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Arte que inventa afetos - ebook

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308<br />

Estudos da Pós-Graduação<br />

com uma espécie de apagamento do <strong>que</strong> ocorreu no passado. Como<br />

afirma Galeano (1999, p. 214), é “o preço da paz, enquanto nos impõe<br />

uma paz fundada na aceitação da injustiça como normalidade cotidiana.<br />

Acostumaram-nos ao desprezo pela vida e à proibição de lembrar”.<br />

Mas as décadas de 1960 e 1970 representaram também os anos<br />

das mais profundas agitações e mudanças em nível mundial e nacional.<br />

As transformações não ocorreram apenas no contexto político e social,<br />

mas reconfiguraram também o cenário cultural e artístico do país. Se,<br />

por um lado, a opressão e repressão vividas apresentaram a violência e<br />

o poder do Estado contra os <strong>que</strong> resistiam, funcionou também, por outro<br />

lado, como uma espécie de injeção de ânimo na arte brasileira, inspirando<br />

uma parcela de artistas a pensarem e trabalharem os acontecimentos<br />

do país em suas obras. As duas décadas representaram ainda o<br />

momento de romper com a interioridade da arte, pensada nos ateliês e<br />

levada às galerias com o universo do belo e com produções <strong>que</strong> objetivaram<br />

ressaltar a “genialidade” artística (AMARAL, 1987). Era o momento<br />

de assumir uma posição frente ao contexto social e ainda pensar<br />

em produções <strong>que</strong> tomavam a cidade como suporte, da necessidade de<br />

se fazer arte onde a interação com o público fosse possível e capaz de<br />

produzir outras leituras acerca do <strong>que</strong> era a cidade e do <strong>que</strong> nela acontecia<br />

(ARANTES, 2010).<br />

A efervescência cultural trouxe novas maneiras de fazer e pensar<br />

música brasileira; surgiram o cinema novo e o cinema marginal – a<br />

concepção de uma câmera na mão e uma ideia na cabeça 163 deu o tom<br />

do cinema nacional. O teatro, as performances e as artes plásticas<br />

também apresentaram novas possibilidades do fazer artístico, com experimentações<br />

de outros modos de criar, inovando com o uso de sobras<br />

e materiais precários, pensando os restos como materiais potentes no<br />

processo criativo.<br />

Sob o regime militar, o Brasil tem nomes importantes de atuação<br />

artística <strong>que</strong> foram capazes de criar formas sensíveis de falar sobre o<br />

contexto político do país, além de driblarem o cerceamento de liber-<br />

163<br />

Frase do diretor Paulo César Saraceni, um dos mentores do Cinema Novo, ao lado de<br />

Glauber Rocha.

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