20.09.2018 Views

bruxa de evora

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Na Ida<strong>de</strong> Média européia, os <strong>de</strong>monólogos cristãos concordavam que uma<br />

sexualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>senfreada constituía um dos mais certeiros caminhos para o<br />

inferno. Acreditavam que íncubos e súcubos assumiam a forma humana<br />

para lograr seus intentos perversos. E transformavam-se em belos jovens,<br />

nus e lascivos, que iam à noite na cama das donzelas; ou se disfarçavam na<br />

esposa ou no namorado <strong>de</strong> alguém e faziam amor a noite inteira. Durante o<br />

dia sumiam, pois não gostam do sol. Freiras medievais eram as mais atacadas<br />

por esses belos diabinhos.<br />

Na época das gran<strong>de</strong>s perseguições às <strong>bruxa</strong>s, os sacerdotes acreditavam<br />

que elas tinham relação com Satã: ele é que iniciava as feiticeiras num rito<br />

chamado sabá. Em Évora, o povo acreditava que a moura encantada tinha<br />

controle sobre esses <strong>de</strong>mônios. Ela possuía um receituário para livrar as<br />

pessoas das tentações do erotismo; mas, se esse método falhasse, a Igreja<br />

tinha um mais eficaz: a tortura.<br />

Os gatos também eram acusados <strong>de</strong> <strong>de</strong>mônios. O gato era consi<strong>de</strong>rado um<br />

animal mágico, parente da lua, pois o gato surge para a vida à noite,<br />

perambulando pelos telhados, com seus olhos brilhantes na escuridão. Da<br />

magia <strong>de</strong> seus olhos é que surgiram as crenças nos seus po<strong>de</strong>res<br />

sobrenaturais. No Oriente acreditava-se que os gatos transportavam as<br />

almas dos mortos; ou que um humano podia tornar-se um gato, através do<br />

feitiço <strong>de</strong> uma <strong>bruxa</strong>. Encarnação do diabo, o gato era um gran<strong>de</strong> amigo<br />

das <strong>bruxa</strong>s.<br />

A Bruxa <strong>de</strong> Évora tinha um gato preto, chamado Lusbel. Era belíssimo,<br />

<strong>de</strong>ngoso e lascivo. Não corria atrás do mocho que sempre a acompanhava.<br />

Certa feita, quase mandaram queimar viva a Bruxa, sob a acusação <strong>de</strong> que<br />

ela penetrara na casa do Reverendo em forma <strong>de</strong> gato preto. Ela sumiu<br />

voando em uma vassoura e levou seu gato, pois queriam assá-lo vivo para<br />

afastar os maus espíritos. Na noite seguinte, ele foi visto num telhado<br />

tocando rabeca e espirrando: era sinal <strong>de</strong> chuva. E choveu toda a noite em<br />

Évora. Os homens com suas túnicas talares, seus mantos presos ao ombro,<br />

suas gorras à cabeça, testemunharam esse fato. Os monges beneditinos <strong>de</strong><br />

hábito com cogula, mantos e luvas, juraram que o gato tocava rabeca e<br />

gargalhava. Um homem com um barrete comprido e flácido, cinturão <strong>de</strong><br />

couro e jóias visigóticas, disse ter visto o gato na Sé <strong>de</strong> Évora, junto ao<br />

campanário...<br />

A ação maligna do <strong>de</strong>mônio contra os justos não cessa, diziam os<br />

portugueses, enquanto viravam canecas <strong>de</strong> vinho <strong>de</strong> barril. As damas, com

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!