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Gestão Hospitalar N.º 14 2018

Entrevista a Usman Khan, European Health Management Association

Entrevista a Usman Khan, European Health Management Association

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JULHO AGOSTO SETEMBRO <strong>2018</strong><br />

Edição Trimestral<br />

N<strong>º</strong> <strong>14</strong><br />

GESTÃO<br />

HOSPITALAR<br />

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA aSSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE ADMINISTRADORES HOSPITALARES<br />

PROJETO PILOTO<br />

Patient Blood<br />

Management:<br />

A mudança<br />

do modelo<br />

de governação<br />

SERVIÇO NACIONAL<br />

DE SAÚDE<br />

Os Cuidados<br />

de Saúde Primários<br />

como pilar central<br />

do Serviço Nacional<br />

de Saúde<br />

CASE STUDY<br />

Fast Track<br />

do Tratamento<br />

Cirúrgico das<br />

Fraturas do Colo<br />

do Fémur<br />

ESPAÇO ENSP<br />

The internationalization<br />

process of ENSP-NOVA<br />

27 th EAHM CONGRESS<br />

Redefining the Role<br />

of Hospitals | Innovating<br />

in Population Health<br />

ENTREVISTA<br />

Usman Khan<br />

APOIAR<br />

A EXCELÊNCIA<br />

NA GESTÃO<br />

DA SAÚDE


GH SUMÁRIO<br />

julho agosto setembro <strong>2018</strong><br />

GESTÃO<br />

HOSPITALAR<br />

PROPRIEDADE<br />

APAH − Associação Portuguesa<br />

de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />

Parque de Saúde de Lisboa Edíficio, 11 - 1.<strong>º</strong> Andar<br />

Av. do Brasil 53<br />

1749-002 Lisboa<br />

secretariado@apah.pt<br />

www.apah.pt<br />

DIRETOR<br />

Alexandre Lourenço<br />

DIRETORA-ADJUNTA<br />

Bárbara Sofia de Carvalho<br />

COORDENADORES<br />

Emanuel Magalhães de Barros, Miguel Lopes<br />

EDIÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO<br />

Bleed - Sociedade Editorial e Organização<br />

de Eventos, Ltda.<br />

Av. das Forças Armadas 4 – 8B<br />

1600-082 Lisboa<br />

Tel.: 217 957 045<br />

info@bleed.pt<br />

www.bleed.pt<br />

PROJETO GRÁFICO<br />

Sara Henriques<br />

DISTRIBUIÇÃO<br />

Gratuita<br />

PERIODICIDADE<br />

Trimestral<br />

DEPÓSITO LEGAL N.<strong>º</strong><br />

16288/97<br />

ISSN N.<strong>º</strong><br />

0871–0767<br />

TIRAGEM<br />

2.000 exemplares<br />

IMPRESSÃO<br />

Grafisol, lda<br />

Rua das Maçarocas<br />

Abrunheira Business Center N<strong>º</strong>3<br />

2710-056 Sintra<br />

Esta revista foi escrita segundo as novas regras<br />

do Acordo Ortográfico<br />

4<br />

6<br />

12<br />

16<br />

24<br />

32<br />

33<br />

34<br />

36<br />

44<br />

46<br />

48<br />

50<br />

52<br />

58<br />

Editorial<br />

Congresso Europeu de Gestores <strong>Hospitalar</strong>es<br />

Alexandre Lourenço<br />

Projeto Piloto<br />

Patient Blood Management: A mudança do modelo de governação<br />

Dialina Brilhante, Jorge Félix, António Robalo Nunes<br />

Serviços de Urgência<br />

Utilizadores Frequentes da Urgência Geral do Hospital Garcia de Orta, EPE<br />

Andreia Mesquita, Carla Menino, Catarina Bekerman, Cátia Sousa,<br />

Joana Luís, Júlio Veríssimo, Margarida Freitas, Mª José Colaço,<br />

Pedro Lopes, Susana Saiote, Susana Sampaio<br />

Serviço Nacional de Saúde<br />

Os Cuidados de Saúde Primários como pilar central do Serviço Nacional de Saúde<br />

Vera Sofia Pinheiro Branco de Almeida<br />

Entrevista<br />

Usman Khan: Apoiar a excelência na <strong>Gestão</strong> da Saúde<br />

Iniciativas<br />

APAH vai distinguir as melhores práticas de gestão em saúde<br />

Iniciativas<br />

Financiamento e equidade marcam a 10 a edição do Fórum do Medicamento<br />

<strong>Gestão</strong><br />

O gestor nos hospitais públicos: fazer e queixar se vs fazer ou queixar-se<br />

Carlos Alberto Couto da Silva<br />

Case Study<br />

Fast track do tratamento cirúrgico das fraturas do colo do fémur<br />

Nuno Côrte-Real, Francisco Guerra Pinto, Rita Sousa Kadic,<br />

Sílvia Moreira da Silva<br />

Conferências de Valor<br />

Conferências de valor APAH<br />

Rita Alexandra Salgado, Miguel Cabral de Pinho<br />

Espaço ENSP<br />

The internationalization process of ENSP - Nova<br />

Rui Santana, Sílvia Lopes<br />

Opinião<br />

Lei de Bases da Saúde: o caminho para a reforma do setor?<br />

Luís Lopes Pereira<br />

Reflexões de Direito Biomédico<br />

Lei de Bases da Saúde: A proposta de <strong>2018</strong> - um testemunho<br />

André Gonçalo Dias Pereira<br />

Estudo<br />

Reinternamento materno após parto: caracterização e determinantes<br />

em hospitais públicos portugueses<br />

Miguel Papança, Sílvia Lopes<br />

A APAH marca a agenda<br />

3


GH editorial<br />

Alexandre Lourenço<br />

Presidente da APAH<br />

Congresso Europeu<br />

de Gestores <strong>Hospitalar</strong>es<br />

Em 1984, a Associação Portuguesa<br />

de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />

(APAH) organizou pela primeira vez<br />

o Congresso Europeu de Gestores<br />

<strong>Hospitalar</strong>es. Este quinto congresso<br />

teve lugar em Espinho e foi a consequência lógica de<br />

um trabalho iniciado por Eduardo Sá Ferreira junto<br />

da Associação Europeia de Diretores de Hospitais –<br />

tradução em voga da origem francófona da associação.<br />

Coube à Direção liderada por João Santos Cardoso<br />

abrir este V Congresso.<br />

Em 1999, a APAH vem organizar o XXVII Congresso<br />

pela mão da Direção de Manuel Delgado, desta feita<br />

em Lisboa. A sessão inaugural é honrada com a presença<br />

do Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio.<br />

Estes dois episódios de relevo para a nossa profissão<br />

são relatados pela Revista <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> (GH)<br />

– hoje disponível na íntegra no site da APAH. Durante<br />

o mês de outubro, acompanhando as tendências de<br />

portabilidade, iremos disponibilizar a GH para dispositivos<br />

móveis IOS e Android. Este novo recurso da APAH<br />

permitirá ainda a partilha de conteúdos relevantes para<br />

a gestão diária das organizações de saúde.<br />

Em 2015, Victor Herdeiro, enquanto membro da<br />

Direção da APAH e membro da Direção da European<br />

Association of Hospital Managers (EAHM),<br />

apresentou a candidatura portuguesa à organização<br />

do Congresso Europeu de Gestores <strong>Hospitalar</strong>es. Reconhecendo-se<br />

o passado da APAH e a credibilidade<br />

do trabalho desenvolvido por este colega no seio da<br />

EAHM, a nossa candidatura foi a vencedora, cabendonos<br />

organizar o 27.<strong>º</strong> Congresso Europeu de Gestores<br />

<strong>Hospitalar</strong>es.<br />

Pela primeira vez, fruto da adesão à agenda proposta<br />

pela APAH, este Congresso consegue assegurar que<br />

as mais reputadas organizações internacionais, como<br />

a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Comissão<br />

Europeia, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento<br />

Económico (OCDE), o Banco Europeu de<br />

Investimento, a Federação Internacional dos Hospitais,<br />

entre outras, sejam parceiras do evento e contribuam<br />

para o desenvolvimento do programa científico.<br />

Os nossos objetivos para este Congresso são ambiciosos:<br />

1) construir uma agenda europeia para a redefinição<br />

do papel dos hospitais através da inovação na gestão<br />

da saúde da população; 2) profissionalização da gestão<br />

de serviços de saúde.<br />

Esta GH conta com artigos de excelência e com<br />

uma nova rúbrica fruto da parceria com o Centro de<br />

Direito Biomédico da Universidade de Coimbra - Reflexões<br />

de Direito Biomédico. Convido-vos especialmente<br />

a ler a entrevista a Usman Khan. Depois de uma extraordinária<br />

palestra sobre a Liderança e <strong>Gestão</strong> da<br />

Mudança (emitida em streaming), na última edição<br />

das Conferências de Valor, esta entrevista vem<br />

dar corpo às ideias transmitidas.<br />

Melhor <strong>Gestão</strong>, Mais SNS. Ã<br />

4


GH projeto piloto<br />

PATIENT BLOOD<br />

MANAGEMENT<br />

A MUDANÇA DO MODELO<br />

DE GOVERNAÇÃO<br />

Pilar 1<br />

Período pré-operatório<br />

Pilar 2<br />

Período intra-operatório<br />

Pilar 3<br />

Período pós-operatório<br />

Deteção precoce e correção da anemia Hemostase meticulosa Enquadramento clinico-laboratorial do<br />

risco de transfundir, versus risco de não<br />

transfundir<br />

Avaliação e correção de alterações da<br />

coagulação<br />

Avaliação de medicação em curso e seu<br />

eventual impacto no risco hemorrágico<br />

Estabelecimento de plano transfusional<br />

individualizado<br />

Técnicas anestésicas / cirúrgicas com<br />

menores perdas hemorrágicas<br />

Monitorização de necessidade transfusional<br />

tendo em conta os valores hematológicos<br />

e perfil de co-morbilidades<br />

(lógica restritiva)<br />

Minimização de perdas hemorrágicas e<br />

de colheitas laboratoriais<br />

Utilização de agentes hematínicos para<br />

promoção de reabilitação hematológica<br />

Dialina Brilhante<br />

Diretora do Serviço<br />

de Imunohemoterapia do IPOLFG<br />

Jorge Félix<br />

Diretor Exigo Consultores<br />

Conceitos gerais (introdução)<br />

Desde há cerca de 3 décadas que se tem produzido<br />

evidência que associa a transfusão de componentes sanguíneos,<br />

no amplo espectro clínico da sua utilização, a um<br />

incremento global do risco de morbilidade e mortalidade.<br />

A conceptualização atual aponta no sentido de, apesar<br />

do seu incontornável papel no contexto dos cuidados de<br />

saúde, a transfusão constituir uma terapêutica com um<br />

perfil de risco biológico, custos associados e disponibilidade<br />

condicionada, que justifica a adoção concertada<br />

de estratégias conducentes à sua minimização. Importa<br />

enfatizar que ao transfundir um componente sanguíneo, se<br />

introduz um fator suscetível de se associar de forma independente<br />

a uma evolução desfavorável para o doente e<br />

com custos significativos. Daí a importância das estratégias<br />

transfusionais restritivas, as quais, na prática, significam<br />

transfundir menos sem que tal induza risco ao doente.<br />

A implementação de programas conducentes à utilização<br />

racional do sangue traduz-se num ganho assistencial pela<br />

diminuição dos riscos associados à transfusão e, por outro<br />

lado, a utilização de alternativas poder-se-á traduzir numa<br />

redução significativa dos custos.<br />

António Robalo Nunes<br />

Diretor do Serviço de Imunohemoterapia<br />

do HFAR - Pólo de Lisboa<br />

É neste âmbito que se enquadra o conceito de Patient<br />

Blood Management (PBM), que sendo de difícil tradução,<br />

se refere à valorização do sangue enquanto recurso<br />

único, e passa pelo princípio de abordagem individual<br />

no plano do doente e multidisciplinar no plano<br />

institucional. Não deve ser entendido com o objetivo<br />

estrito de poupar de sangue (embora possa resultar<br />

nisso pela referenciação a boas práticas), mas sim como<br />

um instrumento visando otimizar a prestação de<br />

cuidados ao doente. A atual visibilidade dos programas<br />

de Patient Blood Management resulta em grande parte<br />

da publicação recente de recomendações internacionais,<br />

nomeadamente emitidas pela Comissão Europeia.<br />

Para além da sua extensão atual a áreas clínicas menos<br />

habituais, o PBM assume um papel mais estruturado no<br />

período peri-operatório, tendo em conta que mais de<br />

metade das transfusões ocorrem neste contexto. A sua<br />

implementação operacional, dependente da articulação<br />

das diferentes especialidades cirúrgicas, da Anestesiologia,<br />

Cuidados Intensivos e da Imunohemoterapia bem como<br />

por outros profissionais que reflitam a matriz institucional,<br />

é classicamente baseada em 3 pilares:<br />

A Organização Mundial de Saúde (OMS), reconhece<br />

a importância dos programas de PBM e promove<br />

uma aproximação sistemática, recomendando aos<br />

estados - membro:<br />

- O estabelecimento, implementação e suporte deste<br />

tipo de programas.<br />

- O desenvolvimento de documentos orientadores.<br />

- Adoção das orientações constantes nos 3 pilares.<br />

Tendo em conta o caráter multidisciplinar deste tipo<br />

de programas, para além do envolvimento das diferentes<br />

valências e do papel central da Imunohemoterapia<br />

na sua articulação a nível institucional, é fulcral<br />

o envolvimento dos Conselhos de Administração. O<br />

objetivo a atingir é a melhoria de cuidados, aumento<br />

de segurança do doente e incremento de eficiência<br />

na utilização de recursos.<br />

No entanto, apesar do clima de recomendação para a<br />

implementação de programas de PBM, reconhecem-se<br />

algumas dificuldades à sua concretização, as quais importa<br />

contrariar. A primeira é a compreensão e subvalorização<br />

da anemia no contexto peri-operatório. Depois, a inércia,<br />

resistência cultural à mudança, valorização indevida dos<br />

riscos transfusionais, pressão da agenda cirúrgica, receio<br />

sobre o custo-eficácia destes programas, assimetrias de<br />

financiamento entre terapêuticas alternativas e transfusão<br />

e défice de sensibilização e formação.<br />

PBM em Saúde Pública<br />

Em 2017, o Anemia Working Group Portugal promoveu<br />

um estudo com o objetivo de avaliar o impacto<br />

na saúde pública e nos custos do Serviço Nacional de<br />

Saúde (SNS) relativos à implementação de um programa<br />

de PBM a nível nacional. Este estudo contemplou<br />

um modelo matemático de análise de decisão, o qual<br />

permitiu comparar dois cenários: “prática clínica atual”<br />

e “após implementação de PBM”.<br />

Para a caracterização de cada um dos cenários, foram<br />

considerados indicadores destinados a avaliar a efetividade<br />

da intervenção, e implicações em termos de<br />

saúde pública, tais como, mortalidade intra-hospitalar,<br />

anos de vida ganhos e anos de vida ajustados pela incapacidade<br />

(DALY), indicadores de atividade assistencial<br />

e consumo de recursos de saúde, incluindo, duração<br />

do internamento, taxa de reinternamento a 30-dias,<br />

consultas e transfusões/consumo de sangue e impacto<br />

económico, decorrente da mortalidade intra-hospitalar<br />

prematura, internamento, reinternamento, utilização de<br />

medicamentos, transfusões/componentes do sangue<br />

e respetivos efeitos adversos.<br />

A população considerada incluiu doentes assistidos nos<br />

hospitais do SNS nas seguintes áreas terapêuticas: cirurgia<br />

(ortopédica, cardíaca e urológica), hemorragia uterina<br />

anormal, gravidez, hemorragia gastrointestinal, oncologia,<br />

cardiologia, hemodiálise e doença inflamatória intestinal.<br />

O modelo analítico foi parametrizado com dados específicos<br />

dos hospitais do SNS, gentilmente cedidos<br />

pela ACSS 1 e pelo IPST 2 e com dados provenientes de<br />

uma revisão sistemática da literatura, realizada com o<br />

objetivo de inferir sobre a efetividade da implementação<br />

de um PBM nacional. Adicionalmente, tanto o modelo<br />

como a informação de suporte foram validados e as<br />

lacunas de informação completadas por um painel de<br />

peritos de âmbito nacional.<br />

Estimou-se que a implementação nacional de PBM<br />

possa abranger cerca de 384.700 indivíduos por ano,<br />

gerando uma redução de 57,3% na utilização de concentrado<br />

eritrocitário (CE) nesta população, e uma<br />

diminuição superior a 17 mil doentes transfundidos,<br />

redução de cerca de 177,4 mil dias de internamento<br />

(-8,4%), diminuição de 6.234 reinternamentos. Estimouse<br />

também que a implementação do PBM aumentará<br />

a necessidade de consultas hospitalares em cerca de<br />

<strong>14</strong>,5% (Tabela 1). }<br />

6 7


GH projeto piloto<br />

Indicador Situação atual Implementação PBM Δ Absoluta Δ Relativa<br />

Unidades de CE transfundidas 113.892 48.678 -65.2<strong>14</strong> -57,26%<br />

Doentes transfundidos 33.581 16.379 -17.202 -51,23%<br />

Total de dias de internamento 2.105.324 1.927.874 -177.450 -8,43%<br />

Número de reinternamentos 16.729 10.494 -6.234 -37,27%<br />

Total de consultas hospitalares 2.045.828 2.341.405 +295.577 +<strong>14</strong>,45%<br />

Tabela1 Impacto do PBM na utilização de recurso da saúde, nos hospitais do SNS.<br />

“<br />

O CONCEITO E ESTRATÉGIAS<br />

DE PBM ENVOLVEM VÁRIAS<br />

ABORDAGENS E ATORES,<br />

Indicador Situação atual Implementação PBM Δ Absoluta Δ Relativa<br />

Taxa de mortalidade intra-hospitalar<br />

4,01% 3,86% -0,15% -3,84%<br />

(%)<br />

Mortes intra-hospitalares 15.438 <strong>14</strong>.845 -594 -3,84%<br />

Anos de vida perdidos 39.788 38.308 -1.481 -3,72%<br />

DALYs 60.980 57.320 -3.660 -6,00%<br />

Tabela 2 Impacto do PBM nos indicadores de saúde pública em Portugal.<br />

Em consequência da redução do número de doentes<br />

transfundidos, da redução da duração do internamento<br />

e da redução da taxa de reinternamento, durante 1<br />

ano, poderão ser evitadas 594 mortes prematuras,<br />

representando um ganho de 1.481 anos de vida e<br />

uma redução de 3.660 DALYs em comparação com<br />

o cenário atual (Tabela 2).<br />

É expetável que a implementação de PBM resulte<br />

num benefício económico anual de 67,7 milhões<br />

de euros (M€), o que corresponde a uma redução<br />

de 6,3% nos custos de tratamento desta população<br />

-67,7 -53,8<br />

Custos totais<br />

Figura 1 Impacto do PBM nos custos dos hospitais do SNS.<br />

Internamento Sangue Reinternamento<br />

-17,9 -16,6<br />

-3,5<br />

nos hospitais do SNS em relação ao cenário atual.<br />

A poupança ao nível dos custos de internamento e<br />

reinternamento é a mais relevante, representando<br />

70,4 M€, seguindo-se a poupança com o sangue e<br />

transfusões (17,9 M€).<br />

No entanto, um programa de PBM implica uma gestão<br />

mais otimizada da situação clínica dos doentes,<br />

estimando-se um aumento do número de consultas e<br />

maior consumo de medicamentos, que em conjunto<br />

poderá ascender a uma despesa adicional de 24,1<br />

M€ (Figura 1).<br />

Mortalidade<br />

intrahospitalar<br />

+6,4<br />

Medicamentos<br />

+17,8<br />

Consultas<br />

Despesa<br />

Milhões €<br />

Poupança<br />

Este estudo demonstrou que a implementação de um<br />

PBM nacional é uma aplicação eficiente dos recursos<br />

públicos com um valor económico equivalente a 3,8<br />

Euros de diminuição da despesa do SNS por cada<br />

euro investido na implementação do PBM.<br />

PBM num hospital<br />

A deficiência de ferro é a principal causa de deficit<br />

nutricional isolado no mundo e também em Portugal.<br />

Estima-se que 1 em cada 3 portugueses tem ferropénia,<br />

e 1 em cada 5 tem anemia, configurando assim<br />

esta situação uma prevalência de 20%, constituindo um<br />

problema de saúde publica. O conceito e estratégias<br />

de PBM envolvem várias abordagens e atores como já<br />

foi referido, mas neste contexto não é de estranhar a<br />

importância que assume no hospital a identificação da<br />

ferropénia, estudo da anemia e respetivo tratamento.<br />

A deficiência de ferro está muitas vezes associada a<br />

fadiga, suscetibilidade a infeções e menor capacidade<br />

de trabalho e qualidade de vida e é a principal causa<br />

de anemia nos países desenvolvidos e em vias de<br />

desenvolvimento. Também, as co-morbilidades tanto<br />

do défice de ferro como da anemia com outras patologias<br />

têm sido associadas a um aumento do risco<br />

da morbilidade e mortalidade.<br />

A transfusão de concentrado eritrocitário, embora<br />

podendo constituir uma alternativa terapêutica da<br />

anemia, não vai à raiz do problema, poderá ajudar<br />

numa situação particular como no caso de hemorragia<br />

aguda, mas não invalida a necessidade do estudo da<br />

sua etiologia e correção. E se é verdade que a transfusão<br />

pode salvar vidas, também é verdade que há<br />

evidência crescente dos potenciais riscos associados.<br />

A abordagem do doente no seu todo, não só proporciona<br />

a correção da anemia como proporciona<br />

uma utilização racional das diferentes terapêuticas,<br />

incluindo o recurso à transfusão.<br />

A publicação do despacho n<strong>º</strong> 3387/<strong>2018</strong> (Patient<br />

