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Arte que inventa afetos - ebook

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Estudos da Pós-Graduação<br />

político em favor do espaço privado. Um exemplo importante é a<br />

noção de liberdade cristã, <strong>que</strong> tem como origem a “[...] desconfiança e<br />

hostilidade <strong>que</strong> os cristãos primitivos tinham contra a esfera política<br />

enquanto tal, e de cujos encargos reclamavam isenção para serem livres”<br />

(ARENDT, 1988, p. 197). Assim, a liberdade, <strong>que</strong> era um fenômeno<br />

do espaço político, isto é, da ação e do discurso (entendido aqui<br />

como o ato de produzir o diálogo entre os homens), de pessoas <strong>que</strong><br />

estavam liberadas da vida privada, se tornou uma espécie de reforço da<br />

vida pessoal, de forma <strong>que</strong> quanto maior a esfera da política, menor a<br />

da liberdade. Na modernidade, portanto, ambas se tornam separadas e<br />

inversamente proporcionais.<br />

Hannah Arendt <strong>que</strong>r nos mostrar <strong>que</strong> a liberdade só se dá no<br />

espaço público, no entre-homens, <strong>que</strong> agem como sujeitos livres. Ela<br />

não é mera escolha entre duas ou mais coisas dadas, mas sim “[...]<br />

chamar à existência o <strong>que</strong> antes não existia, o <strong>que</strong> não foi dado nem<br />

mesmo como objeto de cognição ou de imaginação e <strong>que</strong> não poderia<br />

portanto, estritamente falando, ser conhecido” (ARENDT, 1988, p.<br />

198). Entretanto, para nós, filhos da modernidade, essa definição parece<br />

incompreensível, visto dizer literalmente <strong>que</strong> liberdade não é escolha,<br />

mas produção, capacidade de iniciar algo novo. Ora, o conceito<br />

de liberdade da filósofa está diretamente ligado à noção de ação, <strong>que</strong> é<br />

um dos pontos mais originais da sua filosofia, ao articular a possibilidade<br />

de começar algo novo à <strong>que</strong>stão da natalidade, nesse sentido, o<br />

nascimento de um ser humano significa a inserção no mundo de uma<br />

possibilidade efetiva de um novo começo (ARENDT, 2007). A natalidade<br />

é a prova de <strong>que</strong> cada homem é singular e capaz de produzir a<br />

novidade, intervir no curso das coisas e construir o espaço político<br />

enquanto espaço dos homens.<br />

Se há uma condição humana – não confundir com natureza humana<br />

–, essa é a capacidade de agir e, por conseguinte, de produzir, de<br />

criar. Como a capacidade de agir é um elemento essencial da condição<br />

humana, os homens só são o <strong>que</strong> são quando ligados a uma trama social.<br />

A liberdade só é possível no espaço público: “os homens são livres<br />

– diferentemente de possuírem o dom da liberdade – enquanto agem,<br />

nem antes, nem depois; pois ser livre e agir são uma mesma coisa”

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