20.08.2018 Views

Arte que inventa afetos - ebook

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

76<br />

Estudos da Pós-Graduação<br />

Uma experiência singular acontece na feitura do caderno a partir<br />

das primeiras escolhas <strong>que</strong> são tomadas: as folhas, o tamanho, o tecido,<br />

o bordado <strong>que</strong> é realizado e o modo de costurar todos esses materiais,<br />

dando corpo à encadernação.<br />

Folhas em branco são encadernadas e aos poucos são ocupadas<br />

por personagens <strong>que</strong> surgem da experiência do pesquisador no processo<br />

de conhecer, experimentar, fazer e dar-se a saber. Personagens esses<br />

<strong>que</strong> podem surgir como textos, desenhos, frases ou palavras soltas, produzindo<br />

de certo modo (in)visibilidades <strong>que</strong> cercam o pesquisador em<br />

seu processo. Em especial, o processo de escrever o <strong>que</strong> ou como se está<br />

pesquisando, pois o texto ocupa outro lugar <strong>que</strong> não é apenas o de uma<br />

narrativa ou a forma de expressar como a pesquisa é realizada, e sim a<br />

escrita como invenção da pesquisa.<br />

Diários e o escrever<br />

Laura Barros e Virgínia Kastrup (2010, p. 69) trazem a proposta<br />

de cadernos como o hipomnemata, discutido por Michel Foucault<br />

(1992), ao tratar das práticas de si dos gregos. Nesse sentido, o caderno<br />

do pesquisador tem como finalidade “reunir o logos fragmentado”. Para<br />

os autores, a escrita ou o desenho é uma importante prática para a cartografia<br />

como método de pesquisa, em um diário de campo ou caderno<br />

de anotações. Desse modo, os cadernos são importantes dispositivos de<br />

produção de dados de uma pesquisa e têm “a função de transformar<br />

observações e frases captadas na experiência de campo em conhecimento<br />

e modos de fazer” (BARROS; KASTRUP, 2010, p. 70).<br />

Essas anotações são constituídas de relatos regulares, de informações<br />

objetivas – como data, hora e local da visita –, assim como de<br />

impressões <strong>que</strong> emergem da experiência vivida. Barros e Kastrup<br />

(2010, p. 70) ressaltam a importância de os relatos não serem baseados<br />

em opiniões, análises objetivas ou interpretações. O exercício de anotações<br />

no caderno é, sobretudo, para essas autoras, a busca de captar e<br />

descrever algo <strong>que</strong> acontece no plano intensivo das forças e dos <strong>afetos</strong>,<br />

ou seja, é uma tentativa de perceber as invisibilidades <strong>que</strong> cercam a<br />

pesquisa. Regina Barros e Eduardo Passos (2010) também tratam da

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!