ortopedia (figura<br />
11), sendo este um indicador relevante em termos<br />
clínicos e de gestão, usado em diversos estudos<br />
como proxy das necessidades de recursos em saúde<br />
e como indicador de eficiência e de qualidade<br />
clínica [6]. Verificou uma redução significativa na<br />
permanência hospitalar dos doentes submetidos à<br />
cirurgia da FCF em quase 4 dias, tendência que não<br />
é verificada nos restantes doentes cirúrgicos desta<br />
especialidade, o que aponta para eventuais bene- }<br />
40 41
GH Case Study<br />
Figura 10 Taxa de mortalidade intra-hospitalar 2012-2017 nos doentes com tratamento cirúrgico da FCF (Hospital de Cascais vs média SNS, Fonte: SINAS - ERS). Figura 11 Evolução da demora média doentes FCF vs Outras cirurgias de Ortopedia - 2012-2017.<br />
Siglas<br />
fícios da cirurgia precoce para além dos resultados<br />
anteriormente mencionados e incentiva a estudos<br />
adicionais sobre o impacto na recuperação pós-cirúrgica<br />
destes doentes.<br />
Discussão/Conclusões<br />
As referências e benchmarkings nacionais e internacionais<br />
são importantes impulsionadores da mudança<br />
que, aliados a um driver sólido de excelência clínica<br />
e de gestão hospitalar, conduzem a projetos de<br />
melhoria contínua com inquestionáveis resultados<br />
ao nível da qualidade, segurança e eficiência dos processos.<br />
Numa área clínica com esta prevalência e criticidade<br />
de cuidados precoces, a otimização destes<br />
processos cirúrgicos reveste-se de uma pertinência<br />
transversal no contexto hospitalar. As mudanças estruturais<br />
de base foram de simples reengenharia de<br />
processo, o que permite replicar os mesmos princípios<br />
tanto para outras unidades de saúde como para<br />
outros serviços. A introdução de automatismos e<br />
alertas numa fase mais avançada do projeto foi o<br />
complemento tecnológico inovador que apoia a uniformização<br />
e suporta a decisão clínica, garantindo<br />
um tracking completo destes doentes.<br />
Os resultados deste projeto, corroborados pelas<br />
conclusões de outros case studies semelhantes, são<br />
de evidente destaque. Em 2017 foram obtidas reduções<br />
de mais de 50% do tempo médio portacirurgia<br />
e cerca de 79% dos doentes tiveram a sua<br />
cirurgia realizada até às 48 horas após a chegada<br />
ao Hospital, um dos indicadores-chave deste projeto.<br />
A considerável diminuição na taxa de mortalidade<br />
intra-hospitalar destes doentes, situando-a<br />
nos 2,2%, traduz-se num notável outcome clínico,<br />
acompanhado por uma igualmente relevante redução<br />
na demora média global destes doentes (em<br />
cerca de 4 dias), o que vai para além das cerca de<br />
40 horas reduzidas no tempo médio porta-cirurgia.<br />
Estes resultados abrem caminho para futuros<br />
estudos sobre o impacto destas medidas na recuperação<br />
pós-cirúrgica destes doentes, com elevada<br />
pertinência clínica e de gestão.<br />
Consideramos como fatores críticos de sucesso<br />
deste projeto a forte liderança clínica destas equipas,<br />
o rigor metodológico e académico, bem como<br />
o envolvimento da gestão de topo, garantindo um<br />
grande alinhamento de objetivos e disponibilidades<br />
de recursos. A cultura de projeto defendida<br />
desde o primeiro momento permitiu, acima de<br />
tudo, delinear e implementar os passos fundamentais<br />
de mudança ao longo das diversas fases do<br />
processo, bem como monitorizar os indicadoreschave<br />
operacionais, num ciclo contínuo de ajustamento<br />
e melhoria.<br />
Os benefícios intangíveis do desenvolvimento destas<br />
equipas multidisciplinares em torno de objetivos<br />
comuns extrapolam a singularidade dos projetos.<br />
Acreditamos que estes são exemplos ímpares<br />
da interligação dos eixos estratégicos do Hospital:<br />
excelência clínica, melhor experiência de cuidados,<br />
desenvolvimento do capital humano, eficiência<br />
e sustentabilidade.<br />
Sabemos também que não basta implementar mudança.<br />
É necessário garantir o alinhamento das equipas<br />
com os processos e realizar uma efetiva e proativa<br />
gestão da mudança.<br />
Com a aposta na eficiência, na tecnologia centrada<br />
no doente, e na união das equipas em torno dos<br />
objetivos estratégicos, o Hospital de Cascais está<br />
cada vez mais a afirmar-se no caminho da excelência<br />
e a dar corpo ao lema do Grupo Lusíadas<br />
Saúde: “Sabemos Cuidar”. Ã<br />
1<br />
EMRAM - Electronic Medical Record Adoption Model<br />
ERS - Entidade Reguladora da Saúde<br />
FCF - Fratura do colo do fémur<br />
JCI - Joint Commission International<br />
MCDT - Meios Complementares de Diagnóstico<br />
e Terapêutica<br />
SINAS - Sistema Nacional de Avaliação em Saúde<br />
SNS - Serviço Nacional de Saúde<br />
[1] Lefaivre, K; Macadam, S.; Davidson, D.; Gandhi, G.; Chan, H.; Broekhuyse,<br />
H. “Lenght of stay, mortality, morbidity and delay to surgery in<br />
hip fractures”. The Journal of Bone and Joint Surgery. 2009.<br />
[2] Simunovic, N.; Devereaux, P.; Sprague, S.; Guyatt, G.; Schemitsch,<br />
E.; Debeer, J.; Bhandari, M. “Effect of early surgery after hip fracture<br />
on mortality and complications: systematic review and meta-analysis”.<br />
Canadian Medical Association Journal. 2010.<br />
[3] Weller, I.; Wai, E.; Jaglal, S.; Kreder, H. “The effect of hospital type and<br />
surgical delay on mortality after surgery for hip fracture”. J Bone Joint<br />
Surg Br. 2005.<br />
[4] Shiga, T.; Wajima, Z.; Ohe, Y. “Is operative delay associated with<br />
increased mortality of hip fracture patients? Systematic review, meta-<br />
-analysis, and meta-regression”. Can J Anaesth. 2008.<br />
[5] Moja, L.; Piatti, A.; Pecoraro.; Ricci, C.; Virgili, G.; Salanti, G.; Germagnoli,<br />
L.; Liberati, A.; Banfi, G. “Timing matters in hip fracture surgery:<br />
patients operated within 48 hours have better outcomes - a meta-analysis<br />
and meta-regression of over 190,000 patients”. PLoS One. 2012.<br />
[6] OECD. “Health at a Glance 2011: OECD Indicators”. OECD Publishing.<br />
2011<br />
42 43
GH Conferências de valor<br />
CONFERÊNCIAS<br />
DE VALOR APAH<br />
Rita Alexandra Salgado<br />
Aluno do XLVII CEAH<br />
- ENSP Nova<br />
A<br />
criação de valor para os gestores de<br />
saúde, através da partilha de boas<br />
práticas e de novas abordagens para<br />
enfrentar os desafios permanentes<br />
nas organizações de saúde, tem sido<br />
a epígrafe das Conferências de Valor APAH. A 5ª e<br />
mais recente destas conferências, ocorreu com o<br />
tema “Modelos de Liderança e <strong>Gestão</strong> da Mudança<br />
em Saúde”, nos dias 7 e 8 de junho, no Hotel dos<br />
Templários, em Tomar.<br />
Na sequência da colaboração entre a Associação<br />
Portuguesa de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es (APAH)<br />
e a Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP-NOVA),<br />
a APAH ofereceu inscrições a preço reduzido e duas<br />
