Edifício Vagalumes - Relatório
Trabalho de Conclusão de Curso - Bacharelado em Design com Habilitação em Design Gráfico Universidade "Júlio de Mesquita Filho" - Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação 2018
Trabalho de Conclusão de Curso - Bacharelado em Design com Habilitação em Design Gráfico
Universidade "Júlio de Mesquita Filho" - Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação
2018
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
1
2
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”<br />
FACULDADE DE ARQUITETURA, ARTES E COMUNICAÇÃO<br />
Projeto de Conclusão de Curso - Bacharelado em<br />
Design com Habilitação em Design Gráfico<br />
Arissa Miki Tanaka Ito<br />
Orientação: Profª Drª Cassia Leticia Carrara Domiciano<br />
Bauru - SP<br />
2018<br />
3
SUMÁRIO<br />
INTRODUÇÃO 5<br />
REFERENCIAL TEÓRICO 7<br />
DEFICIÊNCIA VISUAL 8<br />
INCLUSÃO E ACESSIBILIDADE 10<br />
DESIGN UNIVERSAL 11<br />
LIVRO12<br />
DESENVOLVIMENTO 24<br />
METODOLOGIA25<br />
FORMATO E MATERIAIS 26<br />
NARRATIVA28<br />
PERSONAGENS32<br />
HISTÓRIA47<br />
PROJETO TÁTIL 50<br />
PROJETO GRÁFICO 52<br />
DECUPAGEM DO LIVRO 56<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS 85<br />
REFERÊNCIAS 87<br />
AGRADECIMENTOS 88
INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO<br />
O entretenimento infantil é algo que vem crescendo com o passar<br />
dos anos. Utilizando de narrativas complexas, mensagens reflexivas<br />
e estilos e técnicas variados, histórias direcionadas ao público infantil<br />
vem encantando cada vez mais não só crianças, mas também o<br />
público adulto. Com o avanço tecnológico, ampliam-se ainda mais<br />
as possibilidades de criação de conteúdo infantil.<br />
O livro infantil, por sua vez, além de entreter tem também a funcionalidade<br />
de ensinar. Seja para uma lição, uma experiência de vida<br />
ou uma simples palavra desconhecida, o livro torna-se uma ferramenta<br />
de aprendizado de grande importância no desenvolvimento<br />
individual. Por outro lado, apesar de seu valor, a produção de livros<br />
adequados à pessoa com deficiência ainda é limitada. São raros os<br />
exemplares acessíveis no mercado apesar da demanda aparente.<br />
O projeto “<strong>Edifício</strong> <strong>Vagalumes</strong>” tem como intuito criar um universo<br />
narrativo multiplataforma acessível que seja divertido e estimulante.<br />
Desenvolvido em conjunto com Cahenna Salles Othon<br />
Teixeira, também estudante do ano de 2014 do curso de Design da<br />
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, o projeto<br />
busca explorar as possibilidades técnicas para a criação de histórias<br />
atraentes à criança em diferentes formatos de leitura.<br />
Nesta primeira parte do projeto, é proposto o desenvolvimento<br />
de um livro com ilustrações táteis escrito tanto em tinta quanto em<br />
braille que possa comunicar uma história de forma eficiente e interessante<br />
ao público leitor. Além das imagens táteis contidas no livro,<br />
há também a criação de peças manuseáveis soltas que permitam<br />
maior exploração dos personagens. É esperado que a experiência<br />
tátil proporcionada pelo livro seja capaz de entreter e comunicar e<br />
que a leitura do livro seja uma experiência prazerosa tanto para o<br />
leitor que vê quanto para o que não vê.<br />
6
REFERENCIAL<br />
TEÓRICO
DEFICIÊNCIA VISUAL<br />
A deficiência, temporária ou permanente, é algo inerente à condição<br />
humana. Ao longo da vida, a maioria das pessoas enfrentará algum<br />
tipo de barreira quanto ao funcionamento de seu corpo. Segundo<br />
estimativa da ONU (Organização das Nações Unidas), uma a cada<br />
sete pessoas no mundo possui algum tipo de deficiência. No censo<br />
demográfico do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)<br />
de 2010, 45,6 milhões de pessoas declararam possuir algum tipo<br />
de deficiência permanente, sendo a deficiência visual a mais comum<br />
ente elas, atingindo 3,5% da população.<br />
Figura 01: Gráfico da População residente por tipo de deficiência permanente, 2010<br />
Fonte: IBGE (2010)<br />
8<br />
O termo deficiência é abrangente e engloba mais do que a saúde<br />
de um indivíduo. A deficiência não consta somente de um diagnóstico<br />
médico, uma vez que estão relacionados também fatores<br />
externos como interações com outros indivíduos e com o meio. É<br />
uma questão social que demanda discussão e requer do designer<br />
consciência para que possa desenvolver projetos adequados para o<br />
maior número de pessoas.
