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Arte que inventa afetos - ebook

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Estudos da Pós-Graduação<br />

Se na modernidade a resistência obedecia a uma matriz dialética,<br />

de oposição direta das forças em jogo, com a disputa pelo<br />

poder concebido como centro de comando, com os protagonistas<br />

polarizados numa exterioridade recíproca mas complementar, o<br />

contexto pós-moderno suscita posicionamentos mais oblíquos,<br />

diagonais, híbridos, flutuantes. Criam-se outros traçados de<br />

conflitualidade, uma nova geometria da vizinhança ou do atrito.<br />

Talvez com isso a função da própria negatividade, na política e<br />

na cultura, precisa ser revista (PAL PELBART, 2003, p. 142).<br />

Nessa perspectiva, um modo de operar a resistência parece ser<br />

disposto nas práticas micropolíticas <strong>que</strong> usam e abusam de uma variação<br />

de conceitos – e os modos de operacionalizá-los –, dificultando,<br />

assim, qual<strong>que</strong>r forma de codificação pré-definida. São essas práticas<br />

<strong>que</strong> fazem emergir conexões um tanto inesperadas, produzindo uma<br />

forma de resistência e, ao mesmo tempo, promovendo a emergência<br />

de micropolíticas instituintes. Ações micropolíticas insurgem na perspectiva<br />

de desnaturalizar as práticas, atuando como política <strong>que</strong> se<br />

pode fazer em toda e qual<strong>que</strong>r esfera (pe<strong>que</strong>na, média ou grande) em<br />

<strong>que</strong> transcorra a vida humana, a ação política dos coletivos e movimentos<br />

singulares.<br />

Pensar a arte contemporânea, em especial a arte urbana, é pensar<br />

em um fazer artístico mais capaz, nos dias atuais, de provocar e produzir<br />

transformações subjetivas ou de <strong>inventa</strong>r vetores de existencialização<br />

num mundo marcado pela desterritorialização, pela desertificação<br />

e pelo empobrecimento tanto dos territórios geográficos como dos existenciais.<br />

E, ao considerar a ruptura com a representação, no plano das<br />

artes, talvez possamos construir novos caminhos para habitar e circular<br />

em nossas cidades como artistas <strong>que</strong>, para Maturana (2001, p. 195),<br />

“são poetas da vida cotidiana”.<br />

Nós humanos, vivemos experiências estéticas em todos os domínios<br />

relacionais nos quais lidamos. É devido ao fundamento biológico<br />

da experiência estética, bem como ao fato de <strong>que</strong> tudo o <strong>que</strong> vivemos<br />

como seres humanos pertence à nossa existência relacional,<br />

<strong>que</strong> a arte se entrelaça em nossa existência social e nosso presente<br />

tecnológico em qual<strong>que</strong>r época (MATURANA, 2001, p. 195).

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