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bruxa de evora

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sabás... só encantamento, sonho, como uma festa <strong>de</strong> tolos ou uma<br />

saturnália.<br />

O jovem herói libertando a virgem e a <strong>bruxa</strong> voando numa vassoura fazem<br />

parte do mesmo mundo, <strong>de</strong> insaciabilida<strong>de</strong> juvenil, <strong>de</strong> um primitivismo romântico,<br />

pois qualquer ação, mesmo a mais simples, era, nessa época,<br />

levada à categoria <strong>de</strong> um ritual. Inci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> menor importância como<br />

uma viagem, uma visita, eram ro<strong>de</strong>ados por mil formalida<strong>de</strong>s, bênçãos,<br />

cerimônias. Uma atmosfera <strong>de</strong> paixão e aventura envolvia a vida dos<br />

príncipes; e uma onda <strong>de</strong> tristeza envolvia o povo. Era como se um<br />

sentimento <strong>de</strong> calamida<strong>de</strong> iminente ameaçasse a todos, originado <strong>de</strong> idéias<br />

<strong>de</strong> fim <strong>de</strong> mundo, <strong>de</strong> inferno, <strong>de</strong> <strong>de</strong>mônios e duen<strong>de</strong>s. Aí entrava o po<strong>de</strong>r<br />

<strong>de</strong> bruxos, magos, alquimistas em busca do ouro.<br />

Nesses tempos, Portugal contava com uma população <strong>de</strong> pouco mais <strong>de</strong> um<br />

milhão <strong>de</strong> almas. Era uma mistura <strong>de</strong> gente com traços visigodos e árabes;<br />

havia muitos espanhóis e até pessoas com traços romanos. Desta<br />

miscigenação nasceu a gente do reino <strong>de</strong> Portucália.<br />

A virada do primeiro milênio ocorrera há pouco tempo e a Europa vivia no<br />

apogeu do feudalismo. Os camponeses mal vestidos, rasgados, mal<br />

alimentados, produziam apenas o suficiente para o consumo; mas o luxo<br />

havia aumentado extraordinariamente entre a nobreza e o clero. Os homens<br />

ricos, com suas túnicas forradas <strong>de</strong> peles, com barretes e gorras rígidas,<br />

andavam lentamente pelas ruelas, embelezados por chapéus <strong>de</strong> veludo, <strong>de</strong><br />

feltro ou <strong>de</strong> pano, ponteagudos e duros. Calçados pontudos, feitos <strong>de</strong><br />

cordovão 1 , pisavam forte, revelando a importância <strong>de</strong> seus possuidores; as<br />

damas usavam-nos tintos <strong>de</strong> cores vivas, prateados ou dourados. De vez<br />

em quando, um tocador <strong>de</strong> gironda 2 ou <strong>de</strong> bandolim alegrava as ruas com<br />

suas canções engraçadas.<br />

1<br />

Cordovão = couro <strong>de</strong> cabra produzido em Córdova.<br />

2<br />

Gironda = instrumento musical da Ida<strong>de</strong> Média.<br />

As mulheres passeavam pelas praças, olhando para os telhados. Trajavam<br />

túnicas <strong>de</strong> cores variadas, feitas com fios cruzados, e cobriam-se com mantos<br />

<strong>de</strong> tecidos grosseiros ou <strong>de</strong> peles. Usavam forques 3 , braceletes e<br />

ajorcas 4 . Muitas usavam polainas 5 ou calcetas 6 para melhor serem vistas.<br />

As viúvas passavam <strong>de</strong> cabelo curto, pois assim mandava a moda, e uma<br />

touca branca. As casadas traziam os cabelos atados, presos, e as solteiras,<br />

soltos ao vento. Eram belas, com olhos mouros e cabelos negros. Todas

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