Nos dias de hoje, o termo “pessoa com deficiência” é o que tem<br />
recebido maior adesão, tendo sido utilizado no texto da Convenção<br />
das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência<br />
(Convention on the Rights of Persons with Disabilities) de 2006 da<br />
ONU. Segundo esse texto,<br />
As pessoas com deficiência incluem pessoas com<br />
deficiências físicas, mentais, intelectuais ou sensoriais<br />
de longo prazo que, em interação com várias<br />
barreiras, podem impedir sua participação plena e<br />
efetiva na sociedade, em igualdade de condições<br />
com as demais pessoas.<br />
Dentre os tipos de deficiência físicas identificadas está a visual.<br />
Como afirmado no Manual de Convivência de Maria Gabrilli (2007),<br />
Há muitos tipos de deficiência visual. Algumas<br />
pessoas vêem apenas o que está diretamente<br />
na sua frente e nada do que está ao lado - o que<br />
chamamos de visão tubular; outras enxergam os<br />
objetos como um quebra-cabeças em que faltasse<br />
uma ou duas peças. Ainda há pessoas que têm<br />
baixa visão, ou seja, enxergam muito pouco, mas,<br />
ainda assim, são capazes de utilizar a visão para o<br />
planejamento e execução de uma tarefa. E, claro,<br />
tem aquelas que não vêem absolutamente nada.<br />
São muitas as nuances que diferenciam cada caso de deficiência<br />
visual. Devido à variedade de especificidades, para o desenvolvimento<br />
deste projeto, serão consideradas as pessoas cegas e de baixa visão.<br />
De acordo com a OMS (2012), uma pessoa é considerada legalmente<br />
cega quando possui visão corrigida do melhor dos olhos menor<br />
ou igual a 20/200. Isso significa que o cego é capaz de ver a uma<br />
distância de 20 pés aquilo que a visão normal permite ver a uma<br />
distância de 200 pés.<br />
Já o portador de baixa visão possui visão entre 6/60 e 18/60 e campo<br />
de visão entre 20º e 50º. Segundo a Fundação Dorina Nowill para<br />
Cegos, organização sem fins lucrativos voltada à inclusão social de<br />
pessoas com deficiência visual, pessoas com visão baixa são capazes<br />
de identificar silhuetas, mas tem dificuldade de observar detalhes.<br />
9
Diante das limitações analisadas, tornam-se necessárias alternativas<br />
que supram a deficiência visual. O livro desenvolvido nesta<br />
primeira parte do projeto deve utilizar de outros recursos para que<br />
a mensagem continue a ser transmitida de forma eficiente também<br />
para a pessoa com deficiência física.<br />
INCLUSÃO E ACESSIBILIDADE<br />
Cambiaghi (2007) aborda a questão da inclusão como<br />
ideia de tratar igualmente os iguais e desigualmente<br />
os desiguais, isto é, de admitir a diferenciação<br />
com base na deficiência, mas apenas com o<br />
propósito de promover o acesso ao direito e nunca<br />
de negar o seu exercício.<br />
A deficiência foi ignorada por muito tempo, sendo considerada<br />
um problema de minorias que não merecia atenção. Conforme ela<br />
recebe espaço de discussão na sociedade, muda a forma como ela é<br />
abordada. Reconhece-se a diferença como parte da população e não<br />
um empecilho que deve ser escondido.<br />
[...] para que as ações de inclusão possam ser verdadeiramente<br />
relevantes, devem promover não só<br />
a equiparação de oportunidades mas a acessibilidade<br />
a todos, sem esquecer os idosos, a população<br />
com baixa escolaridade, aqueles que têm impedimentos<br />
ou limitações intelectuais ou mentais, físicas,<br />
sensoriais, motoras ou apresentam mobilidade<br />
reduzida, sejam elas permanentes ou temporárias.<br />
(CAMBIAGHI, 2007, p. 34)<br />
Passou do tempo em que as pessoas deveriam se contentar em<br />
viver em um mundo que não foi pensado para elas.As soluções de<br />
design não devem mais ser pensadas para grupos específicos de<br />
usuários, mas para qualquer um. Dessa forma, elas devem acomodar<br />
as necessidades de toda a população, permitindo a inclusão da<br />
pessoa com deficiência em seus meios de convívio.<br />
10
