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Arte que inventa afetos - ebook

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ARTE QUE INVENTA AFETOS 105<br />

Ora, a liberdade não é algo <strong>que</strong> pode ser conquistado, tampouco<br />

dado como recompensa por uma pessoa ou instituição. Ela é, ao contrário,<br />

uma prática de autoprodução dos sujeitos na relação <strong>que</strong> eles<br />

estabelecem consigo e com os outros. No contexto das políticas públicas,<br />

os planos, os documentos, as prescrições são sempre passíveis<br />

de reversão, de subversão, de alteração, de negação. A partir das relações<br />

de poder, da tensão entre forças <strong>que</strong> tentam conduzir umas às<br />

outras, há sempre a possibilidade de os sujeitos se constituírem, de<br />

criarem os seus próprios valores. Todo o jogo político, o jogo de<br />

forças <strong>que</strong> operam na tensão entre práticas de governo e a ética, é<br />

sempre uma possibilidade de produção de novos modos de organização<br />

e de subjetivação.<br />

Nesse sentido, se pensarmos nos dois filósofos <strong>que</strong> vimos, o espaço<br />

da política está na esfera pública, enquanto espaço do comum, o<br />

lugar em <strong>que</strong> os sujeitos podem produzir o seu modo de vida enquanto<br />

sujeitos livres. Nesse espaço não há dominação, alienação, ou qual<strong>que</strong>r<br />

coisa <strong>que</strong> remeta a sujeitos sendo manipulados por outros. Eles são<br />

iguais no sentido em <strong>que</strong> podem reconfigurar as forças sociais, estabelecendo,<br />

através da ação, novos modos de ser e de se organizar. Nesse<br />

lugar em <strong>que</strong> a possibilidade de produção do <strong>que</strong> antes não existia, as<br />

relações de poder evidenciam <strong>que</strong> todos são livres e podem criar para si<br />

o seu espaço público, o seu espaço político. Pensar desta forma é requalificar<br />

esse espaço enquanto um lugar das possibilidades, do <strong>que</strong> está<br />

inacabado, em <strong>que</strong> as relações sociais, com suas forças e estratégias,<br />

podem continuar sendo o <strong>que</strong> são, ou não. Na Política, da maneira como<br />

pensamos aqui, o poder é positivo, ele cria práticas e produz sujeitos – e<br />

é nisso <strong>que</strong> reside a potente arte da esfera pública.<br />

O poder jovem e os jogos de poder<br />

Apesar de Poerner (1979), ao falar de um poder jovem, estar se<br />

referindo à juventude ligada ao movimento estudantil, mais especificamente<br />

à UNE (União Nacional dos Estudantes), pagando uma espécie<br />

de tributo às lutas históricas desse movimento, precisamos compreender<br />

<strong>que</strong> ele não deixa de se referir aos jogos de poder <strong>que</strong> estão im-

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