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Arte que inventa afetos - ebook

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ARTE QUE INVENTA AFETOS 271<br />

fazer como um zine”, ouvíamos com frequência. Tal observação, “como<br />

um zine”, é por vezes usada em outras situações em <strong>que</strong> a expressão<br />

artística e a intenção de comunicar se fazem presentes, porém trata-se<br />

de suportes bastante distintos dos zines, como por exemplo, cartões de<br />

aniversários, colagens em cadernos e paredes, folhas de rascunhos e,<br />

nesse caso, uma fachada, um muro. Ao evocar uma característica<br />

“zinesca” é comum es<strong>que</strong>cer <strong>que</strong> a reprodução e difusão são partes fundamentais<br />

de um zine, ou seja, muitas vezes o <strong>que</strong> se está evocando é a<br />

autonomia criativa, as possibilidades diversas de caminhos a seguir <strong>que</strong><br />

serão combinados enquanto a atividade ocorre. Trata-se da liberdade de<br />

expressão autoral e compartilhada. Durante a oficina ouvimos: “Posso<br />

fazer do jeito <strong>que</strong> eu sei?”, “Vou me lembrar duma história pra colocar”,<br />

“Mas não era assim <strong>que</strong> eu <strong>que</strong>ria dizer” ou “Vou colocar aqui umas<br />

coisas da minha cabeça”. Todas estas falas e muitas outras revelavam<br />

<strong>que</strong> a criação do zine e o exercício do pensamento sobre si mesmo e<br />

sobre o contexto possibilitavam novos processos de singularização,<br />

<strong>que</strong>, para Guattari e Rolnik:<br />

Aquilo <strong>que</strong> eu chamo de processos de singularização – poder<br />

simplesmente viver, sobreviver num determinado lugar, num<br />

determinado momento, ser a gente mesmo – não tem nada a ver<br />

com identidade (coisas do tipo: meu nome é Félix Guattari e<br />

estou aqui). Tem a ver, sim, com a maneira como, em princípio<br />

todos os elementos <strong>que</strong> constituem o ego funcionam e se articulam;<br />

ou seja – a maneira como a gente sente, como a gente<br />

respira, como a gente tem ou não vontade de falar, de estar aqui<br />

ou de ir embora... (GUATTARI; ROLNIK, 1996, p. 69).<br />

Ao final de cada encontro, nos sentíamos diferentes, mais à vontade,<br />

mais curiosos a respeito de nós mesmos, do outro e da comunidade.<br />

Ao longo dos meses em <strong>que</strong> trabalhamos na fachada da Associação,<br />

tudo foi sendo registrado em fotos e, como no primeiro zine-objeto,<br />

delas partimos para compor outro zine de bolso, dessa vez com 32 páginas.<br />

Metade destas foram feitas por crianças do Titanzinho <strong>que</strong> acompanharam<br />

uma tarde de oficina de estêncil e toparam o convite de escrever<br />

e desenhar sobre a vida deles ali. As outras páginas eram fotos

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