Blood Management PBM), de 05 de Abril de <strong>2018</strong>,<br />

constitui a afirmação e disponibilidade para viabilizar<br />

um programa que tem como objetivo final a oti-<br />

MAS NESTE CONTEXTO<br />

NÃO É DE ESTRANHAR A<br />

IMPORTÂNCIA QUE ASSUME<br />

NO HOSPITAL A IDENTIFICAÇÃO<br />

DA FERROPÉNIA, ESTUDO<br />

DA ANEMIA E RESPETIVO<br />

TRATAMENTO.<br />

”<br />

mização das condições do doente, ao assumir uma<br />

estratégia de PBM.<br />

Perante um terreno de aplicação tão vasta, e com<br />

o intuito de proporcionar soluções, decidiu o grupo<br />

nomeado, iniciar a sua atuação na área dos doentes<br />

que irão ser submetidos a cirurgia programada, e<br />

nos quais está prevista a alocação de componentes<br />

sanguíneos como reserva operatória.<br />

Vivemos um cenário relativamente favorável já que a<br />

DGS tem publicado e atualizado uma serie de Normas<br />

de Orientação Clínica (NOC) que tem um papel<br />

adjuvante neste programa.<br />

Definimos uma série de indicadores com a preocupação<br />

de serem exequíveis nos diferentes hospitais<br />

que integram este programa piloto, sejam de acesso<br />

fácil, com recolha idêntica nas diferentes instituições<br />

com o duplo objetivo de nos compararmos entre<br />

nós, de realçar à gestão de topo a sua utilidade e de<br />

monitorizar a evolução do programa.<br />

Embora a comissão de acompanhamento seja essencialmente<br />

constituída por médicos Imunohemoterapeutas,<br />

é valorizada e realçada a importância do }<br />

8 9


GH projeto piloto<br />

trabalho em equipa multidisciplinar e recomendada<br />

a participação das Comissões de Transfusão dos<br />

diferentes hospitais. Esta recomendação insere-se<br />

justamente na necessidade de enquadramento sistémico<br />

desta estratégia e ampliação de pressupostos já<br />

contemplados nas diferentes NOC relativas à correta<br />

utilização da terapêutica transfusional e diagnóstico e<br />

tratamento da ferropénia.<br />

Também o facto de nela estar incluída um representante<br />

da ACSS e SPMS 3 indicia como é valorizado a<br />

avaliação da pertinência desta estratégia, que caso se<br />

revele adequada, poderá ser alargada a nível nacional.<br />

Foi publicada uma norma organizacional, Norma n<strong>º</strong><br />

11/<strong>2018</strong> DGS, que entre outros dados recomenda<br />

um algoritmo de aplicação aos doentes submetidos a<br />

cirurgia programada e em que se prevê a utilização de<br />

componentes sanguíneos, bem como a identificação<br />

da ferropénia e seu tratamento, tanto no pré como<br />

no pós-operatório, que no fundo sistematiza o que já<br />

existe e foi adaptada das recomendações australianas<br />

que, nesta matéria, constituem uma vanguarda na sua<br />

aplicação hospitalar.<br />

Teremos nos próximos meses de aplicação (o programa<br />

tem previsto um tempo de aplicação de aproximadamente<br />

1 ano) de responder ao desafio de envolver<br />

os cuidados primários neste programa, uma<br />

vez que sem eles, ficará incompleto. O doente vem<br />

ao hospital realizar a sua cirurgia e terá alta para o<br />

ambulatório ou cuidados primários.<br />

O tempo de espera da cirurgia programada poderá<br />

constituir um tempo de preparação, para aqueles<br />

doentes que dele necessitem.<br />

Também é uma oportunidade de desenvolver no<br />

SNS numa perspetiva inicialmente contemplada, mas<br />

pouco executada, a colaboração dos hospitais com<br />

os cuidados primários.<br />

Também poderemos ter dados sobre um tempo<br />

nem sempre, valorizado, pela pressão dos números<br />

de execução que é o período pré e per operatório.<br />

Do exposto poderemos concluir que este programa<br />

constitui uma excelente oportunidade de melhorar<br />

os resultados nos doentes, criar sinergias com os<br />

diferentes grupos profissionais envolvidos - médicos,<br />

enfermeiros, farmacêuticos, técnicos e gestores - e<br />

quiçá ter dados que nos permitam investir no mix<br />

certo dos recursos.<br />

Construir um PBM num hospital é uma oportunidade<br />

de identificar meios, resolver problemas e investir na<br />

segurança do doente. Ã 1<br />

ACSS 1 - Administração Central do Sistema de Saúde<br />

IPST 2 - Instituto Português do Sangue e da Transplantação<br />

SPMS 3 - Serviços Partilhados do Ministério da Saúde<br />

10


GH Serviços de Urgência<br />

UTILIZADORES<br />

FREQUENTES DA URGÊNCIA<br />

GERAL DO HOSPITAL<br />

GARCIA DE ORTA, EPE<br />

Andreia Mesquita, Carla Menino, Catarina Bekerman,<br />

Cátia Sousa, Joana Luís, Júlio Veríssimo, Margarida Freitas,<br />

Mª José Colaço, Pedro Lopes, Susana Saiote,<br />

Susana Sampaio<br />

O<br />

uso excessivo ou inadequado dos<br />

serviços de urgência é um problema<br />

mundial. No Hospital Garcia de<br />

Orta EPE (HGO) temos assistido,<br />

nos últimos anos, ao aumento do<br />

número de episódios de urgência na sua maioria<br />

com situações “pouco urgentes” e “não urgentes”<br />

(codificados na Triagem de Manchester como verdes<br />

e azuis, respetivamente) e ao crescimento do número<br />

de utilizadores frequentes.<br />

Têm sido desenvolvidos vários estudos nesta área<br />

que na sua maioria definem como utilizadores frequentes<br />

(UF) os utentes que realizaram 4 ou mais<br />

episódios de urgência nos últimos 12 meses e como<br />

utilizadores muito frequentes, ou High Users (HU),<br />

os que realizaram 10 ou mais episódios no mesmo<br />

período de tempo.<br />

A crescente consciencialização desta problemática<br />

levou o HGO e o Agrupamento de Centros de Saúde<br />

Almada-Seixal (ACES) à constituição, em 2016, de<br />

uma equipa conjunta denominada “Grupo de Resolução<br />

de High Users” (GRHU), a qual é composta<br />

por um Gestor (Administradora <strong>Hospitalar</strong>), assim<br />

como Assistentes Sociais, Enfermeiros e Médicos das<br />

duas instituições.<br />

GRHU-ACES<br />

GRHU-HGO<br />

<strong>Gestão</strong> Susana Sampaio *<br />

Coordenação<br />

Carla Menino<br />

Maria José Colaço Médicos Catarina Bekerman<br />

Joana Luís<br />

Susana Saiote Enfermagem Júlio Veríssimo<br />

Pedro Lopes Carla Menino **<br />

Margarida Freitas S. Social Andreia Mesquita<br />

Cátia Sousa<br />

Secretariado Cláudia Cardoso<br />

* Administradora <strong>Hospitalar</strong><br />

** Acumula com a Coordenação<br />

Esta equipa tem como propósito a elaboração de<br />

um plano de intervenção para a redução do número<br />

de episódios de urgência dos utilizadores frequentes<br />

e muito frequentes, através do incremento de uma<br />

eficaz articulação entre as diferentes estruturas prestadoras<br />

de cuidados, gerando Ganhos em Saúde para<br />

a população alvo e, consequentemente, melhorar a<br />

capacidade e qualidade da resposta do Serviço de<br />

Urgência Geral do HGO às verdadeiras situações<br />

urgentes e emergentes.<br />

O projeto foi dividido em três fases. A primeira fase<br />

(de outubro 2016 a julho de 2017) caracterizou-se<br />

pela elaboração do perfil dos HU do HGO. Após a<br />

análise de uma amostra de 101 utentes que em 2016<br />

realizaram 10 ou mais episódios de urgência, concluiu-se<br />

o seguinte:<br />

• 101 HU realizaram 1.556 episódios de urgência,<br />

tendo cada um efetuado uma média de <strong>14</strong> episódios<br />

de urgência no ano, com um máximo de 66 episódios<br />

por doente;<br />

• 53% dos HU são do sexo feminino e 48% do<br />

sexo masculino, com uma idade média de 61 anos<br />

e moda 71 anos;<br />

• 46% dos HU apresentavam situações do foro psicossocial;<br />

• 21% dos HU revelaram agudização de doenças<br />

crónicas;<br />

• 6% dos HU tinham doença oncológica<br />

• 27% dos HU tinham outros problemas não incluídos<br />

nas tipologias anteriores;<br />

• 41% dos HU são também utilizadores frequentes<br />

da Unidade Saúde (ACES);<br />

• 84% dos HU são vigiados em pelo menos numa<br />

consulta no HGO;<br />

• 89% dos HU são seguidos pelo Médico de Família<br />

(MF);<br />

• Apenas 8% dos HU não tinham MF atribuído<br />

Após a caracterização dos HU, deu-se início à segunda<br />

fase do Projeto, que está a decorrer desde julho de<br />

2017. Esta fase corresponde ao início da elaboração<br />

e execução de Planos Individuais de Integração (PII)<br />

em colaboração com o HU e família ou cuidador de<br />

referência e a atribuição do Gestor de Caso (GC).<br />

A figura do GC baseia-se num modelo de continuidade<br />

de cuidados, que integra cuidados médicos e<br />

psicossociais, assim como todos os recursos individuais,<br />

familiares e comunitários existentes e adequados para<br />

aquele utente em concreto. Na sua intervenção, o<br />

GC realiza ou promove a realização das atividades<br />

consideradas necessárias tais como entrevista de avaliação,<br />

visitas domiciliárias, contactos intrainstitucionais<br />

e com estruturas comunitárias. O GC é designado<br />

pelo GRHU, de entre os seus elementos constituintes.<br />

Os HU vão sendo selecionados e assumidos pelo<br />

Projeto GRHU, de acordo com o critério da maior<br />

frequência de idas ao SUG e a disponibilidade do<br />

GRHU. São assumidos cerca de 10 HU, por mês.<br />

De referir que estes utentes, independentemente<br />

das intervenções do GRHU, seguem todos os trâmites<br />

normais em cada ida ao Serviço de Urgência<br />

do HGO (SUG).<br />

Desde o início da 2.ª fase do Projeto, têm sido realizadas<br />

no HGO e no ACES, várias sessões de apresentação<br />

e esclarecimento, de forma a sensibilizar os<br />

profissionais para esta problemática, divulgar o perfil<br />

do utente HU, explicar a construção e modo de<br />

“<br />

DESDE O INÍCIO DA 2.ª FASE<br />

DO PROJETO, TÊM SIDO<br />

REALIZADAS NO HGO<br />

E NO ACES, VÁRIAS SESSÕES<br />

DE APRESENTAÇÃO<br />

E ESCLARECIMENTO,<br />

DE FORMA A SENSIBILIZAR<br />

OS PROFISSIONAIS PARA<br />

ESTA PROBLEMÁTICA.<br />

”<br />

intervenção do GRHU, demonstrar a aplicabilidade<br />

e a eficácia do modelo de intervenção e partilhar os<br />

resultados que vão sendo obtidos<br />

O Projeto contempla o desenvolvimento uma plataforma<br />

informática conjunta – HUMA (High Users<br />

Monitoring Attendant), com o objetivo de centralizar<br />

e garantir uma partilha de informação clinica entre a<br />

sub-equipa GRHU-HGO e a sub-equipa GRH-ACES.<br />

Esta Plataforma estará ligada ao SClinico e irá monitorizar<br />

a frequência de episódios de urgência, disparar<br />

alertas em tempo real, aquando da presença de um<br />

HU/UF no SUG, gerar dados estatísticos e indicadores<br />

dos episódios de urgência e procedimentos realizados,<br />

assim como do estadiamento dos PII.<br />

A terceira fase iniciar-se-á com a operacionalização<br />

da Plataforma HUMA. Com o apoio de um aplicativo<br />

informático será possível alargar o foco de intervenção<br />

aos utilizadores frequentes do SUG. A possibilidade<br />

de envio automático de alertas à equipa de saúde<br />

familiar, dos utentes que se tornem UF, permitirá uma<br />

intervenção precoce dos Cuidados de Saúde Primários.<br />

Pretende-se incrementar uma mudança organizacional,<br />

melhorar o encaminhamento e planeamento das<br />

intervenções na comunidade e evitar novos HU. }<br />

12 13


GH Serviços de Urgência<br />

SUG - HGO: Episódios de urgência de Jan a Dez 2016<br />

Doentes % Episódios % Média<br />

≥ 4 < 10 3 239 5,2 15 986 16,5 4,9<br />

≥ 10 227 0,4 3 434 3,5 15,1<br />

≥ 4 3 466 5,5 19 420 20,0 5,6<br />


GH Serviço Nacional de Saúde<br />

OS CUIDADOS DE SAÚDE<br />

PRIMÁRIOS COMO PILAR<br />

CENTRAL DO SERVIÇO<br />

NACIONAL DE SAÚDE<br />

nível de contacto dos utentes com o sistema de<br />

saúde, onde são primeiramente apresentados os<br />

seus problemas de saúde e onde as necessidades<br />

básicas de cuidados preventivos ou curativos são<br />

satisfeitas. Estes cuidados devem ser holísticos, de<br />

proximidade, sem qualquer barreira de acesso e<br />

devem garantir a integração com outros níveis de<br />

cuidados, compreendendo todo o ciclo de vida do<br />

utente, desde que nasce até que morre [2].<br />

Neste contexto, é premente dar continuidade às<br />

estratégias preconizadas pela reforma dos CSP,<br />

que facilitem a gestão das Direções Executivas dos<br />

ACES e reforcem a centralidade dos CSP no SNS.<br />

Vários são os estudos que corroboram que os CSP<br />

devem estar no foco das estratégias de saúde para<br />

a resolução de muitos dos problemas que o SNS<br />

atualmente enfrenta.<br />

Um dos indicadores frequentemente utilizados para<br />

medir a qualidade dos CSP é a taxa de internamentos<br />

evitáveis. Loenen et. al. concluíram que um sistema<br />

de saúde centrado nos CSP permite reduzir a taxa<br />

de internamentos evitáveis, não só pela relação de<br />

confiança que se estabelece entre o médico de família<br />

e o utente, mas também pela melhor acessibilidade<br />

e adequabilidade da resposta às necessidades e<br />

problemas de saúde do utente [3].<br />

É também associado a um sistema de saúde centrado<br />

nos CSP a melhoria da qualidade de vida de utentes<br />

diagnosticados com doenças crónicas. Hansen et. al.<br />

analisaram dados de 27 países da União Europeia,<br />

concluindo que utentes com doença crónica teriam<br />

mais probabilidade de ter um melhor nível de saúde<br />

e melhor qualidade de vida em países com CSP centrados<br />

no sistema de saúde e bem articulados com<br />

outros níveis de cuidados (hospitalares e continuados)<br />

[4]. Weir et. al. reforçaram estas conclusões, analisando<br />

informação de 285.231 americanos com diabetes<br />

entre 2004 e 2010: 74% tinham multimorbilidades,<br />

a idade média era de 53 anos e 49% eram mulheres.<br />

Para medir o nível de integração de cuidados<br />

utilizaram o Índice UPC (Usual Provider Continuity)<br />

que calcula o número de visitas de um utente ao }<br />

Vera Sofia Pinheiro Branco de Almeida<br />

Diretora Executiva do ACES Lisboa Central<br />

O<br />

Serviço Nacional de Saúde (SNS)<br />

tem evoluído significativamente ao<br />

longo dos últimos anos, destacando-se<br />

o sucesso da reforma dos<br />

Cuidados de Saúde Primários (CSP)<br />

que se iniciou em 2005 e que tem vindo a registar<br />

desde então assinaláveis melhorias e ganhos em saúde.<br />

No entanto, a atual conjuntura tem-se caracterizado<br />

por fortes limitações financeiras e constrangimentos<br />

económicos, colocando inúmeros desafios à gestão<br />

do bem público e a um setor reconhecidamente<br />

complexo e dinâmico. O aumento da esperança<br />

média de vida, o acentuado envelhecimento da população,<br />

o aumento da prevalência das doenças<br />

crónicas e as crescentes expectativas e necessidades<br />

da população, têm gerado um aumento da procura<br />

e uma pressão financeira sobre o setor da saúde<br />

difícil de equilibrar.<br />

Esta mudança de paradigma tem retirado o foco da<br />

doença aguda e dos cuidados de saúde hospitalares<br />

(CSH), para a doença crónica e para os cuidados de<br />

saúde primários e cuidados continuados integrados<br />

(CCI). Há igualmente uma necessidade de reforçar<br />

a prevenção da doença e a promoção da saúde de<br />

forma a que as pessoas permaneçam mais tempo<br />

ativas e saudáveis durante o seu ciclo de vida [1].<br />

O Programa do XVII Governo reconheceu que os<br />

CSP devem ser “o pilar central do sistema de saúde,<br />

constituindo o primeiro acesso dos cidadãos à prestação<br />

de cuidados de saúde, assumindo importantes<br />

funções de promoção da saúde e prevenção da<br />

doença, prestação de cuidados na doença e ligação<br />

a outros serviços para a continuidade dos cuidados”<br />

(Decreto-Lei n<strong>º</strong> 28/2008 de 22 de fevereiro). Este<br />

decreto definiu também a criação de Agrupamentos<br />

de Centros de Saúde (ACeS) como “serviços públicos<br />

de saúde com autonomia administrativa, constituídos<br />

por várias unidades funcionais, que agrupam um<br />

ou mais centros de saúde e que têm por missão<br />

garantir a prestação de cuidados de saúde primários<br />

à população de determinada área geográfica”.<br />

Com efeito, os CSP devem representar o primeiro<br />

16


GH Serviço Nacional de Saúde<br />

Spain<br />

Portugal<br />

Greece<br />

Turkey<br />

Estonia<br />

Canada<br />

Slovakia<br />

Finland<br />

Ireland<br />

Luxembourg<br />

Hungary<br />

Sweden<br />

Australia<br />

Malta<br />

Slovenia<br />

Iceland<br />

Lithuania<br />

Average<br />

Italy<br />

Switzerland<br />

England<br />

Austria<br />

Germany<br />

Belgium<br />

New-Zealand<br />

Cyprus<br />

Czech Republic<br />

Latvia<br />

Norway<br />

Poland<br />

FYR Macedonia<br />

Romania<br />

Denmark<br />

Netherlands<br />

Bulgaria<br />

0% 10% 20% 30% 40% 50%<br />

Figura 1 Percentagem de utentes (cujo questionário foi válido para integrar a amostra)<br />

