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Arte que inventa afetos - ebook

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ARTE QUE INVENTA AFETOS 293<br />

Tomaremos por base para desenvolvermos a escrita da experiência<br />

vivida na comunidade do Titanzinho parte da entrevista de<br />

Gilles Deleuze, em 2004, intitulada Abécédaire de Gilles Deleuze, no<br />

item F de Fidelidade (sobre a amizade). Segundo o autor, “fidelidade<br />

não gera amizade. Tudo isso vem de um mistério muito maior”<br />

(DELEUZE, 2004). 145<br />

Percebemos, com a fala de Deleuze (2004), <strong>que</strong> o <strong>que</strong> se compartilhou<br />

ali não foi algo de fidelidade, não se participou dessas atividades<br />

para cumprir tarefas da pesquisa, mas por prazer de estar juntos no território<br />

existencial. Quando pensamos juntos <strong>que</strong> o sentimento de amizade<br />

aparece nas relações do Titanzinho, nos damos conta de <strong>que</strong> todo<br />

o movimento solidário vivido na comunidade transcende a generosidade<br />

no <strong>que</strong> diz respeito a colaborar, trazendo também algo de igualdade<br />

na diferença, na aproximação.<br />

Quando Deleuze (2004) sugere <strong>que</strong> a amizade não se atrela ao<br />

fato de haver ideias em comum com o outro, mas sim uma “linguagem<br />

em comum”, <strong>que</strong>stiona-se sobre como essa linguagem foi sendo <strong>inventa</strong>da<br />

pelo Coletivo. Uma das maneiras <strong>que</strong> poderia ser tensionada é a<br />

<strong>que</strong>stão do audiovisual. Nossas experiências anteriores com ele, na produção<br />

de fotos e vídeos, assim como no mapeamento de imagens e<br />

textos acadêmicos, teriam <strong>inventa</strong>do o modo como estivemos no território<br />

existencial?<br />

Uma proposição interessante para a análise <strong>que</strong> se propõe neste<br />

estudo é a seguinte afirmação: “ninguém consegue compreender todos<br />

os tipos de charme” (DELEUZE, 2004). Assim, podemos pensar essa<br />

asserção para problematizar a escolha desse acontecimento das<br />

Fotografias de Lirete (Figuras 57 e 58) como tema de investigação.<br />

Quando percebemos a potência <strong>que</strong> essa experiência proporcionou aos<br />

envolvidos com a I Mostra, mantemos a atenção nela como modelo de<br />

intensidade e sensibilidade ao <strong>que</strong> nos propomos enquanto intervenção<br />

e relação afetiva na comunidade do Titanzinho.<br />

145<br />

Transcrição de entrevistas com Deleuze, realizada por Claire Parnet para o canal de TV<br />

<strong>Arte</strong> em 1988 e publicada em 2004.

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