Arte que inventa afetos - ebook
ARTE QUE INVENTA AFETOS 63 cena roteirizada; pois, se entendemos o vídeo-dispositivo como uma rede de relações entre elementos heterogêneos, a matéria de expressão também será múltipla; mas, para que se torne analisador, vai depender do que pode acionar em determinado coletivo, convocando seus participantes a problematizarem a própria relação com a imagem, com a narrativa, com a problematização construída, com as escolhas no processo de criação e edição. Ao fazer a filmagem das reuniões de um grupo de pesquisa, por exemplo, podemos retomar a narrativa audiovisual na íntegra ou seu fragmento em encontro posterior, tal como um diário, possibilitando um espaço de restituição 15 sobre o processo de trabalho dos pesquisadores. O processo de criação de um vídeo que narra determinada experiência – depoimentos de moradores de uma comunidade, ou produção de memórias de um coletivo – pode gerar questões analisadoras no percurso de elaboração ou, posteriormente, quando tomado como produto de tais coletivos, visibilizando elementos históricos, posições dos participantes, as relações desses com a própria história contada, com os acontecimentos e instituições presentes. O mesmo vídeo pode gerar outros analisadores quando assistido por um coletivo que o produziu ou por outros coletivos que tenham ou não relação com a temática proposta. Espaço-tempo de criação de novos territórios juvenis Inspirando-se na noção proposta por Guattari e Rolnik (1986), o território diz respeito tanto ao espaço vivido quanto ao modo como os sujeitos circulam, inserem-se e criam estratégias de relações e de vida nos tempos e espaços sociais, culturais, estéticos e afetivos. As experimentações audiovisuais, sejam nos movimentos sociais, em comunidades, em coletivos de jovens, podem operar na desterritorialização e 15 Restituição é um conceito operador da análise institucional e, conforme Lorau (1993, p. 64), diferente da tradicional “devolução”, consiste na “análise coletiva da situação presente, no presente – em função das diversas implicações de cada um com e na situação”.
64 Estudos da Pós-Graduação composição de novos territórios. Tal como no processo de escritura e leitura, um vídeo tem certa condição de inacabamento, potencializa o pensamento, provoca tensões, força diferentes visibilidades, desloca posições, possibilita arranjos e composições, produz efeitos e novos sentidos, produz subjetividades. Nas experiências com jovens, parece- -nos que tais processos intensificam-se, por várias condições nos modos de ser jovem: abertura para criação, facilidade e agilidade na relação com tecnologias, curiosidade e inquietação, posições críticas na relação com o mundo. Esses três planos do audiovisual-dispositivo coexistem nas experimentações audiovisuais das juventudes, com as quais tivemos contato na pesquisa aqui considerada, tanto na composição de territórios juvenis, quanto no processo de pesquisar e inventar. Tal composição pode ser visibilizada em alguns fragmentos narrativos de nossas experimentações audiovisuais com juventudes em Porto Alegre e Fortaleza. Cartografia audiovisual e a expressão do sensível nas práticas de pesquisa Neste estudo, constatamos a relevância das experiências com o audiovisual como dispositivo analisador da pesquisa In(ter)venção AudioVisuais com Juventudes, bem como as expressões audiovisuais criadas por jovens, artistas e pesquisadores, em especial por incitarem o pensar a ética e a estética nas práticas políticas, comunicacionais e artísticas na contemporaneidade. Apresentando-se como um dispositivo acoplado a toda uma gama de discursos e materiais de expressão que se articulam por meio de imagens e sons, o audiovisual, ao materializar-se em obra, seja ela cinematográfica, televisiva e videográfica (produto de processos, formatos, suportes, tecnologias, instituições e modos de circulação diversos), é, em cada uma destas modalidades, configurado de modo distinto e complexo. Em tese essas ideias de composição de imagens em movimento e sonoridades estavam associadas ao cinema (GUBERN, 2003); no entanto, essas delimitações foram sendo diluídas e/ou absorvidas e recriadas
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cena roteirizada; pois, se entendemos o vídeo-dispositivo como uma<br />
rede de relações entre elementos heterogêneos, a matéria de expressão<br />
também será múltipla; mas, para <strong>que</strong> se torne analisador, vai depender<br />
do <strong>que</strong> pode acionar em determinado coletivo, convocando seus participantes<br />
a problematizarem a própria relação com a imagem, com a<br />
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de criação e edição.<br />
Ao fazer a filmagem das reuniões de um grupo de pesquisa, por<br />
exemplo, podemos retomar a narrativa audiovisual na íntegra ou seu<br />
fragmento em encontro posterior, tal como um diário, possibilitando um<br />
espaço de restituição 15 sobre o processo de trabalho dos pesquisadores.<br />
O processo de criação de um vídeo <strong>que</strong> narra determinada experiência<br />
– depoimentos de moradores de uma comunidade, ou produção<br />
de memórias de um coletivo – pode gerar <strong>que</strong>stões analisadoras<br />
no percurso de elaboração ou, posteriormente, quando tomado como<br />
produto de tais coletivos, visibilizando elementos históricos, posições<br />
dos participantes, as relações desses com a própria história contada,<br />
com os acontecimentos e instituições presentes. O mesmo vídeo pode<br />
gerar outros analisadores quando assistido por um coletivo <strong>que</strong> o produziu<br />
ou por outros coletivos <strong>que</strong> tenham ou não relação com a temática<br />
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Inspirando-se na noção proposta por Guattari e Rolnik (1986), o<br />
território diz respeito tanto ao espaço vivido quanto ao modo como os<br />
sujeitos circulam, inserem-se e criam estratégias de relações e de vida<br />
nos tempos e espaços sociais, culturais, estéticos e afetivos. As experimentações<br />
audiovisuais, sejam nos movimentos sociais, em comunidades,<br />
em coletivos de jovens, podem operar na desterritorialização e<br />
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Restituição é um conceito operador da análise institucional e, conforme Lorau<br />
(1993, p. 64), diferente da tradicional “devolução”, consiste na “análise coletiva da<br />
situação presente, no presente – em função das diversas implicações de cada um<br />
com e na situação”.