| ENTREVISTA | AUTISMO: diagnósticos e tratamento 6 | A publicitária Carolina Felicio e a filha Jujuba
Os primeiros anos de vida de Júlia Felício foram turbulentos. Aos seis meses, teve catapora e uma série de complicações – era sempre internada na UTI. Teve tantas crises de epilepsia, que entrou em coma três vezes. Enquanto isso, a mãe da menina, a publicitária Carolina Felício, ficava em frangalhos. “Os médicos sentiam muita dificuldade em acertar o diagnóstico e, até completar um ano, ela recebeu inúmeros deles e completamente diferentes. Cheguei a ouvir, inclusive, que a minha filha tinha uma doença rara, degenerativa, dando a ela poucos meses de vida”, relata. Carolina conta que, com o passar dos anos, Jujuba - como é chamada pela família - começou a apresentar outros sinais de que algo realmente não estava bem. De repente, parou de falar, deixou de responder a comandos, ficava emburrada e passou a apresentar dificuldades de compreensão. “Naquela época, ninguém tinha informações de nada. Suspeitava- -se de muitas coisas, mas nada era comprovado. Então, fiquei revoltada quando uma fonoaudióloga me falou de autismo pela primeira vez. A parte de comportamento começou a se sobressair, ela parou de falar. Foi então que comecei a me deparar com essa realidade”, afirma. DIAGNÓSTICO Jujuba nasceu em 2000, mas só recebeu o diagnóstico concreto do Transtorno do Espectro Autista em 2012, após profissionais terem sinalizado uma epilepsia maligna, cercada de incertezas. A falta de conhecimento sobre o assunto apenas aumentava a insegurança de lidar com algo completamente novo. Hoje, com 18 anos, a jovem possui um atraso global no desenvolvimento, com dificuldades de dicção. Além disso, Jujuba precisa de ajuda para lavar os cabelos devido à falta de coordenação motora e sente dificuldades para compreender questões de tempo, como a diferença entre um mês e outro. Apesar das dificuldades, Carolina faz de tudo para garantir o máximo de independência possível para a caçula. Jujuba aprende novos idiomas durante aulas de culinária, estuda artes, português e “O primeiro e maior desafio foi o meu próprio preconceito. Depois, lidar com o que poderia enfrentar das pessoas. Mas, quando você vence isso, você se fortalece para o que der e vier”. Carolina Felício matemática, e faz um estágio semanal em uma clínica veterinária. Aos finais de semana, passa o dia na casa dos amigos - quando quer ir embora, basta ligar para a mãe. “Se depender de mim, ela vai aprender até a dirigir. Tento passar a ela todos os dias que ela é capaz de tudo, que ela pode confiar em si mesma. Senão, ela desiste, e isso eu não posso permitir”, garante. | 7