Arte que inventa afetos - ebook

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ARTE QUE INVENTA AFETOS 137 Figura 5 - Apropriação. Foto A – Muro da comunidade com intervenção dos moradores; Foto B – Muro depois da ação “arte e resistência urbana”, que apropria a imagem anterior. Fonte: Anna Lúcia dos Santos Vieira e Silva. Na entrada, nos muros que receberam as intervenções, já havia uma imagem com conteúdo de resistência, que identifica a comunidade e o desejo dos moradores de permanecer no local. Essa intervenção denota a apropriação do muro como espaço físico e político, de opinião pública. Em seguida, o grupo que atuou em “arte e resistência urbana” também se apropria do muro e incorpora a imagem anterior no conjunto de todo corredor preenchido, com o cuidado de enfatizar, ao lado dela, o conteúdo e a forma gráfica, respeitando o fundo branco, as cores vermelho e preto, e o código verbal. Ao longo do tempo, os moradores colocaram varais e roupas para secar sobre as pinturas dos varais, reiterando a análise da seleção das imagens a serem reproduzidas nos muros e a manutenção do costume. Na Lauro Vieira Chaves, a intervenção urbana ocorreu no espaço público interno à comunidade. Parece um pouco estranho falar de apropriação do espaço público quando o que ocorre é uma utilização diferenciada de um espaço que já é previamente utilizado e entendido como pertencente a todos os que ali o transformam. No entanto, a atividade coletiva no espaço dentro da comunidade ganha outra qualidade e significado quando ele é transformado dentro de um propósito comum, no caso, a resistência. Como uma forma de apropriação, os lugares recebem a intervenção de acordo com as escolhas e necessidades específicas, na transmissão de um conteúdo com teor reivindicativo, capaz de fortalecer o sentido de pertencimento e de localidade.

138 Estudos da Pós-Graduação Lambe-lambes Figura 6 - Lambe-lambe. Fotos A e B – Lambes de fotos dos moradores da comunidade. Fonte: Anna Lúcia dos Santos Vieira e Silva. O lambe-lambe e o sticker possuem uma lógica de ação e elaboração de aplicação rápida, dependendo da dimensão do trabalho. A técnica é de colagem ou adesivagem, não é realizado com tinta. A matriz é a própria imagem, que está previamente impressa em papel sulfite fino, pintada ou desenhada, e a ação na rua é sua colagem integral ou recortada. O tamanho varia de acordo com a técnica usada. Os adesivos costumam ser pequenos e as colagens podem ser de grandes dimensões. A cola é passada na parede, o papel é aplicado e outra camada de cola sobre o papel dá a fixação final. No mutirão, quando as coordenadoras do eixo “arte e resistência urbana” foram visitar o local, fotografaram imagens da própria comunidade para produzir os lambe-lambes. Na intervenção, dias depois, as imagens foram colocadas nas fachadas das casas, nos muros e portões. Alguns moradores pediram que os lambe-lambes que retrataram suas fachadas fossem colocados no mesmo lugar onde a foto foi captada. Dupla representação. O espaço – e a força de sua imagem – anima o sentido de identidade e de lugar, como um paradoxo que capacita a imagem a potencializar a realidade do espaço que representa, por nele estar. O Gabriel, morador de 13 anos e um dos integrantes do eixo “comunicação comunitária” durante o SeNEMAU, foi fotografado ao fotografar e virou lambe-lambe. Metalinguagem significativa, uma vez que

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Estudos da Pós-Graduação<br />

Lambe-lambes<br />

Figura 6 - Lambe-lambe. Fotos A e B – Lambes de fotos dos moradores da comunidade.<br />

Fonte: Anna Lúcia dos Santos Vieira e Silva.<br />

O lambe-lambe e o sticker possuem uma lógica de ação e elaboração<br />

de aplicação rápida, dependendo da dimensão do trabalho. A técnica<br />

é de colagem ou adesivagem, não é realizado com tinta. A matriz é<br />

a própria imagem, <strong>que</strong> está previamente impressa em papel sulfite fino,<br />

pintada ou desenhada, e a ação na rua é sua colagem integral ou recortada.<br />

O tamanho varia de acordo com a técnica usada. Os adesivos costumam<br />

ser pe<strong>que</strong>nos e as colagens podem ser de grandes dimensões. A<br />

cola é passada na parede, o papel é aplicado e outra camada de cola<br />

sobre o papel dá a fixação final.<br />

No mutirão, quando as coordenadoras do eixo “arte e resistência<br />

urbana” foram visitar o local, fotografaram imagens da própria comunidade<br />

para produzir os lambe-lambes. Na intervenção, dias depois, as imagens<br />

foram colocadas nas fachadas das casas, nos muros e portões. Alguns<br />

moradores pediram <strong>que</strong> os lambe-lambes <strong>que</strong> retrataram suas fachadas<br />

fossem colocados no mesmo lugar onde a foto foi captada. Dupla representação.<br />

O espaço – e a força de sua imagem – anima o sentido de identidade<br />

e de lugar, como um paradoxo <strong>que</strong> capacita a imagem a potencializar<br />

a realidade do espaço <strong>que</strong> representa, por nele estar.<br />

O Gabriel, morador de 13 anos e um dos integrantes do eixo “comunicação<br />

comunitária” durante o SeNEMAU, foi fotografado ao fotografar<br />

e virou lambe-lambe. Metalinguagem significativa, uma vez <strong>que</strong>

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