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Arte que inventa afetos - ebook

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ARTE QUE INVENTA AFETOS 23<br />

fazem <strong>que</strong>stão nos coloca em diálogo com outros observadores e com<br />

seus desenhos de pesquisa, permitindo <strong>que</strong> possamos visualizar um<br />

campo de estudo. Frente a esse campo, podemos colocar algumas perguntas<br />

<strong>que</strong> podem nos auxiliar em nosso posicionamento como observador<br />

implicado <strong>que</strong> pretende participar e, talvez, produzir diferença<br />

nesse território: Quais foram as possibilidades de emergência desse<br />

campo de estudo? Como a <strong>que</strong>stão passou a ser considerada um problema<br />

<strong>que</strong> merecesse ser abordado pela pesquisa? Quem habita esse território?<br />

Com <strong>que</strong> proposições? Com <strong>que</strong> estratégias de conhecimento?<br />

Essas <strong>que</strong>stões servem de guias para o percurso da pesquisa e nos<br />

ajudam a distinguir características desse território como, por exemplo,<br />

se nos encontramos em um campo mais densamente povoado, no sentido<br />

de <strong>que</strong> conta com uma maior tradição de pesquisa, e mesmo se<br />

dentro dele existem consensos já estabelecidos (caixas-pretas), ou seja,<br />

com menos controvérsias abertas, ou se ainda é um território mais árido,<br />

com muitas controvérsias e disputas em aberto e sem autores de referência<br />

consolidados. O conceito de caixas-pretas foi desenvolvido por<br />

Bruno Latour, um pesquisador <strong>que</strong>, inspirado nas pesquisas antropológicas<br />

geralmente feitas com povos distantes e ‘selvagens’, resolveu<br />

acompanhar a prática cotidiana de um laboratório de pesquisa para<br />

tentar entender melhor o <strong>que</strong> se fazia efetivamente ali dentro e, ao<br />

mesmo tempo, evitar as explicações epistemológicas tradicionais sobre<br />

a diferença entre o conhecimento científico <strong>que</strong> faria referência a fatos,<br />

da<strong>que</strong>les <strong>que</strong> estariam impregnados com crenças ou interesses políticos<br />

(LATOUR, 2000).<br />

Dessa forma, Latour acompanha a produção de conhecimento<br />

científico dentro de um laboratório antes <strong>que</strong> importantes descobertas<br />

fossem consideradas como fatos. Por exemplo, ele segue as controvérsias<br />

sobre o desenho da cadeia de DNA e descreve os atravessamentos<br />

políticos, financeiros, de disputas de interesses e outras dimensões consideradas<br />

mais subjetivas <strong>que</strong> estavam presentes no momento de tais<br />

controvérsias. Com essa experiência, Latour (2000) mostra <strong>que</strong> a construção<br />

de um fato científico envolve várias negociações e disputas antes<br />

<strong>que</strong> se chegue a um determinado consenso, e <strong>que</strong> esse consenso, por ser<br />

trabalhoso e custoso, muitas vezes torna-se difícil de ser contestado,

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