É considerado acessível, por sua vez, o produto cujo uso pela<br />
pessoa com algum tipo de deficiência é possibilitado. A acessibilidade<br />
torna-se uma questão chave no processo de inclusão.<br />
O princípio da acessibilidade afirma que os projetos<br />
devem ser utilizados por indivíduos com habilidades<br />
diversas, sem a necessidade de modificações<br />
ou adaptações especiais. A história mostra que a<br />
acessibilidade estava concentrada em acomodar<br />
usuários com deficiências. À medida que o conhecimento<br />
e a experiência com o design acessível aumentaram,<br />
ficou cada vez mais claro que muitas<br />
“adaptações” obrigatórias poderiam ser projetadas<br />
para beneficiar todos os usuários. (LIDWELL;<br />
HOLDEN; BUTLER, 2010, p. 16).<br />
Pratica-se o design inclusivo ao desenvolver projetos acessíveis. O<br />
designer deve encontrar soluções que possam contemplar as necessidades<br />
do maior número de pessoas possível, sem que a qualidade<br />
dos produtos seja comprometida.<br />
DESIGN UNIVERSAL<br />
O Design Universal (Universal Design) consiste em utilizar ferramentas<br />
comuns do design para tornar projetos acessíveis. Segundo<br />
o National Disability Authority, órgão independente de promoção do<br />
Design Universal na Irlanda, o Design Universal é basicamente um<br />
bom design. São soluções que podem ser compreendidas e utilizadas<br />
facilmente por todos que queiram utilizar de determinado produto.<br />
Ao considerar as diversas necessidades e habilidades<br />
de todo o processo de design, o design universal<br />
cria produtos, serviços e ambientes que atendem<br />
às necessidades das pessoas. Simplificando,<br />
o design universal é um bom design. (NATIONAL<br />
DISABILITY AUTHORITY).<br />
Busca-se encontrar soluções adequadas em todo o processo de<br />
design, desde a sua idealização até a chegada ao usuário. Utilizar o<br />
11
Design Universal não significa, no entanto, encontrar uma fórmula<br />
perfeita que consiga resolver qualquer tipo de empecilho ou restrição<br />
relacionado à usabilidade de um produto. Trata-se de procurar soluções<br />
que sigam o princípio da acessibilidade para que o produto<br />
adeque-se ao maior número de usuários. Sempre que possível, deve<br />
optar-se pela opção inclusiva.<br />
A primeira parte do projeto “<strong>Edifício</strong> <strong>Vagalumes</strong>” foi desenvolvida<br />
tendo em mente os Sete Princípios do Design Universal, pensados<br />
pelo arquiteto americano Ronald Mace e por um grupo de pesquisadores<br />
na Escola de Design da Universidade da Carolina do Norte<br />
(School of Design of North Carolina State University) em 1997.<br />
Dentre as escolhas feitas com base na aplicação dos sete princípios<br />
do Design Universal estão:<br />
• A dupla-escrita do livro em braille e em tinta. A dupla-escrita<br />
adequa o livro a usuários com capacidades visuais diferentes,<br />
permitindo a leitura tanto pela pessoa que vê quanto pela<br />
que não vê.<br />
• O símbolo em relevo na parte inferior de todas as páginas. O<br />
elemento é uma forma de identificação do sentido do livro<br />
através do tato que facilita a leitura do livro pela pessoa cega.<br />
• O uso de imagens em relevo. As ilustrações feitas em relevo<br />
são utilizadas para que as informações visuais possam ser<br />
eficientemente comunicadas.<br />
• A tipografia aumentada. O texto é diagramado em maior tamanho<br />
para facilitar a leitura pela pessoa com baixa visão.<br />
• O contraste de cores. Cores contrastantes foram escolhidas<br />
para que a identificação tanto do texto em tinta quanto das<br />
imagens fosse facilitado.<br />
• O livro foi pensado para que a sua história pudesse ser conhecida<br />
pelo maior número de usuários possível.<br />
LIVRO<br />
12<br />
O livro como suporte de informações de que se tem ciência hoje<br />
é o resultado de um processo evolutivo que anda lado a lado com<br />
as civilizações humanas. A história do livro passa por marcações em
