Arte que inventa afetos - ebook
ARTE QUE INVENTA AFETOS 43 É nessa direção, pois, que procuramos refletir/agir. Ou seja, tendo como pano de fundo este novo cenário de complexidade na ciência, tecido com os pressupostos teóricos já mencionados. Um outro contexto científico existencial No século XIX, o positivismo consagra o modelo newtoniano- -cartesiano que inaugurou a ciência moderna não somente no que diz respeito a pressupostos fundamentais do paradigma clássico, tais como determinismo, previsibilidade, linearidade e neutralidade, mas também quanto à articulação profunda com o poder dominante expresso nas ideias de ordem e de progresso. É neste contexto, ao final deste mesmo século, que começa a haver uma inflexão que se torna cada vez mais revolucionária. Na Termodinâmica e na Biologia (Teoria da Evolução), a ciência da estabilidade começa a ser contestada. Estas duas ciências trabalham com o fator tempo e mudança o que era negado no paradigma clássico. Já não era mais possível abordar uma realidade tão complexa de uma forma simplificada pela quantificação e uma visão mecanicista do mundo (CAPRA, 1982). Como dizia Prigogine (2003, p. 75), que fez uma leitura complexa da Termodinâmica no século XX resgatando o princípio de um universo em movimento e em construção: “Para entender o universo nós temos que estudar os mecanismos das flutuações em astrofísica, em biologia e mesmo nas sociedades humanas”. E, sabemos que hoje podemos estender essa compreensão para cada ser humano que se (re)- configura a cada instante a partir do ruído das flutuações. Sob o ponto de vista epistemológico surgem alguns pressupostos fundamentais que abordam a aprendizagem como emergente a partir do ruído. Emergência é uma palavra-chave do pensamento complexo porque nos leva a compreender que as coisas não estão prontas num universo em construção e que as perturbações próprias das interações entre os elementos que o constituem obrigam os organismos a se auto- -organizarem a partir do ruído. Trata-se do princípio da ‘order from noise’ como nos ensinava Von Foerster com as teorias da Segunda
44 Estudos da Pós-Graduação Cibernética, mostrando, ao mesmo tempo, a inclusão do observador no sistema observado (VON FOERSTER, 2003). O que subjaz às visões de mundo do paradigma clássico, por outro lado, é a ideia representacionista. Segundo ela, tudo se passa como se existisse um mundo objetivo fora dos humanos e que nós o representamos interna e externamente. No começo do século XX, surgem alguns fatos perturbadores na ciência. A Psicanálise de Freud com o conceito de inconsciente e a Física Quântica, que, ao estudar o mundo do infinitamente pequeno, desconstrói a ideia de neutralidade do cientista em relação ao objeto observado. O universo objetivo, quantificável e controlável do positivismo é desafiado pelo latente, pelo sensível, pelo não quantificável e impossível de ser controlado do inconsciente ou das partículas subatômicas. Instala-se o caos na ciência purificada da razão. Bem-vindo o caos, pois como entendiam os antigos gregos: do caos, a ordem. Emerge então a ciência da complexidade com toda a sua força, carregando aquilo que historicamente havia sido perdido: o encantamento da natureza a partir da inclusão dos seres humanos com seus sentimentos num universo em construção. A Narrativa de si como instrumento auto-organizador e autoconstituinte Minhas ideias sobre a importância das histórias e a narração de histórias são influenciadas sobre meus contatos com americanos nativos. Junto a eles pude confirmar minha intuição sobre a relação da ciência com a narrativa – a ciência é uma fonte de histórias que interpretam o caráter interconexo do universo (PEAT, 2002, p. 21). A transição de um paradigma para outro, isto é, a passagem da ciência clássica para a complexidade resgata o lugar do sujeito no processo de construção do cosmos mostrando um universo vivo em evolução. Em relação a isso, Prigogine (2003) se expressa nos seguintes termos:
- Page 2 and 3: Arte que inventa afetos
- Page 4 and 5: Deisimer Gorczevski (organizadora)
- Page 6 and 7: SUMÁRIO APRESENTAÇÃO - UM CONVIT
- Page 8: ZINES, AREIA E SOL: uma porta de pa
- Page 11 and 12: 10 Estudos da Pós-Graduação Se n
- Page 13 and 14: 12 Estudos da Pós-Graduação gica
- Page 15 and 16: 14 Estudos da Pós-Graduação A fo
- Page 17 and 18: 16 Estudos da Pós-Graduação Agra
- Page 20: Inventar Pesquisas Pesquisar Invent
- Page 23 and 24: 22 Estudos da Pós-Graduação Como
- Page 25 and 26: 24 Estudos da Pós-Graduação porq
- Page 27 and 28: 26 Estudos da Pós-Graduação À d
- Page 29 and 30: 28 Estudos da Pós-Graduação quis
- Page 31 and 32: 30 Estudos da Pós-Graduação Essa
- Page 33 and 34: 32 Estudos da Pós-Graduação Eu m
- Page 35 and 36: 34 Estudos da Pós-Graduação Escr
- Page 37 and 38: 36 Estudos da Pós-Graduação DELE
- Page 40 and 41: AUTONARRATIVAS E INVENÇÃO DE SI N
- Page 42 and 43: ARTE QUE INVENTA AFETOS 41 compleme
- Page 46 and 47: ARTE QUE INVENTA AFETOS 45 Eu penso
- Page 48 and 49: ARTE QUE INVENTA AFETOS 47 da Cogni
- Page 50 and 51: ARTE QUE INVENTA AFETOS 49 O resgat
- Page 52 and 53: ARTE QUE INVENTA AFETOS 51 A escrit
- Page 54 and 55: ARTE QUE INVENTA AFETOS 53 amente.