inscrições gratuitas aos alunos do XLVII CEAH para<br />
este evento. Nós fomos os felizes contemplados com<br />
as duas inscrições gratuitas.<br />
Estando atualmente em formação no CEAH, é muito<br />
aliciante integrar um evento destinado aos administradores<br />
hospitalares que vivem diariamente<br />
as dificuldades para as quais<br />
“<br />
estamos a ser preparados. Para além<br />
disso, e dado o atual momento no contexto<br />
de saúde em Portugal, o tema<br />
da liderança e da gestão da mudança<br />
em saúde tornou irrecusável o convite<br />
que nos foi endereçado. Assim, partimos<br />
para a cidade dos Templários<br />
plenos de expectativas, moldadas pelo<br />
enunciado no Programa. Antevíamos<br />
uma conferência muito inovadora, com<br />
a partilha das melhores experiências<br />
44<br />
Miguel Cabral de Pinho<br />
Aluno do XLVII CEAH<br />
- ENSP Nova<br />
FOI ALICIANTE<br />
INTEGRAR<br />
UM EVENTO<br />
DESTINADO AOS<br />
ADMINISTRADORES<br />
HOSPITALARES<br />
nacionais e internacionais na área da gestão de organizações<br />
de saúde. Apesar de altas, as nossas expectativas<br />
foram superadas. No exórdio da conferência<br />
foi sobejamente assinalado que as organizações de<br />
saúde são sistemas abertos, e portanto dependem<br />
de uma sinergia complexa que extravasa a saúde.<br />
Ao longo da conferência foram enumerados vários<br />
desafios que todos os sistemas de saúde enfrentam.<br />
O tema comum nas possíveis soluções apontadas foi<br />
a inovação, a qual depende inteiramente da vontade e<br />
ousadia das organizações em experimentar, fazendo<br />
do erro um meio de aprendizagem. Ela só é possível<br />
num meio onde exista liderança, cabendo aos líderes<br />
ser os pivots da mudança, equilibrando as vantagens e<br />
desvantagens das abordagens top-down e bottom-up.<br />
Destacamos ainda o enfoque dado a uma ferramenta<br />
de gestão ainda pouco utilizada: o design thinking. Foram<br />
enfatizadas as suas vantagens no âmbito da saúde,<br />
abrindo a possibilidade de aprender com os erros e<br />
de focar a prestação de cuidados no valor humano.<br />
Para além do rico programa formativo, não podemos<br />
ainda deixar de destacar o ambiente acolhedor e<br />
familiar de toda a conferência, assim como a beleza<br />
e qualidade do espaço que nos acolheu.<br />
Como súmula destes dois dias de conferência, saímos<br />
da cidade dos Templários estimulados a fazer diferente<br />
e com a certeza que pequenas mudanças, muitas<br />
vezes só ao nível da abordagem e do pensamento,<br />
tornam possíveis grandes melhorias, desprendidas<br />
da necessidade de avultados recursos. Este evento<br />
permitiu-nos também interagir com<br />
aqueles que estão, por todo o país, a<br />
trabalhar para melhorar a gestão da<br />
saúde em Portugal e perceber as suas<br />
preocupações e esperanças.<br />
Consideramos assim que a participação<br />
na 5ª Conferência de Valor APAH<br />
foi uma excelente oportunidade de<br />
capacitação. Dirigimos, por esse motivo,<br />
o nosso sincero agradecimento à<br />
APAH, pela oportunidade concedida<br />
”<br />
aos alunos do CEAH de integrarem<br />
esta iniciativa. Ã
GH Espaço ENSP<br />
The internationalization<br />
process of ENSP NOVA<br />
Rui Santana<br />
Subdiretor Escola Nacional de Saúde Pública,<br />
Universidade NOVA de Lisboa<br />
Sílvia Lopes<br />
Professora e Coordenadora do Curso de Especialização<br />
em Administração <strong>Hospitalar</strong> (CEAH)<br />
Escola Nacional de Saúde Pública,<br />
Universidade NOVA de Lisboa<br />
'<br />
In addition, it is also important to mention the reception<br />
of foreign teachers, researchers and students:<br />
in 2017, 65 foreign students participated in regular<br />
ENSP-NOVA programs (Specializations, Masters and<br />
PhDs) and it is expected that in academic year 18 /<br />
19, five visiting professors from foreign universities will<br />
carry out research and teaching work at ENSP-NOVA.<br />
The increasing number of courses offered in English<br />
were a good contribution to this reality.<br />
For the same purpose, the ENSP-NOVA personnel<br />
have also contributed to its internationalization, with<br />
emphasis on the participation of teachers in the ERAS-<br />
MUS + program, through sabbaticals licenses in foreign<br />
countries and through their insertion in teams carrying<br />
international and competitive research projects.<br />
Being one of the important areas in Public Health,<br />
ENSP-NOVA has been also developing activities at<br />
the international level in Hospital Administration. An<br />
example of this evidence is the reception of two classes<br />
from École de Hautes Études en Santé Publique<br />
(Rennes) for a study visit to ENSP-NOVA and to<br />
Portuguese hospitals. On the part of the students of<br />
the Specialization in Hospital Administration, a study<br />
visit was also made to EHESP and to the George<br />
Pompidou Hospital in Paris. This cooperation resulted<br />
in a protocol signed between the two schools, which<br />
we have reported in a previous issue.<br />
More than the figures in which internationalization can be<br />
translated (volume of students and teachers, amounts of<br />
funding obtained, number of protocols, etc.), the exchange<br />
of experiences, shared innovation and the creation of<br />
knowledge networks among the academic community,<br />
are the most wanted rewards of this movement.<br />
The experience of the teaching staff, multidisciplinarity,<br />
the strong penetration in the Portuguese health<br />
system, as well as the privileged relationship with the<br />
Portuguese-speaking countries are characteristics that<br />
make ENSP-NOVA a strategic partner for establishing<br />
new partnerships in innovative areas of public health<br />
and hospital management. Ã<br />
The Escola Nacional de Saúde Pública<br />
(National School of Public Health)<br />
of the Universidade Nova de Lisboa<br />
(ENSP-NOVA) is a post-graduate<br />
teaching and research institution dedicated<br />
to developing applied research and knowledge<br />
transfer in the fields of public health and health policy<br />
and management.<br />
Founded in 1966, ENSP-NOVA is a pioneer institution<br />
in public health teaching in Portugal and in Europe.<br />
It has three main strategic goals aimed at improving<br />
and consolidating its position as: (i) a producer of<br />
nationally and internationally recognized research<br />
oriented to the resolution of problems in the fields<br />
of health and health care; (ii) a centre of excellence in<br />
teaching and training in public health; (iii) a reference<br />
university institution in the design, development, and<br />
evaluation of the Portuguese health system.<br />
The School carries out its activities through a broad network<br />
of national and international partnerships. It has an<br />
experienced and competent faculty (around 50 full and<br />
