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criada na Ibéria; por isso, ela falava bem o árabe e o português, além do<br />
latim 13 .<br />
A lenda diz ainda que seu pai e sua mãe morreram quando ela tinha sete<br />
anos; que uma velha tia a criou e ensinou-lhe as artes mágicas, dando-lhe<br />
como talismãs sete moedas <strong>de</strong> ouro do califa Omar, uma pedra ágata com<br />
inscrições em árabe e uma chapa <strong>de</strong> prata com o nome do Profeta. E a<br />
ensinou a trabalhar em olaria: a <strong>bruxa</strong> fazia suas panelas <strong>de</strong> barro e seus<br />
vasos. Dizem alguns que ela era louca por tapetes e, todo dinheiro que<br />
ganhava, gastava neles.<br />
A <strong>bruxa</strong> árabe era chamada <strong>de</strong> Moura Torta, nome que fazia os portugueses<br />
se arrepiarem, fazendo o sinal da cruz; e como moura e <strong>bruxa</strong> passou à<br />
história. Ela usava trapos, mas em seu peito brilhava um amuleto <strong>de</strong> âmbar,<br />
principal artigo do comércio dos árabes na Europa, matéria muito<br />
procurada no oriente. Talvez presente <strong>de</strong> um amor, em sua juventu<strong>de</strong>. Mas,<br />
se ela teve amor, ocultou-o bem. Cavaleiro e sua dama não faziam parte <strong>de</strong><br />
seus sonhos, nem o jovem herói libertando a virgem. Era uma mulher cheia<br />
<strong>de</strong> idéias <strong>de</strong> quedas e subidas... eterna <strong>bruxa</strong> encolhida ao lado <strong>de</strong> sua<br />
lareira.<br />
Diz a lenda que ela lia o Corão e escrevia; tinha entre seus pertences um<br />
rico tinteiro <strong>de</strong> cobre cinzelado. Sabia matemática e, olhando o céu,<br />
reconhecia as estrelas; sabia ler a sorte nas areias, nas estrelas, e fazer<br />
feitiços e curas. Ela conhecia as magias <strong>de</strong> seus ancestrais muçulmanos;<br />
mas, vivendo no século XIII, também sabia a dos celtas, que por muito<br />
tempo ocuparam o sul <strong>de</strong> Portugal.<br />
Infiel, portanto. Adoradora do Cão... Inimiga da Igreja.<br />
13 Todos os habitantes da Europa falavam um pouco <strong>de</strong> latim, pois era a língua oficial do<br />
Império Romano; mas, com a chegada dos bárbaros na Europa oci<strong>de</strong>ntal, entre os anos<br />
500 e 1000, cada região e cada<br />
Mas a velha <strong>bruxa</strong> já tinha feito a peregrinação a Santiago <strong>de</strong> Compostela,<br />
on<strong>de</strong> havia relíquias preciosas. Já tinha ido à Sé <strong>de</strong> Braga muitas vezes pagar<br />
promessas, e vivia bem. Era livre. Colhia flores e ervas, ganhava seu<br />
rico dinheirinho, era temida e respeitada. Só tinha medo <strong>de</strong> ser presa e