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Arte que inventa afetos - ebook

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ARTE QUE INVENTA AFETOS 107<br />

cendo sua força, recria, na imaginação e na utopia, a práxis de um<br />

mundo <strong>que</strong> apenas se esboça” (FORACCHI, 1972, p. 163). Embora<br />

esse poder jovem seja a<strong>que</strong>le <strong>que</strong> emerge com uma juventude ligada à<br />

noção de estudante, temos <strong>que</strong> levar em consideração <strong>que</strong> ele aparece,<br />

também, assim como vimos em Poerner (1979), como uma força <strong>que</strong><br />

institui um campo de possibilidades. Enquanto negação, ele é a redisposição<br />

das relações de poder na trama social, fazendo com <strong>que</strong> se pense<br />

de forma diferente os rumos da sociedade – mesmo sem saber quais<br />

são. Não há uma certeza de onde se <strong>que</strong>r chegar, essa força é apenas um<br />

esboço, uma tensão entre aquilo <strong>que</strong> <strong>que</strong>r permanecer como está, e<br />

aquilo <strong>que</strong> <strong>que</strong>r transformar isso <strong>que</strong> está.<br />

O fato é <strong>que</strong> os dois autores percebem um outro jogo de poder <strong>que</strong><br />

não a<strong>que</strong>le dos velhos contra os novos, dos adultos contra os jovens.<br />

Eles analisam a problemática do poder jovem a partir da reorganização<br />

do espaço público. O <strong>que</strong> atravessa os jovens é uma força de negação do<br />

mundo constituído enquanto tal, todavia, essa negação deve ser entendida<br />

como uma resistência, <strong>que</strong>, ao assim ser, redefinem outras formas<br />

de organização da sociedade. O <strong>que</strong> os referidos pesquisadores fazem é<br />

aquilo <strong>que</strong> Foucault (2006b) propõe como uma filosofia analítica do<br />

poder, <strong>que</strong> é perceber os jogos <strong>que</strong> estão postos nas relações de poder.<br />

Com isso, Foracchi (1972) e Poerner (1979), ao falar de um poder jovem,<br />

não <strong>que</strong>rem refletir sobre os jogos de poder de um suposto conflito de<br />

gerações, <strong>que</strong> veem na juventude um período de rebeldia e imaturidade<br />

<strong>que</strong> passa ao chegar a idade adulta. De outro modo, eles percebem outro<br />

jogo, em <strong>que</strong> os jovens resistem a um mundo estruturado no controle das<br />

condutas, nas práticas coercitivas e na injustiça social. O poder jovem,<br />

assim, se transforma em força política, visto, em função de seu modo de<br />

operar, reorganizar as relações de poder da sociedade.<br />

Podemos concluir, por ora, <strong>que</strong> as relações de poder, sendo analisadas<br />

em termos de jogos, e, conse<strong>que</strong>ntemente, do ponto de vista das<br />

estratégias, relacionam-se com os saberes mútuos dos sujeitos uns sobre<br />

os outros. Os jogos de poder são correlações estabelecidas tendo em<br />

vista aquilo <strong>que</strong> cada um <strong>que</strong>r e pensa sobre o outro e, do ponto de vista<br />

analítico, estabelecem dicotomias <strong>que</strong> objetivam e cristalizam as relações<br />

de poder, fazendo emergir sujeitos bem delimitados. Nesse sen-

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