20.08.2018 Views

Arte que inventa afetos - ebook

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

318<br />

Estudos da Pós-Graduação<br />

de outra maneira <strong>que</strong> não apenas pelas palavras, mas através da arte<br />

contemporânea <strong>que</strong> tem tomado o papel de não ser apenas a arte pela<br />

arte, mas de intervir politicamente criando outras possibilidades de<br />

pensar a história. Como afirma Rancière (2010, p. 58), “o real precisa<br />

ser ficcionado para ser pensado”. Trouxas Ensanguentadas e Os Ex-<br />

Sem-Votos colocam-nos diante da memória <strong>que</strong> muitos desejam deixar<br />

fechadas nos arquivos, nessa tortura sem fim a parentes e amigos de<br />

desaparecidos do terror vivido entre 1964-1985. A partir dessas obras,<br />

pode-se repensar a omissão de informações a todo o país, <strong>que</strong> progride<br />

desconhecendo ou mesmo negando o terrorismo do Estado e a<br />

violência perpétua praticada durante o período – e ainda hoje, por<br />

forças policiais e por grupos encarregados de dizimar as vítimas da<br />

exclusão social.<br />

Tanto Barrio como os Aparecidos Políticos conseguem produzir<br />

intervenções <strong>que</strong> correspondem a ações de arte política pela potência do<br />

afeto. São intervenções <strong>que</strong>, por mais <strong>que</strong> estejam embebidas da dureza<br />

social e política, afloram um sensível descomunal, capaz de arremessar-<br />

-nos sensorialmente para a<strong>que</strong>le período. Seguindo o pensamento de<br />

Espinosa (2008), podemos concluir <strong>que</strong> tanto o trabalho de Barrio<br />

quanto do Coletivo Aparecidos Políticos são capazes de produzir em<br />

nós <strong>afetos</strong> primários <strong>que</strong> indicam um estado de corpo. Logo, as afecções<br />

do corpo aumentam ou diminuem a potência de agir. É exatamente<br />

isso o <strong>que</strong> pode a arte política, afetar-nos, produzir <strong>afetos</strong> alegres ou<br />

tristes <strong>que</strong> nos impulsionam ou não a agir. Esse agir aqui também significa<br />

o simples ato de pensar sobre o <strong>que</strong> pode a arte em meio à dor e à<br />

convivência com a ausência.<br />

Conclusão<br />

As intervenções do Coletivo Aparecidos Políticos e de Artur<br />

Barrio propõem-se àquilo a <strong>que</strong> se refere Mouffe: produzir dissensos<br />

políticos no espaço público, produzir fissuras na sociedade e transitar<br />

entre os visíveis e os invisíveis dela. Mas é antes de tudo, evidenciar<br />

<strong>que</strong> o Estado não representa a todos, <strong>que</strong> os excluídos, as sobras, quando<br />

não es<strong>que</strong>cidas, só podem ser visibilizadas de outras formas.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!