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Arte que inventa afetos - ebook

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Estudos da Pós-Graduação<br />

tido, caberia sabermos quais são os jogos de poder <strong>que</strong> podem ser percebidos<br />

nessas práticas voltadas aos jovens <strong>que</strong> objetivam governá-los.<br />

Foracchi (1972) e Poerner (1979), nos deram um exemplo de olhar<br />

sobre a juventude estudantil sem aprisioná-la no jogo do jovem versus<br />

adulto. Diferentemente, eles mostraram <strong>que</strong> analisar a problemática da<br />

juventude a partir desse olhar, é desconsiderar uma mudança importantíssima<br />

<strong>que</strong> estava acontecendo na sociedade. Falando em poder jovem,<br />

eles perceberam <strong>que</strong> uma força resistia na<strong>que</strong>le período, produzindo-se<br />

como uma crise social, restabelecendo outras relações de poder em conflito<br />

com a sociedade.<br />

O poder jovem e o ethos crítico: da crise ao possível<br />

No início deste texto, falamos em um poder jovem referenciado<br />

por Poerner (1979) enquanto um horizonte possível nas práticas sociais.<br />

Ele atuaria como uma negação do instituído politicamente, colocando-se<br />

como uma força <strong>que</strong> explicitaria uma crise social. Esse poder, não<br />

obstante isso, carregava consigo uma espécie de senso de justiça, pois<br />

ele “desmascarava” o sistema e se apresentava como uma verdade política.<br />

Já Foracchi (1972, 1982), ao falar de uma força da juventude,<br />

também, assim como Poerner (1979), apresentou-a como um poder de<br />

explicitação de uma crise política <strong>que</strong> instituía uma incerteza e uma<br />

possibilidade sem saber qual seja: uma ruptura e uma possibilidade de<br />

instituir o novo no cenário político. A potência dessa força, então, está<br />

naquilo <strong>que</strong> ela pode criar.<br />

A palavra “crise” tem um significado pejorativo está sempre ligado<br />

a algo ruim, decadente, sendo algo <strong>que</strong> deve ser descartado categoricamente.<br />

No entanto, temos <strong>que</strong> encará-la como “[...] uma das vivências<br />

mais originais do ser humano, senão a mais original” (SOUZA,<br />

2003, p. 29). Ora, ela é original por<strong>que</strong> os homens, ao viver em sociedade,<br />

lidam com situações em <strong>que</strong> romper com a tradição, com o passado,<br />

se faz necessário para a constituição do futuro. Assim, ela é um<br />

processo complexo <strong>que</strong> agrega tanto um conjunto de escolhas, quanto a<br />

análise da situação presente em vistas de instituir um novo tipo de prática<br />

social. Devemos fugir da tentação de analisarmos uma crise como

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