Analytica 96
Artigo científico Florações de cianobactérias e cianotoxinas: levantamento de risco à saúde Nova seção: Espectrometria de massas O professor Oscar Bustillos apresenta as relações entre a espectrometria de massas e a química analítica Microbiologia Uma revisão sobre o bacilo Cronobacter Complemento normativo Agora, ao fim de todos os artigos, um complemento com as normas vigentes sobre o tema E muito mais.
Artigo científico
Florações de cianobactérias e cianotoxinas: levantamento de risco à saúde
Nova seção: Espectrometria de massas
O professor Oscar Bustillos apresenta as relações entre a espectrometria de massas e a química analítica
Microbiologia
Uma revisão sobre o bacilo Cronobacter
Complemento normativo
Agora, ao fim de todos os artigos, um complemento com as normas vigentes sobre o tema
E muito mais.
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20<br />
artigo 2<br />
REVISTA ANALYTICA - AGO/SET 18<br />
Objetivando demostrar que essas<br />
bactérias e suas cepas produtoras<br />
de toxinas presentes nos<br />
reservatórios de água para consumo<br />
de populações são encontradas<br />
com frequência após análise de<br />
água, pois além de ser utilizada no<br />
consumo via oral que é a principal<br />
fonte de contaminação, também<br />
é utilizada em tratamentos de pacientes<br />
que fazem hemodiálise, outra<br />
ocorrente via de contaminação<br />
como relatado pelo centro de documentação<br />
e informação da FAPESP<br />
( CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E<br />
INFORMAÇÃO DA- FAPESP, 19<strong>96</strong>).<br />
Metodologia<br />
Este estudo constitui-se de uma<br />
revisão de literatura, baseada em<br />
livros, artigos científicos, dissertações,<br />
teses, portarias e resoluções<br />
de órgãos públicos de regulamentação<br />
e controle da qualidade de<br />
água, nas bases de dados eletrônicas<br />
Scientific Eletronic Library<br />
online Brasil (SciELO, PubMed,<br />
Google Acadêmico), no período de<br />
junho de 2017 a janeiro 2018, com<br />
publicações de no mínimo 5 anos,<br />
exceto algumas publicações cujo<br />
objetivo fora apontar dados históricos<br />
de prevalência. Utilizando-se<br />
como palavras chaves: “Cianobactérias”,<br />
“Cianotoxinas”, “microcistina”<br />
e “Cianobactérias toxinas na<br />
água para consumo Humano”.<br />
Desenvolvimento<br />
As cianobactérias são microrganismos<br />
aeróbicos fotoautotróficos,<br />
organismos fotossintetizantes que,<br />
portanto, obtêm energia para suas<br />
atividades metabólicas a partir de<br />
matéria orgânica sintetizada por<br />
esse processo (SILVA et al, 2014;<br />
CARVALHO, et al.,2013). Seus processos<br />
vitais requerem somente<br />
água, dióxido de carbono, substâncias<br />
inorgânicas e luz. A fotossíntese<br />
é seu principal modo de obtenção<br />
de energia para o metabolismo.<br />
Autores:<br />
Marcelo da Luz Santos¹,<br />
Luciano Procópio da Silva²,<br />
Renata Cristine Manfrinato Reis³<br />
Entretanto, sua organização celular<br />
demonstra que esses microrganismos<br />
são procariontes e, portanto,<br />
suas cepas são semelhantes bioquimicamente<br />
e estruturalmente.<br />
(SILVA et al, 2014). A capacidade<br />
de crescimento nos mais diferentes<br />
meios é uma das características<br />
marcantes das cianobactérias,<br />
que caracteriza o desenvolvimento<br />
adaptado nos ambientes aquáticos,<br />
explicando que se desenvolvem<br />
em diversos habitats, resultando<br />
