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Arte que inventa afetos - ebook

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ARTE QUE INVENTA AFETOS 109<br />

algo negativo e pensarmos no seu aspecto positivo, enquanto possibilidade<br />

de mudanças dos rumos e estratégias de uma sociedade. Ela é um<br />

processo extremamente potente, é algo sempre em vias de ser.<br />

Por outro lado, a crise é uma relação de poder <strong>que</strong> emerge a partir<br />

de <strong>que</strong>stões existenciais e sociais. É uma tensão entre aquilo <strong>que</strong> é,<br />

aquilo <strong>que</strong> não é, o <strong>que</strong> não deve ser e o <strong>que</strong> deve ser, sendo um jogo de<br />

poder em <strong>que</strong> estratégias e objetivos conflitam, criando outros – esse é<br />

o seu aspecto positivo. Não devemos pensar <strong>que</strong> uma crise é apenas um<br />

obstáculo intransponível, devemos, sim, pensar nela como um processo<br />

complexo em <strong>que</strong> o presente e o passado se chocam e possibilitam o<br />

futuro: uma crise tem sempre uma dimensão criativa. É um processo de<br />

escolhas e, conse<strong>que</strong>ntemente, de mudanças do mundo. Valores entram<br />

em cho<strong>que</strong>, práticas sociais tornam-se insustentáveis e forças reorganizam-se,<br />

conse<strong>que</strong>ntemente, o mundo torna-se outro. O mais importante,<br />

todavia, é <strong>que</strong> esse processo culmina no momento em <strong>que</strong> algo é instituído,<br />

isto é, a partir das várias possibilidades, da tensão entre o “nada<br />

é possível” e o “tudo é possível”, algo é produzido.<br />

A noção de “crise” também tem outro significado, ela é<br />

[...] uma situação a respeito da qual uma determinada decisão<br />

tem de ser tomada; significa o rompimento com a lógica do passado<br />

e o equacionamento e interpretação precisos das condições<br />

do presente (SOUZA, 2003, p. 30).<br />

Podemos dizer, assim, <strong>que</strong> uma crise implica não somente uma<br />

tensão entre possibilidades, porém, uma posição crítica em <strong>que</strong> se pensa<br />

a situação em <strong>que</strong> se vive, <strong>que</strong>stionando os fundamentos de uma sociedade,<br />

as estratégias <strong>que</strong> regem as suas práticas políticas e sociais e os<br />

objetivos <strong>que</strong> ela almeja. Uma crise, na medida em <strong>que</strong> se abre para o<br />

<strong>que</strong>stionamento da atualidade, é sempre uma reflexão sobre o <strong>que</strong> nós<br />

somos e o <strong>que</strong> <strong>que</strong>remos para as nossas vidas. A crítica enquanto vivência<br />

na crise é sempre um “respirar fundo”, um “pôr-se a pensar”, um<br />

“reorganizar as forças” e uma produção daquilo <strong>que</strong> podemos <strong>que</strong>rer –<br />

essa é a crítica enquanto dimensão existencial, enquanto exercício de<br />

produção de si.

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