paredes de cavernas, tabuletas de argila gravadas na Mesopotâmia,<br />
jiaguwen (ou inscrições feitas em carapaças de tartaruga), pergaminhos<br />
egípcios, e os textos religiosos do cristianismo.<br />
São diversas as formas de registro levantadas em culturas diferentes<br />
até a apresentação do códex, ou livro moderno comumente<br />
identificado como uma<br />
coleção de folhas de papel cortadas, dobradas e reunidas<br />
em cadernos cujos dorsos são unidos por meio<br />
de cola, costura ou grampos, formando um volume<br />
que se recobre com capa. (PAIVA, 2010, p.83).<br />
Livro Infantil<br />
O livro passa por uma série de transformações não só estruturais,<br />
mas também de conteúdo. Conforme a produção de livros se desenvolve,<br />
o mercado leitor expande, permitindo o lançamento de livros<br />
com diferentes finalidades. Hoje, são vários os tipos de livros encontrados<br />
no mercado: livros acadêmicos, histórias em quadrinhos, livros<br />
de ficção, biografias…<br />
Dentre as categorias de livros ainda encontra-se o livro infantil.<br />
São livros feitos para chamar a atenção de um público mais jovem.<br />
Hunt (2010, p. 96) definiu a literatura infantil como “livros lidos por;<br />
especialmente adequados para; ou especialmente satisfatórios para<br />
membros do grupo hoje definido como crianças”.<br />
O livro feito para crianças é comumente identificado por certas<br />
características específicas: uso de imagens, textos curtos e de rápida<br />
compreensão, histórias breves, introdução de personagens personificados,<br />
identificação com o mundo infantil, etc.<br />
Do ponto de vista histórico, os livros para criança<br />
são uma contribuição valiosa à história social, literária<br />
e bibliográfica; do ponto de vista contemporâneo,<br />
são vitais para a alfabetização e para a<br />
cultura, além de estarem no auge da vanguarda da<br />
relação palavra e imagem nas narrativas, em lugar<br />
da palavra somente escrita. (HUNT, 2010, p. 46).<br />
13
O primeiro contato com o livro de muitas pessoas se dá na infância.<br />
O livro infantil torna-se então um abridor de portas. Os livros<br />
contribuem na formação da criança, no seu aprendizado e desenvolvimento.<br />
Segundo Piaget (2003, p. 37), a construção da inteligência<br />
deriva da ação. Através de interações com o mundo real, o indivíduo<br />
é capaz de criar de estruturas de pensamento lógicas a fim de interpretar<br />
os estímulos externos a que é submetido.<br />
Assim, o livro infantil torna-se um recurso que permite o desenvolvimento<br />
da inteligência na criança. São oferecidas informações<br />
que o leitor deve assimilar para extrair dali suas próprias conclusões.<br />
Peter Brown, um autor e ilustrador de livros infantis americano,<br />
apresenta em suas histórias mescla entre representações miméticas<br />
(literais) e não-miméticas (simbólicas). A interpretação do que está<br />
descrito na superfície das páginas e das mensagens que podem estar<br />
ocultas em metáforas acontece em camadas.<br />
Em Minha Professora É Um Monstro! (Não sou, não) (2015), a professora<br />
é apresentada literalmente como um monstro de pele verde<br />
e dentes afiados. A professora grita e é rigorosa, e sua posição de<br />
autoridade é retratada através<br />
de sua aparência amedrontante.<br />
Conforme Beto, o protagonista<br />
da história conhece a professora,<br />
suas feições de monstro<br />
vão sendo trocadas por feições<br />
mais humanas. As ilustrações<br />
mostram que o monstro era<br />
apenas a imaginação de Beto, e<br />
que a professora é na verdade<br />
humana assim como todos os<br />
outros personagens mostrados<br />
no livro. A história ensina que<br />
as coisas nem sempre são o que<br />
parecem ser no começo.<br />
Figura 02: Livro Minha Professora É Um<br />
Monstro! (Não sou, não)<br />
Fonte: intrinseca.com.br<br />
14
Figura 03: Livro Sr. Tigre Solto na Selva<br />
Fonte: intrinseca.com.br<br />
No livro Sr. Tigre Solto na Selva<br />
(2016), Brown conta a história<br />
