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O Coracao Nao Nega

Livro de poesias.

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O CORAÇÃO NÃO NEGA<br />

VITOR CORLEONE MOREIRA DA SILVA<br />

1


2


O CORAÇÃO NÃO NEGA<br />

“Vida passa, os dias se consomem...<br />

Devemos viver cada instante,<br />

Como se fosse o único instante!<br />

O sabor da vida é maravilhoso,<br />

Porém é preciso que se saiba saborear.”<br />

Vitor Corleone Moreira da Silva<br />

3


Introdução<br />

“O desejo de viver orienta as decisões e a conduta do homem, e nesse<br />

contexto a sociedade se torna o epicentro de uma disputa muitas vezes mais<br />

aguerrida e violenta que a própria guerra: o reconhecimento dos direitos e a luta por<br />

sua aceitação.<br />

Cada indivíduo possui um coração, e os rumos que o indivíduo segue, a<br />

proporção das batidas do órgão, os mitos e as verdades, as crenças e sonhos, só ao<br />

próprio dono do coração pertencem. O juízo que o ser humano faz das coisas é<br />

subjetivo, intocável, personalíssimo. É um ambiente intocável pela ação das leis,<br />

código de conduta social ou ética. Nada atinge a subjetividade do coração humano.<br />

A vida corre conforme um rio desgovernado na direção do oceano, que é a<br />

morte, sendo esta a sua direção única, e o ser humano possui a capacidade de criar<br />

as correntes que compõem tal rio, as curvas, a velocidade e ferocidade do<br />

movimento das águas.<br />

O coração do homem irrecusavelmente dita as regras da aceitação ou<br />

reprovação de todos os esteios componentes da existência individual ou coletiva, e<br />

bate tal qual o compasso de um bumbo, retumbante e cadenciado no coração de<br />

uma bateria.<br />

O mundo possui bilhões de bumbos, cadenciados ou não, fazendo barulho<br />

dentro do corpo de cada elemento, resultantes da explosão universal que a tudo<br />

criou. Poeira de estrelas, resultados mortais da maravilha da criação.<br />

O coração é subjetivo, não regrado, informal, impreciso. Relaciona-se ao<br />

meio porém não o domina, e depende do seu dono se deixar dominar por ele.<br />

Pertence ao seu dono produzir os seus juízos de valor. É o guerreiro que manipula a<br />

vida, e não se dispõe a ser compreendido.<br />

Quem o quiser julgar por seus atos ou batidas, conceitue a expressão<br />

“enleva” e esteja certo de que ao centro de um vulcão que desperta, o coração é<br />

como a chama ardente que se destaca e primeiramente pulsa em direção ao céu<br />

