20.08.2018 Views

Arte que inventa afetos - ebook

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

ARTE QUE INVENTA AFETOS 317<br />

contexto, as práticas artísticas e culturais são absolutamente fundamentais<br />

como um dos níveis em <strong>que</strong> se formam as identificações<br />

e as formas de identidade. Não se pode distinguir entre arte<br />

política e arte não política, por<strong>que</strong> todas as formas de práticas<br />

artísticas, ou contribuem para a reprodução do sentido comum<br />

dado – e nesse sentido são políticas – ou contribuem para a sua<br />

desconstrução ou sua crítica. Todas as formas artísticas têm uma<br />

dimensão política (MOUFFE, 2007, p. 26). 177<br />

Essa relação entre arte e política proposta por Barrio e pelo<br />

Coletivo confere novas práticas de relacionamento com a política não<br />

mais pela política representativa, mas por ações micropolíticas, <strong>que</strong><br />

encontram nos fazeres estéticos novas formas de resistir à cidade, ao<br />

poder e a tudo <strong>que</strong> se coloca como já constituído, transformando não<br />

só o contexto no qual estão inseridos, mas a si mesmos.<br />

Enquanto a intervenção realizada pelo Coletivo Aparecidos<br />

Políticos propõe trabalhar aspectos das artes visuais para debater o direito<br />

à memória e a verdade acerca da justiça de transição. Barrio, fazendo<br />

uso de carnes, ossos, cordas (materiais <strong>que</strong> ao mesmo tempo<br />

lembram os corpos desaparecidos e os utensílios utilizados na ocultação<br />

desses corpos), mostra interesse por tudo o <strong>que</strong> está à margem, o<br />

<strong>que</strong> é posto de lado, abandonado e ocultado por forças simbólicas,<br />

como são os corpos, as memórias desses desaparecidos e, ao mesmo<br />

tempo, os materiais insólitos, impensáveis e impraticáveis. As intervenções<br />

afirmam a potência da arte e seus desdobramentos a partir do<br />

registro fotográfico, apresentando-se como políticas de transformação<br />

social, como obras <strong>que</strong> revelam a resistência a partir de estratégias de<br />

comunicação. Segundo Rancière (2010, p. 27), “a resistência da obra<br />

não é o socorro <strong>que</strong> a arte presta à política. Ela não é a imitação ou<br />

antecipação da política pela arte, mas propriamente a identidade de<br />

ambas. A arte é política”.<br />

Vistos como sobras do período da ditadura militar, os desaparecidos<br />

políticos agora são percebidos, reconhecidos e reapresentados<br />

177<br />

Tradução nossa para fins de estudo.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!