que recorreram a um serviço de urgência entre 2011 e 2013, por país [6]<br />

prestador de cuidados “mais visitado” (Médico de<br />

Família) sobre o n<strong>º</strong> total de visitas (independentemente<br />

do tipo de prestador). Um melhor nível de<br />

integração de cuidados (UPC ≥75%) foi associado a<br />

uma redução da taxa de mortalidade e a um menor<br />

número de internamentos hospitalares (7.2% vs.<br />

13.5), independentemente de estes utentes terem<br />

ou não multimorbilidades associadas. [5].<br />

A sobreutilização e procura desadequada aos serviços<br />

de urgências (SU) é igualmente utilizada como<br />

indicador para medir o desempenho dos CSP. Van<br />

den Berg et al. investigaram a probabilidade de uma<br />

ida à urgência estar relacionada com um melhor<br />

nível de acessibilidade aos CSP. Entre Outubro de<br />

2011 e Dezembro de 2013, aplicaram questionários<br />

a 60.991 utentes e 7.005 Médicos de Família de 34<br />

países europeus, incluindo Portugal, e concluíram que<br />

CSP com boa acessibilidade e com um bom nível<br />

de integração com outros níveis de cuidados têm<br />

maior probabilidade de reduzir a sobreutilização e<br />

procura desadequada dos SU. Identificaram igualmente<br />

diferenças entre os países e para diferentes<br />

perfis demográficos e sociais, estando uma maior<br />

afluência aos SU normalmente associada a classes<br />

sociais mais desfavorecidas, com menor nível de<br />

literacia, minorias étnicas e pessoas com pior nível<br />

de saúde. De entre os países analisados, Espanha,<br />

Portugal e Turquia lideraram a lista com maior número<br />

de idas à urgência [6].<br />

Está ainda associado a sistemas de saúde centrados<br />

nos CSP uma melhor gestão de recursos e um menor<br />

crescimento de custos. Flik et. al. analisaram os<br />

custos associados ao tratamento da síndrome do<br />

intestino irritável (SII) nos CSP vs. CSH. Concluíram<br />

para os três anos depois do diagnóstico comparativamente<br />

com os três anos prévios ao diagnóstico<br />

que os custos aumentaram em média 486€ para<br />

utentes monitorizados nos CSP e 2.328€ para os<br />

utentes monitorizados nos CSH. Para os grupos de<br />

controlo dos CSP e CSH não foram identificadas<br />

diferenças significativas entre o período anterior e<br />

posterior à data do diagnóstico. Estes resultados<br />

permitiram concluir que utentes com SII devem ser<br />

preferencialmente acompanhados nos CSP, exceto<br />

os que apresentem sintomas graves ou dúvidas no<br />

diagnóstico e tratamento [7].<br />

Resumindo, os CSP garantem a continuidade e integração<br />

de cuidados na medida necessária, apresentando<br />

melhores resultados em saúde para problemas<br />

que podem e devem ser resolvidos por um especialista<br />

de Medicina Geral e Familiar, no contexto<br />

da atividade da equipa de saúde familiar (médico,<br />

enfermeiro, secretariado clínico) e em estreita colaboração<br />

com outros profissionais que integram os<br />

CSP (psicólogos, assistentes sociais, fisioterapeutas,<br />

nutricionistas, terapeutas ocupacionais, terapeutas<br />

da fala, entre outros). Adicionalmente, e para um<br />

conjunto de doenças, os CSP são igualmente o recurso<br />

preferencial para evitar a utilização desnecessária<br />

de recursos hospitalares, prevenindo e controlando<br />

quer situações agudas de doença, quer situações de<br />

descompensação da doença crónica.<br />

Pese embora a evidência que os CSP devem ser<br />

o pilar central do SNS e os problemas de saúde<br />

da população requererem uma resposta integrada<br />

entre os diferentes prestadores, atualmente ainda<br />

são alguns os constrangimentos que “enfraquecem”<br />

esta posição.<br />

O SNS permanece ainda muito fragmentado e centrado<br />

nos Hospitais. Em 2017, 68% dos recursos<br />

humanos do SNS (90.070 profissionais) estavam<br />

afetos aos Hospitais, comparativamente com 18%<br />

afetos aos CSP (24.371 profissionais) [8]. Para além<br />

da assimetria da distribuição de recursos do ponto<br />

de vista das diferentes áreas de intervenção, é também<br />

relevante a sua assimetria a nível nacional [9].<br />

Outro desafio da reforma dos CSP está relacionado com<br />

as iniquidades geradas pelos diferentes modelos<br />

organizativos que estão atualmente em funcionamento<br />

nos CSP (Unidades de Saúde Familiares (USF)<br />

- Modelo A e B; e Unidades de Cuidados de Saúde<br />

Personalizados (UCSP).<br />

As USF são criadas no pressuposto de um processo<br />

de constituição voluntária da equipa e seleção dos<br />

respetivos profissionais, diferenciando inevitavelmente<br />

o acesso e a qualidade (avaliada pelo seu desempenho<br />

assistencial) dos cuidados de saúde prestados<br />

a utentes inscritos nas USF comparativamente com<br />

as UCSP, e dentro das UCSP diferenciando os que<br />

têm ou não Médico de Família atribuído. Estas iniquidades<br />

não são fáceis de colmatar pelo atual défice<br />

de médicos com especialização em medicina geral<br />

e familiar (MGF) e pela assimetria na distribuição<br />

destes recursos a nível nacional. Esta assimetria é<br />

acentuada pela dificuldade em criar nas zonas carenciadas,<br />

condições materiais e organizativas que<br />

estimulem e apoiem a constituição de novas USF e<br />

a redução gradual do desfavorecimento dos utentes<br />

que ainda não têm Médico de Família atribuído. Estas<br />

desigualdades colocam às Direções Executivas dos<br />

ACES desafios diários ao exercício das suas atividades<br />

de gestão de recursos humanos, materiais e financeiros,<br />

desafios agudizados pela limitada autonomia e<br />

incapacidade de responsabilização que efetivamente<br />

e na prática evidenciam.<br />

É reconhecido que os CSP devem ser o pilar central e<br />

a primeira “porta” de acesso ao SNS, mas o seu nível<br />

de enraizamento na cultura das organizações é ainda<br />

muito ténue. É essencial reforçar o papel dos CSP no<br />

SNS e promover uma maior literacia sobre a sua organização,<br />

interna e externamente. O desafio passa }<br />

Figura 2 Distribuição de recursos humanos por tipo de entidade e perfil profissional do SNS em 2017 [8]<br />

“<br />

É RECONHECIDO<br />

QUE OS CSP DEVEM SER<br />

O PILAR CENTRAL<br />

E A PRIMEIRA “PORTA”<br />

DE ACESSO AO SNS,<br />

MAS O SEU NÍVEL<br />

DE ENRAIZAMENTO<br />

NA CULTURA DAS<br />

ORGANIZAÇÕES<br />

É AINDA MUITO TÉNUE.<br />

”<br />

Entidade Médicos Enfermeiros TSS TSDT AT AO TS Inf. Outros Total<br />

Adminsitrações<br />

Regionais de Saúde<br />

7 267 7 088 433 744 5 368 2 151 1 077 94 119 24 341<br />

Estabelecimentos<br />

<strong>Hospitalar</strong>es<br />

18 787 31 195 998 6 343 8 585 20 955 2 098 365 744 90 070<br />

ULS 2 493 5 017 150 864 1 930 2 995 352 90 124 <strong>14</strong> 015<br />

Serviços Centrais 62 259 132 225 533 216 806 64 1 245 3 542<br />

Total 28 609 43 559 1 713 8 206 16 416 26 317 4 333 613 2 232 131 998<br />

Legenda: TSS - Técnico Superior de Saúde; TSDT - Técnico Superior das áreas de Diagnóstico e Terapêutica;<br />

AT - Assistente Técnico; AO - Assistente Operacional; TS - Técnico Superior; Inf. - Pessoal de Informática.<br />

18 19


GH Serviço Nacional de Saúde<br />

“<br />

É FUNDAMENTAL PROMOVER<br />

MUDANÇAS NA CULTURA<br />

ORGANIZACIONAL DO SNS,<br />

CONTRARIAR O DISCURSO<br />

“HOSPITALOCÊNTRICO”,<br />

DESLOCAR O EPICENTRO<br />

DA DOENÇA PARA A<br />

PROMOÇÃO DA SAÚDE,<br />

PRIVILEGIANDO O CUIDADO<br />

EM CASA E JUNTO DAS<br />

FAMÍLIAS SEMPRE<br />

QUE POSSÍVEL.<br />

”<br />

por identificar o nível de literacia dos profissionais<br />

que trabalham no SNS sobre o modelo pretendido<br />

para a organização e funcionamento da prestação<br />

de cuidados de saúde. Quantos profissionais do<br />

sector hospitalar saberão caraterizar, por exemplo,<br />

a diferença entre uma USF e uma UCSP e identificar<br />

inequivocamente os programas de saúde e recursos<br />

que os CSP disponibilizam? Não raras são as vezes em<br />

que os próprios profissionais evidenciam desarmonia<br />

com o preconizado no âmbito da respetiva atuação,<br />

sendo, por isso, natural e expetável que os utentes<br />

revelem igualmente alguma desorientação na forma<br />

como utilizam os serviços do SNS.<br />

Aliado ao desconhecimento generalizado da organização<br />

do SNS e sobre a forma como os diferentes<br />

níveis de cuidados se devem articular, os profissionais<br />

perspetivam o utente de forma diferente. Do ponto<br />

de vista dos CSP é idealizado um acompanhamento<br />

do utente saudável, do ponto de vista dos CSH é<br />

objetivado o tratamento da doença. Eventualmente<br />

um utente poderá ter uma doença diagnosticada,<br />

por exemplo diabetes, mas não estar doente, pois a<br />

doença está controlada. Esta dualidade na perceção<br />

do utente/doente, saúde/doença, conflitua muitas<br />

vezes com a tentativa de combater a fragmentação<br />

de cuidados e promover a necessária integração de<br />

cuidados de saúde [1].<br />

Não obstante as limitações e constrangimentos<br />

identificados, tem-se verificado uma evolução nos<br />

projetos desenvolvidos localmente com o objetivo<br />

de melhorar a comunicação dos profissionais dos<br />

diferentes níveis de cuidados, destacando-se a título<br />

de exemplo o financiamento de 35 M€ que a Administração<br />

Central do Sistema de Saúde (ACSS)<br />

atribuiu em 2017 ao Programa de Incentivo à Integração<br />

de Cuidados e à Valorização dos Percursos dos<br />

Utentes no SNS. As Direções Executivas dos ACES e<br />

os Conselhos de Administração dos Hospitais, a par<br />

dos Serviços Centrais (Ministério da Saúde, ACSS,<br />

Administrações Regionais de Saúde, SPMS), têm<br />

concentrado esforços para concretizar estas e outras<br />

iniciativas de igual âmbito no sentido de desenvolver<br />

mecanismos que melhorem a comunicação entre os<br />

profissionais de saúde e simplifiquem os circuitos<br />

de partilha de informação clínica e administrativa.<br />

Face ao exposto, é fundamental promover mudanças<br />

na cultura organizacional do SNS, contrariar o<br />

discurso “hospitalocêntrico”, deslocar o epicentro<br />

da doença para a promoção da saúde, privilegiando<br />

o cuidado em casa e junto das famílias sempre que<br />

possível. Esta mudança parte de uma forte estratégia<br />

de marketing, de modernização das infraestruturas<br />

e do reforço de competências do capital humano<br />

dos CSP. Parte igualmente da concretização de uma<br />

efetiva integração de cuidados que atualmente tanto<br />

se defende, colocando o utente no centro do sistema<br />

e oferendo-lhe uma resposta articulada, ininterrupta<br />

ao longo do seu ciclo de vida nas diferentes áreas<br />

de intervenção do SNS: da promoção da saúde e<br />

prevenção da doença, ao diagnóstico, tratamento<br />

e gestão da doença nas suas diferentes fases [1].<br />

Assim, tornar os CSP mais “atrativos” para que a<br />

população estabeleça uma relação de confiança com<br />

a sua “equipa de família” e promover uma integração<br />

efetiva com os CSH e CCI centrada no utente<br />

e suas famílias, permitirá seguramente ter um SNS<br />

mais sustentável, mais custo-efetivo, com melhor<br />

qualidade e acessibilidade e capaz de melhor reagir<br />

aos atuais desafios sociodemográficos e financeiros<br />

com que atualmente se debate. Ã<br />

BIBLIOGRAFIA:<br />

[1] Schrijvers, Guus. Integrated Care: better and cheaper. Reed Business Information,<br />

Amsterdam, (2016).<br />

[2] Santana, Rui; Costa, Carlos. A integração vertical de cuidados de saúde:<br />

aspetos conceptuais e organizacionais. Universidade Nova de Lisboa, Escola<br />

Nacional de Saúde Pública. Vol. Temático 7, 29-56 (2008).<br />

[3] Loenen, Tessa van; Berg, Michael J. van den; Westert, Gert P; Faber,<br />

Marjan J. Organizational aspects of primary care related to avoidable hospitalization:<br />

a systematic review. Family Practice, Vol. 31, No. 5, 502–51 (20<strong>14</strong>).<br />

[4] Hansen, Johan; Groenewegen, Peter P.; Boerma, Wienke G. W.; Kringos,<br />

Dionne. Living In A Country With A Strong Primary Care System Is Beneficial To<br />

People With Chronic Conditions. Health Affairs, Vol. 34, no.9, 1531-1537 (2015).<br />

[5] Weir, Daniala L; McAlister, Finlay A; Majumdar, Sumit R; Eurich, Dean<br />

T. The interplay between continuity of care, multimorbidity and adverse events<br />

in patients with diabetes. Medical Care. Vol. 54, No. 4, 386–393 (2016).<br />

[6] Berg, MJ van den; Leonen, Tessa van; Wester, Gert P. Accessible and<br />

contínuos primary care may help reduce rates of emergency department use: an<br />

international survey in 34 countries. Family Practice; Vol. 33, No. 1, 42-50 (2016).<br />

[7] Flik, Carla E.; Laan, Wijnand; André J. P. M. Smout, Bas L. A. M. Weusten<br />

and Niek J. de Wit. Comparison of medical costs generated by IBS patients<br />

in primary and secondary care in the Netherlands. BMC Gastroenterology.<br />

15:168 (2015).<br />

[8] Relatório Social do Ministério da Saúde e do Serviço Nacional de Saúde.<br />

Ministério da Saúde (2017).<br />

[9] Reis, Vasco. Saúde, uma realidade em mudança: factores de origem demográfica<br />

e associados a fenómenos de escassez. TecnoHospital. Vol. 86,<br />

30-33 (<strong>2018</strong>).<br />

20 21


GH entrevista<br />

USMAN KHAN<br />

DIRETOR EXECUTIVO DA EHMA<br />

APOIAR A EXCELÊNCIA<br />

NA GESTÃO DA SAÚDE<br />

Presente em Portugal para uma palestra no âmbito das Conferências de Valor<br />

da APAH, dedicada à Liderança e <strong>Gestão</strong> da Mudança, Usman Khan,<br />

diretor executivo da EHMA, faz, nesta entrevista, o balanço da atividade<br />

da Associação Europeia de <strong>Gestão</strong> em Saúde. Ciente do extenso trabalho<br />