em várias cepas ou tipos existentes.<br />
Entretanto, ambientes de água<br />
doce são os mais favoráveis para<br />
o crescimento de cianobactérias,<br />
visto que a maioria das espécies<br />
apresenta um melhor crescimento<br />
em águas neutroalcalinas (pH 6-9),<br />
temperatura entre 15ºC a 30ºC<br />
(mesófilas) e alta concentração de<br />
nutrientes, principalmente nitrogênio<br />
e fósforo (SILVA, 2012).<br />
A crescente eutrofização, por resíduos<br />
orgânicos por meio de avanços<br />
industriais, do crescimento de<br />
grandes cidades e do aumento do<br />
agronegócio propicia naturalmente<br />
ou artificialmente, com o aumento<br />
da concentração de nutrientes<br />
orgânicos e inorgânicos e consequentes<br />
alterações nas comunidades<br />
aquáticas, ou seja, causando<br />
um enriquecimento artificial desses<br />
ecossistemas (FREITAS et al<br />
2014). As principais fontes desse<br />
enriquecimento têm sido identificadas<br />
como as descargas de esgotos<br />
domésticos e industriais dos<br />
centros urbanos e a poluição difusa<br />
originada nas regiões agricultáveis.<br />
Essa eutrofização artificial produz<br />
drasticamente várias mudanças<br />
na qualidade da água incluindo:<br />
a redução de oxigênio dissolvido,<br />
ou morte progressiva de peixes e<br />
o aumento da incidência de florações<br />
de microalgas e cianobactérias,<br />
com consequências negativas<br />
sobre a eficiência e custo de tratamento<br />
da água em algumas regiões<br />
do país, quando se trata de<br />
manancial de abastecimento público<br />
(REBOLÇAS et al 2006; BARRE-<br />
TO et al, 2013; FAPERJ, 2018).<br />
De acordo com NOGUEIRA et al<br />
(2011), a espécie Microcystis aeruginosa<br />
apresenta a distribuição<br />
mais ampla no Brasil e Anabaena<br />
é o gênero com o maior número de<br />
espécies potencialmente tóxicas.<br />
Vários gêneros e espécies de cianobactérias<br />
que formam florações<br />
produzem toxinas. De acordo com<br />
a literatura, grande parte delas<br />
são potencialmente nocivas para<br />
os seres humanos. As toxinas de<br />
cianobactérias, que são conhecidas<br />
como Cianotoxinas, constituem<br />
uma grande fonte de produtos naturais<br />
tóxicos produzidos por esses<br />
microrganismos, embora ainda não<br />
estejam devidamente esclarecidas<br />
as causas dessa produção (COLVA-<br />
RA, 2012).<br />
Valores de referências<br />
aceitável para consumo<br />
oral humano<br />
Os valores de referência de dosagem<br />
de cianotoxinas foram estabelecidas<br />
mundialmente conforme<br />
tabela 1. De tal maneira o Brasil<br />
foi um dos primeiros países a estabelecer<br />
um valor de referência<br />
no limite de 1,0 µg/l como concentração<br />
máxima aceitável para<br />
consumo oral humano diário das<br />
cianotoxinas (BRASIL, 2004).<br />
As instituições fiscalizadoras<br />
dentre elas as Secretarias Municipais<br />
e Estaduais de Vigilância<br />
Sanitária, Agencia Nacional de Vigilância<br />
Sanitária e Agencia Nacional<br />
de Águas são responsáveis pela realização<br />
do monitoramento de cianobactérias<br />
nas águas de mananciais.<br />
Segundo o capítulo VI (dos<br />
planos de amostragem), artigo 40º,<br />
§1º, o monitoramento de cianobactérias<br />
deve identificar os diferentes<br />
gêneros no ponto de captação<br />
e segundo o Anexo XI, do mesmo<br />
texto, deve obedecer à frequência<br />
mensal quando o número de cianobactérias<br />
não exceder 10.000<br />