- Page 56 and 57: CARTOGRAFIA AUDIOVISUAL E O VÍDEO
- Page 58 and 59: ARTE QUE INVENTA AFETOS 57 107). J
- Page 60 and 61: ARTE QUE INVENTA AFETOS 59 blicas,
- Page 62 and 63: ARTE QUE INVENTA AFETOS 61 Um dispo
- Page 64 and 65: ARTE QUE INVENTA AFETOS 63 cena rot
- Page 66 and 67: ARTE QUE INVENTA AFETOS 65 tanto na
- Page 68 and 69: ARTE QUE INVENTA AFETOS 67 sonorida
- Page 70 and 71: ARTE QUE INVENTA AFETOS 69 Alegre.
- Page 72 and 73: ESCRITAS (IN)VISÍVEIS DE QUANDO O
- Page 74 and 75: ARTE QUE INVENTA AFETOS 73 Francisc
- Page 76 and 77: ARTE QUE INVENTA AFETOS 75 Escrever
- Page 78 and 79: ARTE QUE INVENTA AFETOS 77 importâ
- Page 80 and 81: ARTE QUE INVENTA AFETOS 79 portanto
- Page 82 and 83: ARTE QUE INVENTA AFETOS 81 FOUCAULT
- Page 84: Arte que Inventa | Arte de Inventar
- Page 87 and 88: 86 Estudos da Pós-Graduação cên
- Page 89 and 90: 88 Estudos da Pós-Graduação um i
- Page 91 and 92: 90 Estudos da Pós-Graduação nida
- Page 93 and 94: 92 Estudos da Pós-Graduação das
44<br />
Estudos da Pós-Graduação<br />
Cibernética, mostrando, ao mesmo tempo, a inclusão do observador no<br />
sistema observado (VON FOERSTER, 2003).<br />
O <strong>que</strong> subjaz às visões de mundo do paradigma clássico, por<br />
outro lado, é a ideia representacionista. Segundo ela, tudo se passa<br />
como se existisse um mundo objetivo fora dos humanos e <strong>que</strong> nós o<br />
representamos interna e externamente.<br />
No começo do século XX, surgem alguns fatos perturbadores na<br />
ciência. A Psicanálise de Freud com o conceito de inconsciente e a<br />
Física Quântica, <strong>que</strong>, ao estudar o mundo do infinitamente pe<strong>que</strong>no,<br />
desconstrói a ideia de neutralidade do cientista em relação ao objeto<br />
observado. O universo objetivo, quantificável e controlável do positivismo<br />
é desafiado pelo latente, pelo sensível, pelo não quantificável e<br />
impossível de ser controlado do inconsciente ou das partículas subatômicas.<br />
Instala-se o caos na ciência purificada da razão. Bem-vindo o<br />
caos, pois como entendiam os antigos gregos: do caos, a ordem. Emerge<br />
então a ciência da complexidade com toda a sua força, carregando<br />
aquilo <strong>que</strong> historicamente havia sido perdido: o encantamento da natureza<br />
a partir da inclusão dos seres humanos com seus sentimentos num<br />
universo em construção.<br />
A Narrativa de si como instrumento auto-organizador<br />
e autoconstituinte<br />
Minhas ideias sobre a importância das histórias e a narração de<br />
histórias são influenciadas sobre meus contatos com americanos<br />
nativos. Junto a eles pude confirmar minha intuição sobre a relação<br />
da ciência com a narrativa – a ciência é uma fonte de histórias<br />
<strong>que</strong> interpretam o caráter interconexo do universo (PEAT,<br />
2002, p. 21).<br />
A transição de um paradigma para outro, isto é, a passagem da<br />
ciência clássica para a complexidade resgata o lugar do sujeito no<br />
processo de construção do cosmos mostrando um universo vivo em<br />
evolução. Em relação a isso, Prigogine (2003) se expressa nos seguintes<br />
termos: