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Arte que inventa afetos - ebook

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ARTE QUE INVENTA AFETOS 101<br />

(FORACCHI, 1972, p. 39). O poder jovem, a partir desse ponto de<br />

vista, escaparia das políticas públicas, <strong>que</strong> são estabelecidas a partir de<br />

estudos populacionais <strong>que</strong> pretendem resolver um problema dado e<br />

prever a possibilidade de <strong>que</strong> ele não aconteça novamente. Como essas<br />

pesquisas são feitas a partir daquilo <strong>que</strong> é dado – os efeitos em um<br />

corpo populacional –, a imprevisibilidade desse poder acaba por torná-lo<br />

incontrolável. É preciso ressaltar, mais uma vez, <strong>que</strong> esse poder<br />

não é algo <strong>que</strong> os jovens possuem, mas <strong>que</strong>, na medida em <strong>que</strong> tensionam<br />

as práticas sociais, participam dele e o reelaboram. O <strong>que</strong> está<br />

em jogo não é apenas os modos como a juventude veio a se formar enquanto<br />

objeto de políticas públicas cujo princípio seria torná-la um<br />

agente político, prescrevendo maneiras como deveriam ser as ações dos<br />

jovens no cenário social. Mas sim, como esse poder jovem poderia se<br />

transformar em uma prática de liberdade: explicitando uma crise e instituindo<br />

outros modos de ser. Contudo, entendê-lo dessa forma, passa<br />

por uma reflexão sobre o <strong>que</strong> entendemos por política.<br />

Qual é o espaço da política e da liberdade?<br />

A liberdade não pode ser confundida com o livre-arbítrio, ela não<br />

é a expressão de uma vontade pessoal, ligada a um sujeito <strong>que</strong> pode<br />

escolher entre fazer ou não fazer algo. Segundo a filósofa alemã Hannah<br />

Arendt, relacionando antiguidade e modernidade,<br />

antes <strong>que</strong> se tornasse um atributo do pensamento ou uma qualidade<br />

da vontade, a liberdade era entendida como o estado do<br />

homem livre, <strong>que</strong> o capacitava a se mover, a se afastar de casa, a<br />

sair para o mundo e a se encontrar com outras pessoas em palavras<br />

e ações (ARENDT, 1988, p. 194).<br />

Nesse sentido, a liberdade não seria um estado de consciência,<br />

atributo de um homem <strong>que</strong> se isola do mundo e do espaço político,<br />

sendo livre na medida em <strong>que</strong> se livra dele. Ao contrário, a filósofa vai<br />

mostrar <strong>que</strong> a cisão entre liberdade e política, operada significativamente<br />

na modernidade, sendo fruto de teorias <strong>que</strong> negavam o espaço

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