20.08.2018 Views

Arte que inventa afetos - ebook

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

104<br />

Estudos da Pós-Graduação<br />

nas práticas políticas do passado. Se a ação política dos homens é a<strong>que</strong>la<br />

<strong>que</strong> produz a liberdade, <strong>que</strong> tipo de exercícios éticos os homens deveriam<br />

fazer para se tornarem capazes de exercer essa ação de produzir o<br />

novo? Haveria uma relação direta entre liberdade e ética?<br />

A noção de liberdade de Michel Foucault, assim como a de<br />

Hannah Arendt, é extremamente singular. O filósofo francês busca fugir<br />

da noção de liberdade <strong>que</strong> se funda em uma espécie de natureza humana<br />

<strong>que</strong> “[...] após um certo número de processos históricos, econômicos e<br />

sociais, foi mascarada, alienada ou aprisionada em mecanismos, e por<br />

mecanismos de repressão” (FOUCAULT, 2006a, p. 265). Isso significa<br />

<strong>que</strong> a liberdade não é uma potência humana <strong>que</strong> pode ter sido ocultada<br />

por forças dominantes <strong>que</strong> não permitiram ao homem ser aquilo <strong>que</strong> ele<br />

é, como se essas forças tivessem roubado a sua própria essência. Ao<br />

contrário, assim como o poder, a liberdade não é uma propriedade, ela<br />

é um exercício <strong>que</strong> se estabelece na trama das relações sociais. A liberdade,<br />

portanto, não é aquilo <strong>que</strong> pode ser recuperado a partir de um<br />

processo de conscientização dos sujeitos, como se ao saberem <strong>que</strong> são<br />

oprimidos tivessem a sua essência, antes alienada, devolvida; mas<br />

aquilo <strong>que</strong> pode ser produzido na relação <strong>que</strong> estabelecemos com as<br />

outras pessoas e naquilo <strong>que</strong> produzimos em nós mesmos.<br />

O filósofo define “ética” como uma prática refletida da liberdade<br />

(FOUCAULT, 2006a), visto <strong>que</strong> é através dela <strong>que</strong> os sujeitos produzem-se<br />

a si mesmos. A liberdade é, também, a possibilidade de produção<br />

de modos de vida a partir das tramas das relações sociais. No<br />

entanto, é preciso levar em consideração <strong>que</strong> a liberdade é uma condição<br />

necessária das relações de poder: sem liberdade não há poder.<br />

Elas só se produzem pelo fato de os homens serem livres. Onde não<br />

haja liberdade, em situações em <strong>que</strong> sujeitos se tornam objeto – sem<br />

nenhuma possibilidade de reação – não há relações de poder. Ela se<br />

define pela constituição de um sujeito tornando-se aquilo <strong>que</strong> ele é, na<br />

relação <strong>que</strong> ele estabelece com a sua prática social. Logo, dizer <strong>que</strong> só<br />

há liberdade onde há relações de poder é dizer <strong>que</strong> qual<strong>que</strong>r prática de<br />

governo, no sentido foucaultiano, como o esforço de conduzir a conduta<br />

dos outros e de si mesmo, é reversível e instável (FOUCAULT,<br />

2006a), pois há sempre a possibilidade de virar o jogo, de resistir.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!