de Sr. Tigre, um tigre de terno e<br />
cartola que vive sua vida na cidade.<br />
Cansado da vida monótona,<br />
Sr. Tigre tenta ser selvagem, mas<br />
os outros animais repudiam suas<br />
ações. Quanto mais Sr. Tigre age<br />
como animal, mais isolado fica.<br />
O personagem tem que entrar<br />
em consenso entre o que<br />
ele quer ser, e o que a sociedade<br />
espera que ele seja. Apesar do<br />
personagem animal mostrado<br />
nas ilustrações, é facilmente reconhecível<br />
o conflito que aflige<br />
não só a crianças mas também<br />
a adultos. Na superfície, o autor<br />
conta a história de um tigre cansado<br />
de viver na cidade. Analisando<br />
com mais cuidado, Brown abre espaço para<br />
questionamentos profundos quanto ao indivíduo e<br />
a busca pelo seu eu.<br />
Outro exemplo de uso de linguagem metafórica<br />
é o livro O que você faz com uma ideia? (2016) de Kobi Yamada. O autor transforma<br />
a “ideia” em um ovo com pernas que segue<br />
o protagonista onde quer que ele vá. A ideia vira<br />
um personagem que interage com outros e com<br />
o meio. As pessoas olham para a ideia sem entender<br />
o que ela é; a ideia cresce; a ideia acompanha<br />
o protagonista na hora de dormir; o protagonista<br />
passa a nutrir afeto pela ideia como se ela fosse<br />
uma amiga… Através de situações literais ilustradas,<br />
o autor mostra a trajetória de uma ideia<br />
- uma reflexão pessoal e não-palpável.<br />
Figura 04: Livro O que você faz com<br />
uma ideia?<br />
Fonte: editoravoo.com.br<br />
15
O livro infantil, apesar de ser pensado para crianças, comumente<br />
passa pelas mãos adultas. Os adultos tornam-se mediadores ao<br />
comprar, ou ao ler em voz alta esses livros para as crianças. Dessa<br />
forma, muitas editoras utilizam do recurso do dual adress (destinatário<br />
duplo) para que seus livros sejam cativantes para ambos os<br />
públicos. É o que acontece no uso da narrativa em camadas, onde<br />
certas referências serão facilmente assimiladas pelo público infantil,<br />
mas algumas metáforas mais complexas serão mais apreciadas<br />
pelos adultos.<br />
Livro Ilustrado<br />
A maioria dos livros infantis encontrados no mercado são livros<br />
com imagens coloridas que atiçam o interesse das crianças. O livro<br />
ilustrado, por sua vez, é o tipo de livro que aproveita o poder da imagem<br />
como recurso comunicativo. Segundo Linden (2011, p.24),<br />
livros ilustrados são obras em que a imagem é espacialmente<br />
preponderante em relação ao texto,<br />
que aliás pode estar ausente. A narrativa se faz de<br />
maneira articulada entre texto e imagens.<br />
Os livros ilustrados fazem uso de uma variedade de técnicas e<br />
estilos que enriquecem a experiência de ler, sendo que esta leitura<br />
acontece em ambos campos textual e imagético. O potencial comunicativo<br />
da imagens no sua vez, evoluiu gradaticamente com o desenvolvimento<br />
dos processos de reprodução gráfica.<br />
Até o fim do século XVIII, por exemplo, era aproveitada a versatilidade<br />
da técnica de xilogravura para reprodução de ilustrações. Entretanto,<br />
as imagens nesses livros ainda eram limitadas devido à complexidade<br />
da produção de matrizes e o texto ainda era o elemento<br />
principal de comunicação.<br />
A partir do uso da técnica de estêncil, é possibilitado o aumento<br />
do número de imagens, e as páginas passam a ter várias ilustrações<br />
coloridas combinadas com o conteúdo verbal.<br />
A difusão dos livros ilustrados no mercado se dá com a popularização<br />
dos livros infantis de bolso e dos experimentos de impressão<br />
16
explorando materiais e entintamentos diversos. Com o passar dos<br />
anos, surgem livros inovadores, como os livros-fotográficos, livros<br />
sem palavras, livros de artista etc.<br />
O livro ilustrado passa então a ser pensado de forma que texto e<br />
imagem se complementem e a capacidade comunicativa da imagem<br />
seja explorada ao máximo. Conforme as técnicas de impressão vão<br />
