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Arte que inventa afetos - ebook

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ARTE QUE INVENTA AFETOS 103<br />

(ARENDT, 1988, p. 199). A liberdade não é algo <strong>que</strong> alguém possui,<br />

porém, algo <strong>que</strong> operaria numa teia de atos e palavras, seria uma prática,<br />

um exercício, fruto das relações sociais e da capacidade de produzir<br />

algo novo, ou seja, o simples fato de <strong>que</strong> é possível fazer existir<br />

algo <strong>que</strong> nunca existiu, não prova <strong>que</strong> temos um dom, mas <strong>que</strong> as ações<br />

humanas são potentes por serem imprevisíveis.<br />

Ao trazermos um pouco da filosofia política de Hannah Arendt,<br />

mais especificamente a sua noção de liberdade para a nossa pesquisa,<br />

acreditamos <strong>que</strong> não devemos pensar em caracterizar a metodologia ou<br />

as estratégias de uma política pública de juventude, por exemplo, como<br />

libertárias ou não, como se elas, propriamente, tornassem os jovens livres.<br />

A liberdade não pode ser dada, pois não é uma coisa pertencente a<br />

alguém. As instituições não são garantias de <strong>que</strong> podemos ser livres,<br />

elas apenas instituem formas de ação <strong>que</strong> asseguram <strong>que</strong>, no interior da<br />

nossa vida privada, podemos fazer o <strong>que</strong> <strong>que</strong>remos – a liberdade se<br />

transformou em garantia de direitos individuais.<br />

A <strong>que</strong>stão é buscar o espaço da política, o espaço em <strong>que</strong> os homens<br />

produzem ações <strong>que</strong> transformam a sua própria realidade. A liberdade,<br />

assim, seria um produto dos atos dos homens na esfera pública. O<br />

poder seria aquilo <strong>que</strong> atravessaria esses atos nas relações <strong>que</strong> os homens<br />

estabelecem entre si. No entanto, <strong>que</strong>m são essas pessoas <strong>que</strong> ingressam<br />

na vida política com o intuito de produzir seus feitos e a sua<br />

própria realidade social? Será <strong>que</strong> poderíamos pensar na liberdade a<br />

partir dos próprios sujeitos, não como um dom <strong>que</strong> eles possuem, mas<br />

como uma relação <strong>que</strong> eles estabelecem com eles mesmos? Para produzir<br />

grandes feitos, não precisariam os homens produzirem-se enquanto<br />

artífices da liberdade? Dissemos <strong>que</strong> a liberdade é um fenômeno<br />

do espaço público, uma prática <strong>que</strong> se exerce na medida em <strong>que</strong> se faz<br />

agir politicamente, porém, não falamos dos sujeitos <strong>que</strong> podem produzir<br />

a liberdade.<br />

O espaço público grego, nas devidas proporções, é um ponto fundamental<br />

para repensarmos a liberdade atualmente. A própria Hannah<br />

Arendt ao trazer essa discussão, <strong>que</strong>ria refletir sobre o <strong>que</strong> os homens<br />

estão fazendo e produzindo a partir do mundo contemporâneo. Desse<br />

modo, é importante ressaltar <strong>que</strong> ela pensava o presente com os olhos

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