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dos romanos, que tinha catorze colunas <strong>de</strong> granito com soberbos capitéis<br />
<strong>de</strong> mármore rosado, e <strong>de</strong> cujo friso <strong>de</strong> granito alguns fragmentos,<br />
guardados no Museu Regional <strong>de</strong> Évora, mostram a rara beleza. A capela<br />
<strong>de</strong> Évora, transformada em Sé em 1186, era bela em seu estilo românico.<br />
De noite (os lusitanos juravam) aparecia um "grillo", parte homem, parte<br />
animal, parte vegetal, <strong>de</strong> duas faces, com a boca nas costas ou sem o<br />
tronco... amigo das feiticeiras, por certo, mandado pela Bruxa <strong>de</strong> Évora, a<br />
mais famosa daquelas terrinhas...<br />
Os restos <strong>de</strong> outras eras eram temidos pelo povo da região: ninguém<br />
gostava <strong>de</strong> ir lá, principalmente à noite; mas a <strong>bruxa</strong> lá ia, ficava junto à<br />
gruta, acendia fogueiras e cantava em língua estranha, enquanto o povo,<br />
assustado, se escondia em suas casas, fazendo sinais-da-cruz. Assim<br />
contavam os guerreiros, como o valente Rodrigo Sanches, cujo corpo está<br />
no mosteiro <strong>de</strong> Grijó, com seu elmo cilíndrico à cabeça, capelina <strong>de</strong> malha<br />
mo<strong>de</strong>lando o crânio e cota <strong>de</strong> cores vivas, com caneleiras e joelheiras <strong>de</strong><br />
ferro; como Dom Brites <strong>de</strong> Gusmão, que está em seu sarcófago em<br />
Alcobaça; como tantos outros guerreiros, cujas estátuas, hoje no Museu <strong>de</strong><br />
Évora, atestam suas roupas e suas valentias. Esfolas, faixas <strong>de</strong> rameados,<br />
flores-<strong>de</strong>-lis, signos-saimões 21 aí estão para quem quiser ver. E a casa da<br />
Bruxa, lá em Évora, ainda está também...<br />
A velha <strong>bruxa</strong> via tudo com seu mocho às costas. Freqüentava procissões<br />
que caminhavam por Portugal dias seguidos. Ia <strong>de</strong>scalça, em meio à lama;<br />
muitas vezes foi expulsa. Ao soar dos sinos, ela surgia à porta da igreja; aí<br />
ela rezava e cuidava <strong>de</strong> santos e relíquias. Escondida junto aos muros do<br />
mosteiro, enquanto os pássaros noturnos a espiavam, a <strong>bruxa</strong> ouvia os sons<br />
da biblioteca, escutava os monges falarem em latim e a tudo recolhia com<br />
seu mocho no ombro...<br />
Signo-saimão = o mesmo que signo <strong>de</strong> Salomão: estrela <strong>de</strong> seis pontas.<br />
A <strong>bruxa</strong> ia à capela e rezava junto às estátuas do portal. Quando ela lá<br />
estava, somente os mendigos e os leprosos permaneciam; eles soavam seus<br />
guizos, saudando a <strong>bruxa</strong> com dignida<strong>de</strong>; e ela lhes oferecia unguentos<br />
para seus males, dava-lhes a bênção e recitava fórmulas <strong>de</strong> cura. A <strong>bruxa</strong><br />
era respeitada pois, apesar <strong>de</strong> ser feia, tinha uma dignida<strong>de</strong> que se impunha;<br />
mas quando um gran<strong>de</strong> senhor chegava à Sé <strong>de</strong> Évora, com um<br />
pregoeiro à frente gritando sua chegada, ela corria, pois os po<strong>de</strong>rosos<br />
vinham com escolta e exibição <strong>de</strong> armas, excitando temor e criando inveja.