que há a fazer na melhoria dos sistemas de saúde, o responsável sublinha<br />

que a personalização será um dos desafios e refere que a mudança<br />

deve pautar-se por pequenos passos evolutivos.<br />

A European Health Management Association<br />

(EHMA) tem uma enorme experiência em gestão<br />

de cuidados de saúde, além realizar recomendações<br />

sobre política pública e económica em saúde. O que<br />

nos pode dizer sobre as atividades da associação?<br />

A EHMA existe há 35 anos e reúne diferentes comunidades.<br />

Integra os que ensinam a gestão da saúde,<br />

ao nível da pós-graduação, e os que investigam a<br />

gestão da saúde. Inclui associações, como a portuguesa<br />

APAH e outras semelhantes, assim como<br />

organizações prestadoras de cuidados de saúde, principalmente<br />

hospitais, atuando, também, ao nível dos<br />

organismos públicos, como por exemplo Marinha.<br />

Globalmente reunimos cerca de 100 organizações<br />

e membros individuais destes grupos.<br />

A nossa missão é apoiar a excelência na gestão da<br />

saúde. Por isso, reunimos grupos de interesses diversificados<br />

para que possam concentrar-se em aspetos<br />

particulares, como o desenvolvimento de cursos de<br />

formação, a realização de projetos de investigação<br />

ou o desenvolvimento de séries de webinars. }<br />

24 25


GH entrevista<br />

Temos várias formas de envolver as partes interessadas<br />

e de fomentar diferentes meios de divulgação<br />

do conhecimento, sendo essas as atividades centrais<br />

do nosso trabalho. Em termos de equipa, contamos<br />

com oito pessoas sediadas em Bruxelas, procurando<br />

potenciar valor e reunir diferentes grupos, de modo<br />

a habilitá-los a concretizar a nossa missão.<br />

Podemos dizer que a EHMA contribui para o desenvolvimento<br />

de competências de liderança e<br />

orientação dos profissionais para processos de<br />

gestão da mudança?<br />

Esse deveria ser um elemento de trabalho da EHMA.<br />

Por exemplo, termos uma Escola de Inverno onde<br />

poderíamos reunir um conjunto de programas académicos<br />

e encorajar os colegas das organizações<br />

afiliadas a participar, sendo que um desses cursos<br />

executivos poderia ser sobre liderança. Aliás, realizámos<br />

a nossa conferência anual em Budapeste, entre<br />

20 e 22 de junho, e contámos com a participação<br />

do Professor Lega, da Universidade de Bocconi, que<br />

poderia perfeitamente dar um curso sobre liderança.<br />

Outra forma de fomentarmos a aprendizagem é<br />

através do grupo de diretores dos programas, que<br />

desenvolvem os cursos para Bocconi, Frankfurt,<br />

Manchester ou Birmingham. Procuramos apoiar a<br />

forma como melhoram o ensino da liderança aos<br />

seus estudantes.<br />

Apesar da fase de diagnóstico estar concluída, parte<br />

das soluções para a mudança falham, refletindo, de<br />

certo modo, a incapacidade dos sistemas de saúde<br />

para inovarem com sucesso. Neste sentido, quais<br />

considera ser os principais fatores facilitadores<br />

dos processos de mudança nas organizações de<br />

saúde, de modo a que estes sejam passíveis de uma<br />

implementação eficaz?<br />

Estamos a trabalhar com diferentes sistemas de<br />

saúde, principalmente nacionais, mas também regionais,<br />

para conseguirmos perceber o seu contexto e<br />

ajudá-los nos seus desafios.<br />

Vejamos um exemplo tangível: cuidados integrados.<br />

POR QUE NÃO REUNIR O QUE SE FAZ EM PORTUGAL<br />

COM O QUE ESTÁ A ACONTECER NA CATALUNHA, “NA HOLANDA OU NA DINAMARCA?<br />

Há colegas em Portugal interessados em melhorar<br />

ainda mais, embora o país já tenha bons níveis.<br />

Podiam partilhar algumas dessas experiências para<br />

demonstrar o que estão aptos a fazer, identificando<br />

os aspetos positivos e, também, os que carecem de<br />

aperfeiçoamento e melhoria.<br />

Como conhecemos outros sistemas que trabalham<br />

em cuidados integrados, por que não reunir o que<br />

se faz em Portugal com o que está a acontecer na<br />

Catalunha, na Holanda ou na Dinamarca? Até porque<br />

os sistemas parecem semelhantes no que se refere<br />

a alguns dos seus desafios. A chave está no facto<br />

de existirem soluções diferentes que podem ser<br />

”<br />

adotadas e “muita pressão nos ombros” para uma<br />

espécie de “inovação inteligente”.<br />

Não devemos simplesmente agarrar na primeira<br />

ideia. A título de exemplo, podemos pensar que a<br />

reforma dos serviços de urgência é a melhor coisa a<br />

fazer. Ou não! Talvez o acesso aos cuidados primários<br />

seja mais correto. Há que compreender os desafios<br />

mais importantes antes de pensarmos em aplicar<br />

soluções já existentes, ou oferecermos as nossas<br />

soluções, a outros sistemas de saúde.<br />

Uma outra vertente que trabalhamos na EHMA é a<br />

análise das várias realidades financeiras. Reconhecemos<br />

que a vossa despesa em saúde, em percentagem }<br />

26 27


GH entrevista<br />

do PIB, é significativamente mais baixa do que em<br />

muitos Estados-Membros da UE, sendo que as hipóteses<br />

de conseguirem aumentá-la para a média da<br />

UE, ao longo da próxima década, é bastante baixa.<br />

O que significa que, para conseguirem acompanhar<br />

o ritmo dos outros, necessitam de incorporar uma<br />

abordagem assente na Inovação Inteligente.<br />

Veja-se o exemplo da Estónia em termos de saúde<br />

digital. Como não tinha nada, em vez de pensar<br />

em acompanhar o ritmo dos países desenvolvidos,<br />

implementou o seu próprio sistema. Penso que este<br />

é o potencial que os países com baixos níveis de despesa<br />

em saúde, face ao PIB, devem seguir: formular<br />

as suas próprias inovações inteligentes para avançar<br />

rapidamente, em vez de seguir um caminho linear.<br />

Por outro lado, as pequenas inovações são incrivelmente<br />

capacitantes. É o que tento salientar em<br />

termos de liderança. É possível habilitar as pessoas<br />

para crescer a partir da base, sendo realmente necessário<br />

que alguém encare o sistema de saúde em<br />

toda a sua escala.<br />

Na sua opinião, as politicas de saúde podem ser<br />

determinísticas para a adoção de mudanças organizacionais,<br />

para as quais as instituições não estão<br />

preparadas? Considera que o Estado ser o impulsionador<br />

da mudança ou, ao invés, as organizações<br />

devem despoletar os seus próprios processos de<br />

gestão da mudança?<br />

Há uma complexidade incrível subjacente à adequada<br />

prestação de cuidados de saúde que os políticos<br />

dificilmente compreendem. Por isso, encaram a reforma<br />

do sistema de saúde em termos muito mais<br />

simples do que a realidade. E muitas vezes perdem<br />

a paciência porque não veem as mudanças no prazo<br />

que esperavam. Também tendem a pensar que os<br />

recursos estão significativamente acima dos níveis<br />

necessários para alcançar o que pretende. Procuram<br />

resultados imediatos e não compreendem a complexidade<br />

que está inerente.<br />

Dou o exemplo das esperas de quatro horas nos serviços<br />

de urgência do serviço nacional de saúde britânico.<br />

É um sistema simples, que determina um período<br />

“<br />

SE OS POLÍTICOS NÃO COMPREENDEREM AS COMPLEXIDADES<br />

INERENTES AO SETOR, LIMITANDO-SE A ATRIBUIR RECURSOS,<br />

AS COISAS NÃO VÃO CORRER BEM.<br />

máximo de quatro horas em avaliação clínica para<br />

determinar a alta ou internamento do doente. Para<br />

tal, o governo aumentou o orçamento em cerca<br />

de 2% do PIB nos cuidados de saúde – e o certo é<br />

que atingiu o objetivo. Ao longo de um mandato de<br />

cinco anos alcançaram todas as unidades do país e<br />

conseguiram obter 90% a 92% de triagem de doentes<br />

supostamente encaminhados ao fim de quatro horas.<br />

Mas alcançaram este resultado fazendo tentativas<br />

díspares, para ver se alguma tinha sucesso. Como<br />

não queriam compreender os desafios, simplesmente<br />

continuaram a atribuir recursos, traduzindo-se numa<br />

forma incrivelmente ineficiente de conseguir um<br />

objetivo bastante ambicioso.<br />

”<br />

No mundo pós-2008, ninguém tem disponibilidade<br />

para desperdiçar recursos desta forma, e se os políticos<br />

não compreenderem as complexidades inerentes<br />

ao sector, limitando-se a atribuir recursos de forma<br />

desenfreada e esperando conseguir melhorias, as<br />

coisas não vão correr bem. É por isso fundamental<br />

pensar em inovação inteligente.<br />

A mudança deve começar nas organizações?<br />

Sim, deve começar nas organizações e nos microssistemas<br />

de saúde. Podemos começar a veicular a<br />

nossa ideia junto dos profissionais para conseguir<br />

micro mudanças, sendo certo que as melhorias do<br />

sistema envolvem muito mais atores. }<br />

28 29


GH entrevista<br />

“<br />

SE AS MUDANÇAS SE LIMITAREM À ORGANIZAÇÃO, SIM, É POSSÍVEL<br />

EVOLUIR, MAS É PROVÁVEL QUE SEJAM LIMITADAS E INEFICIENTES E<br />

NÃO SE REPERCUTAM EM MELHORIAS DA SAÚDE DA POPULAÇÃO.<br />

Na Holanda registaram-se ganhos bastante significativos<br />

devido à forma como os prestadores de serviços<br />

de saúde e os assistentes sociais conseguiram trabalhar<br />

em conjunto. É através deste investimento nos microssistemas<br />

de saúde que se começam a ver mudanças.<br />

A Catalunha é outro exemplo. Se as mudanças se<br />

limitarem à organização, sim, é possível evoluir, mas<br />

é provável que sejam limitadas e ineficientes e não<br />

se repercutam em melhorias da saúde da população.<br />

A solução deve passar pela capacitação das organizações<br />

de saúde e dos seus colaboradores para<br />

a gestão da mudança?<br />

Sim. É preciso compreender que grande parte da formação<br />

dos profissionais de saúde incide sobre a sua<br />

especialidade. Trata-se das competências que se adquiriram<br />

nesse âmbito, sendo difícil conseguir que diferentes<br />

grupos de profissionais de saúde se compreendam<br />

entre si, já para não falar em começar a trabalhar em<br />

conjunto para resolver problemas.<br />

”<br />

Parte da solução que estamos a tentar alcançar na<br />

EHMA passa por apoiar as organizações académicas,<br />

nossas afiliadas, no sentido de começarem a ensinar o<br />

trabalho interdisciplinar assim que o estudante entra na<br />

sala. Quer venham a ser fisioterapeutas, enfermeiros<br />

ou cardiologistas, têm de compreender que, sim, estão<br />

a adquirir as suas próprias competências e são especialistas<br />

numa determinada área, mas existem outros<br />

profissionais com quem vão ter de trabalhar. Esta ideia<br />

é particularmente relevante se quiserem retirar o máximo<br />

de proveito para eles e para a saúde da população.<br />

Embora esteja realmente a começar a acontecer, é,<br />

ainda, um longo caminho a percorrer.<br />

O mesmo se passa em termos de educação para a<br />

saúde. Colocá-la nos programas escolares custará<br />

apenas uns cêntimos. Mas é preciso vontade política<br />

para conseguir fazê-lo.<br />

De que forma as crescentes exigências dos utentes,<br />

as suas elevadas expectativas, a diversidade e<br />

autonomia do capital humano, cujo desempenho<br />

impactua na prestação de serviços e no grau de<br />

satisfação dos cidadãos, contribuem para acelerar<br />

um processo de mudança?<br />

Se observarmos qualquer outra área, como as<br />

companhias aéreas, vê-se que estão a responder<br />

à procura, existindo um mecanismo de mercado<br />

que funciona, seja para apanhar um avião ou para<br />

comprar uma sandes.<br />

Ora, no setor da saúde é muito mais difícil, porque<br />

não opera no mesmo ambiente de mercado de qualquer<br />

outro setor. É diferente e temos de reconhecer<br />

essa diferença. Não se ouve a voz do consumidor,<br />

do utente, não se ouve a voz da população a informar<br />

e impulsionar a mudança. Se solicitarmos uma<br />

reparação elétrica e se consideramos que não foi<br />

bem feita, reclamamos.<br />

Na saúde não conseguimos obter uma compreensão<br />

verdadeiramente real da forma como o mercado<br />

responde. É por isso que estamos sempre em busca<br />

de medidas alternativas, para compreender o caminho<br />

seguido pela procura e pela oferta, quando se<br />

entra na interface dos profissionais de saúde. Eles<br />

trabalham com os níveis de procura existentes e<br />

não com a forma como se podem gerir os níveis de<br />

procura. Nesse sentido, vão sempre querer mais, seja<br />

mais tratamento ou mais cuidados, em vez de mais<br />

prevenção. E é esta que deveria estar a impulsionar<br />

uma reforma do sistema de saúde, orientando a<br />

educação das pessoas para os aspetos relacionados<br />

com a prevenção em saúde.<br />

No seu entendimento, haverá um modelo ótimo a ser<br />

adotado na prestação de cuidados para implementar<br />

processos de mudança mais eficazes?<br />

O verdadeiro desafio é o acompanhamento. Posso<br />

exemplificar com a reforma dos serviços de saúde<br />

mental em Londres, que ocorreu no final dos anos<br />

90. A ideia era passar de um modelo de internamento<br />

de longa duração em instituições, para uma resposta<br />

à crise em certos modelos de proximidade, apoiando<br />

as pessoas no ambiente da sua casa. Na minha qualidade<br />

de Presidente do Conselho de Administração,<br />

supervisionava documentos que mostravam que,<br />

de mês para mês, as enfermarias começavam a ficar<br />

vazias. Passaram de uma taxa de ocupação de <strong>14</strong>0%,<br />

em que tínhamos de colocar os pacientes fora de<br />

Londres porque não havia camas, para 100%, 90%,<br />

80%, 70%, até que podíamos fechar aquela enfermaria.<br />

Ficámos surpreendidos por conseguirmos ver até que<br />

ponto se consegue mudar todo o sistema. Mas houve<br />

dois fatores fundamentais: liderança e investimento.<br />

USMAN KHAN<br />

(Diretor Executivo | EHMA)<br />

Usman Khan foi nomeado Diretor Executivo<br />

da European Heath Management Association<br />

(EHMA) em abril de 2016. Atualmente, Usman<br />

é Diretor da Modus Europe, uma Consultora<br />

Europeia sobre Políticas Públicas que<br />

fornece assessoria estratégica para políticas<br />

públicas e realiza estudos económicos e políticos<br />

relacionados em especial à saúde e assistência<br />

social.<br />

Usman tem mais de vinte anos de experiência<br />

em gestão e políticas públicas, tendo ocupado<br />

cargos de direção em organizações públicas,<br />

privadas e sem fins lucrativos, possuindo<br />

experiência em liderar projetos de gestão de<br />

mudança em vários países.<br />

Usman ocupa atualmente um cargo não executivo<br />

dentro do NHS e é professor de política e gestão<br />

de saúde na George Washington University.<br />

Como prevê que os sistemas de saúde europeus<br />

evoluam nos próximos 10 anos?<br />

Há ainda muito trabalho a fazer na reforma dos<br />

serviços de saúde, porque ninguém tem a solução<br />

certa. Os sistemas têm algumas coisas melhores e<br />

outras piores, não se podendo afirmar que os sistemas<br />

com mais recursos são os mais bem-sucedidos.<br />

O desafio é que as regras do jogo estão a mudar<br />

com a Medicina Personalizada. Penso que ela vai<br />

desafiar a própria noção de serviços de saúde.<br />

Costumo dizer que, se querem ver o futuro dos<br />

serviços de saúde, observem o que as pessoas da<br />

classe média estão a fazer.<br />

E se estas pessoas começarem a dizer “eu tenho um<br />

profissional que me informa sobre os programas de<br />

prevenção que devo seguir... faço várias atividades...<br />

tenho meios de diagnóstico em casa que me dizem,<br />

com antecedência, se alguma coisa está a acontecer...”,<br />

então saberei que as minhas soluções serão<br />

personalizadas para mim. Ã<br />

30 31


GH iniciativas<br />

GH iniciativas<br />

APAH VAI DISTINGUIR<br />

AS MELHORES PRÁTICAS<br />

DE GESTÃO EM SAÚDE<br />

FINANCIAMENTO<br />

E EQUIDADE MARCAM<br />

A 10 A EDIÇÃO DO FÓRUM<br />

DO MEDICAMENTO<br />

Prémio Healthcare Excellence <strong>2018</strong><br />

Reunião Final | 19 de outubro<br />

Secção Regional Norte da Ordem dos Médicos | Porto<br />

Fórum do Medicamento<br />

16 de novembro | 9h30<br />

Centro Cultural de Belém<br />

– Sala Fernando Pessoa | Lisboa<br />

A<br />

Associação Portuguesa de Administradores<br />

<strong>Hospitalar</strong>es (APAH),<br />

com o apoio da biofarmacêutica<br />

AbbVie, promovem, no próximo<br />

dia 19 de outubro, a 5ª edição do<br />

Prémio Healthcare Excellence, durante o qual serão<br />

apresentados os projetos finalistas, sendo distinguidos<br />

os três melhores no que diz respeito ao aperfeiçoamento<br />

do serviço prestado aos utentes, implementados<br />

durante o ano de 2017.<br />

Esta distinção pretende incentivar e reconhecer<br />

projetos de qualidade, orientados para a melhoria do<br />

serviço aos utentes, desenvolvidos e implementados<br />

em instituições de saúde portuguesas. A avaliação<br />

dos trabalhos, que terá como critérios a inovação e<br />

a replicabilidade dos projetos candidatos, fica a cargo<br />

de um júri constituído por quatro profissionais de<br />

reconhecido mérito na área da saúde: (i) Margarida<br />

França, APAH, que preside; (ii) Sofia Mariz, Administração<br />

Central do Sistema de Saúde, I.P.; (iii) Delfim<br />

Rodrigues, Hospital Senhora da Oliveira – Guimarães,<br />

E.P.E. e (iv) Dulce Salzedas, jornalista da SIC.<br />

Para Alexandre Lourenço, presidente da APAH, “com<br />

esta iniciativa queremos premiar a excelência na gestão<br />

das unidades de saúde, porque acreditamos que<br />

reconhecer os bons exemplos é contribuir para a<br />

melhoria efetiva dos cuidados de saúde em Portugal”,<br />

e, acrescenta: “A seleção das candidaturas finalistas<br />

foi uma tarefa bastante difícil pelo elevado interesse<br />

dos projetos e também pelo número e qualidade das<br />

boas práticas e inovação dentro do SNS. Acreditamos<br />

que o reconhecimento e disseminação de práticas de<br />

excelência asseguram a melhoria da qualidade de cuidados<br />

de saúde à população e, por isso, continuamos<br />

a nossa aposta neste prémio”.<br />

Na edição deste ano foram recebidas 16 candidaturas,<br />

representativas do território nacional e dos diversos<br />

níveis de cuidados, das quais 6 irão passar à fase final,<br />

sendo apresentadas publicamente. No decorrer da<br />

reunião final será eleito, pelo júri, o vencedor da<br />

edição <strong>2018</strong>, sendo-lhe atribuído um prémio no valor<br />

de 5.000 euros. Ã<br />

A<br />

pressão para o aumento do investimento<br />

na área da saúde, agravada<br />

pelo progressivo envelhecimento<br />

da população e pela evolução tecnológica,<br />

nomeadamente o desenvolvimento<br />

de novos medicamentos e de meios de<br />

diagnóstico mais eficazes, a par com as expectativas<br />

do cidadão, marcam profundamente as sociedades<br />

e os sistemas de saúde.<br />

Contudo, face às restrições orçamentais, os sistemas<br />

de saúde dos países mais desenvolvidos têm experimentado<br />

uma grande variedade de reformas nos seus<br />

modelos de financiamento, com o objetivo de reduzir<br />

a incerteza causada pela introdução, por exemplo, de<br />

novos medicamentos e o seu impacto na sustentabilidade<br />

económica e financeira, privilegiando-se uma<br />

aposta em modelos baseados na medição do valor<br />

e dos resultados.<br />

É sob o lema "Financiamento e equidade para um<br />

SNS sustentável" que a Associação Portuguesa de<br />

Administradores <strong>Hospitalar</strong>es (APAH), com o apoio<br />

da AstraZeneca, realiza na manhã do dia 16 de novembro,<br />

no Centro Cultural de Belém - Sala Fernando<br />

Pessoa, a 10.ª edição do Fórum do Medicamento, a<br />

qual será, uma vez mais, presidida por Francisco Ramos,<br />

presidente do Conselho de Administração do<br />

Instituto Português de Oncologia de Lisboa, Francisco<br />

Gentil, E.P.E..<br />

Em discussão na edição deste ano estarão os desafios<br />

do financiamento de medicamentos inovadores e a<br />

liberdade de escolha do utente, a par com o debate<br />

da equidade no acesso e da necessidade de serem<br />

encontradas respostas inovadoras face aos novos<br />

desafios que se colocam ao sistema. Mais uma vez,<br />

esta iniciativa trará até nós o estado da arte na Europa<br />

sobre estas temáticas, sendo dada voz aos diversos<br />

atores do Sistema para perspetivar as implicações e<br />

as alternativas para Portugal. À semelhança da edição<br />

anterior, o Fórum do Medicamento <strong>2018</strong> será emitido<br />

em live streaming permitindo, assim, a participação<br />

de todos os interessados. Ã<br />

32 33


GH gestão<br />

PUBLIREPORTAGEM<br />

O GESTOR NOS<br />

HOSPITAIS PÚBLICOS:<br />

FAZER E QUEIXAR SE<br />

VS FAZER OU QUEIXAR SE<br />

Carlos Alberto Couto da Silva<br />

Presidente do Conselho de Administração<br />

do Centro <strong>Hospitalar</strong> do Tâmega e Sousa, E.P.E.<br />

É<br />

bem antiga, recorrente e muitas vezes<br />

gasta, a velha afirmação de que<br />

é muito difícil ser-se gestor de um<br />

Hospital público.<br />

E é também antiga, recorrente e<br />

muitas vezes gasta, a perceção de grande parte da<br />

opinião pública de que os gestores dos hospitais<br />

públicos são maus.<br />

O que estará, então, errado neste processo?<br />

Há vários anos que os indicadores de Saúde apresentados<br />

pelos Hospitais públicos do SNS comparam<br />

muito bem com o que de melhor existe no mundo,<br />