part-time staff) that cover a wide variety of disciplines<br />
(eg. Epidemiology and Statistics, Environmental and Occupational<br />
Health, Health Promotion, Health Policy and<br />
Administration, Health Services Management, Health<br />
Economics, Health Sociology, and Health Law).<br />
ENSP-NOVA is the host institution of CISP – Public Health<br />
Research Centre, a research center evaluated recently<br />
by Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) and<br />
the Portuguese Journal of Public Health (PJPH).<br />
Internationalization, as a process where organizations<br />
provide their activities in a geographical place that<br />
goes beyond their traditional boundaries, has gained<br />
relevance as a strategic axis in the universities across<br />
the world. This movement intends to adapt organizations<br />
to the increasably global and competitive context,<br />
where the creation of knowledge is increasably fast and<br />
disruptive. ENSP-NOVA has been following this trend.<br />
As one of its strategic axes, through the internationalization<br />
process of ENSP-NOVA, about three<br />
dozen active protocols with foreign entities in different<br />
continents and thematic areas have existed annually.<br />
These protocols sustain a systematic cooperation<br />
over time, and this establishment of close and strong<br />
relationships allows the development of teaching and<br />
research products.<br />
Examples of these partnerships are the Erasmus Mundus<br />
Joint Doctoral Program on Dynamics of Health<br />
and Welfare, a partnership with University of Évora,<br />
Linköping University of Sweden, and École des Hautes<br />
Études en Sciences Sociales, in Paris.<br />
Another example is the International Course on<br />
Quality in Health and Patient Safety (CIQSSP), a<br />
university extension program in partnership with the<br />
National School of Public Health - Sérgio Arouca of<br />
the Oswaldo Cruz Foundation (Fiocruz) in Brazil.<br />
In recent years, it is also important to highlight the<br />
protocol between the Clínica da Sagrada Esperança<br />
in Angola and ENSP-NOVA, which has allowed the<br />
development of several editions of programs in occupational<br />
and environmental health (occupational<br />
medicine) and in management of health units.<br />
46 47<br />
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Alterar a prática da medicina<br />
Na Novartis aproveitamos o poder inovativo da ciência para resolver alguns dos mais<br />
desafiadores problemas de saúde na nossa sociedade. Os nossos investigadores trabalham<br />
para ultrapassar as fronteiras da ciência, ampliar a nossa compreensão das doenças<br />
e desenvolver novas terapêuticas em áreas cujas necessidades médicas ainda não foram<br />
resolvidas. Temos paixão em descobrir continuamente novas formas de prolongar<br />
e melhorar a vida dos doentes.<br />
NOV184/11/2017
GH Opinião<br />
LEI DE BASES DA SAÚDE<br />
O CAMINHO PARA<br />
A REFORMA DO SETOR?<br />
De forma geral, a lei não serviu para que a saúde<br />
evoluísse no sentido que determinava. Podemos<br />
apontar várias razões, sendo a maior a falta de financiamento<br />
público neste setor e a falta de uma<br />
reforma capaz de fazer face à otimização de recursos<br />
para falarmos mais em saúde e menos em doenças.<br />
A proposta da Dra. Maria de Belém, alguém que eu<br />
muito respeito e admiro, traz algumas novidades,<br />
nomeadamente quando defende um sistema mais<br />
ao serviço do cidadão ou quando refere uma maior<br />
proximidade das políticas de saúde às pessoas, através<br />
do reforço da relação com as autarquias. Além<br />
disso, propõe-se que as políticas concentrem mais<br />
esforços na saúde mental, na saúde ocupacional e na<br />
literacia do doente, especificamente na área digital.<br />
Também prevê uma maior cooperação com a Comunidade<br />
dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), no<br />
âmbito da investigação, aquisição de medicamentos<br />
e formação de profissionais de saúde, bem como<br />
uma harmonia com os setores da economia social e<br />
do privado, um modelo de integração de cuidados<br />
que possam otimizar os recursos existentes no país.<br />
Destaco ainda, conforme publicado no site do SNS,<br />
a intenção de que os seus profissionais assumam<br />
uma administração pública específica, com modelos<br />
pluralistas de gestão, exigindo-se para isso profissionais<br />
qualificados. Maior autonomia não sei, mas<br />
mais competências certamente.<br />
A pergunta que se impõe é a seguinte: será desta que<br />
a lei de bases será de facto um veículo para se iniciar a<br />
verdadeira reforma da saúde? Dizem os políticos que<br />
as reformas só se fazem com maiorias no parlamento.<br />
Talvez. Mas para que as reformas se concretizem, o<br />
consenso terá que ser muito amplo. E Portugal continua<br />
dividido entre idealismos e não entre táticas passíveis de<br />
cumprir uma estratégia que aceitemos como comum. Ã<br />
Luís Lopes Pereira<br />
Diretor Geral Medtronic Portugal<br />
A<br />
saúde está na ordem do dia. Seja<br />
pelo financiamento, os profissionais,<br />
os equipamentos, o setor<br />
privado, a regulamentação... são<br />
vários os temas que vão saindo nas<br />
notícias como se Portugal já tivesse feito uma reforma<br />
ao setor da saúde e como se todos os problemas<br />
fossem apenas ao nível da gestão.<br />
Na recente Convenção da Saúde foi dado um primeiro<br />
passo no sentido de envolver todos os stakeholders<br />
numa reforma que urge para a saúde. Enquanto isso<br />
o Governo solicitou uma proposta para uma nova<br />
lei de bases da saúde.<br />
A lei é importante para a reforma pois são necessárias<br />
linhas estratégicas que orientem as políticas que vão<br />
sendo implementadas. No entanto convém analisar<br />
em que medida esta lei, por enquanto a que está em<br />
vigor, influenciou as políticas instituídas até agora.<br />
A atual lei repete há trinta anos, no seu primeiro<br />
ponto, que “a promoção da saúde e a prevenção da<br />
doença fazem parte das prioridades no planeamento<br />
das atividades do Estado”. As ações implementadas,<br />
ou não implementadas, resultam nas maiores taxas<br />
de diabetes e hipertensão da OCDE. Por outro lado,<br />
é também do conhecimento público o reduzido<br />
valor reservado para a prevenção no orçamento<br />
geral da saúde.<br />
A mesma lei impõe, um pouco mais à frente, como<br />
“objetivo fundamental obter a igualdade dos cidadãos<br />
no acesso aos cuidados de saúde, seja qual for a sua<br />
condição económica e onde quer que vivam, bem<br />
como garantir a equidade na distribuição de recursos<br />
e na utilização de serviços”. Ora, são conhecidas as desigualdades<br />
de acesso em termos regionais, bem como<br />
as desproporções orçamentais entre várias instituições<br />
prestadoras de saúde, nomeadamente hospitais.<br />
Mais adiante, diz a lei que “os serviços de saúde<br />