se desenvolvendo, o papel da imagem nos livros torna-se proeminente.<br />
Diferente do livro com ilustrações, no qual o texto independe<br />
da imagem, no livro ilustrado, o conteúdo imagético é indispensável<br />
ao desenrolar da narrativa. A imagem surpassa o papel de mero elemento<br />
de adorno para envolver e trabalhar em conjunto com o texto,<br />
criando uma composição harmônica com os demais elementos<br />
que constituirão cada uma das páginas do livro.<br />
Livros ilustrados são comumente destinados ao público infantil,<br />
uma vez que o impacto visual de uma imagem é maior e a mesma<br />
é assimilada mais rapidamente do que um trecho de texto. A ilustração<br />
no livro infantil contribui no entendimento da narrativa pela<br />
criança em seus primeiros anos de leitura, além de tornar a experiência<br />
de leitura algo mais atraente e cativante.<br />
Em 1967, o escritor e ilustrador francês Maurice Sendak publica o<br />
livro Onde vivem os monstros, que viria a se tornar uma referência<br />
no uso da imagem nos livros infantis. O livro conta a história de Max,<br />
um garoto que quando acaba de castigo dentro de seu quarto, sai em<br />
uma aventura até a terra onde vivem os monstros.<br />
A história é escrita em frases<br />
curtas acompanhadas de imagens.<br />
A primeira ilustração da<br />
história é pequena e encontra-se<br />
centralizada na página com uma<br />
espessa margem branca delimitando<br />
suas bordas. Conforme<br />
a narrativa avança, a margem<br />
diminui e a imagem aumenta.<br />
Figura 05: Livro Onde vivem<br />
os monstros<br />
Fonte: Elaborada pela autora<br />
17
Enquanto Max está trancado em seu quarto, árvores começam a<br />
nascer e sua folhagem extrapola os limites da moldura branca que<br />
envolve a ilustração. A floresta vai crescendo até que o quarto de<br />
Max não existe mais. A imagem passa a ocupar toda a página, estendendo-se<br />
até a página ao lado. As ilustrações crescem conforme<br />
Max viaja mundo afora até encontrar a terra dos monstros e virar<br />
rei. Depois de uma sequência de páginas duplas que mostra Max vivendo<br />
entre os monstros, o narrador volta para falar da insatisfação<br />
de Max. Max decide voltar para casa, e as imagens vão diminuindo<br />
acompanhando sua viagem, até estar de volta ao seu quarto.<br />
Onde vivem os monstros é um livro que aproveita<br />
o potencial imagética de comunicação. Ao<br />
mesmo tempo em que as ilustrações em si contam<br />
uma história, a forma como as imagens são posicionadas<br />
nas páginas adiciona uma nova camada<br />
de informações à narrativa. A ocupação das páginas pelas ilustrações<br />
indica a expansão e contração do mundo imaginário de Max.<br />
O tipo de narrativa desenvolvida neste projeto usa ilustrações de<br />
contraponto, no qual há a complementação entre o conteúdo escrito<br />
e o imagético. Nikolajeva e Scott (2011) dizem que o contraponto<br />
nos livros ilustrados pode se dar através de vários recursos, de forma<br />
que as informações dadas possibilitem múltiplas interpretações<br />
e estimulem a imaginação do leitor. A história segue de forma que<br />
as informações verbais e imagéticas levantem detalhes distintos na<br />
leitura, oferecendo camadas de informação a serem identificadas e<br />
interpretadas pelo leitor.<br />
Figura 06: Comparação de página Onde<br />
vivem os monstros<br />
Fonte: Elaborada pela autora<br />
18
Livro Tátil<br />
Livros táteis são livros que exploram a materialidade dos livros,<br />
permitindo a leitura dos mesmos através de estímulos táteis identificáveis<br />
em suas páginas. A exploração tátil permite que a leitura<br />
desses livros possa também ser feita sem o uso da visão.<br />
Segundo Munari (2008, p. 223),<br />
[...] nos primeiros anos de vida as crianças conhecem<br />
o ambiente que as rodeia por meio de todos<br />
os seus receptores sensoriais, e não apenas através<br />
da visão ou da audição, percebendo sensações táteis,<br />
térmicas, sonoras, olfativas…<br />
