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Arte que inventa afetos - ebook

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ARTE QUE INVENTA AFETOS 33<br />

Essas considerações levam as autoras citadas a <strong>que</strong>stionarem<br />

<strong>que</strong>m, afinal, está protegido com a não nomeação. Nesse sentido, cria-se<br />

um lugar seguro para o pesquisador atuar e “manter os profanos à distância<br />

respeitosa” (DESPRET, 2011, p. 17), pois em nome da ética da<br />

confidencialidade, o <strong>que</strong> se garante é uma proteção e maior autonomia<br />

para o pesquisador.<br />

Guenther (2009) sugere <strong>que</strong>, talvez, a nomeação implicasse<br />

um maior cuidado por parte do pesquisador afetando sua política de<br />

narratividade. Ambas consideram importante colocar em discussão<br />

com os participantes o modo como eles gostariam de ser nomeados<br />

pela pesquisa.<br />

Certamente não existe uma prescrição sobre o modo como tratar<br />

o outro da pesquisa, pois essa posição não é meramente técnica, mas<br />

política. O fato de estarem interessados no problema de pesquisa e <strong>que</strong> o<br />

desenho da mesma permita esse espaço aos participantes parece ser uma<br />

pista importante. Dessa maneira, no lugar de nos precavermos do temido<br />

viés, estamos fomentando coautorias e a legitimidade para as diversas<br />

posições <strong>que</strong>, em relação ao conhecimento, são sempre políticas.<br />

A escrita e a pesquisa<br />

Na maior parte das vezes, a forma como o escrever é vivido na<br />

experiência escolar tende a configurar a escrita como uma representação<br />

<strong>que</strong> fixa um pensamento <strong>que</strong> já foi processual e anterior ao ato de escrever.<br />

As práticas de escrita <strong>que</strong> afirmam essa relação fazem com <strong>que</strong><br />

seja difícil considerar o ato de escrever como um ato de pensar e, também,<br />

como um método. Não raras vezes escutamos alguém dizer “a tese está<br />

toda na minha cabeça, só falta escrever”, revelando tal concepção e<br />

também o quão distante a<strong>que</strong>le <strong>que</strong> a profere está de efetivá-la.<br />

Mar<strong>que</strong>s (2006), por exemplo, nos convoca a deslocarmos essa<br />

função meramente representativa da escrita para considerá-la uma ferramenta<br />

do pensamento. Propõe tomarmos a escrita como um modo de<br />

conversar com autores, participantes, consigo mesmo, fazendo assim<br />

uma escrita-ação. Deste modo, não escrevemos para representar uma<br />

vida, mas a escrita é vida:

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