20.08.2018 Views

Arte que inventa afetos - ebook

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

316<br />

Estudos da Pós-Graduação<br />

das coisas no mundo, diante do <strong>que</strong> a arte pode realizar e o <strong>que</strong> podemos<br />

considerar ou não como arte, pondo-nos em dúvida perante o<br />

mundo e a ordem vigente.<br />

Esse encontro entre arte e política ocorre pelo fato de serem esferas<br />

capazes de construir ficções, isto é, rearranjos materiais dos signos<br />

e das imagens, das relações entre o <strong>que</strong> se vê e o <strong>que</strong> se diz, entre o <strong>que</strong><br />

se faz e o <strong>que</strong> se pode fazer.<br />

Levar às ruas todas essas memórias do período ditatorial por<br />

meio de regimes estéticos, tanto em Trouxas Ensanguentadas como em<br />

Os Ex-Sem-Votos, é fazer com <strong>que</strong> os sujeitos, <strong>que</strong> também são sujeitos<br />

da história do país, sejam envolvidos e conheçam as diversas verdades<br />

desse período. Nesse sentido, habitar os espaços é permeá-los de tais<br />

sentidos políticos e partilhar aspectos <strong>que</strong> são comuns a todos, mas <strong>que</strong><br />

não são apropriados por todos. Aqui, partilhar significa o <strong>que</strong> Rancière<br />

(2010, p. 15) indica <strong>que</strong> “fixa, portanto, ao mesmo tempo, um comum<br />

partilhado e partes exclusivas”, é uma operação <strong>que</strong> define um comum<br />

sensível a todos, mas também as partes <strong>que</strong> nesse sensível cabem.<br />

A rua, o cerne de onde os conflitos aconteciam durante o período,<br />

é ainda o lugar de experimentação tanto de Barrio como do Coletivo<br />

Aparecidos Políticos e, ao contrário do <strong>que</strong> se constrói no imaginário<br />

social, “não é mais lugar para a certeza e segurança encontrado pelo eu<br />

cartesiano” (ARANTES, 2010, p. 82), mas é propositalmente o lugar das<br />

inquietações, incertezas e da produção dos dissensos, como nos apresenta<br />

Mouffe (2007).<br />

As experiências provocadas nas duas intervenções, <strong>que</strong> são estéticas<br />

e políticas, são capazes de remodelar a comunicação urbana, o <strong>que</strong> potencializa<br />

o uso desses espaços como territórios de criação e circulação. Nas<br />

duas experiências, os artistas afirmam a cidade como território de criação,<br />

produção e circulação, articulando fazeres artísticos e políticos. O “político”,<br />

a partir do entendimento de Mouffe (2007), é o conjunto de práticas<br />

<strong>que</strong> também são artísticas. Assim, a autora exclui a possibilidade de neutralidade<br />

nas expressividades estéticas, poéticas e artísticas ao afirmar <strong>que</strong>:<br />

Como a dimensão do político sempre está presente, nunca pode<br />

existir uma hegemonia completa, absoluta e inclusiva. Nesse

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!