20.08.2018 Views

Arte que inventa afetos - ebook

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

ARTE QUE INVENTA AFETOS 159<br />

criado por um grupo de residentes em Saúde Mental Coletiva, em associação<br />

com usuários de serviços da rede de saúde mental de Porto<br />

Alegre, <strong>que</strong> foi inspirado pelos trabalhos semelhantes da Rádio La<br />

Colifata, de Buenos Aires, e Nikosia, em Barcelona. Potência Mental<br />

produz um programa transmitido na Rádio Comunitária da Lomba do<br />

Pinheiro (FM 87,9), situada na periferia sul da cidade (FORTUNA;<br />

OLIVEIRA, 2013). Gostaria de citar aqui o artigo de Gorczevski,<br />

Palombini e Streppel (2009), <strong>que</strong> expõe com clareza esse caráter CsO<br />

do projeto, descrevendo o processo criador dos programas realizados<br />

por seus loucutores – assim qualificaram-se, eles mesmos.<br />

Quando um ou mais loucutores dizem do desejo de comunicar<br />

potência mental, estão construindo agenciamentos <strong>que</strong> são<br />

sempre coletivos – “multiplicidade <strong>que</strong> se desenvolve para além<br />

do indivíduo, junto ao socius, assim como aquém da pessoa,<br />

junto a intensidades pré-verbais” (GUATTARI, 1992, p. 20),<br />

atravessado por singularidades impessoais <strong>que</strong> se constituem<br />

como forças na sua constituição. Assim, nas reuniões de preparação<br />

dos programas, insiste um burburinho de múltiplas conversas,<br />

afecções, pensamentos, percepções, escritos, de modo<br />

desconexo, paralelo, simultâneo, constituindo um espaço de<br />

afetações, de encontro de corpos, embrião da expressão. Algo<br />

se passa entre os loucutores, <strong>que</strong> pode ser da ordem de um fenômeno<br />

físico, político, afetivo.... Algo da desordem do desejo<br />

passa entre os loucutores e passa também entre eles e o coletivo<br />

no qual atuam, nas alianças por eles construídas e desconstruídas,<br />

bem como nas ondas sonoras <strong>que</strong> irradiam as suas vozes. Disso<br />

<strong>que</strong> se passa, <strong>que</strong> tomamos como devir-loucura, excede o acontecimento,<br />

jorrando suas singularidades incorporais insistentes<br />

no plano do tempo, cuja expressão é o sentido <strong>que</strong> se produz e<br />

prolifera acerca das temáticas tratadas [...]. É quando uma “comunicação<br />

da diferença” [...] pode se realizar (GORCZEVSKI;<br />

PALOMBINI; STREPPEL, 2009, não paginado).<br />

Experiências dentro e fora da rádio, <strong>que</strong> foram conhecidas como<br />

as “artes sonoras”, para diferenciá-las também da música com seus parâmetros<br />

específicos, são igualmente importantes na procura do <strong>que</strong><br />

chamamos o CsO do rádio.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!