estruturam-se e funcionam de acordo com o interesse<br />
dos utentes e articulam-se entre si e ainda<br />
com os serviços de segurança e bem-estar social”.<br />
Talvez quando o Ministério da Saúde deixar de se<br />
chamar assim e passe a integrar a gestão dos cuidados<br />
sociais, pela sua interligação, esta premissa<br />
possa ser cumprida.<br />
Recomenda ainda a lei que “a gestão dos recursos<br />
disponíveis deve ser conduzida por forma a obter<br />
deles o maior proveito socialmente útil e a evitar<br />
o desperdício e a utilização indevida dos serviços”.<br />
Devo dizer que os profissionais e as administrações<br />
de saúde se têm esforçado no sentido de encontrar<br />
soluções logísticas mais eficientes. Falta, na minha<br />
opinião, uma maior autonomia das unidades para<br />
facilitar o envolvimento de todos na procura e eliminação<br />
de desperdícios.<br />
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GH Reflexões de Direito Biomédico<br />
LEI DE BASES DA SAÚDE<br />
A PROPOSTA DE <strong>2018</strong><br />
UM TESTEMUNHO<br />
(3) Abertura a diversos ciclos políticos,<br />
mas fortemente arrimada nos<br />
comandos constitucionais<br />
Uma Lei de Bases deve ter uma dimensão suprapartidária<br />
e que tenha abertura suficiente a diversas<br />
orientações ideológicas e a diversos programas de<br />
governo, sob pena de ser um mero texto político,<br />
sem futuro e sem capacidade de dialética transformadora.<br />
Mas não é um instrumento legislativo assético<br />
ou despido de uma filosofia política. A proposta<br />
configura a leitura que esta Comissão – sob a superior<br />
liderança da Dr.ª Maria de Belém Roseira – faz<br />
da Constituição e que, partindo dos direitos fundamentais,<br />
designadamente, do princípio da dignidade<br />
humana (art.1.<strong>º</strong>), do princípio da igualdade (art. 13.<strong>º</strong>) e<br />
do direito à proteção da saúde (art. 64.<strong>º</strong>) deixa claro<br />
o papel central e de liderança técnica, científica, formadora,<br />
promotora da equidade e da coesão social,<br />
que cabe ao SNS – o Serviço Nacional de Saúde – o<br />
qual poderá articular, quando necessário, com os<br />
setores da economia social e com a iniciativa privada<br />
um sistema integrado e harmonioso, com exigentes<br />
critérios de transparência, eficácia e eficiência. A CRP<br />
é clara ao impor a criação de um SNS universal, geral<br />
e tendencialmente gratuito, tendo o nosso sistema<br />
um pendor claro de natureza beveridgiana, que não<br />
poderá ser desvirtuado. O financiamento com base<br />
nos impostos e o acesso universal são a garantia de<br />
aperfeiçoamento deste instrumento de democracia<br />
viva e de coesão social que importa modernizar,<br />
designadamente nos domínios das tecnologias da<br />
informação e da inovação em saúde.<br />
Uma última nota. O processo de consultas, quer<br />
na fase de redação inicial em que foram ouvidas<br />
muitas das mais prestigiadas personalidades com<br />
pensamento estruturado sobre estas áreas, quer a<br />
consulta pública que decorreu em junho-julho, em<br />
que muitos e qualificados contributos foram entregues,<br />
revelaram-se de extrema importância para<br />
as virtudes que este documento possa apresentar.<br />
O processo ainda agora começou. O debate parlamentar<br />
– na casa da Democracia – terá lugar nos<br />
próximos meses, e a participação empenhada e<br />
construtiva dos agentes mais informados da área da<br />
saúde será decisiva para que uma Nova Lei de Bases<br />
possa dar um novo impulso ao reforço desta área<br />
decisiva da nossa vida pessoal e coletiva. Ã<br />
André Gonçalo Dias Pereira<br />
Centro de Direito Biomédico;<br />
Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra<br />
Tive a honra de integrar a Comissão<br />
de Revisão da Lei de Bases da Saúde<br />
(Despacho n.<strong>º</strong> 1222-A/<strong>2018</strong>, de 31 de<br />
janeiro, do Ministro da Saúde, DR 2.ª<br />
S, n.<strong>º</strong> 24, 2 de fevereiro de <strong>2018</strong>) e<br />
tenho o gosto de partilhar 3 reflexões, naturalmente<br />
parciais e comprometidas, sobre o Documento que<br />
foi entregue em setembro deste ano ao Senhor<br />
Ministro da Saúde, e que se podem enunciar em 3<br />
ideias-chave: (1) uma nova LBS, (2) assente na Pessoa<br />
e (3) com abertura a diversos ciclos políticos, mas<br />
fortemente arrimada nos comandos constitucionais.<br />
(1) Uma Nova LBS<br />
Não se tratou de uma mera revisão ou ‘aggiornamento’<br />
da Lei de Bases da Saúde de 1990 (Lei n.<strong>º</strong> 48/90,<br />
de 24 de Agosto, alterada pela Lei n.<strong>º</strong> 27/2002 de 8<br />
de Novembro). O trabalho apresentado é escrito de<br />
raiz, com uma estrutura inovadora e que atende às<br />
exigências de uma visão esclarecida e atualizada sobre<br />
a área da saúde. Visão essa que se centra na pessoa,<br />
que se preocupa com as determinantes (económicas,<br />
sociais, culturais, ambientais e laborais) da saúde e<br />
que define prioridades e políticas transversais, daí a<br />
autonomia concedida, por exemplo, à saúde pública<br />
e à saúde ocupacional. Naturalmente que os textos<br />
do pai fundador do SNS, Doutor António Arnaut,<br />
foram tidos como o farol que ilumina nas áreas de<br />
sombras e penumbra.<br />
(2) A centralidade da pessoa<br />
A pessoa, doente e não doente, a pessoa humana<br />
que tem o direito fundamental à proteção da saúde<br />
e o dever de a defender e promover, e cuja primazia<br />
passa pela importância concedida ao reconhecimento<br />
dos seus direitos, mas também pela educação em<br />
saúde a literacia para a saúde. Para além dos direitos<br />
individuais que saem fortalecidos (v.g., consentimento<br />
informado, sigilo e proteção de dados pessoais) é<br />
dado ênfase ao papel das associações de doentes.<br />
50
GH estudo<br />
REINTERNAMENTO<br />
MATERNO APÓS PARTO<br />
CARACTERIZAÇÃO E DETERMINANTES<br />
EM HOSPITAIS PÚBLICOS PORTUGUESES<br />
Miguel Papança<br />
Escola Nacional de Saúde Pública,<br />
Universidade NOVA de Lisboa<br />
Sílvia Lopes<br />
Professora e Coordenadora do Curso de Especialização<br />
em Administração <strong>Hospitalar</strong> (CEAH)<br />
Escola Nacional de Saúde Pública,<br />
Universidade NOVA de Lisboa<br />
Importância do reinternamento<br />
materno após parto<br />
A avaliação dos cuidados de saúde em Obstetrícia<br />
está habitualmente focada na análise dos eventos<br />
imediatos, que decorrem logo após o parto. 1-6 Por<br />
isso, a informação relativa ao reinternamento materno<br />
após parto, relacionada com os eventos não<br />
imediatos e seus principais determinantes, tem sido<br />
até agora muito pouco reportada e estudada. 7-10<br />
Se tomarmos como exemplo as complicações maternas<br />
que ocorrem durante o período puerperal,<br />
estas são muito diversas e aparecem por vezes organizadas<br />
em complicações obstétricas e não obstétricas.<br />
