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Arte que inventa afetos - ebook

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310<br />

Estudos da Pós-Graduação<br />

Aparecidos Políticos apontam: outras pontes capazes de conectar-nos<br />

com o passado.<br />

Modos de dizer sobre a ditadura civil-militar<br />

A ditadura não reprimiu apenas <strong>que</strong>m ousava ir às ruas clamar<br />

pela democracia, reprimiu também todos a<strong>que</strong>les <strong>que</strong> ousaram criar e<br />

dizer algo sobre o momento. A partir da instauração do Ato Institucional<br />

número 5, 166 a censura aos meios de comunicação e ao cenário artístico<br />

trouxe consequências profundas. A partir desse momento, foi necessário<br />

encontrar estratégias criativas de resistir 167 e de falar sobre o <strong>que</strong><br />

ocorria no cenário nacional.<br />

Todo aparato de censura e vigília permanente do Estado em relação<br />

aos meios de comunicação e à arte foram ações bem articuladas,<br />

pois, como discutiremos posteriormente, existia uma forte potência política<br />

nas expressões artísticas da época; além disso, os meios de comunicação<br />

tornavam-se uma grande ameaça ao regime e aos militares.<br />

A arte contemporânea foi a possibilidade encontrada por artistas<br />

de manifestarem-se e resistirem, criando, a partir do horror, modos de<br />

dizer e <strong>inventa</strong>ndo estratégias sensíveis de pensar o real. Era o momento<br />

de discutir a potência da arte frente ao contexto social e de criar<br />

equivalentes sensíveis da experiência de estar no mundo. Isso fica evidente<br />

em celebrados trabalhos, como Seja Marginal, Seja Herói, de<br />

Hélio Oiticica, Língua Apunhalada, de Lygia Pape ou ainda A Moeda<br />

Brasileira da Época, de Cildo Meireles, em <strong>que</strong>, com um carimbo, imprimia<br />

sobre cédulas a pergunta “Quem matou Herzog?”, foram algumas<br />

das obras <strong>que</strong>, ao lado das Trouxas Ensanguentadas, de Artur<br />

Barrio, articulavam-se aos acontecimentos e colocaram a sociedade<br />

brasileira diante da possibilidade de pensar o real pelo viés artístico.<br />

166<br />

O Ato Institucional 5, o AI-5 como é mais conhecido, foi o golpe mais duro dentro<br />

do grande golpe. Em vigor a partir de 13 de dezembro de 1968, durante o governo do<br />

então presidente Artur da Costa e Silva, prejudicou verdadeiramente a democracia e<br />

concedeu poderes quase absolutos ao regime militar (CONTREIRAS, 2010).<br />

167 Aqui a resistência é tomada não como movimento contrário, mas como forma de <strong>inventa</strong>r<br />

possibilidades de vida (DELEUZE, 1992).

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