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Arte que inventa afetos - ebook

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Estudos da Pós-Graduação<br />

Michel Foucault, em um texto intitulado “O <strong>que</strong> são as luzes?”,<br />

ao analisar a Aufklarüng na perspectiva de Immanuel Kant, introduz<br />

uma noção belíssima <strong>que</strong>, além de ser uma noção metodológica para<br />

análises históricas, também se apresenta como um ethos, uma forma de<br />

constituição dos sujeitos a partir de uma prática de si, qual seja, a noção<br />

de ontologia crítica de nós mesmos, <strong>que</strong> deve ser considerada não<br />

[...] como uma teoria, uma doutrina, nem mesmo como um<br />

corpo permanente de saber <strong>que</strong> se acumula; é preciso concebê-la<br />

como uma atitude, um ethos, uma via filosófica em <strong>que</strong> a crítica<br />

do <strong>que</strong> somos é simultaneamente análise histórica dos limites<br />

<strong>que</strong> nos são colocados e prova de sua ultrapassagem possível<br />

(FOUCAULT, 2005, p. 351).<br />

É preciso, a partir deste ponto de vista, pensar <strong>que</strong> o poder jovem<br />

não é apenas um conjunto de estratégias e objetivos <strong>que</strong> prescrevem à<br />

juventude modos de ser e de se conduzir, mas <strong>que</strong> ele produz o espaço<br />

político – aqui entendido como o lugar da possibilidade de constituição<br />

de novas práticas sociais. Ele tensiona e reordena as relações de poder<br />

estabelecendo a possibilidade de novos sujeitos. Se o correlato jovem/<br />

estudante <strong>que</strong> configurava o poder jovem das décadas de 1960 e 1970<br />

sai de cena na década de 1980, abrindo a possibilidade para novas práticas<br />

sociais da juventude, sintonizando-se com outros movimentos sociais,<br />

então, podemos dizer <strong>que</strong> o poder jovem, atualmente, está disperso<br />

nas várias esferas da sociedade. Ele não é somente “capturado”<br />

pelas práticas de governo, mas é crítico a elas, é criativo, nega-se a<br />

jogar o seu jogo e cria outros. Ele tem voz, não é subsumido em dados<br />

estatísticos, nem vira um documento oficial ou um plano de ação.<br />

O desgoverno da individualidade juvenil <strong>que</strong> aconteceu na década<br />

de 1960 e 1970 no Brasil, negando o chavão <strong>que</strong> dizia <strong>que</strong> o papel<br />

dos jovens estudantes era apenas estudar (POERNER, 1979), estabeleceu<br />

formas de ação política <strong>que</strong> se materializaram tanto nos movimentos<br />

estudantis, quanto nos grupos armados. Criou-se um ethos rebelde<br />

com um conjunto de estratégias políticas e éticas, <strong>que</strong> se não<br />

transformaram o país, pelo menos tensionaram a organização política<br />

da época. Contudo, é preciso, atualmente, negar toda identidade <strong>que</strong>

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