20.08.2018 Views

Arte que inventa afetos - ebook

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

ARTE QUE INVENTA AFETOS 311<br />

Mesmo com a abertura do processo democrático, ainda é muito<br />

produtiva a arte <strong>que</strong> recupera <strong>que</strong>stões sobre o período ditatorial. A<br />

arte contemporânea, principalmente o cinema, tem apresentado novos<br />

sentidos diante das experiências passadas, colocando-nos entre o limiar<br />

de onde partimos e aonde <strong>que</strong>remos chegar. Logo, olhar o passado<br />

é a premissa para <strong>que</strong> se possa entender o <strong>que</strong> acontece no presente.<br />

Souza (2007, p. 13) explica-nos <strong>que</strong> os períodos pós-ditatoriais<br />

exigem um processo de releitura sobre o passado e “esse processo articula<br />

narrativas e memórias anteriormente postas à margem e reprimidas”.<br />

No campo cinematográfico, pode-se destacar uma intensa produção<br />

nacional e mesmo internacional <strong>que</strong> consegue desenhar a rede<br />

de desejos, sonhos e ideais <strong>que</strong> transcorriam em meio a torturas, violência<br />

e atos de crueldade. Essas produções cinematográficas, além de<br />

desenhar esse trajeto, aproximam-nos e lançam-nos às experiências<br />

sensíveis da<strong>que</strong>le período. 168<br />

As releituras do passado continuam sendo feitas, atualizando a<br />

história e repensando a parte <strong>que</strong> nos cabe nela. A arte contemporânea<br />

tem sido o <strong>que</strong> tem despertado o pensar das transformações políticas e<br />

sociais ocorridas no mundo. Já não basta o discurso diante dos acontecimentos<br />

<strong>que</strong> nos afetam. Eles nos cobram uma ação, <strong>que</strong>, na maioria<br />

das vezes, encontram nos caminhos estéticos, e <strong>que</strong> também são políticos,<br />

a possibilidade de manifestar, de tornar visível o invisível. Essa<br />

atividade, estética e política, “faz ver o <strong>que</strong> não cabia ser visto; faz<br />

ouvir um discurso ali onde só havia barulho, faz ouvir como discurso o<br />

<strong>que</strong> só era ouvido como barulho” (RANCIÈRE, 1996, p. 42).<br />

Se os modos de ser político e de estar no mundo são múltiplos,<br />

cabe ao artista escolher as estratégias <strong>que</strong> façam de sua ação e de sua<br />

arte algo político. Não cabe julgar o estético, sua disposição em galerias<br />

ou museus; os modos podem ser particulares e o <strong>que</strong> se sobrepõe são os<br />

processos, o movimento de reflexão e criação ao invés de resultados. A<br />

168<br />

Dentre as produções destacam-se: O Que é isso companheiro?; Pra frente Brasil; Cabra<br />

Cega; O Ano em <strong>que</strong> Meus Pais Saíram de Férias; Batismo de Sangue; Zuzu Angel; Dois<br />

Córregos e mais recentemente os filmes João e Maria e 50 Anos Depois: A Nova Agenda<br />

da Justiça de Transição do Brasil.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!