#Química - Volume 1 (2016) - Martha Reis
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RETOMANDO A NOTÍCIA<br />
A reportagem da página 27 fala da possibilidade de induzir chuvas artificiais sobre<br />
o sistema Cantareira. Você sabe o que pode ser usado para semear (induzir)<br />
chuva? Como essa técnica funciona e como afeta o meio ambiente?<br />
Como vimos na página 32, a chuva se forma<br />
quando, em razão da temperatura e da pressão atmosférica,<br />
as gotículas de água das nuvens passam<br />
a colidir e a se agrupar, formando gotas grandes,<br />
que caem pela ação da gravidade.<br />
Assim, para semear (induzir) chuva é necessário<br />
bombardear a nuvem com algum agente aglutinante<br />
que faça as gotículas de água se agruparem formando<br />
gotas com no mínimo 0,1 mm de diâmetro,<br />
que não podem mais flutuar e caem.<br />
A descoberta de que é possível produzir chuvas<br />
artificiais foi feita pelo químico americano Irving<br />
Langmuir (1881-1957). Em 1946 foi feito o primeiro<br />
bombardeio de nuvens com minúsculas partículas<br />
de iodeto de prata pulverizadas de um avião.<br />
O iodeto de prata é um composto amarelo e fotossensível<br />
(se decompõe na presença de luz). Uma<br />
característica importante é que sua estrutura cristalina<br />
é muito similar à do gelo (água sólida). Por<br />
isso, quando partículas de iodeto de prata são semeadas<br />
em nuvens supergeladas, com temperaturas<br />
abaixo de –6 °C, aglutinam o vapor de água com<br />
os cristais, produzindo chuva.<br />
Até hoje, agricultores de regiões frias utilizam<br />
o método para semear nuvens do tipo cumulus<br />
congestus, provocando chuvas e evitando a precipitação<br />
de granizo, que destrói as plantações.<br />
Ocorre que a chuva artificial semeada com iodeto<br />
de potássio tem algumas consequências indesejáveis.<br />
Uma delas é a grande quantidade de prata<br />
dispersa no local.<br />
Se o processo é repetido regularmente, a prata<br />
começa a se acumular em organismos vegetais e<br />
animais, o que pode causar argiria, uma condição<br />
em que a pele e os olhos adquirem de forma permanente<br />
um tom azulado (ou azul acinzentado).<br />
Além disso, o iodeto de prata é uma substância<br />
tóxica, que pode causar anemia, fraqueza e perda<br />
de peso. Para manuseá-lo é necessário o uso de<br />
equipamento de proteção individual.<br />
Em função disso, o uso de iodeto de prata para<br />
semear chuva está proibido nos Estados Unidos<br />
desde 1980.<br />
Devido ao problema foram desenvolvidos outros<br />
métodos de semear chuvas utilizando-se, por<br />
exemplo, dióxido de carbono sólido (gelo-seco),<br />
cloreto de sódio (sal de cozinha), pó de carvão e até<br />
mesmo água líquida.<br />
O único método que não causa nenhum problema<br />
ao meio ambiente é o último, justamente o método<br />
adotado pela empresa contratada para semear<br />
chuva no sistema Cantareira.<br />
A ideia é utilizar um avião bimotor com um reservatório<br />
de 300 litros de água potável acoplado,<br />
para entrar na nuvem e pulverizar água pura.<br />
As gotículas de água já existentes na nuvem<br />
unem-se às novas pulverizadas pelo avião, formando<br />
gotas maiores, que devem precipitar na forma<br />
de chuva após 15 ou 20 minutos.<br />
Para cada litro de água semeado, segundo a<br />
empresa contratada, são produzidos cerca de 500<br />
mil litros de água de chuva ou 50 caminhões-pipa.<br />
Todavia, o método parece não ter sido eficaz,<br />
pois o sistema Cantareira só começou a se recuperar<br />
em fevereiro de 2014, quando passou a chover<br />
naturalmente quase todos os dias.<br />
Delfim Martins/Pulsar Imagens<br />
Estiagem no reservatório<br />
Jaraguá com captação do volume<br />
morto, Sistema Cantareira.<br />
São Paulo, setembro de 2014.<br />
Propriedades da matéria 41