20.08.2018 Views

Arte que inventa afetos - ebook

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

ARTE QUE INVENTA AFETOS 111<br />

vise transformar os jovens em sujeitos fragilizados <strong>que</strong> precisam ser<br />

protegidos, uma noção biopolítica no sentido de conduzir a vida alheia<br />

(FOUCAULT, 2008), pois isso justifica ações políticas <strong>que</strong> interferem<br />

diretamente no cotidiano deles, inclusive preestabelecendo o campo<br />

possível de sua ação política. Se isso acontece, o poder jovem se transforma<br />

apenas em uma força a ser conduzida, com uma identidade <strong>que</strong><br />

atenua toda a batalha <strong>que</strong> está em jogo na arena pública, quando a juventude<br />

se coloca como uma força <strong>que</strong> produz a liberdade no campo da<br />

política. Desse modo:<br />

Quando os indivíduos travam um permanente embate agonístico<br />

entre as forças do desejo e as potências da liberdade, têm como<br />

efeito a constituição de diferentes “modos de viver”. Essas modulações<br />

vitais resultantes do trabalho ético, na medida em <strong>que</strong><br />

não visam à constituição de uma identidade (de um ser), mas<br />

de um modo de ser (uma estilística da existência) são inapreensíveis<br />

pelo governo da individualização; elas possibilitam uma<br />

requalificação do desejo, do <strong>que</strong>rer e da atenção por parte das<br />

forças da liberdade (CANDIOTTO, 2010, p. 12).<br />

O poder jovem nas tramas da arena pública é o ethos crítico das<br />

práticas de governo direcionadas à juventude. A liberdade, nesse contexto,<br />

é uma força <strong>que</strong> atravessa as práticas sociais enquanto ação <strong>que</strong><br />

redefine as relações de poder, inserindo no mundo uma nova possibilidade<br />

de organizá-lo. Esse poder jovem, estrategicamente, <strong>que</strong>r sempre<br />

mudança, é sempre o novo enquanto modo de ser, recria-se ao negar as<br />

diversas identidades <strong>que</strong> lhe são propostas, tendo como forma a crise.<br />

Deste ponto de vista, podemos repensar a biopolítica não apenas como<br />

algo <strong>que</strong> neutralizaria os modos de ser dos sujeitos, mas como algo<br />

produtivo, como uma potência de vida, como algo em <strong>que</strong> “[...] a simbiose<br />

e a confusão entre os elementos vitais e econômicos, entre elementos<br />

institucionais e administrativos, a construção do público, só<br />

pode ser concebida como produção de subjetividade” (NEGRI, 2001, p.<br />

34). É preciso, portanto, pensar essa biopolítica como uma resposta e<br />

uma reapropriação das forças <strong>que</strong> se dirigem aos jovens. É em função<br />

disso <strong>que</strong> o poder jovem pode ser pensado como uma produção de singularidades,<br />

residindo aí o seu potencial revolucionário.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!