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Arte que inventa afetos - ebook

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Estudos da Pós-Graduação<br />

produzem, mapeiam e impõem; as táticas utilizam, manipulam e alteram.<br />

Em relação à cidade e ao uso <strong>que</strong> dela fazemos, essa mesma<br />

noção serve para refletir e descrever as práticas cotidianas, para o reconhecimento<br />

de uma produção de princípios <strong>que</strong> resulta dos processos de<br />

utilização e de apropriação dos espaços para torná-lo matéria-prima na<br />

elaboração de táticas.<br />

A comunidade Lauro Vieira Chaves<br />

Perpendicular à Avenida Expedicionários está a Rua Lauro Vieira<br />

Chaves, <strong>que</strong> delimita uma das arestas da comunidade e onde um único<br />

caminho, <strong>que</strong> permite a passagem de veículos pe<strong>que</strong>nos, indica sua entrada<br />

principal. A outra aresta limite é demarcada por um muro e uma<br />

área vasta e vazia, quase quintal do Aeroporto Internacional Pinto<br />

Martins. Uma trama de caminhos, esgoto a céu aberto, casas de um ou<br />

dois andares, empenas cegas, janelas, portas, muretas, cobogós, paredes<br />

coloridas e portões em ruelas muito estreitas. Sempre há crianças brincando,<br />

pessoas de passagem, bicicletas estacionadas, roupas em varais<br />

improvisados e alguém sentado à porta em alguma sombra. O cotidiano<br />

na comunidade assemelha-se ao de um tempo e espaço onde o crescimento<br />

das cidades ainda não havia engolido o sentido de vizinhança,<br />

convívio e uso comum do espaço público. Talvez por<strong>que</strong> tenha surgido<br />

há quarenta anos e se mantido discreta. Talvez por ter garantido, até<br />

então, o desinteresse especulativo a seu favor.<br />

Mais de trezentas famílias da Lauro Vieira Chaves sofreram recentemente<br />

ameaças de remoção devido à passagem de uma via de<br />

metrô no local, de acordo com o cronograma de obras previsto para a<br />

Copa do Mundo de 2014. Por ser um assentamento informal, os moradores<br />

não possuíam o direito de propriedade sobre o terreno, o <strong>que</strong> culminou<br />

em negociações de indenização com valores muito baixos para<br />

garantir-lhes o título de propriedade e, assim, a possibilidade de permanência<br />

no local original.<br />

Em meio a esse panorama a comunidade organizou-se, em 2012,<br />

e acionou a Defensoria Pública da União do Ceará, responsável por<br />

viabilizar processos de usucapião para os moradores. Para tanto, seria

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