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Arte que inventa afetos - ebook

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ARTE QUE INVENTA AFETOS 361<br />

<strong>que</strong> aumentem consciência e capacidade de iniciativas transformadoras<br />

dos grupos com <strong>que</strong>m trabalhamos” (BRANDÃO, 2006, p. 19).<br />

Se ambas as posturas metodológicas de investigação rompem<br />

com o paradigma interpretativo, o qual <strong>que</strong>stionamos, esta dimensão<br />

interventiva e a meta de conscientização não nos convence como<br />

ponto primordial do processo interventivo. Deste modo, outra postura<br />

de intervir nos sugere pensar a dimensão da intervenção: trata-se da<br />

cartografia, método formulado por Gilles Deleuze e Guattari<br />

(DELEUZE; GUATTARI, 1995; GUATTARI; ROLNIK, 1986) o qual<br />

busca uma análise qualitativa, <strong>que</strong> vai além das representações estabelecidas.<br />

Apresentada não como um método pronto, a cartografia não<br />

separa o espaço do sujeito e permite a realização de percursos de intensidade<br />

<strong>que</strong> trazem novos significados, constituindo lugares de desejo<br />

e intensidade. Desse modo, a intervenção parece mais sutil e<br />

menos sujeita a impor conduções de conscientização iluminada. A<br />

cartografia define de forma mais simples <strong>que</strong> a intervenção deve fazer<br />

parte da postura do pesquisador e <strong>que</strong> a compreensão não ocorre separada<br />

da intervenção:<br />

Defender <strong>que</strong> toda pesquisa é intervenção exige do cartógrafo<br />

um mergulho no plano da experiência, lá onde conhecer e fazer<br />

se tornam inseparáveis, impedindo qual<strong>que</strong>r pretensão à neutralidade<br />

ou mesmo suposição de um sujeito e de um objeto cognoscentes<br />

prévios à relação <strong>que</strong> os liga (PASSOS; BARROS,<br />

2010, p. 30).<br />

Desta forma, Passos e Barros (2010, p. 30) ressaltam <strong>que</strong> “conhecer<br />

é, portanto, fazer, criar uma realidade de si e do mundo, o <strong>que</strong><br />

tem consequências políticas”. Abre-se então uma postura metodológica<br />

em <strong>que</strong> o distanciamento não é mais o centro e <strong>que</strong> a intervenção é parte<br />

do processo de pesquisa, sem necessariamente aparecer como uma bandeira<br />

política de conscientização. Acreditamos <strong>que</strong> intervir pode nem<br />

ter como meta a conscientização, embora a alcance ou não. Com isso, é<br />

possível manter o caráter e a busca da interpretação e da compreensão,<br />

mas com o objetivo de intervir junto com estes, na medida em <strong>que</strong> é<br />

realizado um duplo movimento entre os sujeitos.

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