enaltecendo seu vigor, rebeldia ou coragem.”<br />

Belo Horizonte, 20 de Dezembro de 2002<br />

Vitor Corleone Moreira da Silva<br />

4


O coração não nega<br />

O coração não nega<br />

Quando a dor da saudade incomoda e aperta meu peito<br />

Ou a felicidade transborda pelos olhos<br />

Nos momentos mais difíceis, mais sofridos<br />

Onde falta o arroz e a cachaça na mesa dos brasileiros<br />

Para aliviar a fome e a sede orações ao alto<br />

O coração não nega<br />

Quando as lástimas, perseguições sociais<br />

Afugentam do bolso o dinheiro e dos olhos a coragem<br />

E sobra somente uma guimba de cigarro entre os lábios<br />

O time enche os estádio e perde no final do jogo<br />

E os jornais só comentam morte e destruição<br />

Na rotina imutável da cidade grande<br />

O coração não nega<br />

Quando vou descansar na roça, no meio da noite o cheiro de lenha<br />

Vendo as estrelas e tomando cerveja deitado na rede<br />

Às vezes ele bate forte e às vezes para de bater<br />

Bate forte o coração ao cantar a saudade<br />

Ou pela quietude do campo se assemelha às rochas<br />

O seu refúgio é a poesia<br />

E o hino pátrio da minha vida<br />

O coração não nega e eu acredito que tudo pode melhorar<br />

Sou um feliz expressador<br />

Das minhas idéias guardadas, mistificadas, obscuras, reprimidas<br />

Porque tenho uma poesia<br />

Para cada drible do Garrincha<br />

Assim como o Garrincha tem um drible<br />

Para cada gol do Pelé<br />

05/02/2002<br />

5


A perfeição das lágrimas<br />

As lágrimas são perfeitas!<br />

Quando caem dos olhos<br />

Levam junto sonhos que são perfeitos.<br />

Sonhos jamais serão como a realidade.<br />

Nele devotamos as querências,<br />

Nele praticamos as carências<br />

Dos olhos, da alma e do coração.<br />

São lágrimas de mãe<br />

Coração sem limites.<br />

Lágrimas de namorados:<br />

Saudosas, com raiva ou angústia.<br />

Lágrimas de feridas na carne:<br />

No braço, na perna e na honra.<br />

Mas há lágrimas de alegria!<br />

As lágrimas são perfeitas<br />

Como as pérolas nos moluscos<br />

Ou como a lua, o sol ou o vento.<br />

As lágrimas são perfeitas<br />

Desde o seu nascimento<br />

Até o momento de sua morte:<br />

Enxugando-se no rosto<br />

27/11/2002<br />

6


A caneta<br />

Eu passava dias inteiros escrevendo versos<br />

E tinha minha fiel companheira entre os dedos<br />

Até que um dia se acabou num último esforço<br />

O seu líquido vital que proporcionava realização<br />

Então eu disse pra minha caneta<br />

Você já deu o que tinha que dar minha amiga<br />

E mesmo que não nos encontremos mais<br />

Obrigado por tudo<br />

18/11/2002<br />

7


Espera<br />

Momentos de angústia e espera<br />

Com o músculo quase sem fôlego<br />

No arfar esperançoso<br />

Com a coragem doada pelos amigos<br />

Pelos familiares e médicos<br />

À espera de um coração<br />

Que me dê a vida<br />

A fila é interminável<br />

Sorteia-se quem irá viver com um número<br />

Pessoas comuns, na mesma espera<br />

Onde o maior tesouro da existência<br />

É um pedaço de carne saudável<br />

Que a terra come<br />

Quando não há solidariedade<br />

Os vermes se fartam da boa carne<br />

E o despedaçam com seus dentes afiados, destrincham<br />

Enquanto eu já não quero comer<br />

Ansiedade<br />

Angústia<br />

Espera<br />

Por um coração querendo bater<br />

Os dias se passam<br />

A quantidade de remédios aumenta<br />

A vida vai escoando<br />

O silêncio é notável nesse quarto<br />

A dor sentida era pra ser gritada em desespero<br />

Mas não há como gritar, não há fôlego<br />

Não há coração<br />

09/06/2002<br />

8


O bom palhaço<br />

Lá vem o bom palhaço<br />

Cansado, carente, sozinho<br />

Proporciona sorriso<br />

Mas por dentro a alma chora<br />

Chora a alma do palhaço<br />

Que faz as crianças contentes<br />

Que serve aos outros<br />

Queria o bom palhaço<br />

Não se sentir tão sozinho<br />

Encontrar um cão de rua<br />

Pra ser sua companhia<br />

Nessa noite escura<br />

No silêncio da rua<br />

Por onde vem o palhaço<br />

As pessoas não querem sorrir<br />

Ninguém nota o artista<br />

Que se cansa de ensaiar<br />

Na beirada de sua cama<br />

Uma palhaçada engraçada<br />

Uma idiotice<br />

Pra mostrar aos outros<br />

Fica triste o bom palhaço<br />

Sem ter alegria pra si<br />

E que tenta fazer sorrir<br />

Numa atitude nobre<br />

Procurando felicidade<br />

Em cada rosto calejado<br />

Nesses dias de incerteza<br />

E desespero<br />

Carente querendo um amigo<br />

Doente de ser tão sozinho<br />

Caminhando pela rua<br />

Escura, calada e deserta<br />

Com o coração na mão<br />

Na outra uma língua-de-sogra<br />

Lá vem o bom palhaço<br />

10/10/2002<br />

9


Recordação<br />

Quando o cheiro de alguém fica no quarto<br />

Ou no espelho a marca de uma digital<br />

Nos perguntamos porquê acabou<br />

Por que a chama foi se apagar<br />

Só restando o batom manchando o lençol<br />

No quarto perfumado que nunca mais perde o cheiro<br />

Um fio de cabelo já grisalho pela ação do tempo<br />

Que tanta história ressuscita no coração<br />

Canta as notas da saudade no som triste<br />

Som do adeus<br />

Viver na solidão é inevitável<br />

A ansiedade não é defeito nem fraqueza<br />

Ruim é não se emocionar<br />

E a voz? Brisa do mar – lembranças<br />

Saudade dos gemidos e sussurros<br />

Voz do coração pede a volta<br />

Sensatez se vê perdida na sentimentalidade<br />

Cada hora que se passa leva<br />

Um pedaço da esperança desse<br />

Que ainda resiste somente por pirraça<br />

E toda noite procura lá no meio das estrelas<br />

No meio das luzes a imagem daquela<br />

A alma cobrindo-se com a luz da lua<br />

O corpo pedindo pra que voltem os abraços<br />

A saudade acreditando que a pessoa ouve as súplicas<br />

Mas é só o cheiro que ficou no quarto<br />

Não há mais o amor<br />

16/05/2002<br />

10


Mistura<br />

Momentos de volúpia<br />

O desejo que se manifesta e se torna opção<br />

Que contraria o desprezo<br />

E constrói o amor e a realização<br />

O homem e o homem<br />

A mulher e a mulher<br />

O coração bate pra onde vão os ventos<br />

O amor escolhe os rumos e se manifesta<br />

Por dentro é o mesmo sangue humano que corre<br />

Os ideais de vitória e felicidade, solidão e vontade de viver<br />

O universo que se modifica e se mistura<br />

Os direitos e as direções<br />

Os espaço reprimido na sociedade<br />

A vontade de vencer<br />

Desejos pequenos, vaidosos, sedosos<br />

Delicados, perfeitos na simplicidade<br />

Mas a vontade aguerrida<br />

Que minoritária eleva o tom de voz<br />

O amor e o medo<br />

Coragem em tons coloridos<br />

Sorrisos e lágrimas manchando a maquiagem<br />

Viver e estar para a vida<br />

Como a semente está para a existência<br />

Momentos que se misturam<br />

Fissuras, prazeres, delícias<br />

Opções naturais não compreendidas<br />

Regência das escolhas<br />

Do homem e do homem<br />

11/10/2002<br />

11


O choro da alma<br />

Vida, o que possuo se o meu sentimento é triste?<br />

A angústia sufoca os risos que guardei pra hoje<br />

Os mistérios da insegurança me tiram a vontade de sonhar<br />

O que será do amanhã se o hoje é sombrio?<br />

O vazio provoca ecos em um coração que era preenchido<br />

A alma em suas lamentações jorra lágrimas ao mundo<br />

Um oceano de dor afoga minhas lembranças<br />

O horizonte é gelado e cinzento<br />

A pele já não tem vida e se murcha, convalescente<br />

Os olhos ainda brilham por uma tola esperança<br />

Resistir com honra é o único consolo de quem ama<br />

Porém toda honra seria em vão se ela voltasse<br />

A razão escoaria pelos poros da pele mais rápido que o suor<br />

E o choro daria lugar à inevitável reconciliação<br />

Desejos, resquícios de um amor que não morreu<br />

A razão sabe que ela nem se preocupa e não entende<br />

Que um coração não bate em vão por ela – é por amar<br />

Não faz idéia da dor que estou passando, do vazio, da angústia<br />

Das lágrimas derramadas por uma pobre alma<br />

Que aprendeu a construir a sua felicidade<br />

Unicamente pela existência dela<br />

As horas se passam e o tempo me diz que acabou<br />

Mas a alma não se cansa de esperar por momentos de amor<br />

Que não irão mais preencher o livro da existência<br />

Seduções enamoradas que não provocarão de novo<br />

Sorrisos em um homem que foi feliz<br />

Só existem agora as lágrimas e nada mais<br />

Não possuo mais nada<br />

03/08/2009<br />

12


Pensando na vida<br />

Estou pensando na vida<br />

Não que eu seja um ocioso<br />

Tenho muito que fazer<br />

Mas gosto de pensar na vida<br />

Em tudo. Sobre tudo. Em todos.<br />

O que cada um faz<br />

Ou deixa de fazer<br />

Não quero a imortalidade<br />

A qual é objeto de desejo impossível<br />

Não quero viver pra ver meus queridos morrerem<br />

Não quero me despedir dos amigos<br />

Eu ficaria ultrapassado<br />

Fortuna também é tão impossível que não quero<br />

Beleza? Não. Me deixa feio mesmo<br />

Pra quê tudo se depois de viver e gozar<br />

Visitar o mundo inteiro cidade por cidade<br />

Gastar rios de dinheiro e seduzir com a beleza<br />

Quê mais eu teria pra fazer<br />

Com vitalidade à flor da pele<br />

E genialidade pra sonhar<br />

Senão ficar pensando na vida?<br />

16/09/2002<br />

13


Decadência da boemia<br />

Acabou a bebida<br />

Acabou a comida<br />

O refresco acabou<br />

O pagode parou<br />

Lamparina apagou<br />

A laranja perdeu<br />

O feijão azedou<br />

Prato sujo de canja<br />

Pia cheia se esbanja<br />

Acabou o manjar<br />

Saideira não há<br />

A dispensa vazia<br />

Água suja de larva<br />

A moleza acabou<br />

Que destino cruel<br />

Acabou o doce mel<br />

Trabalhar trabalhar<br />

Vida mansa e manjar<br />

Outra vez sacrifício<br />

Trabalhar trabalhar<br />

Pra viver, pra viver<br />

16/09/2002<br />

14


Definição de “nós”<br />

É<br />

Nós somos culpados<br />

E ontem estivemos rebeldes<br />

Fomos nós que erramos hoje<br />

Não deveria ter sido dessa forma<br />

Há cinco dias atrás<br />

Tudo se imputa a nós mesmos<br />

Nós não temos observado<br />

É<br />

Nós somos ruins<br />

Não justificamos nossos erros<br />

Nós achamos engraçado<br />

Se transformar em decadência<br />

O que deveria ser perfeito<br />

Displicentes somos<br />

É<br />

Somos egoístas<br />

Pensamos somente em nós<br />

Ao passo de deixar de fazer<br />

Por preguiça ou por não saber<br />

Nossa índole é reprovável<br />

Nós ofendemos demais<br />

É<br />

Nossa imagem em veste amassada<br />

Nosso cabelo,<br />

Semelhante guedelha<br />

Nosso modo de ser<br />

Nossa forma reprovável de estar<br />

Somos tão imperfeitos<br />

E tão imprudentes<br />

A ponto de não nos corrigirmos<br />

Exteriorizamos condutas<br />

Desobedientes e antiéticas<br />

É<br />

Reiterados opressores do “ser”<br />

E particularmente inconseqüentes<br />

Faltamos sim a todo instante<br />

Com a presença<br />

Ou com a perfeição<br />

Nos recusamos a sermos perfeitos<br />

E acatamos nossa humanidade<br />

Nosso modo próprio de agir<br />

Agravamos todo um sistema<br />

Pela incompetência natural<br />

E achamos natural errar<br />

É<br />

Não importa o que falamos<br />

Nada justifica<br />

Sermos humanos<br />

É<br />

Mas estamos aqui sempre<br />

Para anular a afirmação<br />

De que não tentamos<br />

Nós somos “nós”<br />

É isso que somos<br />

Apenas “nós”<br />

13/10/2006<br />

15


Determinação<br />

Não se pode vencer alguém determinado<br />

A não ser que se tenha mais determinação<br />

Do que essa pessoa<br />

Determinação que não se compra nem se rouba<br />

A qual somente diminui<br />

Quando o seu dono a deixa de lado<br />

E pensa no fracasso ou no talvez<br />

18/11/2002<br />

16


Soneto do casamento<br />

Se você promete não me abandonar<br />

Se você promete não se arrepender<br />

Se cuidar de mim se um dia adoecer<br />

De rolar dos olhos lágrimas de dor<br />

Se você promete que vai respeitar<br />

Se você promete que será fiel<br />

Se você promete me levar ao céu<br />

Não deixar faltar os beijos de amor<br />

Se em algum momento um de nós partir<br />

Que o outro saiba entender<br />

Que a carne morre, não tem outro jeito<br />

Mas a cada dia viver com amor<br />

Se você promete compreender, que seja<br />

Eu aceito<br />

17/09/2002<br />

17


Lágrimas de amor<br />

Quem sabe se as minhas lágrimas<br />

Alimentassem as sementes da terra<br />

E crescessem as rosas mais lindas<br />

Pra eu te oferecer (um dia)<br />

Quem sabe se as minhas lágrimas<br />

Ao rolar dos meus olhos<br />

Formassem um rio pra eu jogar<br />

Uma garrafa com um bilhete – um sonho<br />

Quem sabe se as minhas lágrimas<br />

De amor, do qual dependo<br />

Trouxessem você pra mim (um dia)<br />

Se essas lágrimas<br />

Formassem uma cachoeira do meu quarto ao seu<br />

E viesse nadando feito sereia<br />

06/12/2002<br />

18


Bah!<br />

Não consigo pensar<br />

Numa frase bonita que seja.<br />

Bah! Me proibiram de pensar mesmo.<br />

Minha mulher está grávida<br />

E estou desempregado...<br />

Bah! Quem se importa comigo?<br />

Bah! Bah! Bah!<br />

Bah! Pros políticos...<br />

Bah! Pros psicólogos...<br />

Quero tomar uma cerveja gelada,<br />

E ouvir um bom pagodinho<br />

Num rádio toca-fita.<br />

Ninguém quer me ajudar...<br />

Bah! Bah! Bah!<br />

Eh, canseira danada!<br />

Bah!<br />

Vamos ver no que vai dar?<br />

Bah! Pros meus adversários...<br />

Atirei o pau no gato<br />

E o gato morreu.<br />

Ahá!<br />

Bah!<br />

Ninguém se importa comigo.<br />

Minhas contas chegaram<br />

E não vou pagar.<br />

Ahá...<br />

Minha filha quer casar.<br />

Bah!<br />

24/09/2002<br />

19


Não tem festa<br />

Pergunto onde estão todos<br />

Dia de festa e eu aqui sozinho<br />

Talvez porque não tem festa<br />

Nem conversa, nem nada<br />

Troco o abraço pela jóia<br />

Troco a pinga pelo canto<br />

Amizade pelo orgulho<br />

Vou embora daqui<br />

Porque hoje não tem festa<br />

Dia de menino<br />

Que eu deixei de ser<br />

Os balões pela piada<br />

A música por um aperto de mão<br />

O bolo por um beijo<br />

“Répi bardei” pra alguém<br />

Parabéns não sei pra quem<br />

Porque não tem festa<br />

Roupa nova por um trapo<br />

O manjar pelo bagaço<br />

O champanhe pelo suco<br />

Falsidade por verdade<br />

Pompa e meia noite, cadê<br />

Hoje não tem festa, por que<br />

Sem palavras pra dizer<br />

Vou embora daqui<br />

Pra onde alguém entende<br />

Pergunta por exclamação<br />

Adormecer<br />

Salto-alto por chinelo<br />

Terno branco por bermuda<br />

“Répi bardei” pra alguém<br />

Parabéns não sei pra quem<br />

Se todos foram<br />

E se não tem festa hoje<br />

Não tem nada<br />

27/09/2002<br />

20


Sozinho sem você<br />

Sozinho sem você<br />

Difícil de viver<br />

Saudade em seu lugar<br />

Convida pra sofrer<br />

Saudade de sonhar<br />

De abraço, beijo e amar<br />

Saudade de você<br />

E quando às vezes choro<br />

Lembrando que te adoro<br />

Carente esperando<br />

Que vá embora a solidão<br />

Recordo o doce beijo<br />

Tanto tempo não te vejo<br />

Triste dia, coração<br />

A chuva cái lá fora<br />

Minha solidão me adora<br />

Toca um samba no radinho<br />

Que saudade vem me ver<br />

Porque eu ainda existo<br />

Pelo seu carinho insisto<br />

Sozinho sem você<br />

24/09/2002<br />

21


Malandro soneto<br />

Mina quero ser seu doce amor<br />

Quero te fazer com o charme apaixonar<br />

Quero ser seu astro redentor<br />

Quero te fazer o meu luar<br />

Dar umas voltas, sair por aí<br />

Tomar um trago, depois dançar<br />

Sou malandro, mas boêmio também ama<br />

Eu nasci, olha eu nasci pra ser seu par<br />

Na noite afora a boemia<br />

Luzes, música, sorriso e prazer<br />

E nós dois numa viagem de sensações<br />

Te amarei até raiar o novo dia<br />

Te mostrar que não existe sacanagem<br />

O amor de um bom malandro é sem miragem<br />

14/05/2002<br />

22


Sem título<br />

Vem chorar no meu ombro<br />

Desgastar meus conselhos<br />

Fazer qualquer coisa<br />

Mas vem<br />

Estou desesperado<br />

Quero a sua amizade<br />

Ouvir sua voz o tempo todo<br />

Falando, falando, falando<br />

Mil coisas, coisas importantes<br />

Qualquer coisa<br />

Vem logo<br />

Você não faz idéia<br />

O quanto importa pra mim<br />

Você<br />

03/12/2002<br />

23


Blá, blá, blá<br />

Chego num blá, blá, blá, blá<br />

Meio assim blá, blá, blá, blá<br />

Digo uma parada qualquer<br />

Carro, futebol, gole, mulher<br />

Tudo assim blá, blá, blá<br />

Tudo certo, to dentro<br />

Blá, blá, blá<br />

Papo maneiro! Reunião de elite<br />

Blá, blá, blá, blá, blá<br />

Caso velho, caso novo, caso<br />

Umas coisinhas maneiras<br />

Blá, blá, política<br />

Blá, blá, blá gandaia<br />

Blá, blá, blá, blá, blá<br />

Crise, pagode, cerveja<br />

Passa uma mulher todo mundo mexe<br />

Passa um conhecido a gente chama<br />

Blá, blá, blá,<br />

Blá, blá, blá, blá, blá papo muito bom<br />

É...papo de roda<br />

Blá, blá, blá, blá, blá<br />

Chega minha dez e meia<br />

Digo um blá, blá, blá adeus<br />

Nosso blá, blá, blá morreu<br />

Acabou. Cada um na sua<br />

Blá, blá, blá tchau amigos<br />

To indo viajar pra lua<br />

Blá, blá, blá...fui<br />

27/09/2002<br />

24


Labirinto<br />

Toda vida é um labirinto<br />

Cheio de passagens<br />

Caminhos longos e escuros<br />

Ou a gente vive<br />

Pra encontrar as portas<br />

Ou a gente morre<br />

Em estradas sem saída<br />

18/11/2002<br />

25


Troca de olhares<br />

Quem é você<br />

Acima de qualquer suspeita<br />

Que toda vez me vê passar<br />

Pela rua<br />

E tenta esconder o que sente<br />

No fundo<br />

Do seu coração<br />

E despista os olhos<br />

Seu sorriso é criminoso<br />

Seus cabelos escondem<br />

O rubor do seu rosto malicioso<br />

Quem é você que esconde as batidas do coração<br />

Que tenta esconder a paixão e o desejo<br />

Ou o quer que seja de mim<br />

Até que meu vulto desapareça<br />

Lá no fim da rua<br />

Não tenho provas<br />

Mas sei<br />

Que esse olhar curioso e apaixonado<br />

Igual ao meu e sem coragem<br />

Não se cansa de olhar<br />

14/05/2002<br />

26


Os meus problemas<br />

Tenho problemas<br />

Cadê solução<br />

Que barco é esse<br />

Que não afunda<br />

De vez<br />

E nem define<br />

Pra onde vai seguir<br />

Preciso disso<br />

Não quero aquilo e tenho<br />

Eu me procuro<br />

Eu não me encontro<br />

E chega a noite<br />

E vem o dia<br />

Aqui estou<br />

Do mesmo jeito<br />

Com os meus problemas<br />

No mesmo barco<br />

Que não afunda<br />

Nem navega<br />

Porque não tem remos<br />

Nem velas, nem ventos<br />

A hora passa<br />

Cadê o prestígio<br />

Olá sufoco<br />

Cadê resposta<br />

Cadê proposta<br />

Pra resolver<br />

Os meus problemas<br />

19/09/2002<br />

27


O relógio<br />

O relógio tic-tac<br />

Lá na sala tic-tac<br />

Trabalhando tic-tac<br />

Sem parar<br />

Marca as horas tic-tac<br />

Passa o tempo tic-tac<br />

Sem parar<br />

Oh! Quem parou o relógio<br />

O que fez o ponteiro ficar imóvel<br />

(Silêncio) Pra onde foi o barulho (silêncio)<br />

Do relógio lá da sala<br />

Dou mais corda e tic-tac<br />

Marca as horas tic-tac<br />

Tic-tac sem parar<br />

12/10/2002<br />

28


Saudade<br />

Deixo de contar as horas num momento<br />

Em que afloram sensações já mortas<br />

Já chorei, já sofri...saudade<br />

Quem vem brincar de roda no meu pensamento<br />

Um suspiro, viajo ao passado<br />

Bruscamente com asas forasteiras da lembrança<br />

Por antigas primaveras<br />

Que foram normais, só agora são importantes<br />

E sinto saudade. Dou um sorriso<br />

Preso às lembranças perco parte da liberdade<br />

E sem importar permaneço prisioneiro<br />

Nostálgico, melódico, devoto alegrias<br />

Recordo antigos sonhos...realizei alguns<br />

Saudade, mesmo triste, fui feliz<br />

15/05/2002<br />

29


Sem título<br />

A chuva caindo do céu<br />

Forma uma correnteza na ladeira<br />

É música ao tocar no chão<br />

Em cada gota que se manifesta<br />

Ventania, relâmpagos, trovões<br />

Que cortam o céu dividindo as nuvens<br />

Cada luz é como o homem<br />

Nasce, faz e acontece, e depois morre<br />

Morrem as gotas no chão cheio de lama<br />

Que é certamente o paraíso delas<br />

Onde encontram-se com todas as outras<br />

Morrem, mas depois ressuscitam<br />

Secadas pelo sol formam novas nuvens<br />

Que voltam a chover tudo de novo<br />

14/12/2002<br />

30


Fica comigo<br />

Fica comigo<br />

Vamos brincar de ser feliz<br />

Fazer o que eu sempre quis<br />

Sem regras e com liberdade<br />

Vivenciar o desejo sem medo<br />

Revelar nossos segredos<br />

Viver a paixão de verdade<br />

Sob a lua<br />

Nosso amor contagiante<br />

Um brinquedo emocionante<br />

Vem ficar comigo<br />

Nas carícias dos seus braços<br />

Encontrando os meus braços<br />

Sem medo, receio ou perigo<br />

Sob o sol<br />

Despertar ao seu lado<br />

Um eterno apaixonado<br />

Querendo o que você quiser<br />

Só nós dois, acasalados<br />

Um casal de namorados<br />

Se beijando, se amando – que vida<br />

A vida<br />

A viver com a tal felicidade<br />

Mas se me quiser apenas pela amizade<br />

Tudo bem! Espero! Não ligo<br />

Um dia ainda vai gostar de mim<br />

No dia que quiser enfim<br />

Ficar comigo<br />

15/05/2002<br />

31


Solitária intimidade<br />

Quantas vezes<br />

Me senti sozinho<br />

Procurando um amigo<br />

Procurando um amor<br />

Pra me completar<br />

Com quem conversasse<br />

Pra não me perder<br />

Às vezes de noite<br />

Pegava um banquinho<br />

Sentava na varanda<br />

Olhava estrelas<br />

E hoje nem isso<br />

Pois os dias são nublados<br />

Sem estrela e sem lua<br />

Pego um livro e passo as folhas<br />

Dou vida a personagens<br />

Que conversam comigo<br />

Mas a história acaba<br />

Volto a ficar em silêncio<br />

E sentir o vazio<br />

Sozinho outra vez<br />

Quantas vezes debrucei<br />

Na janela do meu quarto<br />

Pra ver o horizonte<br />

Com as luzes da cidade<br />

Os carros sobre o asfalto<br />

Quantas vezes eu menti<br />

Dizendo não ter problemas<br />

Tantas vezes<br />

Me senti sozinho<br />

Sem ter alguém pra me falar<br />

Sem ninguém pra me escutar<br />

Tão triste tantas vezes<br />

Não agora<br />

Pois você está comigo<br />

Quando você for embora<br />

Eu vou ficar fechado<br />

Como faço de costume<br />

Em minha varanda<br />

Tocaria algo se soubesse<br />

Cantaria algo se pudesse<br />

Mas sou feito de papel<br />

12/10/2002<br />

32


A noite é nossa<br />

Hoje a noite é nossa<br />

Vamos fazer festa<br />

A cidade é a floresta<br />

Pra pular de galho em galho<br />

A ordem é ser feliz<br />

Abaixo o baixo astral<br />

Hoje a noite é nossa<br />

O amor está no ar<br />

No rugido da leoa<br />

Nós nascemos pra sonhar<br />

E ouvir o canto dessas aves<br />

Sem medo, sem preconceito<br />

O sangue é o mesmo no peito<br />

Só a cor da plumagem é colorida<br />

E começa o clima da paquera<br />

A noite é nossa<br />

Viciei nos olhos da pantera<br />

A noite é nossa<br />

O instinto não é defeito algum<br />

Porque a floresta está a nosso dispor<br />

E hoje a noite é nossa<br />

Hoje a noite é nossa<br />

Para possuirmos cada espaço<br />

O pavão se abre e dança samba<br />

Seguimos felizes cantando<br />

Abaixo às tristezas da vida<br />

Hoje a noite é nossa<br />

15/05/2002<br />

33


Amor<br />

Os corpos molhados se prendem<br />

E não soltam, não soltam<br />

Sob a brancura dos lençóis<br />

O amor<br />

Um som gutural ofegante<br />

Os dedos que navegam<br />

Os lábios que sussurram<br />

Os sentidos que viram estrelas<br />

Numa explosão de sensações<br />

Quando os lábios se ajuntam<br />

E os corpos se enlaçam<br />

Na erupção de um momento<br />

Então tudo se acalma<br />

O amor é eterno<br />

20/11/2002<br />

34


Rotina<br />

Acordar<br />

Sempre ver o novo dia<br />

Nova magia<br />

Cheiro de café fresquinho<br />

Viver<br />

Desejar o bem aos outros<br />

Sonhar<br />

Final do final de semana<br />

Domingo à tarde<br />

O sol se pondo<br />

Escrever<br />

Mais uma página<br />

Das nossas vidas<br />

Adormecer<br />

Sonhar<br />

Menino que voa<br />

Menina modelo<br />

Um carro, casa, uma viagem<br />

Uma paixão<br />

Chega o novo dia<br />

Acordar de novo<br />

16/10/2002<br />

35


Noite nublada<br />

Noite nublada. O céu é um presente<br />

Embrulhado. Uma surpresa<br />

Escondendo um mimo<br />

Acima das nuvens<br />

Para cada olhar apaixonado que se revela<br />

Para cada mero observador<br />

Pra cada um<br />

Noite nublada. O céu é um presente<br />

Embrulhado...uma surpresa<br />

Escondendo a maravilha<br />

Acima das nuvens<br />

O presente está sendo aberto<br />

Ótimo, hoje não vai chover<br />

A noite é uma criança – lá vou eu<br />

14/11/2002<br />

36


Sem título<br />

Nenhum homem vale mais que outro homem<br />

Porque a terra não escolhe a carne<br />

Quando a ela é oferecido o corpo<br />

Do que por motivo alheio morre<br />

A liberdade pertence a todos<br />

Na proporção escrita no direito<br />

Somos humanos, e os direitos são humanos<br />

A lei não diz que só os nobres podem ser<br />

A minha crença! A sua crença! A crença deles!<br />

A minha casa! A sua casa! A casa deles!<br />

Assim como a intimidade: invioláveis<br />

Tudo consta, mas só é garantido<br />

No dia que o sujeito vai à forra<br />

E resolve lutar pelo que é seu<br />

13/12/2002<br />

37


Derrota<br />

Hoje acordei chateado<br />

Lábios fechados, cabisbaixo<br />

Hoje eu estou por baixo<br />

Me sentindo derrotado<br />

Sim, por ter perdido<br />

Fiquei inconsolado<br />

Me sentindo culpado<br />

Pelos resultados<br />

Busquei a vitória<br />

Um maldito instante de glória<br />

Que a sorte ou competência roubou<br />

Eu queria ter vencido<br />

Mas fiquei triste<br />

Porque acabei derrotado<br />

20/05/2002<br />

38


Dia do azar<br />

Vi um gato preto na rua<br />

Por isso não saí de casa<br />

Hoje é o dia do azar<br />

A bruxa está solta, solta<br />

Viajando de vassoura<br />

Pelos ares, louca<br />

Peguei o espelho e guardei<br />

A escada também, escondida<br />

Pego um trevo protetor<br />

E a ferradura da sorte<br />

Como fiz nas outras vezes<br />

Parece que estou ficando louco<br />

Mas todo cuidado é pouco<br />

Hoje é sexta-feira treze<br />

13/12/2002<br />

39


Perguntas<br />

Espalhem as perguntas<br />

Sobre todas as coisas<br />

Sobre a vida, sobre o universo<br />

Sobre a terra, sobre o mar<br />

Não maltrate a dúvida<br />

Não precisamos entender<br />

Nem precisamos das respostas<br />

Deixem a interrogação viver<br />

Porque se alguém responde<br />

Tudo vai ficar sem graça<br />

Pra tudo há uma resposta<br />

Mas por não sabermos tudo<br />

Vivemos uma vida emocionante<br />

Desfrutemos das perguntas<br />

24/09/2002<br />

40


Os meus versos<br />

Queria que os meus versos<br />

Devolvessem a paz ao mundo<br />

Queria que os meus versos<br />

Extinguissem as tristezas<br />

Enxugassem todo o pranto<br />

Revelassem todo o encanto<br />

Queria que os meus versos<br />

Acabassem com o desmatamento<br />

Então eu poderia ficar em paz<br />

Queria que os meus versos<br />

Colocassem fim aos conflitos<br />

Nós somos iguais e eu<br />

Queria que os meus versos<br />

Fizessem os homens reconhecerem<br />

07/12/2002<br />

41


Sem título<br />

Por tantas vezes esperei<br />

Por sua carta, seu telefonema<br />

Por sua presença<br />

Estou cansado de tanto esperar<br />

Já não suporto mais ficar sozinho<br />

Aqui<br />

Esperando que você venha me ver<br />

Sou uma ótima pessoa – ou quase<br />

Tenho vícios<br />

Não posso esperar o seu orgulho sumir<br />

Estou jogando a toalha<br />

Sem ressentimentos<br />

Vou atrás de um amor<br />

Vou porque não agüento mais<br />

Ficar sozinho<br />

Vou porque você só me faz sofrer<br />

Minha esperança já virou teimosia<br />

Você nunca foi o que deveria<br />

Por tantas vezes esperei<br />

Por você<br />

Sou uma pessoa quase perfeita – talvez exagerei<br />

E você só viu os vícios e defeitos<br />

Não tentou perceber mais coisas<br />

Mas compreendo<br />

Ou a gente fica com alguém<br />

Que a gente não ama<br />

Ou sofre com quem não ama a gente<br />

20/05/2002<br />

42


Tristeza<br />

Tristeza é dor que vai e volta<br />

É a nuvem que chove nos olhos<br />

É a estrela perdendo seu brilho<br />

A fogueira perdendo o calor<br />

Tristeza é o solo rachado<br />

É a guerra perdida no amor<br />

Os anos perdidos de paz<br />

Tristeza é o sonho em pedaços<br />

É um terço de vida roubado<br />

É a chama sob a tempestade<br />

É o amigo perdendo a amizade<br />

Tristeza é como flor murchando<br />

Sem folhas, sem cor nem perfume<br />

Debaixo dos nossos olhos<br />

Uma vida desabando<br />

Um casebre incendiado<br />

Uma carta sem destino<br />

E um laço se rompendo<br />

Tristeza é dor que vai e volta<br />

Que dói sem que a gente perceba<br />

Quem vem só por causa do amor<br />

20/05/2002<br />

43


Esperança<br />

Eu tenho esperança<br />

De que a vida seja boa<br />

E que nenhuma pessoa<br />

Chore lágrimas da fome<br />

Que as crianças<br />

Possam ter felicidade<br />

Que o amor e honestidade<br />

Prevaleçam entre os homens<br />

Que os meus desejos<br />

Sejam todos realizados<br />

Paz! Amor! Sorriso! Amigos!<br />

As aves voando no céu<br />

A vida com sabor de mel<br />

Os sonhos todos concluídos<br />

13/12/2002<br />

44


Rosas<br />

As rosas lembram tanto<br />

O perfume da mulher que é amada<br />

Da boca rosa que oferta beijos<br />

O charme e o encanto<br />

Do corpo macio e sedoso<br />

Como as pétalas que se abrem ao sol<br />

Invadindo o território dos olhos<br />

Que se enchem com a perfeição natural<br />

A mulher amada possui o seu cheiro<br />

Os cachos lembram as folhas<br />

Sob a brisa garbosa da primavera<br />

E a pele majestosa e delicadamente macia<br />

Lembra a maciez<br />

De uma pétala de rosa<br />

13/05/2002<br />

45


As nuvens<br />

Olha essa nuvem triste que passa no espaço<br />

Sozinha! Carente! Procurando amigo<br />

Pequena! Descrente! Procurando abrigo<br />

Na imensidão do espaço que a faz sofrer<br />

Veja a solidão da nuvem procurando abraço<br />

Prestes a chorar as mágoas, descontente<br />

Prestes a chover as lágrimas somente<br />

Pena que chorando deixa de viver<br />

Olha a nuvem triste. Tão triste! Tão triste!<br />

Desacreditada que outra nuvem existe<br />

Nesse céu tão grande pra te acompanhar<br />

Olha a nuvem – olha – essa nuvem sou eu<br />

E não vou chover, você está aqui<br />

Vendo a nuvenzinha com o seu olhar<br />

13/11/2002<br />

46


Entre tapas e beijos<br />

Sinto-me carente sem os beijos seus<br />

Num penduricalho brilha a solidão<br />

Sempre brigamos e me diz adeus<br />

Mas depois retorna e pede meu perdão<br />

Quando vou embora sinto ciúme<br />

Sufoca a raiva do meu coração<br />

E quando distante sinto seu perfume<br />

Ressuscita o fogo da nossa paixão<br />

Quando brigamos...arrependimento<br />

Alimenta imagens nos meus pensamentos<br />

E dorme roncando em minha cama<br />

Sempre brigamos e bate a saudade<br />

As pessoas falam severas verdades<br />

Entre tapas e beijos a gente se ama<br />

23/05/2002<br />

47


Covardia<br />

Quem é aquela pessoa que não tem coragem<br />

Que não tem vontade por medo que um dia<br />

Possa estar errada e perceber que a vida<br />

Não é aventura e nem ventania<br />

Não é só o beijo e um abraço e um sorriso<br />

Mesmo que isso seja muito prazeroso<br />

Quem é aquela pessoa com medo de errar<br />

De quem são esses olhos que não se revelam<br />

E sofrem sozinhos<br />

Que sabem que a felicidade existe<br />

Mas não tem coragem para procurar<br />

Quem é aquela pessoa que não arrisca<br />

Com indiferença vê o sonho morrendo<br />

E depois no escuro do seu quarto chora<br />

Quem é? Quem é aquela pessoa<br />

Que finge não sofrer? Que bela artista<br />

Esconde o que chorou ontem à noite<br />

É uma pessoa que acredita<br />

Que pra sempre deve ser submissa às regras<br />

Uma que um dia possuiu a liberdade<br />

Mas preferiu ficar numa gaiola aprisionada<br />

28/11/2002<br />

48


Sem título<br />

Era o último dia de aula<br />

Escrevi uma poesia<br />

Para cada amigo<br />

Porque a distância nos separava<br />

Naquele momento<br />

Uma despedida formal de quem agora<br />

Vai viver a vida<br />

Todos ligados pelo desejo<br />

Ser feliz<br />

Meus amigos, minha escola, adeus<br />

Que um dia possamos nos reencontrar<br />

Em nossos filhos<br />

Por aí nessas ruas<br />

Pelo mundo<br />

Encerrava-se uma etapa<br />

Em cada vida<br />

Em cada amigo<br />

Chovia, era noite no velho “Padreco”<br />

E alguém chorava num canto<br />

Enquanto lia<br />

Minha poesia<br />

12/12/2002<br />

49


Sem título<br />

Amor não pode ter planejamento<br />

Hora, dia, lugar, duração<br />

Vontade não tem regra nem momento<br />

Quem manda nos sentidos é o coração<br />

Amor não pode ser aprisionado<br />

No entanto, não existe sem vontade<br />

Amor que se produz com falsidade<br />

Não gera frutos de felicidade<br />

Amor não gera mágoas e nem pranto<br />

Às vezes briga – sempre perdão<br />

Amor real precisa ser guardado<br />

Sempre deve responder aos dois anseios<br />

Saber que o bom mesmo não é o fazer<br />

Bom mesmo é sentir-se amado<br />

17/10/2002<br />

50


Adeus floresta<br />

Nos galhos das árvores<br />

As aves que tristes<br />

Soltam os últimos cantos<br />

Enquanto um punhado de relva<br />

Está queimando na beira do asfalto<br />

A fumaça afugenta os esquilos<br />

E os bem-te-vis vão embora<br />

A cada minuto mais aumenta<br />

A fogueira da relva dançando no vento<br />

E arrasa um ipê<br />

O pobre sagüi – morador<br />

Morreu queimado<br />

Uirapuru sepulta o amigo<br />

Com seu canto fúnebre<br />

Pelas águas do ribeirão<br />

Muitos fogem<br />

Os pardais que tem filhotes<br />

Pra onde vão agora<br />

Diz adeus o andorinhão<br />

E vai embora<br />

Seguindo a trilha dos cardeais<br />

Em pouco tempo tudo arrasado<br />

E sobre as cinzas<br />

Canta o uirapuru sem casa<br />

Adeus floresta diz o canto<br />

Adeus meu filho diz a mãe<br />

Um clima triste<br />

Esfria as horas seguintes<br />

Os carros passam na estrada<br />

E cai a tempestade sobre as cinzas<br />

24/05/2002<br />

51


Soneto da inveja<br />

Eu quero demais e não tenho<br />

Tudo aquilo que o olhar deseja<br />

Se vejo alguma coisa boa invejo<br />

E ambiciono o que é melhor<br />

Tudo que vejo na vitrine<br />

O que acho bonito ou útil<br />

A mulher mais bonita do mundo<br />

A casa, o carro e o troféu<br />

Mesmo que tenha tantos desejos<br />

E gasto meu tempo todo nisso<br />

Não tenho! Não tenho! Não tenho!<br />

Invejo tudo pois desejo<br />

E mesmo sabendo que não terei<br />

Eu quero! Eu quero! Eu quero!<br />

24/11/2002<br />

52


Soneto de amigo<br />

Se te dou a mão não peço recompensa<br />

Chore no meu ombro até desabafar<br />

Não me peça perdão pelas suas atitudes<br />

Não esconda nada. Não prenda. Não sofra<br />

Não diga nada<br />

Deixa o coração se revelar e sinta-se leve<br />

Estarei sempre aqui para te consolar<br />

Apoiarei você em tudo que fizer<br />

Se for pra entrar na briga entremos juntos<br />

E na hora da ressaca de cerveja<br />

Ou até na hora de cambalear a caminho de casa<br />

Sempre que precisar pode contar comigo<br />

Na angústia, na raiva...e na alegria se quiser<br />

Mas que saiba que na hora da dor eu sofrerei contigo<br />

17/09/2002<br />

53


Nós sempre seremos amigos<br />

Perdidos pelo mundo afora<br />

Guardando na lembrança a amizade<br />

Seguimos a vida – saudade<br />

Saudade dos dias vividos<br />

Das festas no tempo de escola<br />

Das coisas que a gente sonhava<br />

Nós sempre seremos amigos<br />

Nós sempre seremos amigos<br />

Amigos, parceiros, irmãos<br />

Frente a uma decepção<br />

Ou no clima de felicidade<br />

Amizade é pra se preservar<br />

E nós seremos amigos<br />

Pela eternidade<br />

A vida nos espalhou<br />

Mas seremos amigos<br />

De festa, na dor e perigos<br />

Como sempre fomos<br />

Se um dia eu te encontrar na rua<br />

Me conte suas novidades<br />

E me dê um abraço apertado<br />

Amigos de farra e folia<br />

E nas desilusões da vida<br />

De lágrimas na despedida<br />

Como nos dias antigos<br />

A sorte nos separa mas<br />

Em nome de tudo que somos<br />

Nós sempre seremos amigos<br />

24/05/2002<br />

54


Escola da vida<br />

Devemos saber ouvir<br />

De quem tem experiência<br />

Alguém que já foi aluno<br />

Na escola da vida<br />

Porque um dia seremos mestres<br />

De um aluno como nós mesmos<br />

Que um dia será mestre<br />

De outro aluno como ele<br />

18/11/2002<br />

55


Sem título<br />

O amor<br />

Nos faz sorrir diante de mil problemas<br />

Dormir no meio do caos<br />

E sonhar com o paraíso<br />

O amor não tem cor nem idade<br />

Amar é viver a alegria<br />

Que pra nós foi reservada<br />

É como os raios de sol<br />

Que afugentam as sombras de manhã<br />

Nos deixa leves a pondo de voar<br />

Amor é eterno enquanto dura<br />

Amar é estar sempre livre<br />

Para aprisionar-se<br />

Nos braços da pessoa amada<br />

24/05/2002<br />

56


O Nordeste chora<br />

Água encanada<br />

Cidade grande<br />

Todos pensam que ela sai do cano por mágica<br />

Todas as torneiras ligadas jorrando o que se pode pagar<br />

Por mágica? Não, pelo capitalismo<br />

E enquanto isso<br />

O Nordeste chora<br />

Duas horas e ainda estão ligadas<br />

Lava o beco. Lava rua e a calçada<br />

E a água pra beber, lavar os pratos<br />

É só a décima parte<br />

Só um décimo se aproveita<br />

E enquanto isso<br />

O Nordeste chora lágrimas secas<br />

O carro já está brilhando<br />

Mas a torneira ainda está ligada<br />

Formando um riacho até o esgoto<br />

Água jogada fora<br />

Água que traz a vida<br />

Que faz com que o solo do Nordeste<br />

Rache ao sol do meio dia<br />

O Nordeste chora<br />

Chora por querer beber água<br />

Chora por não poder contar com a chuva<br />

Que por aqui deveria lavar a rua – e lava<br />

Mas também é lavada pela mangueira do jardim<br />

E quem dera que esse riacho que é formado<br />

Leve água pro Nordeste ser feliz<br />

E pare de escorrer pela boca-de-lobo<br />

10/11/2002<br />

57


Sem título<br />

Eu escrevo coisas quentes<br />

E o calor das coisas que escrevo<br />

É o retrato das pessoas<br />

Sou um poeta do cotidiano<br />

Gosto de observar os detalhes<br />

Toda vida é uma festa de estímulos<br />

Cheias de amor e de ódio dependendo do mundo<br />

As paixões são fruto da inspiração<br />

E da obrigação vital do homem em necessariamente se apaixonar<br />

O ódio é fator isolado<br />

Com o qual o homem tenta esconder estímulos fracassados<br />

A vida é curta e gosto de viver cada instante<br />

Não quero que ela seja um eterno horário político<br />

Cheia de promessas que nunca serão realizadas<br />

Ao contrário, quero que a minha vida seja um puteiro<br />

Onde tudo é depravado<br />

Mas nada fica só no projeto<br />

Tudo vai até as últimas conseqüências<br />

Olho o mundo e percebo o mundo<br />

No capitalismo não enxergo lucros, só danos<br />

Como é bom olhar em um formigueiro a pureza do socialismo<br />

(socialismo: uma formiga é igual a uma formiga)<br />

Eu escrevo a sabedoria e a tolice<br />

Eu enxergo a pureza e a cafagestagem<br />

Eu descrevo o meu povo e o meu povo<br />

06/12/2002<br />

58


O primeiro amor<br />

O primeiro amor é o mais inútil<br />

Porque depois que acaba<br />

O segundo amor não vem com tanta intensidade<br />

A palavra amor priva-se na lembrança de uma mágoa<br />

Freia bruscamente e impede o risco<br />

Acaba-se o segundo amor<br />

E o terceiro surge mais preso ainda por mágoas antigas<br />

O primeiro amor é mais gostoso<br />

Porque junta a timidez ao assanhamento<br />

O segundo amor é desquitado<br />

O rosto já esconde uma cicatriz<br />

O terceiro amor é pior ainda<br />

Porque além das cicatrizes há a inevitável idéia<br />

De que jamais seremos felizes e que vale mais a pena<br />

Só curtir do que se entregar de novo<br />

O primeiro amor dói na angústia<br />

Pois não sabíamos sofrer<br />

O segundo amor dói menos mas dói<br />

E o terceiro em diante pouco dói<br />

O primeiro foi a escola de todos os outros<br />

E depois de tanto termos estudado<br />

Percebemos que não sabemos nada ainda<br />

15/11/2002<br />

59


Sem título<br />

A liberdade não consiste em ser solto<br />

E paz não é de fato estar sem guerra<br />

Amor não é estar com quem se gosta<br />

Há uma gota de mentira em cada idéia<br />

Quem é livre obriga-se a ser errante<br />

E o amante tem o vício incontrolável<br />

Quem tem paz vive sempre na suspeita<br />

Vigiando quem só pensa em fazer guerra<br />

Não choram só por tristeza ou saudade<br />

Há uma réstia de absurdo em cada drama<br />

Há um pedaço de emoção em cada fato<br />

Dos boatos, muitos são enganadores<br />

Porque só o interessante se comenta<br />

E só o magnífico se conserva<br />

13/05/2002<br />

60


As aves<br />

Ouvi o canto alegre das aves<br />

Que tentavam curar meus olhos<br />

Cansados do ‘stress’ da cidade<br />

Vida regrada cheia de machucados<br />

É pouco o que posso ver da árvore<br />

Por sorte é justamente onde cantam<br />

Vermelhas, amarelas, brancas, azuis<br />

As aves são tantas que nem posso contar<br />

Me inspiram a sair mas como escapar<br />

Dessa gaiola onde fui colocado<br />

Pra cantar o canto metódico e padronizado<br />

Parecem cantar pelo meu triunfo<br />

Quebrar todas as regras desse sistema robotizado<br />

Abrir a gaiola e sair cantando pela rua<br />

18/11/2002<br />

61


Gênio da lâmpada<br />

Certa vez encontrei uma lâmpada<br />

Com um gênio de verdade dentro<br />

Pedi pra não perder a esperança<br />

Pedi um milhão de conhecidos e alguns amigos<br />

Amar muitas pessoas e ser amado por poucas<br />

Pedi pra não ser perfeito<br />

Pra não morrer de desgosto<br />

Pedi a coragem para lutar pelo que eu quero<br />

Força para adquirir meu espaço<br />

Bondade para ajudar ao próximo<br />

Simplicidade, patriotismo e uma cadeira só minha no Mineirão<br />

O gênio aborreceu-se e foi embora<br />

Dizendo estar a séculos aprisionado<br />

E quando sai, seu amo pede o que já tem<br />

18/11/2002<br />

62


Sem título<br />

As palavras são como lanternas<br />

Úteis num casebre sem luz<br />

Inúteis quando a luz do dia aparece<br />

Delas podemos fazer remédio<br />

Ou agravante dos machucados<br />

Coisas interessantes<br />

Ou bobagens ilimitadas<br />

Lanterna sem pilha não funciona<br />

Palavra mal colocada não se encaixa<br />

É como a luz da lanterna<br />

Sob a luz do novo dia<br />

As palavras são como lanternas<br />

Pois ambas possuem energia<br />

E são direcionáveis pela ação humana<br />

06/12/2002<br />

63


Nós não temos preconceito<br />

Tem alguma coisa diferente<br />

Na maneira de ser<br />

De cada cidadão<br />

No ar ecoam vozes<br />

Descontentes<br />

Que não se contentam<br />

Com a desunião<br />

Em toda cidade<br />

Ecoam rimas<br />

Que definem nova revolução<br />

Roupas sujas<br />

Com as serpentinas<br />

Resultado da comemoração<br />

Estampado lá no prédio grande<br />

Um cartaz bem colorido<br />

Que desperta alucinados gritos<br />

Pelo fim do que segrega<br />

Para todos só o bem<br />

Exclusão do que divide<br />

Cada qual com seu igual<br />

Com o diferente também<br />

Amor é incondicional<br />

E na cidade todos cantam juntos<br />

Nós não temos preconceito<br />

E abraçamos nossos irmãos<br />

Nós temos grandes defeitos<br />

Mas nós temos a união<br />

Entre nós<br />

22/09/2001<br />

64


Pensamentos<br />

Pensamentos voam<br />

Como bolhas que os peixes soltam<br />

E que as águas carregam pra cima<br />

Explodem onde não há mais água<br />

Revelam-se<br />

Onde inicia-se o céu<br />

Ao divino pescador<br />

Que em vez de lançar a isca<br />

Joga seus grãos no mar de vento<br />

Pra que alcancem aquele peixe-homem<br />

Irrequieto que não se conforma<br />

E que tenta por meio de tumultuados pensamentos<br />

Consertar graves erros<br />

Melhorar coisas tolas<br />

E foge como peixe arisco<br />

Deixando um rastro de pensamentos<br />

Como peixe irrequieto<br />

Nunca duas vezes no mesmo coral<br />

Procurando soluções<br />

Mas sendo pescado pela inquietação<br />

16/05/2002<br />

65


Final de ano<br />

Mais um ano se acabando<br />

Uma etapa se encerrando<br />

Com os dias que fui vivendo<br />

Com os sonhos que fui sonhando<br />

Projetos que andei buscando<br />

Batalhas, perdidas...vencidas<br />

Resta-me agradecer<br />

Colher o que andei plantando<br />

Me lembro dos dias de chuva<br />

Dos domingos no bar da favela<br />

Da Mangueira e do carnaval<br />

No vinho, no clássico das multidões<br />

Poxa! Minha vida é uma novela<br />

E aqui sou o ator principal<br />

14/10/2002<br />

66


Sem título<br />

Às vezes penso sobre o que é viver<br />

E qual a razão de nós lutarmos tanto<br />

Ou a gente vive pra encontrar o encanto<br />

Ou nos encantamos na procura e só<br />

Nas canções tocadas que provocam espanto<br />

Nós fazemos trilha de um amor eterno<br />

Da estação florida que sepulta o inverno<br />

Retiramos rosa pra adornar saudades<br />

E viram pó, e revoam no vento, e viram vento<br />

Mas mesmo que na estrada não se ache a sorte<br />

O direcionamento da vida é sonharmos<br />

É por isso que a felicidade existe<br />

Mesmo que no fim da vida esteja a morte<br />

Porque nós nascemos pra nos realizarmos<br />

18/05/2002<br />

67


Sem título<br />

Ao pó no ombro dos homens<br />

Dedicamos momentos de admiração<br />

Do suor na labuta<br />

Na conquista do direito de comer o pão<br />

Não me olhe como quem vê o mandante<br />

Sou feito também do suor e carrego esse pó<br />

Ofereça-me um aperto de mão<br />

Nós construímos e demolimos<br />

Nós carregamos e descarregamos<br />

Nós fazemos o que tem que ser feito<br />

E nossas emoções não são comedidas<br />

Nós exteriorizamos sentimentos<br />

Nós somos trabalhadores do sistema<br />

E não máquinas do sistema<br />

Quando chegar a hora do laurel<br />

Ofereça-me um copo que também vou beber<br />

E no momento da angústia te oferecerei meu ombro<br />

Ele estará sujo de pó<br />

Mas será confortável ao seu sofrimento<br />

Aos que mandam, a reverência<br />

E a mim a amizade<br />

30/07/2009<br />

68


Porta fechada<br />

A sociedade é perita em destruir talentos<br />

Uma opinião errada apaga uma estrela<br />

Todo mundo é antiquado perante o novo e não percebe<br />

Ninguém dá valor ao que não é regrado no contexto<br />

Se não possuir as características da aceitação<br />

Por isso jamais devemos desistir de bater<br />

Diante de portas fechadas<br />

Se sabemos que elas estão trancadas<br />

Para o que é novo e ainda incompreendido<br />

Mesmo assim não devemos desistir de bater<br />

Elas podem se abrir<br />

18/10/2002<br />

69


Cidade em chamas<br />

Abro os olhos e te vejo<br />

Cidade em chamas<br />

E os trajes cor de vinho das morenas<br />

E as ruas e as esmolas e as crianças<br />

Rezo a Deus e então choro<br />

Pra que minhas lágrimas<br />

Apaguem o seu fogo<br />

11/11/2002<br />

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