fruto de estarem municiados por profissionais de<br />

grande qualidade e formação reconhecida.<br />

O que não está ao alcance da capacidade de decisão<br />

dos gestores nos Hospitais públicos são os mecanismos<br />

que lhes permitam fazer apelo à sua criatividade,<br />

modelos flexíveis e colaborativos.<br />

As teias burocráticas dos processos de compras<br />

públicas, recrutamento de pessoal, investimentos,<br />

etc, são de tal modo infernais, que somente o desconhecimento<br />

concreto dos mesmos pela opinião<br />

pública origina depois as opiniões menos positivas<br />

sobre o papel do gestor.<br />

'<br />

'<br />

Num tempo em que simultaneamente se faz apelo ao<br />

SIMPLEX e às desmaterializações, somos diariamente<br />

confrontados com pedidos repetidos, redundantes<br />

e para vários organismos diferentes sobre a mesma<br />

matéria, numa prática muito centralizadora que a<br />

história mostrou não ser a melhor.<br />

É evidente, e é preciso ser sério para reconhecer,<br />

que algumas vezes alguns gestores se “puseram a<br />

jeito” para que lhes retirassem autonomia porque por<br />

desatenção, falta de cuidado ou erros de avaliação,<br />

foram tomando medidas que vieram no tempo a<br />

mostrar-se desadequadas.<br />

Mas para estas situações, há hoje mecanismos disponíveis<br />

de análise de benchmarking, muitas delas<br />

de conhecimento público, que podem e devem ser<br />

cada vez mais utilizadas para avaliação das decisões e<br />

criação de incentivos à disseminação de boas práticas.<br />

À tutela deve cumprir a coordenação e orientação<br />

das políticas, garantindo os recursos necessários e<br />

esbatendo os desequilíbrios ainda existentes (e alguns<br />

deles cada vez mais acentuados) entre estabelecimentos<br />

e regiões. Porque as análises de benchmarking<br />

referidas deixam facilmente percetíveis sinais que,<br />

querendo, a tutela pode usar para amenizar desequilíbrios<br />

e definir tendências.<br />

Em conclusão, há objetivas situações em que os gestores<br />

podem “Fazer ou Queixar-se”, mas há muitas<br />

em que podem “Fazer e Queixar-se”. Enquanto no<br />

primeiro caso a maioria vai optar por se queixar,<br />

na segunda vão fazer e assim vão tornar-se mais<br />

credíveis no seu comportamento.<br />

Apesar das razões de queixa, há coisas que se podem<br />

fazer. Ã<br />

MANUEL EUGÉNIO<br />

Country Manager Philips Ibérica<br />

e Presidente Philips Portuguesa<br />

A Philips estará presente no Congresso Europeu de Gestores<br />

<strong>Hospitalar</strong>es participando numa mesa redonda sobre<br />

como transformar Big Data em melhores cuidados de<br />

saúde, qual é a abordagem da companhia neste âmbito?<br />

Os sistemas de saúde estão sob uma enorme pressão. O elevado<br />

crescimento da população, acompanhado de um consequente<br />

envelhecimento da população e aumento significativo<br />

das doenças crónicas estão a aumentar o gasto em saúde, num<br />

momento de escassos recursos financeiros e humanos. É preciso<br />

redefinir o papel dos hospitais – temática central da reunião<br />

EAHM <strong>2018</strong> – e repensar o modelo de prestação dos cuidados<br />

de saúde tal como o conhecemos. Ao mesmo tempo, o avanço<br />

tecnológico e a inovação em sistemas médicos estão a gerar<br />

uma enorme quantidade de dados dos quais apenas uma fração<br />

está a ser usada efetivamente para melhorar a qualidade e a<br />

eficiência dos cuidados. Se não forem tratados, mais dados não<br />

equivalem a mais informação, pelo contrário, podem ser um<br />

fardo para as pessoas. Para lhe dar uma ideia da quantidade de<br />

dados que se geram, só os equipamentos da Philips armazenaram,<br />

até hoje, mais de <strong>14</strong>5 bilhões de imagens médicas, somando<br />

mais de 23 petabytes (23 milhões de gigabytes) de dados<br />

de imagem. Portanto é aqui onde a Philips pode ajudar, graças<br />

à sua grande aposta no desenvolvimento de tecnologia baseada<br />

em inteligência artificial (IA), aplicada à promoção de hábitos<br />

de vida saudáveis, à medicina e à gestão hospitalar. A IA tem<br />

potencial para transformar grandes quantidades de dados em<br />

insights acionáveis que podem capacitar médicos, administradores<br />

hospitalares, pacientes e consumidores de serviços de saúde<br />

a alcançar melhores resultados de saúde a um menor custo. Em<br />

resumo, a IA pode ser uma grande oportunidade para avançarmos<br />

na direção de um sistema de saúde baseado em valor.<br />

Fala em repensar modelos de prestação de cuidados e<br />

oportunidades. De que maneira pode a IA revolucionar<br />

a medicina?<br />

Os últimos avanços tecnológicos vão permitir a captura de mais<br />

dados do que nunca sobre o corpo humano, os estilos de<br />

vida das pessoas, sobre as doenças e os seus tratamentos, e<br />

sobre os hospitais e os sistemas de saúde. As soluções com<br />

inteligência artificial podem ajudar a combinar grandes quantidades<br />

de dados médicos para gerar uma visão mais holística<br />

dos pacientes. Extraindo informação útil dos dados captados<br />

pelos sistemas médicos, as soluções habilitadas por IA podem<br />

ajudar os médicos a otimizar os seus fluxos de trabalho, tempos<br />

de procedimento, apoiar a tomada de decisões clínicas e<br />

a seleção do exame adequado para cada paciente, levando a<br />

melhores resultados para os pacientes e melhorando a saúde<br />

da população. A nível departamental e corporativo, a capacidade<br />

da IA de crivar grandes quantidades de dados pode ajudar<br />

os administradores hospitalares a otimizar o desempenho dos<br />

serviços, a aumentar a produtividade e a melhorar o uso dos recursos<br />

existentes, gerando economia de tempo e custos. Além<br />

das fronteiras do hospital, a IA oferece uma tremenda oportunidade<br />

à medida que vai sendo incorporada em soluções de<br />

cuidados domiciliários e promoção de um estilo de vida saudável.<br />

Isso permitirá que as pessoas assumam o controlo sobre<br />

sua própria saúde, apoiadas por sistemas de alertas inteligentes.<br />

Combinando o apoio à tomada de decisões clínicas com a auto<br />

gestão do paciente, a gestão da saúde da população também<br />

se pode beneficiar com a IA. Com base em insights preditivos<br />

extraídos dos dados acumulados das populações e pacientes,<br />

os profissionais de saúde poderão tomar medidas preventivas,<br />

reduzir os riscos à saúde e economizar custos desnecessários.<br />

Portugal precisa atualmente de um programa coerente de prevenção.<br />

Na maioria dos países, o sistema de saúde é muito<br />

reativo, em vez de ser pró-ativo e orientado para a saúde preventiva.<br />

É vital para o futuro e precisamos de avançar nessa direção.<br />

Uma das principais questões em debate no EAHM <strong>2018</strong><br />

é precisamente a implementação de modelos e soluções<br />

inovadoras de prestação de cuidados de saúde, como é<br />

que Philips pode apoiar o SNS neste sentido?<br />

Embora tenhamos uma profunda compreensão dos desafios<br />

que afetam o desempenho geral do nosso sistema de<br />

saúde, vemos inúmeras oportunidades para melhorá-lo. Na<br />

Philips acreditamos numa abordagem patient centric baseada<br />

em valor e não em indicadores de volume que é como estão<br />

organizados os cuidados de saúde atualmente. A transição<br />

a um sistema de saúde baseado em valor requer parcerias<br />

profundas e relações de confiança apoiadas na colaboração<br />

e na partilha de riscos e retribuições. Para nós, a verdadeira<br />

colaboração significa trabalhar de mãos dadas com nossos<br />

clientes para identificar e implementar soluções de valor<br />

adaptadas aos desafios e necessidades de cada organização.<br />

Somos a única empresa do sector presente em todo o ciclo<br />

de saúde das pessoas, com tecnologia inovadora que promove<br />

estilos de saudáveis; dispositivos que favorecem a prevenção<br />

de doenças; sistemas médicos que oferecem diagnósticos precoces<br />

e precisos à primeira; soluções de terapia que permitem<br />

tratamentos minimamente invasivos; tecnologia de cuidados<br />

domiciliários para pacientes crónicos e populações envelhecidas.<br />

Todos estes sistemas se conectam entre si através de plataformas<br />

cloud que recolhem e analisam dados. Acreditamos<br />

que o ciclo de saúde das pessoas deve ser uma experiência<br />

perfeita, integrada e altamente personalizada. Um percurso<br />

onde cada informação contribui para um maior conhecimento<br />

clínico e científico, que beneficia todos os agentes da saúde:<br />

administradores, profissionais de saúde, pacientes e sociedade<br />

em geral.<br />

34 35


GH Case Study<br />

FAST TRACK DO<br />

TRATAMENTO CIRÚRGICO<br />

DAS FRATURAS DO<br />

COLO DO FÉMUR<br />

Figura1 Taxa de mortalidade intra-hospitalar 2012-2015 nos doentes com tratamento cirúrgico da FCF<br />

(Hospital de Cascais vs média SNS, Fonte: SINAS - ERS).<br />

Nuno Côrte-Real<br />

Diretor do Serviço de Ortopedia<br />

do Hospital de Cascais<br />

Francisco Guerra Pinto<br />

Ortopedista,<br />

Hospital de Cascais<br />

Rita Sousa Kadic<br />

Diretora de Eficiência,<br />

Qualidade e Melhoria Contínua<br />

Sílvia Moreira da Silva<br />

Gestora de Eficiência<br />

e Melhoria Contínua<br />

Figura 2 Tempo médio porta-cirurgia para doentes com FCF e a percentagem de doentes com cirurgia em menos de 48h (2012-20<strong>14</strong>).<br />

Apresentação do Hospital<br />

O Hospital de Cascais, integrado no grupo Lusíadas<br />

Saúde, é um hospital do Serviço Nacional de Saúde,<br />

gerido em regime de parceria público-privada (PPP)<br />

servindo a população do concelho de Cascais e<br />

oito freguesias do concelho de Sintra, estas últimas<br />

exclusivamente na área materno-infantil, traduzindo-se<br />

em cerca de 330.000 habitantes. Em termos<br />

de atividade, em 2017 foram realizados cerca de<br />

169.000 atendimentos de urgência, <strong>14</strong>2.000 consultas,<br />

16.000 episódios de internamento, 9.900 cirurgias<br />

e 2.600 partos.<br />

O Hospital conta com a dedicação de cerca de 1.500<br />

colaboradores, equipa esta que já tem enraizada na<br />

sua cultura uma orientação acentuada para a Qualidade<br />

e Segurança - prioridade e uma aposta deste<br />

Hospital desde sempre. Exemplo disso é o facto de<br />

ter sido um dos primeiros hospitais em Portugal a<br />

obter a acreditação pela Joint Commission International<br />

(JCI), que avalia a qualidade e segurança dos<br />

procedimentos clínicos e não clínicos em hospitais<br />

de todo o mundo. Distinguiu-se, também, com o<br />

1<strong>º</strong> lugar na excelência clínica do Sistema Nacional<br />

de Avaliação em Saúde – SINAS (ex aequo com<br />

outro Hospital), obtendo o nível máximo em 5<br />

áreas clínicas, entre as quais Ortopedia – tratamento<br />

cirúrgico das fraturas proximais do fémur.<br />

O mais recente reconhecimento internacional foi a<br />

certificação em 2017, como o único do país e um<br />

de três da europa, com o nível 7 do Electronic Medical<br />

Record Adoption Model (EMRAM) pelo HIMSS<br />

Analytics. Para esta certificação foram avaliados os<br />

sistemas e tecnologias de informação na área hospitalar<br />

em benefício do doente.<br />

Em 2013 a UnitedHealth Group adquiriu o então<br />

Grupo HPP (atualmente Grupo Lusíadas Saúde),<br />

tendo o Hospital de Cascais vindo a reafirmar o<br />

seu projeto transversal de melhoria contínua de<br />

forma crescente e sólida, dando corpo ao lema do<br />

Grupo Lusíadas Saúde: “Sabemos Cuidar”.<br />

Enquadramento<br />

Ao longo dos últimos anos, o Hospital Cascais tem<br />

apostado em investimentos tecnológicos e procedimentos<br />

baseados nas melhores práticas de qualidade<br />

e segurança, sendo um resultado claro deste<br />

trabalho as certificações, acreditações e reconhecimentos<br />

atribuídos por prestigiadas entidades. Paralelamente,<br />

as diretrizes nacionais e internacionais<br />

suportadas por benchmarkings oficiais e por case<br />

studies com resultados academicamente validados<br />

têm desafiado as equipas operacionais a ambicionarem<br />

serem uma referência na excelência clínica.<br />

Neste contexto, e remetendo para a realidade de<br />

2015, surgiu uma preocupação acentuada com a<br />

taxa de mortalidade intra-hospitalar dos doentes<br />

com fratura do colo do fémur (FCF) elegíveis para<br />

o tratamento cirúrgico, que subiu de 3% em 2012<br />

para 8% em 2015, como pode ser observado na<br />

figura 1. A evolução interna deste indicador e a<br />

comparação com o benchmarking nacional do SI-<br />

NAS evidenciou a necessidade de analisar a fundo<br />

este processo e, consequentemente, implementar<br />

melhorias ao mesmo.<br />

Os estudos internacionais demonstravam uma correlação<br />

entre a cirurgia precoce (abaixo das 48 horas)<br />

e a diminuição da mortalidade intra-hospitalar<br />

[1-5], o que levou a uma reflexão clínica e a uma<br />

análise mais detalhada destes indicadores no Hospital<br />

de Cascais. Assim, aferiu-se que o tempo médio<br />

porta-cirurgia prévio ao projeto se situava nas 80<br />

horas (figura 2), tendo sido identificado este fator<br />

como uma das causas prováveis do problema supracitado,<br />

e apenas 50% desses doentes realizavam<br />

a sua cirurgia em menos de 48 horas, conforme<br />

recomendado pelas diretrizes internacionais. Mais<br />

do que um resultado que traduzisse uma média,<br />

a preocupação centrou-se em assegurar o maior<br />

número de doentes operados até às 48 horas e em<br />

garantir a menor dispersão do tempo porta-cirurgia<br />

entre os diversos doentes (figura 3). }<br />

36 37


GH Case Study<br />

Tempo porta-cirurgia (horas)<br />

432:00<br />

384:00<br />

336:00<br />

288:00<br />

240:00<br />

192:00<br />

<strong>14</strong>4:00<br />

96:00<br />

48:00<br />

0:00<br />

Tempo porta-cirurgia para doentes com FCF<br />

2013<br />

Figura 3 Gráfico de dispersão e diagrama de caixa para o tempo médio porta-cirurgia (em horas) para doentes com FCF - 2013-20<strong>14</strong>.<br />

Figura 4 Resumo do mapeamento da cadeia de valor AS WAS (com principais bottlenecks assinalados).<br />

A partir dessa análise, foram desde logo repensados<br />

alguns dos passos fundamentais do processo, dos<br />

quais salientamos as principais alterações:<br />

• Pedido de Raio X inicial pelo enfermeiro da triagem;<br />

• Novo protocolo de interrupção de anti-agregantes<br />

plaquetários (com administração de concentrados<br />

plaquetários);<br />

• Protocolos pré-operatórios de MCDT (concordância<br />

entre Ortopedia e Anestesiologia);<br />

• Menu de acesso rápido na barra lateral do desktop<br />

médico (ex: protocolos, consentimentos informados,<br />

pedidos de consulta de Anestesiologia).<br />

Numa fase posterior, já em meados de 2017 e tendo<br />

por base a maturidade tecnológica alcançada no<br />

Hospital, foi possível iniciar uma série de desenvolvimentos<br />

dos sistemas de informação que, através de<br />

automatismos e alertas, permitiram potenciar mecanismos<br />

de apoio à decisão clínica desde a entrada do<br />

doente na triagem até à respetiva cirurgia. Exemplos<br />

destes desenvolvimentos são os triggers automáticos<br />

de Fast Track tendo por base os fluxogramas e discriminadores<br />

selecionados na Triagem de Manchester<br />

(figura 5), cockpit da Fast Track no desktop médico<br />

(figura 6), iconografia da Fast Track transversal aos<br />

vários profissionais, mensagens automáticas de alerta<br />

por SMS para diversos profissionais (ex: pedido<br />

de consulta de Anestesiologia).<br />

A par de todas as funcionalidades acima descritas,<br />

foi realizada uma monitorização frequente de indicadores<br />

de processo e de resultado que permitiram<br />

contínuos ajustes e melhorias processuais,<br />

bem como medir os benefícios para o doente. }<br />

“<br />

O HOSPITAL DE CASCAIS<br />

APOSTOU NA CRIAÇÃO<br />

DE UM DEPARTAMENTO<br />

DEDICADO À IMPLEMENTAÇÃO<br />

DE PROJETOS DIFERENCIADORES<br />

QUE PERMITAM, ENTRE OUTROS,<br />

AUMENTAR A QUALIDADE<br />

E A EFICIÊNCIA DOS<br />

CUIDADOS PRESTADOS.<br />

”<br />

Objetivo<br />

O objetivo geral do projeto centrou-se em reduzir<br />

a mortalidade intra-hospitalar para os doentes submetidos<br />

a tratamento cirúrgico da fratura do colo<br />

do fémur como resultado da redução do tempo<br />

médio desde a entrada do doente na porta da urgência<br />

até à respetiva cirurgia, garantindo que este<br />

timing se situava abaixo das 48 horas. Numa segunda<br />

fase, o desafio da equipa de projeto tornou-se<br />

mais ambicioso, tendo como meta um tempo médio<br />

porta-cirurgia abaixo das 24 horas, almejando<br />

uma performance de excelência nesta área clínica.<br />

A Equipa<br />

Seguindo as melhores práticas internacionais, o<br />

Hospital de Cascais apostou na criação de um departamento<br />

dedicado à implementação de projetos<br />

diferenciadores que permitam, entre outros,<br />

aumentar a qualidade e a eficiência dos cuidados<br />

prestados. Para este projeto foi constituída uma<br />

equipa multidisciplinar, incluindo os departamentos<br />

de Ortopedia, Anestesiologia, Medicina Interna,<br />

Direção da Urgência Geral, assim como as Direções<br />

Clínica, de Enfermagem, de Produção, de<br />

Eficiência e Melhoria Contínua e de Sistemas de<br />

Informação. Esta equipa foi responsável pelo desenho<br />

do processo, pela implementação das ações<br />

de melhoria e pela sua monitorização.<br />

Metodologia de Implementação<br />

Para definir as principais etapas de implementação<br />

deste projeto foi realizada uma análise de processo,<br />

com um mapeamento extenso do percurso<br />

do doente desde a sua entrada no Hospital até à<br />

cirurgia (figura 4), identificando os principais bottlenecks<br />

processuais.<br />

Figura 5 Exemplos de desenvolvimentos informáticos – triggers automáticos na Triagem.<br />

38 39


GH Case Study<br />

Figura 6 Exemplos de desenvolvimentos informáticos – cockpit da Fast Track no desktop médico.<br />

Figura 7 Resumo do mapeamento da cadeia de valor em 2017 (após ações de melhoria implementadas).<br />

Figura 9 Gráfico de dispersão e diagrama de caixa para o tempo médio porta-cirurgia (em horas) para doentes com FCF - 20<strong>14</strong>-2017.<br />

Figura 8 Tempo médio porta-cirurgia para doentes com FCF e a percentagem de doentes com cirurgia em menos de 48h (2012-2017).<br />

Resultados<br />

Este projeto tem demonstrado impactos tangíveis<br />

e intangíveis, com resultados ao nível da qualidade,<br />

segurança e eficiência do processo. A otimização e<br />

normalização do processo permitiu uma redução<br />

de mais de 50% do tempo médio porta-cirurgia<br />

(figura 7) para os doentes com FCF no ano de<br />

2017, o que se traduz em praticamente menos 2<br />

dias de demora-média nesta fase da permanência<br />

do doente no Hospital.<br />

Este feito ímpar da redução do tempo médio porta-cirurgia<br />

coloca a performance média atual (39<br />

horas) consideravelmente abaixo da meta das 48<br />

horas. Mais do que o objetivo médio, verificou-se<br />

que um número notável de doentes (79%) realizou<br />

a sua cirurgia em menos de 48 horas (figura<br />

8), contra os apenas 50% no cenário inicial. Nesse<br />

contexto, e perseguindo as metas mais ambiciosas<br />

dos melhores casos mundiais [2], o novo desígnio<br />

da equipa clínica é atingir a marca das 24 horas para<br />

esta cirurgia.<br />

Complementando os resultados acima mencionados<br />

e indo ao encontro da excelência do cuidado<br />

defendida pelo serviço e pelo Hospital, cujo mote<br />

central é que cada doente conta, foi importante<br />

garantir uma menor dispersão dos tempos porta-<br />

cirurgia entre os doentes operados. Esse resultado<br />

é ilustrado na figura 9, na qual se corrobora esta<br />

clara tendência de uniformização.<br />

Como inicialmente mencionado, o principal objetivo<br />

na incursão deste projeto prendeu-se com a<br />

redução da taxa de mortalidade intra-hospitalar<br />

associada a estes doentes. Os resultados finais (figura<br />

10), com uma incrível queda desta taxa para<br />

os 2,2% em 2017 (2016-17≈38 mortes potencialmente<br />

evitadas), são o principal motivo de orgulho<br />

do Hospital, motivando a prossecução de projetos<br />

semelhantes em outras áreas clínicas.<br />

Embora fora do âmbito do projeto, complemen-<br />

tou-se a análise com a evolução da demora média<br />

global (permanência hospitalar, em dias) destes<br />

doentes com FCF em comparação com os restantes<br />

doentes cirúrgicos de Ortopedia (figura<br />

11), sendo este um indicador relevante em termos<br />

clínicos e de gestão, usado em diversos estudos<br />

como proxy das necessidades de recursos em saúde<br />

e como indicador de eficiência e de qualidade<br />

clínica [6]. Verificou uma redução significativa na<br />

permanência hospitalar dos doentes submetidos à<br />

cirurgia da FCF em quase 4 dias, tendência que não<br />

é verificada nos restantes doentes cirúrgicos desta<br />

especialidade, o que aponta para eventuais bene- }<br />

40 41


GH Case Study<br />

Figura 10 Taxa de mortalidade intra-hospitalar 2012-2017 nos doentes com tratamento cirúrgico da FCF (Hospital de Cascais vs média SNS, Fonte: SINAS - ERS). Figura 11 Evolução da demora média doentes FCF vs Outras cirurgias de Ortopedia - 2012-2017.<br />