7 A grande maioria dessas complicações<br />
ocorre no período imediatamente após o parto<br />
e é tratada enquanto a mãe e a criança ainda se<br />
encontram no hospital. Contudo, um número ainda<br />
elevado de complicações é desenvolvido após a<br />
alta, requerendo algumas delas o reinternamento<br />
da mãe. 7-11-15 Assim, apesar de pouco frequente, o<br />
reinternamento materno após parto tende a estar<br />
associado a situações clínicas de maior gravidade,<br />
pelo que se reveste de grande importância o seu<br />
melhor conhecimento. 16 Estudos anteriores indicam<br />
que as mulheres reinternadas por causas obstétricas<br />
representam 43% ou 52% de todas as mulheres<br />
reinternadas no período após parto vaginal ou por<br />
cesariana, respetivamente. 7<br />
Estes estudos indicam também que, quando ocorre<br />
um reinternamento materno após parto, os diagnósticos<br />
do novo episódio que tendem a ser encontrados<br />
com maior frequência são a hemorragia após parto<br />
(parto vaginal: 48%; parto por cesariana: 20%) e as<br />
infeções puerperais (parto vaginal: 31%; parto por<br />
cesariana: 25%). 7<br />
Determinantes do reinternamento<br />
materno após parto<br />
Os determinantes do reinternamento materno após<br />
parto podem ser desagregados em determinantes<br />
não modificáveis e determinantes modificáveis.<br />
A revisão da literatura indica um risco significativamente<br />
maior de reinternamento após parto nas<br />
mulheres primíparas comparativamente às mulheres<br />
multíparas, o que também acontece naquelas que<br />
têm menor idade gestacional. 16-18 Ainda no âmbito<br />
da revisão bibliográfica, verificou-se que as mulheres<br />
com reinternamento após parto apresentavam mais<br />
comorbilidades no momento do parto (alterações<br />
hipertensivas, diabetes mellitus gestacional e prégestacional),<br />
assim como tinham sido submetidas em<br />
maior número a processos de transfusão sanguínea<br />
no decurso do parto e/ou tinham tido partos mais<br />
prolongados. 7-11-15 Além disso, as mulheres que tiveram<br />
infeções puerperais também tenderam a apresentar<br />
maiores percentagens de reinternamento após parto. 18<br />
Já no âmbito dos determinantes modificáveis e relativamente<br />
ao tipo de parto, o parto por cesariana<br />
é considerado fator de risco acrescido para o reinternamento<br />
materno. 11,16,17,19 Adicionalmente, no que<br />
diz respeito à duração do internamento inicial para<br />
o parto, verificou-se pelos estudos anteriores que<br />
nos partos por cesariana, o risco de reinternamento<br />
diminui à medida que a duração do internamento<br />
inicial aumenta e que nos partos vaginais,<br />
apenas os períodos de internamento inicial longos<br />
(>= 4 dias) estiveram associados ao reinternamento<br />
materno, aumentando-o. 7<br />
Em relação ao prazo para se considerar um reinternamento,<br />
é habitual ter-se em conta o período dos<br />
30 dias após a alta do internamento, uma vez que<br />
normalmente os reinternamentos que ocorrem nesse<br />
intervalo de tempo são influenciados pelos cuidados<br />
prestados no internamento inicial. 20<br />
Estudo do reinternamento materno<br />
após parto em hospitais portugueses<br />
Recentemente, foi realizado um trabalho no âmbito<br />
do Curso de Especialização em Administração <strong>Hospitalar</strong>,<br />
em que foram estudados a frequência e os<br />
determinantes do reinternamento materno após<br />
parto. Para esse efeito, foi utilizada a base de dados<br />
de morbilidade hospitalar, cedida pela Administração<br />
Central do Sistema de Saúde (ACSS), contendo os<br />
registos dos episódios de internamento dos doentes<br />
tratados em hospitais públicos do Continente. A<br />
população em estudo incluiu os episódios de internamento<br />
com alta em 20<strong>14</strong>, classificados num dos<br />
seguintes GDH (Grupos de Diagnósticos Homogéneos):<br />
370 (parto por cesariana, que não de alto risco,<br />
com complicações), 371 (parto por cesariana, que<br />
não de alto risco, sem complicações), 372 (parto }<br />
52 53
GH estudo<br />
Quadro1 Caracterização da frequência de reinternamento materno após parto<br />
N<strong>º</strong> de partos Frequência de reinternamento<br />
materno após parto<br />
Total 58.134 0,74%<br />
Faixa etária<br />
0-15 121 1,68%<br />
16-20 2.940 1,16%<br />
21-25 8.291 0,71%<br />
26-30 16.278 0,79%<br />
31-35 18.932 0,69%<br />
36-40 9.929 0,61%<br />
>40 1.643 0,79%<br />
Tipo de admissão<br />
Urgente 53.632 0,75%<br />
Programada 4.502 0,53%<br />
Duração de internamento (dias)<br />
Até 2 15.836 0,63%<br />
3 24.045 0,67%<br />
4 10.276 0,73%<br />
5+ 7.977 1,15%<br />
Tipo de parto<br />
Parto vaginal 41.806 0,73%<br />
Parto por cesariana* 16.328 0,75%<br />
Parto por cesariana de alto risco 3.546 0,73%<br />
Caraterização do número de dias até ao reinternamento materno após parto, por tipo de parto<br />
Figura1 Número de dias até ao reinternamento materno após parto, em frequência relativa acumulada por dia<br />
* Consideraram-se neste grupo todas as cesarianas, incluindo as de alto risco.<br />
vaginal, com complicações), 373 (parto vaginal, sem<br />
complicações), 374 (parto vaginal, outros), 375 (parto<br />
vaginal, instrumentalizado), 650 (parto por cesariana<br />
de alto risco, com complicações) e 651 (parto por<br />
cesariana de alto risco, sem complicações).<br />
Os reinternamentos considerados diziam respeito<br />
aos reinternamentos hospitalares não planeados<br />
que requereram admissão urgente nos 30 dias após<br />
a alta, uma vez que os reinternamentos planeados<br />
não refletem a qualidade dos cuidados prestados. 30<br />
Foi ainda apurado o número de dias que decorreu<br />
entre a alta do episódio do parto e a admissão do<br />
episódio de reinternamento materno após parto.<br />
As variáveis de caracterização da parturiente (idade<br />
materna) e do tipo de admissão do episódio do<br />
parto (urgente ou programada) foram incluídas na<br />
análise. A duração (em dias) do internamento inicial<br />
para o parto constava da base de dados e foi incluída<br />
no estudo. O tipo de parto (vaginal ou cesariana)<br />
foi definido com base no GDH de cada episódio<br />
e, nalguns casos, foram distinguidos os partos por<br />
cesariana de alto risco.<br />
A frequência de reinternamento materno foi caracterizada<br />
por faixa etária, tipo de admissão, duração<br />
do internamento e tipo de parto. O número de dias<br />
até ao reinternamento foi caracterizado por tipo de<br />
parto. Foi ainda realizada uma análise multivariada,<br />
em que através de uma regressão logística se procurou<br />
estudar o efeito conjunto de todas as variáveis<br />
sobre a ocorrência de um reinternamento (odds-ratio<br />
> 1: aumento do risco de reinternamento).<br />
Resultados do estudo<br />
Dos 58.134 partos incluídos no estudo, verificou-se<br />
que a maioria foi relativa a mulheres com idades<br />
entre os 21 e os 40 anos (91,9%) (Quadro 1). As<br />
parturientes estavam concentradas nas faixas dos 26<br />
aos 35 anos (60,6%) e apenas 2,8% tinham mais de<br />
40 anos. Constatou-se também que em 92,3% das<br />
parturientes a admissão ao internamento foi urgente<br />
(parto vaginal: 96,0%; cesariana: 82,7%). A demora<br />
média do internamento inicial para o parto foi 3,6<br />
dias. Em 41,4% dos casos, a duração de internamento<br />
foram 3 dias, apenas 13,7% das parturientes estive-<br />
Quadro2 Análise dos determinantes<br />
do reinternamento materno após parto<br />
Odds ratio (IC95%) p<br />
Idade materna 0,982 (0,965-0,998) 0,028<br />
Admissão<br />
0,695 (0,456-1,058) 0,090<br />
programada*<br />
Duração do 1,029 (1,013-1,046) 0,000<br />
internamento inicial<br />
Parto por cesariana** 1,046 (0,841-1,303) 0,684<br />
Variável dependente: reinternamento materno após parto. | Grupos<br />
de referência: * admissão urgente; ** parto vaginal. | IC95%: intervalo de confiança<br />
a 95%. | Um odds-ratio (OR) significativamente superior a 1 indica um aumento<br />
do risco de reinternamento materno após parto.<br />
ram internadas pelo menos 5 dias. Observou-se que<br />
28,1% dos partos foram cesarianas (16.328) e que<br />
as cesarianas de alto risco representaram cerca de<br />
1/5 das cesarianas (3.546).<br />
Nesta população ocorreram 428 reinternamentos,<br />
sendo a frequência de reinternamento materno<br />
após parto de 0,74% (Quadro 1).<br />
A frequência de reinternamento foi mais elevada<br />
em mulheres mais jovens, as faixas etárias com valor<br />
superior à média foram as duas mais baixas (0-15a e<br />
16-20a: 1,68% e 1,16%, respetivamente) e as faixas<br />
26-30a e >40a (0,79%). O reinternamento materno<br />
foi mais frequente nas admissões urgentes (0,75%)<br />
do que nas admissões programadas (0,53%). Os<br />
internamentos iniciais mais longos apresentaram<br />
frequências de reinternamento materno mais elevadas,<br />
crescendo o seu valor constantemente desde<br />
0,63% (até 2 dias) até 1,15% (5+ dias). Por tipo de<br />
parto, a frequência de reinternamento materno foi<br />
semelhante entre o parto normal (0,73%), por cesariana<br />
(0,75%) e por cesariana de alto risco (0,73%).<br />
Verificou-se também que metade dos reinternamentos<br />
maternos após parto vaginal ocorreu nos<br />
primeiros 6 dias após a alta (Figura 1).<br />
Esta percentagem foi atingida num período de tempo<br />
relativamente semelhante no caso dos partos por<br />
cesariana (5 dias) e num período de tempo bastante<br />
mais curto no caso dos partos por cesariana de alto<br />
risco (2 dias).<br />
Quando se considerou, através da análise multivariada,<br />
o efeito conjunto da idade materna, do tipo de<br />
admissão, da duração de internamento inicial e do<br />
tipo de parto, observou-se que a idade influenciou<br />
a frequência do reinternamento materno de forma<br />
estatisticamente significativa (Quadro 2). }<br />
54 55
GH estudo<br />
“<br />
ACOMPANHAMENTO<br />
APÓS PARTO PARA<br />
AS PARTURIENTES<br />
DE IDADES<br />
MUITO JOVENS.<br />
”<br />
Por cada ano adicional de idade materna, o risco de<br />
reinternamento após parto diminuiu em 1,8%. Além<br />
disso, quando a duração do internamento inicial foi<br />
mais prolongada, o risco de reinternamento materno<br />
aumentou (2,9% por cada dia adicional). Os<br />
resultados encontrados indicaram ainda que o tipo<br />
de parto e o tipo de admissão não tinham influência<br />
significativa sobre o reinternamento materno após<br />
parto (p>0,05).<br />
Implicações dos resultados<br />
do estudo para a gestão hospitalar<br />
Os dados encontrados e a sua análise parecem conduzir<br />
à necessidade de serem criadas medidas de<br />
acompanhamento após parto para as parturientes<br />
de idades muito jovens. Algumas dessas medidas<br />
poderiam ser iniciadas logo durante o internamento<br />
inicial para o parto, sendo inclusive de se considerar<br />
medidas de apoio social para o período após a alta.<br />
Como metade dos reinternamentos maternos<br />
tendeu a ocorrer na primeira semana após a alta<br />
pelo parto, a monitorização neste período parece<br />
crítica, mesmo que apenas telefonicamente. Contudo,<br />
no grupo de mulheres em que ocorreu parto<br />
por cesariana de alto risco, o acompanhamento nos<br />
primeiros 2 dias pode ser reforçado, por exemplo<br />
através da visita domiciliária de um profissional de<br />
saúde, uma vez que 50% dos eventos ocorreram<br />
naquele período. Estas recomendações vêm inclusive<br />
em linha com as guidelines oficiais, canadianas e americanas,<br />
as quais recomendam que exista um follow<br />
up das parturientes nas 48 horas após a alta, sendo<br />
que, apesar disso, um estudo relativo ao uso desta<br />
prática indicou que a mesma apenas era realizada<br />
em 50% dos casos. 21<br />
Em estudos futuros, estes resultados poderão ser<br />
complementados pelo conhecimento mais aprofundado<br />
sobre a morbilidade materna, a qual não foi<br />
aqui considerada. Aliás, o risco acrescido de reinternamento<br />
materno verificado para os internamentos<br />
iniciais para o parto mais prolongados pode estar<br />
relacionado com uma maior morbilidade materna e<br />
não propriamente com a duração de internamento<br />
inicial em si mesma.<br />
Outro aspeto que importa ter em conta diz respeito<br />
à baixa frequência do reinternamento materno,<br />
o qual limitou a robustez das análises estatísticas<br />
realizadas. Contudo, foi possível encontrar resultados<br />
com significância estatística para algumas das<br />
variáveis estudadas, nos quais se sustentaram as<br />
implicações já mencionadas anteriormente. Importa<br />
ainda recordar que este é apenas um dos outcomes<br />
possíveis no período após parto, pelo que os resultados,<br />
isoladamente, não podem ser interpretados<br />
como sendo indiferente a opção entre parto por<br />
cesariana e parto vaginal. Finalmente, salienta-se<br />
que só as situações mais graves e que justificaram o<br />
internamento materno foram incluídas, uma vez que<br />
não foi possível considerar a utilização da urgência<br />
após a alta do internamento para o parto.<br />
Uma vez que em cada hospital se tratará de um<br />
evento pouco frequente e no sentido de se ser o mais<br />
custo-efetivo possível, sugere-se que as medidas propostas<br />
assentem primeiro que tudo na identificação<br />
das parturientes de maior risco, que mais beneficiarão<br />
de medidas preventivas do reinternamento<br />
materno após parto. Tendo em conta a necessidade<br />
de evitar estes eventos, mas também considerando<br />
que existem características específicas de cada<br />
hospital, poderá interessar à gestão dos serviços de<br />
obstetrícia tomar medidas nesse sentido, reduzindo<br />
as repercussões negativas dos reinternamentos tanto<br />
para as parturientes e respetivas famílias, como para<br />
os custos e qualidade dos cuidados no hospital e no<br />
Serviço Nacional de Saúde. Ã<br />
1<br />
1. Hannah ME, Hannah WJ, Hewson SA, Hodnett ED, Saigal S, Willan<br />
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21. Britton JR. Postpartum early hospital discharge and follow-up practices<br />
in Canada and United States. Birth. 1988;25(3):161-8<br />
56
MARCA A AGENDA<br />
A Associação Portuguesa de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es (APAH) promoveu as seguintes iniciativas [abril - setembro <strong>2018</strong>]:<br />
3F: Financiamento, Fórmula para o Futuro<br />
– “Saúde, uma prioridade”<br />
3.ª e 4.ª reunião de peritos (abril e 25 maio), Lisboa<br />
O Projeto “3F – Financiamento, Fórmula para o Futuro” é uma iniciativa<br />
da APAH, com o apoio da Roche e da IQVIA e conta com a participação<br />
de especialistas de diferentes áreas, que se juntaram em quatro<br />
momentos distintos, para analisar o modelo atual de financiamento dos<br />
hospitais portugueses, promover a discussão de potenciais soluções<br />
de financiamento com vista à criação de valor para os doentes, assim<br />
como desenvolver projetos-piloto com hospitais, de forma a testar<br />
a exequibilidade das soluções encontradas. As conclusões do trabalho<br />
desenvolvido, assim como a definição dos projetos-piloto, serão<br />
apresentadas publicamente a 10 de Outubro, na Fundação Caloustre<br />
Gulbenkian em Lisboa.<br />
Mais informações em: https://www.saudeumaprioridade.pt<br />
À Terça-feira com… | Webinars APAH | Francisco Rocha<br />
Gonçalves<br />
3 de abril, Webconferência<br />
Francisco Rocha Gonçalves foi o orador do 3.<strong>º</strong> Webinar “À Terça-feira<br />
com…” onde analisou as tendências e impacto para o setor da saúde<br />
da medição de resultados.<br />
Estratégias para diminuir o recurso<br />
inapropriado de doentes ao Serviço<br />
de Urgência | Workshop APAH + SPMI<br />
17 de abril, Hospital Júlio de Matos - Centro <strong>Hospitalar</strong> Psiquiátrico<br />
de Lisboa, Lisboa<br />
A APAH em parceria com Sociedade Portuguesa de Medicina Interna<br />
(SPMI) e o apoio da EY organizaram um workshop sobre gestão<br />
do serviço de urgência, destinado a elementos dos Conselhos de<br />
Administração e da gestão intermédia do Serviço de Urgência com<br />
o intuito de disseminar práticas que possam alavancar a eficiência das<br />
unidades de saúde do SNS.<br />
13.<strong>º</strong> Caminho dos Hospitais | Hospital Garcia<br />
de Orta<br />
20 de abril, Almada<br />
A APAH e o Hospital Garcia de Orta organizaram mais uma Conferência/debate<br />
inserida na iniciativa “Caminho dos Hospitais”, desta feita<br />
dedicada ao tema “Integração de Cuidados de Saúde”. Ver reportagem<br />
na próxima edição.<br />
Medicina e Administração de Sistemas<br />
de Saúde | Ciclo Conferências <strong>2018</strong><br />
26 de abril, Secção Regional Norte da Ordem dos Médicos<br />
(SRNOM), Porto<br />
No âmbito do protocolo assinado entre a SRNOM e a APAH, realizouse<br />
a 1.ª sessão do Ciclo de Conferências <strong>2018</strong> | Medicina e Administração<br />
de Serviços de Saúde” A conferência, intitulada «Organização<br />
Interna dos Hospitais», foi moderada por António Araújo, Presidente<br />
do CRNOM, e contou com as participações de Rui Guimarães, Diretor<br />
Clínico do Hospital Santa Maria Maior, EPE - Barcelos) e de Alexandre<br />
Lourenço (Presidente da APAH).<br />
Prémio Coriolano Ferreira<br />
27 de abril, Auditório – Escola Nacional de Saúde Pública, Lisboa<br />
(ENSP)<br />
A APAH e a ENSP relançaram o Prémio Coriolano Ferreira com o<br />
objetivo de homenagear o Professor Coriolano Ferreira e dinamizar<br />
a investigação em administração hospitalar, distinguindo anualmente o<br />
melhor aluno do Curso de Especialização em Administração <strong>Hospitalar</strong><br />
(CEAH) da ENSP. Nas edições de <strong>2018</strong> a 2020, o Prémio Coriolano<br />
Ferreira conta com o apoio da IQVIA. O vencedor da edição <strong>2018</strong><br />
será anunciado no dia da ENSP.<br />
Prémio Healthcare Excellence | 5.ª Edição | Período<br />
de candidaturas <strong>2018</strong><br />
1 de maio a 30 de junho<br />
A APAH e a AbbVie promovem a 5.ª edição do Prémio Healthcare<br />
Excellence com o objetivo de distinguir a excelência na gestão de unidades<br />
de saúde, reconhecendo as boas práticas no domínio da melhoria<br />
do serviço aos utentes, promovendo a sua partilha e incentivando a<br />
sua consolidação. A eleição do vencedor da edição de <strong>2018</strong> será realizada,<br />
em Sessão pública de apresentação dos projetos finalistas, a<br />
19 de outubro na sede da Secção Regional Norte da Ordem dos<br />
Médicos (SRNOM).<br />
À Terça-feira com… | Webinars APAH | Manuel Lopes<br />
8 de maio, Webconferência<br />
Num Webinar muito participado Manuel Lopes, Coordenador Nacional<br />
para a Reforma Cuidados Continuados Integrados, falou da importância<br />
de melhorar a articulação entre os hospitais e os cuidados continuados<br />
e qual o ponto de situação atual em Portugal. Este Webinar contou com<br />
a participação ativa de muitos profissionais de saúde e investigadores.<br />
Saúde e Segurança Social A necessidade<br />
de um pensamento global | Workshop APAH + SPMI<br />
15 de maio, Centro Cultural de Belém, Lisboa<br />
A APAH em parceria com Sociedade Portuguesa de Medicina Interna<br />
(SPMI) organizaram o Workshop " Saúde e Segurança Social,<br />
a necessidade de um pensamento "global" com o objetivo de alertar<br />
para a necessidade de começar a pensar conjuntamente a Saúde e a<br />
Segurança Social em Portugal.<br />
<strong>14</strong>.<strong>º</strong> Caminho dos Hospitais | Unidade Local<br />
de Saúde da Guarda<br />
25 de maio, Guarda<br />
No âmbito da iniciativa “Caminho dos Hospitais” a APAH e a Unidade<br />
Local de Saúde da Guarda organizaram a conferência “No trilho das<br />
boas práticas”. Ver reportagem na próxima edição.<br />
5ª Conferência de VALOR APAH<br />
8 a 9 de junho, Hotel dos Templários, Tomar<br />
A APAH realizou a 5ª Conferência de VALOR APAH dedicada ao tema<br />
"Liderança e gestão da mudança”. Ver reportagem na próxima edição.<br />
Improving Value in Cancer Care | ICHOM + All Can |<br />
Lançamento do estudo<br />
18 de junho, Hospital 12 de outubre, Madrid<br />
Instituto Português de Oncologia do Porto (IPO Porto) participa no<br />
estudo internacional “Improving Value in Cancer Care” em conjunto<br />
com outras 10 instituições de referência que tratam o cancro. Trata-se<br />
de um estudo europeu promovido pelo Internacional Consortium for<br />
Health Outcomes Measurement (ICHOM) e pelo All.Can, que inclui<br />
a medição de resultados no cancro do pulmão e da mama, com o<br />
objetivo de compreender as variações existentes entre instituições e<br />
desenvolver estratégias de melhoria do valor criado com os cuidados<br />
de saúde prestados. Fruto da experiência e desenvolvimento adquirido,<br />