células/mL e semanal quando o<br />
número de cianobactérias exceder<br />
este valor, acompanhadas de análises<br />
de cianotoxinas. O capítulo V<br />
(do padrão e potabilidade) do artigo<br />
37°, define que a água potável<br />
deve estar em conformidade com<br />
o padrão de substâncias químicas<br />
que representam risco à saúde<br />
(BRASIL, 2011).<br />
Cepas de Cianobactérias<br />
toxigêncicas<br />
As cianotoxinas produzidas pelas<br />
cepas: Microcystis, Anabaena,<br />
Planktothrix, Nostoc, Hapalosiphon,<br />
Synechocystis, Aphanocapsa, Oscillatoria<br />
Aphanizomenon, Lyngbya,<br />
Cylindrospermopsis e também<br />
algumas espécies de dinoflagelados:<br />
Oscillatoria, Cylindrospermum,<br />
Aphanizomenon, Microcystis. Têm<br />
ação rápida, por possuírem mecanismo<br />
especifico intracelular causando<br />
a morte de mamíferos por<br />
parada respiratória após poucos<br />
minutos de exposição. Elas têm sido<br />
identificadas como alcaloides ou organofosforados<br />
neurotóxicos, sendo<br />
chamadas de neurotoxinas. Outras<br />
atuam mais lentamente e são identificadas<br />
como peptídeos ou alcaloides<br />
hepatotóxicas (CARMICHAEL,<br />
1992; REBOLÇAS et al 2006). De<br />
acordo com as cianotoxinas, suas<br />
ações farmacológicas produzidas<br />
podem-se classificar em: neurotoxinas<br />
e hepatotoxinas (OLIVEIRA-FI-<br />
LHO et al, 2013; VIEIRA et al, 2015;<br />
BRENTANO et al, 2016).<br />
Além dessas cianobactérias,<br />
existem alguns subtipos ou gêneros<br />
que também podem produzir<br />
toxinas irritantes ao contato. Essas<br />
toxinas são classificadas e identificadas<br />
simultaneamente em membranas<br />
fosfolipídicas de parede celular<br />
de bactérias Gram negativas.<br />
São endotoxinas pirogênicas, como<br />
lipopolissacarídeos que através<br />
de estudos confirmam que são<br />
conformidade com o padrão de substâncias químicas que representam risco à saúde (BRASIL,<br />
2011).<br />
Tabela 1: Valores das concentrações de diferentes cianotoxinas adotados<br />
Tabela 1: Valores das concentrações de diferentes cianotoxinas adotados para o monitoramento em diversos países (BRASIL,<br />
para o monitoramento em diversos países (BRASIL, 2011).<br />
2011).<br />
Brasil<br />
África do Sul<br />
Austrália<br />
Canadá<br />
País<br />
MC<br />
Fonte:<br />
–<br />
BORTOLI<br />
microcistina;<br />
& PINTO. Laboratório<br />
MCs – microcistinas<br />
de Toxinas e Produtos<br />
(refere-se<br />
Naturais de Algas,<br />
à<br />
Faculdade<br />
somatória<br />
de Ciências<br />
das<br />
Farmacêuticas,<br />
variantes<br />
encontradas); Universidade de São Paulo, STX São - saxitoxina<br />
Paulo, Brasil. 2015.<br />
Fonte: BORTOLI & PINTO. Laboratório de Toxinas e Produtos Naturais de Algas,<br />
Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade de São Paulo, São Paulo,<br />
Brasil. Cepas de 2015. Cianobactérias toxigêncicas:<br />
menos tóxicas que os de outras<br />
bactérias como, por exemplo, na<br />
Salmonella. (SAMPAIO et al, 2011).<br />
Anatoxina-a<br />
É um alcaloide neurotóxico que<br />
age como um potente bloqueador<br />
neuromuscular pós-sináptico de<br />
receptores nicotínicos e colinérgicos.<br />
Esta ação se dá porque a anatoxina-a<br />
liga-se irreversivelmente<br />
aos receptores de acetilcolina, por<br />
não ser degradada pela acetilcolinesterase<br />
(ARAOZ et al., 2010).<br />
Estudos experimentais mostram<br />
que a DL50 o valor da dose de toxina<br />
letal a 50% dos animais expostos.<br />