Siglas<br />

fícios da cirurgia precoce para além dos resultados<br />

anteriormente mencionados e incentiva a estudos<br />

adicionais sobre o impacto na recuperação pós-cirúrgica<br />

destes doentes.<br />

Discussão/Conclusões<br />

As referências e benchmarkings nacionais e internacionais<br />

são importantes impulsionadores da mudança<br />

que, aliados a um driver sólido de excelência clínica<br />

e de gestão hospitalar, conduzem a projetos de<br />

melhoria contínua com inquestionáveis resultados<br />

ao nível da qualidade, segurança e eficiência dos processos.<br />

Numa área clínica com esta prevalência e criticidade<br />

de cuidados precoces, a otimização destes<br />

processos cirúrgicos reveste-se de uma pertinência<br />

transversal no contexto hospitalar. As mudanças estruturais<br />

de base foram de simples reengenharia de<br />

processo, o que permite replicar os mesmos princípios<br />

tanto para outras unidades de saúde como para<br />

outros serviços. A introdução de automatismos e<br />

alertas numa fase mais avançada do projeto foi o<br />

complemento tecnológico inovador que apoia a uniformização<br />

e suporta a decisão clínica, garantindo<br />

um tracking completo destes doentes.<br />

Os resultados deste projeto, corroborados pelas<br />

conclusões de outros case studies semelhantes, são<br />

de evidente destaque. Em 2017 foram obtidas reduções<br />

de mais de 50% do tempo médio portacirurgia<br />

e cerca de 79% dos doentes tiveram a sua<br />

cirurgia realizada até às 48 horas após a chegada<br />

ao Hospital, um dos indicadores-chave deste projeto.<br />

A considerável diminuição na taxa de mortalidade<br />

intra-hospitalar destes doentes, situando-a<br />

nos 2,2%, traduz-se num notável outcome clínico,<br />

acompanhado por uma igualmente relevante redução<br />

na demora média global destes doentes (em<br />

cerca de 4 dias), o que vai para além das cerca de<br />

40 horas reduzidas no tempo médio porta-cirurgia.<br />

Estes resultados abrem caminho para futuros<br />

estudos sobre o impacto destas medidas na recuperação<br />

pós-cirúrgica destes doentes, com elevada<br />

pertinência clínica e de gestão.<br />

Consideramos como fatores críticos de sucesso<br />

deste projeto a forte liderança clínica destas equipas,<br />

o rigor metodológico e académico, bem como<br />

o envolvimento da gestão de topo, garantindo um<br />

grande alinhamento de objetivos e disponibilidades<br />

de recursos. A cultura de projeto defendida<br />

desde o primeiro momento permitiu, acima de<br />

tudo, delinear e implementar os passos fundamentais<br />

de mudança ao longo das diversas fases do<br />

processo, bem como monitorizar os indicadoreschave<br />

operacionais, num ciclo contínuo de ajustamento<br />

e melhoria.<br />

Os benefícios intangíveis do desenvolvimento destas<br />

equipas multidisciplinares em torno de objetivos<br />

comuns extrapolam a singularidade dos projetos.<br />

Acreditamos que estes são exemplos ímpares<br />

da interligação dos eixos estratégicos do Hospital:<br />

excelência clínica, melhor experiência de cuidados,<br />

desenvolvimento do capital humano, eficiência<br />

e sustentabilidade.<br />

Sabemos também que não basta implementar mudança.<br />

É necessário garantir o alinhamento das equipas<br />

com os processos e realizar uma efetiva e proativa<br />

gestão da mudança.<br />

Com a aposta na eficiência, na tecnologia centrada<br />

no doente, e na união das equipas em torno dos<br />

objetivos estratégicos, o Hospital de Cascais está<br />

cada vez mais a afirmar-se no caminho da excelência<br />

e a dar corpo ao lema do Grupo Lusíadas<br />

Saúde: “Sabemos Cuidar”. Ã<br />

1<br />

EMRAM - Electronic Medical Record Adoption Model<br />

ERS - Entidade Reguladora da Saúde<br />

FCF - Fratura do colo do fémur<br />

JCI - Joint Commission International<br />

MCDT - Meios Complementares de Diagnóstico<br />

e Terapêutica<br />

SINAS - Sistema Nacional de Avaliação em Saúde<br />

SNS - Serviço Nacional de Saúde<br />

[1] Lefaivre, K; Macadam, S.; Davidson, D.; Gandhi, G.; Chan, H.; Broekhuyse,<br />

H. “Lenght of stay, mortality, morbidity and delay to surgery in<br />

hip fractures”. The Journal of Bone and Joint Surgery. 2009.<br />

[2] Simunovic, N.; Devereaux, P.; Sprague, S.; Guyatt, G.; Schemitsch,<br />

E.; Debeer, J.; Bhandari, M. “Effect of early surgery after hip fracture<br />

on mortality and complications: systematic review and meta-analysis”.<br />

Canadian Medical Association Journal. 2010.<br />

[3] Weller, I.; Wai, E.; Jaglal, S.; Kreder, H. “The effect of hospital type and<br />

surgical delay on mortality after surgery for hip fracture”. J Bone Joint<br />

Surg Br. 2005.<br />

[4] Shiga, T.; Wajima, Z.; Ohe, Y. “Is operative delay associated with<br />

increased mortality of hip fracture patients? Systematic review, meta-<br />

-analysis, and meta-regression”. Can J Anaesth. 2008.<br />

[5] Moja, L.; Piatti, A.; Pecoraro.; Ricci, C.; Virgili, G.; Salanti, G.; Germagnoli,<br />

L.; Liberati, A.; Banfi, G. “Timing matters in hip fracture surgery:<br />

patients operated within 48 hours have better outcomes - a meta-analysis<br />

and meta-regression of over 190,000 patients”. PLoS One. 2012.<br />

[6] OECD. “Health at a Glance 2011: OECD Indicators”. OECD Publishing.<br />

2011<br />

42 43


GH Conferências de valor<br />

CONFERÊNCIAS<br />

DE VALOR APAH<br />

Rita Alexandra Salgado<br />

Aluno do XLVII CEAH<br />

- ENSP Nova<br />

A<br />

criação de valor para os gestores de<br />

saúde, através da partilha de boas<br />

práticas e de novas abordagens para<br />

enfrentar os desafios permanentes<br />

nas organizações de saúde, tem sido<br />

a epígrafe das Conferências de Valor APAH. A 5ª e<br />

mais recente destas conferências, ocorreu com o<br />

tema “Modelos de Liderança e <strong>Gestão</strong> da Mudança<br />

em Saúde”, nos dias 7 e 8 de junho, no Hotel dos<br />

Templários, em Tomar.<br />

Na sequência da colaboração entre a Associação<br />

Portuguesa de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es (APAH)<br />

e a Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP-NOVA),<br />

a APAH ofereceu inscrições a preço reduzido e duas<br />

inscrições gratuitas aos alunos do XLVII CEAH para<br />

este evento. Nós fomos os felizes contemplados com<br />

as duas inscrições gratuitas.<br />

Estando atualmente em formação no CEAH, é muito<br />

aliciante integrar um evento destinado aos administradores<br />

hospitalares que vivem diariamente<br />

as dificuldades para as quais<br />

“<br />

estamos a ser preparados. Para além<br />

disso, e dado o atual momento no contexto<br />

de saúde em Portugal, o tema<br />

da liderança e da gestão da mudança<br />

em saúde tornou irrecusável o convite<br />

que nos foi endereçado. Assim, partimos<br />

para a cidade dos Templários<br />

plenos de expectativas, moldadas pelo<br />

enunciado no Programa. Antevíamos<br />

uma conferência muito inovadora, com<br />

a partilha das melhores experiências<br />

44<br />

Miguel Cabral de Pinho<br />

Aluno do XLVII CEAH<br />

- ENSP Nova<br />

FOI ALICIANTE<br />

INTEGRAR<br />

UM EVENTO<br />

DESTINADO AOS<br />

ADMINISTRADORES<br />

HOSPITALARES<br />

nacionais e internacionais na área da gestão de organizações<br />

de saúde. Apesar de altas, as nossas expectativas<br />

foram superadas. No exórdio da conferência<br />

foi sobejamente assinalado que as organizações de<br />

saúde são sistemas abertos, e portanto dependem<br />

de uma sinergia complexa que extravasa a saúde.<br />

Ao longo da conferência foram enumerados vários<br />

desafios que todos os sistemas de saúde enfrentam.<br />

O tema comum nas possíveis soluções apontadas foi<br />

a inovação, a qual depende inteiramente da vontade e<br />

ousadia das organizações em experimentar, fazendo<br />

do erro um meio de aprendizagem. Ela só é possível<br />

num meio onde exista liderança, cabendo aos líderes<br />

ser os pivots da mudança, equilibrando as vantagens e<br />

desvantagens das abordagens top-down e bottom-up.<br />

Destacamos ainda o enfoque dado a uma ferramenta<br />

de gestão ainda pouco utilizada: o design thinking. Foram<br />

enfatizadas as suas vantagens no âmbito da saúde,<br />

abrindo a possibilidade de aprender com os erros e<br />

de focar a prestação de cuidados no valor humano.<br />

Para além do rico programa formativo, não podemos<br />

ainda deixar de destacar o ambiente acolhedor e<br />

familiar de toda a conferência, assim como a beleza<br />

e qualidade do espaço que nos acolheu.<br />

Como súmula destes dois dias de conferência, saímos<br />

da cidade dos Templários estimulados a fazer diferente<br />

e com a certeza que pequenas mudanças, muitas<br />

vezes só ao nível da abordagem e do pensamento,<br />

tornam possíveis grandes melhorias, desprendidas<br />

da necessidade de avultados recursos. Este evento<br />

permitiu-nos também interagir com<br />

aqueles que estão, por todo o país, a<br />

trabalhar para melhorar a gestão da<br />

saúde em Portugal e perceber as suas<br />

preocupações e esperanças.<br />

Consideramos assim que a participação<br />

na 5ª Conferência de Valor APAH<br />

foi uma excelente oportunidade de<br />

capacitação. Dirigimos, por esse motivo,<br />

o nosso sincero agradecimento à<br />

APAH, pela oportunidade concedida<br />

”<br />

aos alunos do CEAH de integrarem<br />

esta iniciativa. Ã


GH Espaço ENSP<br />

The internationalization<br />

process of ENSP NOVA<br />

Rui Santana<br />

Subdiretor Escola Nacional de Saúde Pública,<br />

Universidade NOVA de Lisboa<br />

Sílvia Lopes<br />

Professora e Coordenadora do Curso de Especialização<br />

em Administração <strong>Hospitalar</strong> (CEAH)<br />

Escola Nacional de Saúde Pública,<br />

Universidade NOVA de Lisboa<br />

'<br />

In addition, it is also important to mention the reception<br />

of foreign teachers, researchers and students:<br />

in 2017, 65 foreign students participated in regular<br />

ENSP-NOVA programs (Specializations, Masters and<br />

PhDs) and it is expected that in academic year 18 /<br />

19, five visiting professors from foreign universities will<br />

carry out research and teaching work at ENSP-NOVA.<br />

The increasing number of courses offered in English<br />

were a good contribution to this reality.<br />

For the same purpose, the ENSP-NOVA personnel<br />

have also contributed to its internationalization, with<br />

emphasis on the participation of teachers in the ERAS-<br />

MUS + program, through sabbaticals licenses in foreign<br />

countries and through their insertion in teams carrying<br />

international and competitive research projects.<br />

Being one of the important areas in Public Health,<br />

ENSP-NOVA has been also developing activities at<br />

the international level in Hospital Administration. An<br />

example of this evidence is the reception of two classes<br />

from École de Hautes Études en Santé Publique<br />

(Rennes) for a study visit to ENSP-NOVA and to<br />

Portuguese hospitals. On the part of the students of<br />

the Specialization in Hospital Administration, a study<br />

visit was also made to EHESP and to the George<br />

Pompidou Hospital in Paris. This cooperation resulted<br />

in a protocol signed between the two schools, which<br />

we have reported in a previous issue.<br />

More than the figures in which internationalization can be<br />

translated (volume of students and teachers, amounts of<br />

funding obtained, number of protocols, etc.), the exchange<br />

of experiences, shared innovation and the creation of<br />

knowledge networks among the academic community,<br />

are the most wanted rewards of this movement.<br />

The experience of the teaching staff, multidisciplinarity,<br />

the strong penetration in the Portuguese health<br />

system, as well as the privileged relationship with the<br />

Portuguese-speaking countries are characteristics that<br />

make ENSP-NOVA a strategic partner for establishing<br />

new partnerships in innovative areas of public health<br />

and hospital management. Ã<br />

The Escola Nacional de Saúde Pública<br />

(National School of Public Health)<br />

of the Universidade Nova de Lisboa<br />

(ENSP-NOVA) is a post-graduate<br />

teaching and research institution dedicated<br />

to developing applied research and knowledge<br />

transfer in the fields of public health and health policy<br />

and management.<br />

Founded in 1966, ENSP-NOVA is a pioneer institution<br />

in public health teaching in Portugal and in Europe.<br />

It has three main strategic goals aimed at improving<br />

and consolidating its position as: (i) a producer of<br />

nationally and internationally recognized research<br />

oriented to the resolution of problems in the fields<br />

of health and health care; (ii) a centre of excellence in<br />

teaching and training in public health; (iii) a reference<br />

university institution in the design, development, and<br />

evaluation of the Portuguese health system.<br />

The School carries out its activities through a broad network<br />

of national and international partnerships. It has an<br />

experienced and competent faculty (around 50 full and<br />

part-time staff) that cover a wide variety of disciplines<br />

(eg. Epidemiology and Statistics, Environmental and Occupational<br />

Health, Health Promotion, Health Policy and<br />

Administration, Health Services Management, Health<br />

Economics, Health Sociology, and Health Law).<br />

ENSP-NOVA is the host institution of CISP – Public Health<br />

Research Centre, a research center evaluated recently<br />

by Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) and<br />

the Portuguese Journal of Public Health (PJPH).<br />

Internationalization, as a process where organizations<br />

provide their activities in a geographical place that<br />

goes beyond their traditional boundaries, has gained<br />

relevance as a strategic axis in the universities across<br />

the world. This movement intends to adapt organizations<br />

to the increasably global and competitive context,<br />

where the creation of knowledge is increasably fast and<br />

disruptive. ENSP-NOVA has been following this trend.<br />

As one of its strategic axes, through the internationalization<br />

process of ENSP-NOVA, about three<br />

dozen active protocols with foreign entities in different<br />

continents and thematic areas have existed annually.<br />

These protocols sustain a systematic cooperation<br />

over time, and this establishment of close and strong<br />

relationships allows the development of teaching and<br />

research products.<br />

Examples of these partnerships are the Erasmus Mundus<br />

Joint Doctoral Program on Dynamics of Health<br />

and Welfare, a partnership with University of Évora,<br />

Linköping University of Sweden, and École des Hautes<br />

Études en Sciences Sociales, in Paris.<br />

Another example is the International Course on<br />

Quality in Health and Patient Safety (CIQSSP), a<br />

university extension program in partnership with the<br />

National School of Public Health - Sérgio Arouca of<br />

the Oswaldo Cruz Foundation (Fiocruz) in Brazil.<br />

In recent years, it is also important to highlight the<br />

protocol between the Clínica da Sagrada Esperança<br />

in Angola and ENSP-NOVA, which has allowed the<br />

development of several editions of programs in occupational<br />

and environmental health (occupational<br />

medicine) and in management of health units.<br />

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Alterar a prática da medicina<br />

Na Novartis aproveitamos o poder inovativo da ciência para resolver alguns dos mais<br />

desafiadores problemas de saúde na nossa sociedade. Os nossos investigadores trabalham<br />

para ultrapassar as fronteiras da ciência, ampliar a nossa compreensão das doenças<br />

e desenvolver novas terapêuticas em áreas cujas necessidades médicas ainda não foram<br />

resolvidas. Temos paixão em descobrir continuamente novas formas de prolongar<br />

e melhorar a vida dos doentes.<br />

NOV184/11/2017


GH Opinião<br />

LEI DE BASES DA SAÚDE<br />

O CAMINHO PARA<br />

A REFORMA DO SETOR?<br />

De forma geral, a lei não serviu para que a saúde<br />

evoluísse no sentido que determinava. Podemos<br />

apontar várias razões, sendo a maior a falta de financiamento<br />

público neste setor e a falta de uma<br />

reforma capaz de fazer face à otimização de recursos<br />

para falarmos mais em saúde e menos em doenças.<br />

A proposta da Dra. Maria de Belém, alguém que eu<br />

muito respeito e admiro, traz algumas novidades,<br />

nomeadamente quando defende um sistema mais<br />

ao serviço do cidadão ou quando refere uma maior<br />

proximidade das políticas de saúde às pessoas, através<br />

do reforço da relação com as autarquias. Além<br />

disso, propõe-se que as políticas concentrem mais<br />

esforços na saúde mental, na saúde ocupacional e na<br />

literacia do doente, especificamente na área digital.<br />

Também prevê uma maior cooperação com a Comunidade<br />

dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), no<br />

âmbito da investigação, aquisição de medicamentos<br />

e formação de profissionais de saúde, bem como<br />

uma harmonia com os setores da economia social e<br />

do privado, um modelo de integração de cuidados<br />

que possam otimizar os recursos existentes no país.<br />

Destaco ainda, conforme publicado no site do SNS,<br />

a intenção de que os seus profissionais assumam<br />

uma administração pública específica, com modelos<br />

pluralistas de gestão, exigindo-se para isso profissionais<br />

qualificados. Maior autonomia não sei, mas<br />

mais competências certamente.<br />

A pergunta que se impõe é a seguinte: será desta que<br />

a lei de bases será de facto um veículo para se iniciar a<br />

verdadeira reforma da saúde? Dizem os políticos que<br />

as reformas só se fazem com maiorias no parlamento.<br />

Talvez. Mas para que as reformas se concretizem, o<br />

consenso terá que ser muito amplo. E Portugal continua<br />

dividido entre idealismos e não entre táticas passíveis de<br />

cumprir uma estratégia que aceitemos como comum. Ã<br />

Luís Lopes Pereira<br />

Diretor Geral Medtronic Portugal<br />

A<br />

saúde está na ordem do dia. Seja<br />

pelo financiamento, os profissionais,<br />

os equipamentos, o setor<br />

privado, a regulamentação... são<br />

vários os temas que vão saindo nas<br />

notícias como se Portugal já tivesse feito uma reforma<br />

ao setor da saúde e como se todos os problemas<br />

fossem apenas ao nível da gestão.<br />

Na recente Convenção da Saúde foi dado um primeiro<br />

passo no sentido de envolver todos os stakeholders<br />

numa reforma que urge para a saúde. Enquanto isso<br />

o Governo solicitou uma proposta para uma nova<br />

lei de bases da saúde.<br />

A lei é importante para a reforma pois são necessárias<br />

linhas estratégicas que orientem as políticas que vão<br />

sendo implementadas. No entanto convém analisar<br />

em que medida esta lei, por enquanto a que está em<br />

vigor, influenciou as políticas instituídas até agora.<br />

A atual lei repete há trinta anos, no seu primeiro<br />

ponto, que “a promoção da saúde e a prevenção da<br />

doença fazem parte das prioridades no planeamento<br />

das atividades do Estado”. As ações implementadas,<br />

ou não implementadas, resultam nas maiores taxas<br />

de diabetes e hipertensão da OCDE. Por outro lado,<br />

é também do conhecimento público o reduzido<br />

valor reservado para a prevenção no orçamento<br />

geral da saúde.<br />

A mesma lei impõe, um pouco mais à frente, como<br />

“objetivo fundamental obter a igualdade dos cidadãos<br />

no acesso aos cuidados de saúde, seja qual for a sua<br />

condição económica e onde quer que vivam, bem<br />

como garantir a equidade na distribuição de recursos<br />

e na utilização de serviços”. Ora, são conhecidas as desigualdades<br />

de acesso em termos regionais, bem como<br />

as desproporções orçamentais entre várias instituições<br />

prestadoras de saúde, nomeadamente hospitais.<br />

Mais adiante, diz a lei que “os serviços de saúde<br />

estruturam-se e funcionam de acordo com o interesse<br />

dos utentes e articulam-se entre si e ainda<br />

com os serviços de segurança e bem-estar social”.<br />

Talvez quando o Ministério da Saúde deixar de se<br />

chamar assim e passe a integrar a gestão dos cuidados<br />

sociais, pela sua interligação, esta premissa<br />

possa ser cumprida.<br />

Recomenda ainda a lei que “a gestão dos recursos<br />

disponíveis deve ser conduzida por forma a obter<br />

deles o maior proveito socialmente útil e a evitar<br />

o desperdício e a utilização indevida dos serviços”.<br />

Devo dizer que os profissionais e as administrações<br />

de saúde se têm esforçado no sentido de encontrar<br />

soluções logísticas mais eficientes. Falta, na minha<br />

opinião, uma maior autonomia das unidades para<br />

facilitar o envolvimento de todos na procura e eliminação<br />

de desperdícios.<br />

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GH Reflexões de Direito Biomédico<br />