o IPO-Porto foi selecionado e é apoiado pela APAH neste importante<br />
projeto internacional que vai ser implementado na Clínica do Pulmão.<br />
15.<strong>º</strong> Caminho dos Hospitais | Centro <strong>Hospitalar</strong><br />
do Tâmega e Sousa<br />
29 de junho, Penafiel<br />
A APAH e o Centro <strong>Hospitalar</strong> do Tâmega e Sousa (CHTS) promoveram<br />
mais um Caminho dos Hospitais, desta, dedicado à partilha de boas<br />
práticas para a concretização do “Hospital sem Papel”. Foi uma excelente<br />
oportunidade para refletir sobre os desafios e as oportunidades para<br />
a gestão da mudança associada à digitalização dos cuidados de saúde<br />
e à proximidade com o cidadão. Ver reportagem na próxima edição.<br />
Como ultrapassar os obstáculos à investigação<br />
nos hospitais? | Discussão de casos reais no H2020<br />
11 de julho, INFARMED- Edifício Tomé Pires, Lisboa<br />
A APAH em parceria com o Gabinete de Promoção do Programa-<br />
Quadro de I&I (GPPQ) da Agência Nacional de Inovação e da Fundação<br />
para a Ciência e a Tecnologia organizaram o Workshop "Como<br />
ultrapassar os obstáculos à Investigação nos Hospitais - Discussão de<br />
casos reais do Horizonte 2020".<br />
Ciclo Luso-Brasileiro | Webinars de <strong>Gestão</strong><br />
de Serviços de Saúde | APAH + CBEXs<br />
28 de agosto, Webconferência<br />
A APAH e o Colégio Brasileiro de Executivos da Saúde (CBEXs)<br />
lançaram o Ciclo Luso-Brasileiro de “Webinars de <strong>Gestão</strong> de Serviços<br />
de Saúde” com o objectivo de promover a discussão de temas<br />
relevantes para os gestores de saúde que exercem funções no Brasil<br />
e em Portugal. A estreia do Ciclo de Webinars coube a Alexandre<br />
Lourenço, Presidente da APAH, que falou sobre o “Sistema de Saúde<br />
Português”. De registar a elevada adesão de um publico misto entre<br />
Brasil e Portugal e o dinamismo no período de perguntas e respostas.<br />
O próximo Webinar estará a cargo da CBEXs e será dedicado ao<br />
“Sistema de Saúde Brasileiro”.<br />
Rumo ao Norte <strong>Hospitalar</strong> | Ciclo Conferências <strong>2018</strong><br />
17 de setembro, Auditório Prof. David Ferreira, Edifício Egas<br />
Moniz, Lisboa<br />
A APAH coorganizou com o Centro <strong>Hospitalar</strong> Lisboa Norte a 2.ª<br />
Conferência inserida no Ciclo de Conferências “Rumo ao Norte <strong>Hospitalar</strong>”<br />
dedicada ao tema “Green Hospital – O futuro é hoje”.<br />
27.<strong>º</strong> Congresso da European Association<br />
of Hospital Managers (EAHM<strong>2018</strong>) Redifining<br />
the role of Hospitals – Innovationg in population Health<br />
26-28 de setembro, Centro de Congressos do Estoril, Cascais<br />
O EAHM<strong>2018</strong> organização conjunta da APAH e da European Association<br />
of Hospital Managers (EAHM) contou com “Alto Patrocínio do<br />
Presidente da República” e foi dedicado ao tema “Redefining the Role of<br />
Hospitals, Innovating in Population Health”. Em paralelo ao EAHM<strong>2018</strong><br />
a APAH promoveu no dia 26 de setembro o 1.<strong>º</strong> Workshop de “<strong>Gestão</strong><br />
em saúde nos países de língua portuguesa” que contou com o apoio<br />
da Comunidade Países de Lingua Portuguesa (CPLP) e que teve como<br />
objetivo fomentar, na área da gestão em saúde, laços de cooperação e<br />
partilha de experiências nos Países de Língua Portuguesa.<br />
EVENTOS +<br />
Deixamos aqui algumas sugestões de eventos futuros:<br />
ORGANIZAÇÃO APAH<br />
Projeto 3F: Financiamento, uma Fórmula<br />
para o Futuro |Saúde uma prioridade<br />
Apresentação publica das conclusões do estudo<br />
e projetos piloto<br />
Data: 10 de outubro, Lisboa<br />
Local: Fundação Caloustre Gulbenkian – Auditório 2<br />
Mais informações em: https://www.saudeumaprioridade.pt<br />
Healthcare Excellence | Prémio<br />
Cerimónia de eleição do vencedor e entrega do Prémio<br />
Data: 19 de outubro, Porto<br />
Local: Sessão Regional Norte da Ordem dos Médicos<br />
Mais informações em: https://apah.pt/iniciativas-projetos/premio-<br />
-healthcare-excellence/<br />
X Fórum do Medicamento <strong>2018</strong><br />
Financiamento e equidade para um SNS sustentável<br />
Data: 16 de novembro, Lisboa<br />
Local: Lisboa - Centro Cultural de Belém, Sala Fernando Pessoa<br />
Mais informações em: https://apah.pt/iniciativas-projetos/forumdo-medicamento/<br />
À Terça-feira com… | Webinars APAH<br />
Data: 1.ª Terça-feira de cada mês<br />
Local: Webconferência<br />
Mais informações em: https://apah.pt/iniciativas-projetos/a-tercafeira-com/<br />
CO-ORGANIZAÇÃO APAH<br />
Caminho dos Hospitais – Conferências debate<br />
Parceria APAH e Hospitais do Serviços Nacional de Saúde<br />
Periodicidade: mensal<br />
Mais informações em: https://apah.pt/iniciativas-projetos/caminho-dos-hospitais/<br />
Medicina e Administração de Sistemas de Saúde<br />
– Ciclo Conferências <strong>2018</strong><br />
Parceria APAH e Secção Regional Norte da Ordem<br />
dos Médicos<br />
2.ª Conferência: O Hospital e as pessoas<br />
Data: 29 de novembro <strong>2018</strong>, 19h00<br />
Local: SRNOM, Porto<br />
3.ª Conferência: Informática e o hospital<br />
Data: <strong>14</strong> de dezembro <strong>2018</strong>, 19h00<br />
Local: SRNOM, Porto<br />
Mais informações em: https://apah.pt/iniciativas-projetos/medicina-e-administracao-de-servicos-de-saude/<br />
Ciclo Luso-Brasileiro | Webinars de <strong>Gestão</strong><br />
de Serviços de Saúde<br />
Parceria APAH + CBEXs<br />
Data: mensal<br />
Local: Webconferência<br />
Rumo ao Norte <strong>Hospitalar</strong> – Ciclo de Conferências<br />
Parceria APAH e Centro <strong>Hospitalar</strong> Lisboa Norte (CHLN)<br />
3.ª Conferência: Segurança em Meio <strong>Hospitalar</strong><br />
Data: 22 de outubro <strong>2018</strong>, <strong>14</strong>h30<br />
Local: Auditório João Lobo Antunes, Edifício Egas Moniz, Lisboa<br />
Mais informações em: https://apah.pt/iniciativas-projetos/cicloconferencias-rumo-ao-norte-hospitalar/<br />
APAH RECOMENDA<br />
42nd World Hospital Congress - Patient-friendly<br />
& Smarter Healthcare<br />
Organização: International Hospital Federation (IHF)<br />
Data: 10 a 12 de outubro de <strong>2018</strong><br />
Local: Brisbane, Australia<br />
Mais informações em: www.hospitalcongress<strong>2018</strong>.com<br />
C-Health Congress<br />
Saúde “Out of the Box”, estar onde está o paciente<br />
Data: 24 de outubro, Lagoas Park Hotel<br />
Local: Lagoas Park Hotel<br />
Mais informações em: https://www.c-healthcongress.pt<br />
7<strong>º</strong> Congresso Internacional dos Hospitais<br />
- Envolvimento e Responsabilidade do cidadão no SNS<br />
Organização: Associação Portuguesa para<br />
o Desenvolvimento <strong>Hospitalar</strong> (APDH)<br />
Data: 21 a 23 de novembro de <strong>2018</strong><br />
Local: Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa, Portugal<br />
Mais informações em: http://apdh.pt<br />
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