Representada por µg de toxina/Kg de<br />
peso corpóreo por injeção intraperitoneal<br />
em camundongos, para a toxina<br />
purificada, é de 200µg/Kg de peso<br />
corpóreo, com um tempo de sobrevivência<br />
de 1 a 20 minutos (CARMI-<br />
CHAEL, 1992). Os sinais de envenenamento<br />
por esta toxina, em animais<br />
selvagens e domésticos, incluem:<br />
desequilíbrio, fasciculação muscular,<br />
respiração ofegante e convulsões. A<br />
morte é devida a parada respiratória<br />
e ocorre de poucos minutos à poucas<br />
horas, dependendo da dosagem e<br />
consumo prévio de alimento. Doses<br />
orais produzem letalidade aguda em<br />
Cianotoxina<br />
1 µg/L MCs<br />
3 µg de equivalente de STX/L<br />
0 – 0,8 µg/L MC<br />
1,3 µg/L MC-LR ou equivalente<br />
1,5 µg/L MC-LR<br />
China, Coréia, França, Japão, Noruega, Polônia e República 1 µg/L MC-LR<br />
Tcheca<br />
1 µg/L MCs<br />
Espanha<br />
0,84 µg/L MCs<br />
Itália<br />
6 µg/L anatoxina; 1 µg/L anatoxina-a (S);<br />
Nova Zelândia<br />
1 µg/L cilindrospermopsina; 2 µg/L homoanatoxina-a; 1<br />
µg/L MC-LR ou equivalente; 1 µg/L nodularina e 3 µg/L<br />
STX ou equivalente.<br />
MC – microcistina; MCs – microcistinas (refere-se à somatória das variantes encontradas); STX - saxitoxina<br />
concentrações muito maiores, mas a<br />
toxicidade das células mesmo assim<br />
é alta o suficiente para que os animais<br />
precisem ingerir de poucos mililitros a<br />
poucos litros de água da superfície<br />
das florações para receber uma dose<br />
letal, conforme tabela 2 (CARMICHA-<br />
EL, 1994; ARAOZ et al, 2010).<br />
As cianotoxinas produzidas pelas cepas: Microcystis, Anabaena, Planktothrix, Nostoc,<br />
Hapalosiphon, Synechocystis, Aphanocapsa, Oscillatoria Aphanizomenon, Lyngbya,<br />
Cylindrospermopsis e também algumas espécies de dinoflagelados: Oscillatoria,<br />
Cylindrospermum, Aphanizomenon, Microcystis. Têm ação rápida, por possuírem mecanismo<br />
especifico intracelular causando a morte de mamíferos por parada respiratória após poucos<br />
minutos de exposição. Elas têm sido identificadas como alcaloides ou organofosforados<br />
neurotóxicos, sendo chamadas de neurotoxinas. Outras atuam mais lentamente e são<br />
identificadas como peptídeos ou alcaloides hepatotóxicas (CARMICHAEL, 1992;<br />
REBOLÇAS et al 2006). De acordo com as cianotoxinas, suas ações farmacológicas<br />
Anatoxina a (s)<br />
produzidas podem-se classificar em: neurotoxinas e hepatotoxinas (OLIVEIRA-FILHO et al,<br />
2013; VIEIRA et al, 2015; BRENTANO et al, 2016).<br />
É um organofosforado natural<br />
(N-hidroxiguanidina fosfato de metila)<br />
e tem um mecanismo de ação<br />
semelhante à anatoxina a, pois<br />
inibe a ação da acetilcolinesterase,<br />
impedindo a degradação da<br />
acetilcolina ligada aos receptores.<br />
Em virtude da intensa salivação<br />
observada em animais intoxicados<br />
por esta neurotoxina, ela foi denominada<br />
Anatoxina-a (s).<br />
Essas neurotoxinas inibem a<br />
condução nervosa por bloqueamento<br />
dos canais de sódio, afetando<br />
ou a permeabilidade ao potássio<br />
ou a resistência das membranas.<br />
Os sinais clínicos de intoxicação<br />
humana incluem tontura, adormecimento<br />
da boca e de extremidades,<br />
fraqueza muscular, náusea,<br />
vômito, sede e taquicardia. Os<br />
sintomas podem começar cinco<br />
minutos após a ingestão e a mor-<br />
6<br />
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