LEI DE BASES DA SAÚDE<br />

A PROPOSTA DE <strong>2018</strong><br />

UM TESTEMUNHO<br />

(3) Abertura a diversos ciclos políticos,<br />

mas fortemente arrimada nos<br />

comandos constitucionais<br />

Uma Lei de Bases deve ter uma dimensão suprapartidária<br />

e que tenha abertura suficiente a diversas<br />

orientações ideológicas e a diversos programas de<br />

governo, sob pena de ser um mero texto político,<br />

sem futuro e sem capacidade de dialética transformadora.<br />

Mas não é um instrumento legislativo assético<br />

ou despido de uma filosofia política. A proposta<br />

configura a leitura que esta Comissão – sob a superior<br />

liderança da Dr.ª Maria de Belém Roseira – faz<br />

da Constituição e que, partindo dos direitos fundamentais,<br />

designadamente, do princípio da dignidade<br />

humana (art.1.<strong>º</strong>), do princípio da igualdade (art. 13.<strong>º</strong>) e<br />

do direito à proteção da saúde (art. 64.<strong>º</strong>) deixa claro<br />

o papel central e de liderança técnica, científica, formadora,<br />

promotora da equidade e da coesão social,<br />

que cabe ao SNS – o Serviço Nacional de Saúde – o<br />

qual poderá articular, quando necessário, com os<br />

setores da economia social e com a iniciativa privada<br />

um sistema integrado e harmonioso, com exigentes<br />

critérios de transparência, eficácia e eficiência. A CRP<br />

é clara ao impor a criação de um SNS universal, geral<br />

e tendencialmente gratuito, tendo o nosso sistema<br />

um pendor claro de natureza beveridgiana, que não<br />

poderá ser desvirtuado. O financiamento com base<br />

nos impostos e o acesso universal são a garantia de<br />

aperfeiçoamento deste instrumento de democracia<br />

viva e de coesão social que importa modernizar,<br />

designadamente nos domínios das tecnologias da<br />

informação e da inovação em saúde.<br />

Uma última nota. O processo de consultas, quer<br />

na fase de redação inicial em que foram ouvidas<br />

muitas das mais prestigiadas personalidades com<br />

pensamento estruturado sobre estas áreas, quer a<br />

consulta pública que decorreu em junho-julho, em<br />

que muitos e qualificados contributos foram entregues,<br />

revelaram-se de extrema importância para<br />

as virtudes que este documento possa apresentar.<br />

O processo ainda agora começou. O debate parlamentar<br />

– na casa da Democracia – terá lugar nos<br />

próximos meses, e a participação empenhada e<br />

construtiva dos agentes mais informados da área da<br />

saúde será decisiva para que uma Nova Lei de Bases<br />

possa dar um novo impulso ao reforço desta área<br />

decisiva da nossa vida pessoal e coletiva. Ã<br />

André Gonçalo Dias Pereira<br />

Centro de Direito Biomédico;<br />

Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra<br />

Tive a honra de integrar a Comissão<br />

de Revisão da Lei de Bases da Saúde<br />

(Despacho n.<strong>º</strong> 1222-A/<strong>2018</strong>, de 31 de<br />

janeiro, do Ministro da Saúde, DR 2.ª<br />

S, n.<strong>º</strong> 24, 2 de fevereiro de <strong>2018</strong>) e<br />

tenho o gosto de partilhar 3 reflexões, naturalmente<br />

parciais e comprometidas, sobre o Documento que<br />

foi entregue em setembro deste ano ao Senhor<br />

Ministro da Saúde, e que se podem enunciar em 3<br />

ideias-chave: (1) uma nova LBS, (2) assente na Pessoa<br />

e (3) com abertura a diversos ciclos políticos, mas<br />

fortemente arrimada nos comandos constitucionais.<br />

(1) Uma Nova LBS<br />

Não se tratou de uma mera revisão ou ‘aggiornamento’<br />

da Lei de Bases da Saúde de 1990 (Lei n.<strong>º</strong> 48/90,<br />

de 24 de Agosto, alterada pela Lei n.<strong>º</strong> 27/2002 de 8<br />

de Novembro). O trabalho apresentado é escrito de<br />

raiz, com uma estrutura inovadora e que atende às<br />

exigências de uma visão esclarecida e atualizada sobre<br />

a área da saúde. Visão essa que se centra na pessoa,<br />

que se preocupa com as determinantes (económicas,<br />

sociais, culturais, ambientais e laborais) da saúde e<br />

que define prioridades e políticas transversais, daí a<br />

autonomia concedida, por exemplo, à saúde pública<br />

e à saúde ocupacional. Naturalmente que os textos<br />

do pai fundador do SNS, Doutor António Arnaut,<br />

foram tidos como o farol que ilumina nas áreas de<br />

sombras e penumbra.<br />

(2) A centralidade da pessoa<br />

A pessoa, doente e não doente, a pessoa humana<br />

que tem o direito fundamental à proteção da saúde<br />

e o dever de a defender e promover, e cuja primazia<br />

passa pela importância concedida ao reconhecimento<br />

dos seus direitos, mas também pela educação em<br />

saúde a literacia para a saúde. Para além dos direitos<br />

individuais que saem fortalecidos (v.g., consentimento<br />

informado, sigilo e proteção de dados pessoais) é<br />

dado ênfase ao papel das associações de doentes.<br />

50


GH estudo<br />

REINTERNAMENTO<br />

MATERNO APÓS PARTO<br />

CARACTERIZAÇÃO E DETERMINANTES<br />

EM HOSPITAIS PÚBLICOS PORTUGUESES<br />

Miguel Papança<br />

Escola Nacional de Saúde Pública,<br />

Universidade NOVA de Lisboa<br />

Sílvia Lopes<br />

Professora e Coordenadora do Curso de Especialização<br />

em Administração <strong>Hospitalar</strong> (CEAH)<br />

Escola Nacional de Saúde Pública,<br />

Universidade NOVA de Lisboa<br />

Importância do reinternamento<br />

materno após parto<br />

A avaliação dos cuidados de saúde em Obstetrícia<br />

está habitualmente focada na análise dos eventos<br />

imediatos, que decorrem logo após o parto. 1-6 Por<br />

isso, a informação relativa ao reinternamento materno<br />

após parto, relacionada com os eventos não<br />

imediatos e seus principais determinantes, tem sido<br />

até agora muito pouco reportada e estudada. 7-10<br />

Se tomarmos como exemplo as complicações maternas<br />

que ocorrem durante o período puerperal,<br />

estas são muito diversas e aparecem por vezes organizadas<br />

em complicações obstétricas e não obstétricas.<br />

7 A grande maioria dessas complicações<br />

ocorre no período imediatamente após o parto<br />

e é tratada enquanto a mãe e a criança ainda se<br />

encontram no hospital. Contudo, um número ainda<br />

elevado de complicações é desenvolvido após a<br />

alta, requerendo algumas delas o reinternamento<br />

da mãe. 7-11-15 Assim, apesar de pouco frequente, o<br />

reinternamento materno após parto tende a estar<br />

associado a situações clínicas de maior gravidade,<br />

pelo que se reveste de grande importância o seu<br />

melhor conhecimento. 16 Estudos anteriores indicam<br />

que as mulheres reinternadas por causas obstétricas<br />

representam 43% ou 52% de todas as mulheres<br />

reinternadas no período após parto vaginal ou por<br />

cesariana, respetivamente. 7<br />

Estes estudos indicam também que, quando ocorre<br />

um reinternamento materno após parto, os diagnósticos<br />

do novo episódio que tendem a ser encontrados<br />

com maior frequência são a hemorragia após parto<br />

(parto vaginal: 48%; parto por cesariana: 20%) e as<br />

infeções puerperais (parto vaginal: 31%; parto por<br />

cesariana: 25%). 7<br />

Determinantes do reinternamento<br />

materno após parto<br />

Os determinantes do reinternamento materno após<br />

parto podem ser desagregados em determinantes<br />

não modificáveis e determinantes modificáveis.<br />

A revisão da literatura indica um risco significativamente<br />

maior de reinternamento após parto nas<br />

mulheres primíparas comparativamente às mulheres<br />

multíparas, o que também acontece naquelas que<br />

têm menor idade gestacional. 16-18 Ainda no âmbito<br />

da revisão bibliográfica, verificou-se que as mulheres<br />

com reinternamento após parto apresentavam mais<br />

comorbilidades no momento do parto (alterações<br />

hipertensivas, diabetes mellitus gestacional e prégestacional),<br />

assim como tinham sido submetidas em<br />

maior número a processos de transfusão sanguínea<br />

no decurso do parto e/ou tinham tido partos mais<br />

prolongados. 7-11-15 Além disso, as mulheres que tiveram<br />

infeções puerperais também tenderam a apresentar<br />

maiores percentagens de reinternamento após parto. 18<br />

Já no âmbito dos determinantes modificáveis e relativamente<br />

ao tipo de parto, o parto por cesariana<br />

é considerado fator de risco acrescido para o reinternamento<br />

materno. 11,16,17,19 Adicionalmente, no que<br />

diz respeito à duração do internamento inicial para<br />

o parto, verificou-se pelos estudos anteriores que<br />

nos partos por cesariana, o risco de reinternamento<br />

diminui à medida que a duração do internamento<br />

inicial aumenta e que nos partos vaginais,<br />

apenas os períodos de internamento inicial longos<br />

(>= 4 dias) estiveram associados ao reinternamento<br />

materno, aumentando-o. 7<br />

Em relação ao prazo para se considerar um reinternamento,<br />

é habitual ter-se em conta o período dos<br />

30 dias após a alta do internamento, uma vez que<br />

normalmente os reinternamentos que ocorrem nesse<br />

intervalo de tempo são influenciados pelos cuidados<br />

prestados no internamento inicial. 20<br />

Estudo do reinternamento materno<br />

após parto em hospitais portugueses<br />

Recentemente, foi realizado um trabalho no âmbito<br />

do Curso de Especialização em Administração <strong>Hospitalar</strong>,<br />

em que foram estudados a frequência e os<br />

determinantes do reinternamento materno após<br />

parto. Para esse efeito, foi utilizada a base de dados<br />

de morbilidade hospitalar, cedida pela Administração<br />

Central do Sistema de Saúde (ACSS), contendo os<br />

registos dos episódios de internamento dos doentes<br />

tratados em hospitais públicos do Continente. A<br />

população em estudo incluiu os episódios de internamento<br />

com alta em 20<strong>14</strong>, classificados num dos<br />

seguintes GDH (Grupos de Diagnósticos Homogéneos):<br />

370 (parto por cesariana, que não de alto risco,<br />

com complicações), 371 (parto por cesariana, que<br />

não de alto risco, sem complicações), 372 (parto }<br />

52 53


GH estudo<br />

Quadro1 Caracterização da frequência de reinternamento materno após parto<br />

N<strong>º</strong> de partos Frequência de reinternamento<br />

materno após parto<br />

Total 58.134 0,74%<br />

Faixa etária<br />

0-15 121 1,68%<br />

16-20 2.940 1,16%<br />

21-25 8.291 0,71%<br />

26-30 16.278 0,79%<br />

31-35 18.932 0,69%<br />

36-40 9.929 0,61%<br />

>40 1.643 0,79%<br />

Tipo de admissão<br />

Urgente 53.632 0,75%<br />

Programada 4.502 0,53%<br />

Duração de internamento (dias)<br />

Até 2 15.836 0,63%<br />

3 24.045 0,67%<br />

4 10.276 0,73%<br />

5+ 7.977 1,15%<br />

Tipo de parto<br />

Parto vaginal 41.806 0,73%<br />

Parto por cesariana* 16.328 0,75%<br />

Parto por cesariana de alto risco 3.546 0,73%<br />

Caraterização do número de dias até ao reinternamento materno após parto, por tipo de parto<br />

Figura1 Número de dias até ao reinternamento materno após parto, em frequência relativa acumulada por dia<br />

* Consideraram-se neste grupo todas as cesarianas, incluindo as de alto risco.<br />

vaginal, com complicações), 373 (parto vaginal, sem<br />

complicações), 374 (parto vaginal, outros), 375 (parto<br />

vaginal, instrumentalizado), 650 (parto por cesariana<br />

de alto risco, com complicações) e 651 (parto por<br />

cesariana de alto risco, sem complicações).<br />

Os reinternamentos considerados diziam respeito<br />

aos reinternamentos hospitalares não planeados<br />

que requereram admissão urgente nos 30 dias após<br />

a alta, uma vez que os reinternamentos planeados<br />

não refletem a qualidade dos cuidados prestados. 30<br />

Foi ainda apurado o número de dias que decorreu<br />

entre a alta do episódio do parto e a admissão do<br />

episódio de reinternamento materno após parto.<br />

As variáveis de caracterização da parturiente (idade<br />

materna) e do tipo de admissão do episódio do<br />

parto (urgente ou programada) foram incluídas na<br />

análise. A duração (em dias) do internamento inicial<br />

para o parto constava da base de dados e foi incluída<br />

no estudo. O tipo de parto (vaginal ou cesariana)<br />

foi definido com base no GDH de cada episódio<br />

e, nalguns casos, foram distinguidos os partos por<br />

cesariana de alto risco.<br />

A frequência de reinternamento materno foi caracterizada<br />

por faixa etária, tipo de admissão, duração<br />

do internamento e tipo de parto. O número de dias<br />

até ao reinternamento foi caracterizado por tipo de<br />

parto. Foi ainda realizada uma análise multivariada,<br />

em que através de uma regressão logística se procurou<br />

estudar o efeito conjunto de todas as variáveis<br />

sobre a ocorrência de um reinternamento (odds-ratio<br />

> 1: aumento do risco de reinternamento).<br />

Resultados do estudo<br />

Dos 58.134 partos incluídos no estudo, verificou-se<br />

que a maioria foi relativa a mulheres com idades<br />

entre os 21 e os 40 anos (91,9%) (Quadro 1). As<br />

parturientes estavam concentradas nas faixas dos 26<br />

aos 35 anos (60,6%) e apenas 2,8% tinham mais de<br />

40 anos. Constatou-se também que em 92,3% das<br />

parturientes a admissão ao internamento foi urgente<br />

(parto vaginal: 96,0%; cesariana: 82,7%). A demora<br />

média do internamento inicial para o parto foi 3,6<br />

dias. Em 41,4% dos casos, a duração de internamento<br />

foram 3 dias, apenas 13,7% das parturientes estive-<br />

Quadro2 Análise dos determinantes<br />

do reinternamento materno após parto<br />

Odds ratio (IC95%) p<br />

Idade materna 0,982 (0,965-0,998) 0,028<br />

Admissão<br />

0,695 (0,456-1,058) 0,090<br />

programada*<br />

Duração do 1,029 (1,013-1,046) 0,000<br />

internamento inicial<br />

Parto por cesariana** 1,046 (0,841-1,303) 0,684<br />

Variável dependente: reinternamento materno após parto. | Grupos<br />

de referência: * admissão urgente; ** parto vaginal. | IC95%: intervalo de confiança<br />

a 95%. | Um odds-ratio (OR) significativamente superior a 1 indica um aumento<br />

