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Arte que inventa afetos - ebook

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Estudos da Pós-Graduação<br />

vação, ou seja, produzem-se sujeitos, modos de ser jovem e tipos de<br />

juventude. Nesse sentido, quando falamos em poder jovem, estamos em<br />

sintonia com o <strong>que</strong> Michel Foucault chamou de poder, porém, de forma<br />

mais específica. Ora, se poder para o filósofo “[...] é o nome dado a uma<br />

situação estratégica complexa numa sociedade determinada”<br />

(FOUCAULT, 1988, p. 103), então podemos dizer <strong>que</strong> o poder jovem é<br />

um nome dado a uma situação em <strong>que</strong> há relações de forças, estabelecidas<br />

ou cristalizadas em instituições <strong>que</strong> trabalham com jovens e nos<br />

discursos relacionados à juventude.<br />

Sabemos <strong>que</strong> Poerner (1979) não cunhou o termo “poder jovem”<br />

por influência da noção de poder de Michel Foucault. Também não é<br />

nosso objetivo forçar essa aproximação. A explicação para o uso desse<br />

termo neste trabalho é simples: em primeiro lugar, o poder jovem é<br />

apenas um nome <strong>que</strong> estamos dando a um tipo de relação em <strong>que</strong> modos<br />

de subjetivação são produzidos a partir de práticas e discursos específicos.<br />

Em segundo lugar, ao utilizarmos esse termo, levamos em consideração<br />

<strong>que</strong> o autor de O poder jovem – história da participação política<br />

dos estudantes brasileiros elaborou uma noção de extrema valia<br />

<strong>que</strong>, embora situada em um contexto diferente da nossa pesquisa, pode<br />

ser potencializada, revisitada e recriada.<br />

No interior das práticas sociais, por outro lado, o poder jovem<br />

pode caracterizar-se como um conjunto de prescrições <strong>que</strong> operam normativamente<br />

sobre a conduta dos jovens no interior de uma política pública,<br />

o conjunto de modos de ser jovem presente nos discursos da mídia<br />

em geral, na pedagogia com vistas à cidadania, proposta aos jovens tanto<br />

na escola, quanto nos movimentos sociais etc. No entanto, esse poder<br />

não pode ser visto apenas como algo prescritivo e performativo. Ele<br />

também pode ser produção de singularidades <strong>que</strong> constituem outros<br />

modos de subjetivação, operando como uma espécie de resistência, ao<br />

dispor de outras formas as relações de forças, estabelecendo-se enquanto<br />

crise e produzindo outras possibilidades de práticas sociais.<br />

Essa intuição estava na definição de Marialice Foracchi ao dizer<br />

<strong>que</strong> os jovens “constituem o ponto de inflexão da transição para o desconhecido,<br />

vale dizer, o não passível de previsão pelos recursos sociais<br />

e intelectuais elaborados pela ciência, pela política, pela administração”

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