do risco de reinternamento materno após parto.<br />

ram internadas pelo menos 5 dias. Observou-se que<br />

28,1% dos partos foram cesarianas (16.328) e que<br />

as cesarianas de alto risco representaram cerca de<br />

1/5 das cesarianas (3.546).<br />

Nesta população ocorreram 428 reinternamentos,<br />

sendo a frequência de reinternamento materno<br />

após parto de 0,74% (Quadro 1).<br />

A frequência de reinternamento foi mais elevada<br />

em mulheres mais jovens, as faixas etárias com valor<br />

superior à média foram as duas mais baixas (0-15a e<br />

16-20a: 1,68% e 1,16%, respetivamente) e as faixas<br />

26-30a e >40a (0,79%). O reinternamento materno<br />

foi mais frequente nas admissões urgentes (0,75%)<br />

do que nas admissões programadas (0,53%). Os<br />

internamentos iniciais mais longos apresentaram<br />

frequências de reinternamento materno mais elevadas,<br />

crescendo o seu valor constantemente desde<br />

0,63% (até 2 dias) até 1,15% (5+ dias). Por tipo de<br />

parto, a frequência de reinternamento materno foi<br />

semelhante entre o parto normal (0,73%), por cesariana<br />

(0,75%) e por cesariana de alto risco (0,73%).<br />

Verificou-se também que metade dos reinternamentos<br />

maternos após parto vaginal ocorreu nos<br />

primeiros 6 dias após a alta (Figura 1).<br />

Esta percentagem foi atingida num período de tempo<br />

relativamente semelhante no caso dos partos por<br />

cesariana (5 dias) e num período de tempo bastante<br />

mais curto no caso dos partos por cesariana de alto<br />

risco (2 dias).<br />

Quando se considerou, através da análise multivariada,<br />

o efeito conjunto da idade materna, do tipo de<br />

admissão, da duração de internamento inicial e do<br />

tipo de parto, observou-se que a idade influenciou<br />

a frequência do reinternamento materno de forma<br />

estatisticamente significativa (Quadro 2). }<br />

54 55


GH estudo<br />

“<br />

ACOMPANHAMENTO<br />

APÓS PARTO PARA<br />

AS PARTURIENTES<br />

DE IDADES<br />

MUITO JOVENS.<br />

”<br />

Por cada ano adicional de idade materna, o risco de<br />

reinternamento após parto diminuiu em 1,8%. Além<br />

disso, quando a duração do internamento inicial foi<br />

mais prolongada, o risco de reinternamento materno<br />

aumentou (2,9% por cada dia adicional). Os<br />

resultados encontrados indicaram ainda que o tipo<br />

de parto e o tipo de admissão não tinham influência<br />

significativa sobre o reinternamento materno após<br />

parto (p>0,05).<br />

Implicações dos resultados<br />

do estudo para a gestão hospitalar<br />

Os dados encontrados e a sua análise parecem conduzir<br />

à necessidade de serem criadas medidas de<br />

acompanhamento após parto para as parturientes<br />

de idades muito jovens. Algumas dessas medidas<br />

poderiam ser iniciadas logo durante o internamento<br />

inicial para o parto, sendo inclusive de se considerar<br />

medidas de apoio social para o período após a alta.<br />

Como metade dos reinternamentos maternos<br />

tendeu a ocorrer na primeira semana após a alta<br />

pelo parto, a monitorização neste período parece<br />

crítica, mesmo que apenas telefonicamente. Contudo,<br />

no grupo de mulheres em que ocorreu parto<br />

por cesariana de alto risco, o acompanhamento nos<br />

primeiros 2 dias pode ser reforçado, por exemplo<br />

através da visita domiciliária de um profissional de<br />

saúde, uma vez que 50% dos eventos ocorreram<br />

naquele período. Estas recomendações vêm inclusive<br />

em linha com as guidelines oficiais, canadianas e americanas,<br />

as quais recomendam que exista um follow<br />

up das parturientes nas 48 horas após a alta, sendo<br />

que, apesar disso, um estudo relativo ao uso desta<br />

prática indicou que a mesma apenas era realizada<br />

em 50% dos casos. 21<br />

Em estudos futuros, estes resultados poderão ser<br />

complementados pelo conhecimento mais aprofundado<br />

sobre a morbilidade materna, a qual não foi<br />

aqui considerada. Aliás, o risco acrescido de reinternamento<br />

materno verificado para os internamentos<br />

iniciais para o parto mais prolongados pode estar<br />

relacionado com uma maior morbilidade materna e<br />

não propriamente com a duração de internamento<br />

inicial em si mesma.<br />

Outro aspeto que importa ter em conta diz respeito<br />

à baixa frequência do reinternamento materno,<br />

o qual limitou a robustez das análises estatísticas<br />

realizadas. Contudo, foi possível encontrar resultados<br />

com significância estatística para algumas das<br />

variáveis estudadas, nos quais se sustentaram as<br />

implicações já mencionadas anteriormente. Importa<br />

ainda recordar que este é apenas um dos outcomes<br />

possíveis no período após parto, pelo que os resultados,<br />

isoladamente, não podem ser interpretados<br />

como sendo indiferente a opção entre parto por<br />

cesariana e parto vaginal. Finalmente, salienta-se<br />

que só as situações mais graves e que justificaram o<br />

internamento materno foram incluídas, uma vez que<br />

não foi possível considerar a utilização da urgência<br />

após a alta do internamento para o parto.<br />

Uma vez que em cada hospital se tratará de um<br />

evento pouco frequente e no sentido de se ser o mais<br />

custo-efetivo possível, sugere-se que as medidas propostas<br />

assentem primeiro que tudo na identificação<br />

das parturientes de maior risco, que mais beneficiarão<br />

de medidas preventivas do reinternamento<br />

materno após parto. Tendo em conta a necessidade<br />

de evitar estes eventos, mas também considerando<br />

que existem características específicas de cada<br />

hospital, poderá interessar à gestão dos serviços de<br />

obstetrícia tomar medidas nesse sentido, reduzindo<br />

as repercussões negativas dos reinternamentos tanto<br />

para as parturientes e respetivas famílias, como para<br />

os custos e qualidade dos cuidados no hospital e no<br />

Serviço Nacional de Saúde. Ã<br />

1<br />

1. Hannah ME, Hannah WJ, Hewson SA, Hodnett ED, Saigal S, Willan<br />

AF, et al. Planned cesarean section versus planned vaginal birth for<br />

breech presentation at term: a randomized multicenter trial. Lancet<br />

2000;356:1375-83.<br />

2. Hillian EM. Postoperative morbidity following cesarean delivery. J Adv<br />

Nurs 1995;22:1035-42.<br />

3. Petitti DB. Maternal mortality and morbidity in cesarean section. Clin<br />

Obstet Gynecol 1985;28:764-9.<br />

4. Gilbert MG, Hicks SM, Boe NM, Danielsen B. Vaginal versus<br />

cesarean delivery for breech presentation in California:<br />

a population-based study. Obstet Gynecol 2003;102:911-7.<br />

5. Wen SW, Rusen ID, Walker M, Liston R, Kramer MS, Baskett T, et al.<br />

Comparison of maternal mortality and morbidity between trial of labor<br />

and elective cesarean section among women with previous cesarean<br />

delivery. Am J Obstet Gynecol 2004;191:1263-9.<br />

6. Cnattingius R, Cnattingius S, Notzon FC. Obstacles to reducing cesarean<br />

rates in a low-cesarean setting: the effect of maternal age, height,<br />

and weight. Obstet Gynecol 1998; 92:501-6.<br />

7. Liu S, Heaman M, Kramer MS, Dmissie K, Wen SW, Marcoux S. Length<br />

of hospitalization stay, obstetric conditions at childbirth, and maternal<br />

readmission: a population-based cohort study. Am J Obstet Gynecol<br />

2002;187:681-7.<br />

8. Couto RC, Pedrosa TMG, Nogueira JM, Gomes DL, Neto MF, Rezende<br />

NA. Post-discharge surveillance and infection rates in obstetric patients.<br />

Int J Gynaecol Obstet 1998;61:227-31.<br />

9. Vermillion ST, Lamoutte C, Soper DE, Verdeja A. Wound infection<br />

after cesarean: effect of subcutaneous tissue thickness. Obstet Gynecol<br />

2000;95:923-5.<br />

10. Lydon-Rochelle M, Holt VI, Martin DP, Easterling TR. Association<br />

between method of delivery and maternal rehospitalization. JAMA<br />

2000;283:2411-6.<br />

11. Webb D, Robbins J. Mode of delivery and risk of postpartum re-hospitalization.<br />

J Am Med Assoc. 2003;289:46-7.<br />

12. Bashiri A, Smolin A, Sheiner E, Zelinger J, Mazor M. Maternal re-hospitalization<br />

after singleton term vaginal delivery. J Matern Fetal Neonatal<br />

Med. 2003; <strong>14</strong>(5):344-348.<br />

13. Hebert PR, Reed G, Entman SS, Mitchel EF, Berg C, Griffin MR.<br />

Serious maternal morbidity after childbirth: prolonged hospital stays<br />

and readmissions. Obstet Gynecol. 1999;94(6):942-7<br />

<strong>14</strong>. Yokoe DS, Christiansen CL, Johnson R, Sands K, Langston J, Shtatland<br />

ES, et al. Epidemiology of and surveillance for postpartum infections.<br />

Emerg Infect Dis. 2001;7(5):837-41.<br />

15. Atterbury JL, Groome LJ, Baker SL, Ross EL, Hoff C. Hospital readmission<br />

for postpartum endometritis. J Matern-Fetal Med. 1998;7:250-4.<br />

16. Malkiel A, Mor P, Aloni H, Gdansky E, Grisaru-Granovsky S. Primiparity:<br />

a traditional intrapartum obstetric risk reconfirmed. Isr Med Assoc<br />

J. 2008;10(7):508-11.<br />

17. Meikle SF, Lyons E, Hulac P, Orleans M. Re-hospitalizations and outpatients<br />

contacts of mothers and neonates after hospital discharge after<br />

vaginal delivery. Am J Obstet Gynecol. 1998;179(1):166-71.<br />

18. Sharvit M. Rubinstein T, Ravid D, Shechter-Maor G, Fishman A,<br />

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deliveries have an increased risk of maternal postpartum readmissions.<br />

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19. Liu S, Heaman M, Joseph KS, Liston RM, Huang L, Sauve R, et al. Risk<br />

of maternal postpartum readmission associated with mode of delivery.<br />

Obstet Gynecol. 2005;195(4):836-842.<br />

20. Lopes S, Fernandes O, Marques A, Moita B, Sarmento J and Santana<br />

R. Can vertical integration reduce hospital readmissions? A difference-indifferences<br />

approach. Medical Care. 2017;55(5)<br />

21. Britton JR. Postpartum early hospital discharge and follow-up practices<br />

in Canada and United States. Birth. 1988;25(3):161-8<br />

56


MARCA A AGENDA<br />

A Associação Portuguesa de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es (APAH) promoveu as seguintes iniciativas [abril - setembro <strong>2018</strong>]:<br />

3F: Financiamento, Fórmula para o Futuro<br />

– “Saúde, uma prioridade”<br />

3.ª e 4.ª reunião de peritos (abril e 25 maio), Lisboa<br />

O Projeto “3F – Financiamento, Fórmula para o Futuro” é uma iniciativa<br />

da APAH, com o apoio da Roche e da IQVIA e conta com a participação<br />

de especialistas de diferentes áreas, que se juntaram em quatro<br />

momentos distintos, para analisar o modelo atual de financiamento dos<br />

hospitais portugueses, promover a discussão de potenciais soluções<br />

de financiamento com vista à criação de valor para os doentes, assim<br />

como desenvolver projetos-piloto com hospitais, de forma a testar<br />

a exequibilidade das soluções encontradas. As conclusões do trabalho<br />

desenvolvido, assim como a definição dos projetos-piloto, serão<br />

apresentadas publicamente a 10 de Outubro, na Fundação Caloustre<br />

Gulbenkian em Lisboa.<br />

Mais informações em: https://www.saudeumaprioridade.pt<br />

À Terça-feira com… | Webinars APAH | Francisco Rocha<br />

Gonçalves<br />

3 de abril, Webconferência<br />

Francisco Rocha Gonçalves foi o orador do 3.<strong>º</strong> Webinar “À Terça-feira<br />

com…” onde analisou as tendências e impacto para o setor da saúde<br />

da medição de resultados.<br />

Estratégias para diminuir o recurso<br />

inapropriado de doentes ao Serviço<br />

de Urgência | Workshop APAH + SPMI<br />

17 de abril, Hospital Júlio de Matos - Centro <strong>Hospitalar</strong> Psiquiátrico<br />

de Lisboa, Lisboa<br />

A APAH em parceria com Sociedade Portuguesa de Medicina Interna<br />

(SPMI) e o apoio da EY organizaram um workshop sobre gestão<br />

do serviço de urgência, destinado a elementos dos Conselhos de<br />

Administração e da gestão intermédia do Serviço de Urgência com<br />

o intuito de disseminar práticas que possam alavancar a eficiência das<br />

unidades de saúde do SNS.<br />

13.<strong>º</strong> Caminho dos Hospitais | Hospital Garcia<br />

de Orta<br />

20 de abril, Almada<br />

A APAH e o Hospital Garcia de Orta organizaram mais uma Conferência/debate<br />

inserida na iniciativa “Caminho dos Hospitais”, desta feita<br />

dedicada ao tema “Integração de Cuidados de Saúde”. Ver reportagem<br />

na próxima edição.<br />

Medicina e Administração de Sistemas<br />

de Saúde | Ciclo Conferências <strong>2018</strong><br />

26 de abril, Secção Regional Norte da Ordem dos Médicos<br />

(SRNOM), Porto<br />

No âmbito do protocolo assinado entre a SRNOM e a APAH, realizouse<br />

a 1.ª sessão do Ciclo de Conferências <strong>2018</strong> | Medicina e Administração<br />

de Serviços de Saúde” A conferência, intitulada «Organização<br />

Interna dos Hospitais», foi moderada por António Araújo, Presidente<br />

do CRNOM, e contou com as participações de Rui Guimarães, Diretor<br />

Clínico do Hospital Santa Maria Maior, EPE - Barcelos) e de Alexandre<br />

Lourenço (Presidente da APAH).<br />

Prémio Coriolano Ferreira<br />

27 de abril, Auditório – Escola Nacional de Saúde Pública, Lisboa<br />

(ENSP)<br />

A APAH e a ENSP relançaram o Prémio Coriolano Ferreira com o<br />

objetivo de homenagear o Professor Coriolano Ferreira e dinamizar<br />

a investigação em administração hospitalar, distinguindo anualmente o<br />

melhor aluno do Curso de Especialização em Administração <strong>Hospitalar</strong><br />

(CEAH) da ENSP. Nas edições de <strong>2018</strong> a 2020, o Prémio Coriolano<br />

Ferreira conta com o apoio da IQVIA. O vencedor da edição <strong>2018</strong><br />

será anunciado no dia da ENSP.<br />

Prémio Healthcare Excellence | 5.ª Edição | Período<br />

de candidaturas <strong>2018</strong><br />

1 de maio a 30 de junho<br />

A APAH e a AbbVie promovem a 5.ª edição do Prémio Healthcare<br />

Excellence com o objetivo de distinguir a excelência na gestão de unidades<br />

de saúde, reconhecendo as boas práticas no domínio da melhoria<br />

do serviço aos utentes, promovendo a sua partilha e incentivando a<br />

sua consolidação. A eleição do vencedor da edição de <strong>2018</strong> será realizada,<br />

em Sessão pública de apresentação dos projetos finalistas, a<br />

19 de outubro na sede da Secção Regional Norte da Ordem dos<br />

Médicos (SRNOM).<br />

À Terça-feira com… | Webinars APAH | Manuel Lopes<br />

8 de maio, Webconferência<br />

Num Webinar muito participado Manuel Lopes, Coordenador Nacional<br />

para a Reforma Cuidados Continuados Integrados, falou da importância<br />

de melhorar a articulação entre os hospitais e os cuidados continuados<br />

e qual o ponto de situação atual em Portugal. Este Webinar contou com<br />

a participação ativa de muitos profissionais de saúde e investigadores.<br />

Saúde e Segurança Social A necessidade<br />

de um pensamento global | Workshop APAH + SPMI<br />

15 de maio, Centro Cultural de Belém, Lisboa<br />

A APAH em parceria com Sociedade Portuguesa de Medicina Interna<br />

(SPMI) organizaram o Workshop " Saúde e Segurança Social,<br />

a necessidade de um pensamento "global" com o objetivo de alertar<br />

para a necessidade de começar a pensar conjuntamente a Saúde e a<br />

Segurança Social em Portugal.<br />

<strong>14</strong>.<strong>º</strong> Caminho dos Hospitais | Unidade Local<br />

de Saúde da Guarda<br />

25 de maio, Guarda<br />

No âmbito da iniciativa “Caminho dos Hospitais” a APAH e a Unidade<br />

Local de Saúde da Guarda organizaram a conferência “No trilho das<br />

boas práticas”. Ver reportagem na próxima edição.<br />

5ª Conferência de VALOR APAH<br />

8 a 9 de junho, Hotel dos Templários, Tomar<br />

A APAH realizou a 5ª Conferência de VALOR APAH dedicada ao tema<br />

"Liderança e gestão da mudança”. Ver reportagem na próxima edição.<br />

Improving Value in Cancer Care | ICHOM + All Can |<br />

Lançamento do estudo<br />

18 de junho, Hospital 12 de outubre, Madrid<br />

Instituto Português de Oncologia do Porto (IPO Porto) participa no<br />

estudo internacional “Improving Value in Cancer Care” em conjunto<br />

com outras 10 instituições de referência que tratam o cancro. Trata-se<br />

de um estudo europeu promovido pelo Internacional Consortium for<br />

Health Outcomes Measurement (ICHOM) e pelo All.Can, que inclui<br />

a medição de resultados no cancro do pulmão e da mama, com o<br />

objetivo de compreender as variações existentes entre instituições e<br />

desenvolver estratégias de melhoria do valor criado com os cuidados<br />

de saúde prestados. Fruto da experiência e desenvolvimento adquirido,<br />

o IPO-Porto foi selecionado e é apoiado pela APAH neste importante<br />

projeto internacional que vai ser implementado na Clínica do Pulmão.<br />

15.<strong>º</strong> Caminho dos Hospitais | Centro <strong>Hospitalar</strong><br />

do Tâmega e Sousa<br />

29 de junho, Penafiel<br />

A APAH e o Centro <strong>Hospitalar</strong> do Tâmega e Sousa (CHTS) promoveram<br />

mais um Caminho dos Hospitais, desta, dedicado à partilha de boas<br />

práticas para a concretização do “Hospital sem Papel”. Foi uma excelente<br />

oportunidade para refletir sobre os desafios e as oportunidades para<br />

a gestão da mudança associada à digitalização dos cuidados de saúde<br />

e à proximidade com o cidadão. Ver reportagem na próxima edição.<br />

Como ultrapassar os obstáculos à investigação<br />

nos hospitais? | Discussão de casos reais no H2020<br />

11 de julho, INFARMED- Edifício Tomé Pires, Lisboa<br />

A APAH em parceria com o Gabinete de Promoção do Programa-<br />

Quadro de I&I (GPPQ) da Agência Nacional de Inovação e da Fundação<br />

para a Ciência e a Tecnologia organizaram o Workshop "Como<br />

ultrapassar os obstáculos à Investigação nos Hospitais - Discussão de<br />

casos reais do Horizonte 2020".<br />

Ciclo Luso-Brasileiro | Webinars de <strong>Gestão</strong><br />

de Serviços de Saúde | APAH + CBEXs<br />

28 de agosto, Webconferência<br />

A APAH e o Colégio Brasileiro de Executivos da Saúde (CBEXs)<br />

lançaram o Ciclo Luso-Brasileiro de “Webinars de <strong>Gestão</strong> de Serviços<br />

de Saúde” com o objectivo de promover a discussão de temas<br />

relevantes para os gestores de saúde que exercem funções no Brasil<br />

e em Portugal. A estreia do Ciclo de Webinars coube a Alexandre<br />

Lourenço, Presidente da APAH, que falou sobre o “Sistema de Saúde<br />

Português”. De registar a elevada adesão de um publico misto entre<br />

Brasil e Portugal e o dinamismo no período de perguntas e respostas.<br />

O próximo Webinar estará a cargo da CBEXs e será dedicado ao<br />

“Sistema de Saúde Brasileiro”.<br />

Rumo ao Norte <strong>Hospitalar</strong> | Ciclo Conferências <strong>2018</strong><br />

17 de setembro, Auditório Prof. David Ferreira, Edifício Egas<br />

Moniz, Lisboa<br />

A APAH coorganizou com o Centro <strong>Hospitalar</strong> Lisboa Norte a 2.ª<br />

Conferência inserida no Ciclo de Conferências “Rumo ao Norte <strong>Hospitalar</strong>”<br />

dedicada ao tema “Green Hospital – O futuro é hoje”.<br />

27.<strong>º</strong> Congresso da European Association<br />

of Hospital Managers (EAHM<strong>2018</strong>) Redifining<br />

the role of Hospitals – Innovationg in population Health<br />

26-28 de setembro, Centro de Congressos do Estoril, Cascais<br />

O EAHM<strong>2018</strong> organização conjunta da APAH e da European Association<br />

of Hospital Managers (EAHM) contou com “Alto Patrocínio do<br />

Presidente da República” e foi dedicado ao tema “Redefining the Role of<br />

Hospitals, Innovating in Population Health”. Em paralelo ao EAHM<strong>2018</strong><br />

a APAH promoveu no dia 26 de setembro o 1.<strong>º</strong> Workshop de “<strong>Gestão</strong><br />

em saúde nos países de língua portuguesa” que contou com o apoio<br />

da Comunidade Países de Lingua Portuguesa (CPLP) e que teve como<br />

objetivo fomentar, na área da gestão em saúde, laços de cooperação e<br />

partilha de experiências nos Países de Língua Portuguesa.<br />

EVENTOS +<br />

Deixamos aqui algumas sugestões de eventos futuros:<br />

ORGANIZAÇÃO APAH<br />

Projeto 3F: Financiamento, uma Fórmula<br />

para o Futuro |Saúde uma prioridade<br />

Apresentação publica das conclusões do estudo<br />

e projetos piloto<br />

Data: 10 de outubro, Lisboa<br />

Local: Fundação Caloustre Gulbenkian – Auditório 2<br />

Mais informações em: https://www.saudeumaprioridade.pt<br />

Healthcare Excellence | Prémio<br />

Cerimónia de eleição do vencedor e entrega do Prémio<br />

Data: 19 de outubro, Porto<br />

Local: Sessão Regional Norte da Ordem dos Médicos<br />

Mais informações em: https://apah.pt/iniciativas-projetos/premio-<br />

-healthcare-excellence/<br />

X Fórum do Medicamento <strong>2018</strong><br />

Financiamento e equidade para um SNS sustentável<br />

Data: 16 de novembro, Lisboa<br />

Local: Lisboa - Centro Cultural de Belém, Sala Fernando Pessoa<br />

Mais informações em: https://apah.pt/iniciativas-projetos/forumdo-medicamento/<br />

À Terça-feira com… | Webinars APAH<br />

Data: 1.ª Terça-feira de cada mês<br />

Local: Webconferência<br />

Mais informações em: https://apah.pt/iniciativas-projetos/a-tercafeira-com/<br />

CO-ORGANIZAÇÃO APAH<br />

Caminho dos Hospitais – Conferências debate<br />

Parceria APAH e Hospitais do Serviços Nacional de Saúde<br />

Periodicidade: mensal<br />

Mais informações em: https://apah.pt/iniciativas-projetos/caminho-dos-hospitais/<br />

Medicina e Administração de Sistemas de Saúde<br />

– Ciclo Conferências <strong>2018</strong><br />

Parceria APAH e Secção Regional Norte da Ordem<br />

dos Médicos<br />

2.ª Conferência: O Hospital e as pessoas<br />

Data: 29 de novembro <strong>2018</strong>, 19h00<br />

Local: SRNOM, Porto<br />

3.ª Conferência: Informática e o hospital<br />

Data: <strong>14</strong> de dezembro <strong>2018</strong>, 19h00<br />

Local: SRNOM, Porto<br />

Mais informações em: https://apah.pt/iniciativas-projetos/medicina-e-administracao-de-servicos-de-saude/<br />

Ciclo Luso-Brasileiro | Webinars de <strong>Gestão</strong><br />

de Serviços de Saúde<br />

Parceria APAH + CBEXs<br />

Data: mensal<br />

Local: Webconferência<br />

Rumo ao Norte <strong>Hospitalar</strong> – Ciclo de Conferências<br />

Parceria APAH e Centro <strong>Hospitalar</strong> Lisboa Norte (CHLN)<br />

3.ª Conferência: Segurança em Meio <strong>Hospitalar</strong><br />

Data: 22 de outubro <strong>2018</strong>, <strong>14</strong>h30<br />

Local: Auditório João Lobo Antunes, Edifício Egas Moniz, Lisboa<br />

Mais informações em: https://apah.pt/iniciativas-projetos/cicloconferencias-rumo-ao-norte-hospitalar/<br />

APAH RECOMENDA<br />

42nd World Hospital Congress - Patient-friendly<br />

& Smarter Healthcare<br />

Organização: International Hospital Federation (IHF)<br />

Data: 10 a 12 de outubro de <strong>2018</strong><br />

Local: Brisbane, Australia<br />

Mais informações em: www.hospitalcongress<strong>2018</strong>.com<br />

C-Health Congress<br />

Saúde “Out of the Box”, estar onde está o paciente<br />

Data: 24 de outubro, Lagoas Park Hotel<br />

Local: Lagoas Park Hotel<br />

Mais informações em: https://www.c-healthcongress.pt<br />

7<strong>º</strong> Congresso Internacional dos Hospitais<br />

- Envolvimento e Responsabilidade do cidadão no SNS<br />

Organização: Associação Portuguesa para<br />

o Desenvolvimento <strong>Hospitalar</strong> (APDH)<br />

Data: 21 a 23 de novembro de <strong>2018</strong><br />

Local: Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa, Portugal<br />

Mais informações em: http://apdh.pt<br />

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