Através da exploração das páginas, os livros táteis tornam-se<br />
ferramentas de aprendizado. Essas produções estimulam a criatividade<br />
da criança através dos estímulos sensoriais e da forma não-linear<br />
de comunicação.<br />
Bruno Munari apresenta no livro Das coisas nascem as coisas<br />
(2008), o processo produtivo de seu livro ilegível, e posteriormente,<br />
sua coleção de doze pré-livros.<br />
Ambos os projetos propunham<br />
ver o livro como um objeto<br />
a ser manuseado sem estar<br />
preso ao seu conteúdo verbal.<br />
Dessa forma, Munari explora<br />
papéis com formatos, cores,<br />
gramaturas e texturas variadas,<br />
explorando superfícies<br />
ásperas, lisa, rígidas, flexíveis,<br />
etc. como recursos de comunicação.<br />
Os pré-livros permitem<br />
a exploração das páginas<br />
livremente, e uma vez que não<br />
são acompanhados de texto,<br />
abrem espaço para a criatividade<br />
e desenvolvimento de<br />
pensamento infantil.<br />
Figura 07: Livro de frutas<br />
Fonte: Autoria própria<br />
19
Em se tratando da informação textual de um livro tátil, é comumente<br />
adotado o Sistema Braille de escrita. A escrita criada por Louis<br />
Braille em 1825 consiste na formação de caracteres em relevo a<br />
partir de combinações de pontos dentro da cela de braille. A cela de<br />
braille é o agrupamento de seis pontos, distribuídos em três linhas e<br />
duas colunas numerados de 1 a 6.<br />
Figura 08: Cela de<br />
Braille<br />
Fonte: Elaborada<br />
pela autora<br />
A cela de braille permite 63 combinações diferentes. Na língua<br />
portuguesa, quase todas os sinais mantém o significado original, com<br />
exceção de algumas vogais acentuadas e sinais exclusivos da língua.<br />
Figura 09: Caracteres em braille<br />
Fonte: Elaborada pela autora<br />
20
Na estruturação dos textos, a escrita em braille ainda pode ser<br />
feita de maneira integral ou abreviada. Na escrita integral, ou grau<br />
1, todos os caracteres do sistema comum de escrita tem correspondente<br />
em braille. Já na escrita abreviada, grau 2, um caractere pode<br />
representar mais de uma letra, e até mesmo palavras inteiras.<br />
A ilustração tátil, por sua vez deve contribuir no desenvolvimento<br />
da narrativa da mesma forma que a ilustração visual contribui para o<br />
leitor que vê. Diferem, no entanto, no seu processo de elaboração. De<br />
acordo com a American Printing House for the Blind (APH), organização<br />
sem fins lucrativos desenvolvedora de serviços e produtos para<br />
pessoas com deficiência visual,<br />
Ao contrário das ilustrações visuais, que usam a<br />
perspectiva de cores, formas e distâncias para fornecer<br />
informações ao espectador, as ilustrações<br />
táteis que dependem da textura, tamanho e<br />
sequência fornecem as informações mais significativas<br />
para um jovem aprendente táctico.<br />
A ilustração tátil utiliza de alternativas às informações visuais<br />
para contribuir com a história a ser contada. Da mesma forma em<br />
que composições específicas de cores em uma ilustração visual<br />
permitem a exploração da página e interpretação pelo leitor, a<br />
ilustração tátil deve utilizar de outros recuros a fim de comunicar<br />
informações relevantes à narrativa ao leitor com deficiência visual.<br />
Entretanto, o processo de interpretação de uma imagem visual<br />
e de uma tátil não é o mesmo. Primeiramente, a leitura para o cego<br />
está limitada a suas mãos. Enquanto que a visão permite percepção<br />
imediata da imagem, a leitura da ilustração tátil se dá por partes.<br />
Esse tipo de ilustração requer maior esforço e concentração do leitor<br />
para seu entendimento.<br />
Outra questão que influencia a leitura tátil é o reconhecimento<br />
de signos. Os signos, apesar de serem representações de coisas<br />
no mundo real, não são suas réplicas fidedignas. O reconhecimento<br />
desses signos é dificultado se o leitor cego não estiver familiarizado<br />
com os mesmos. Da mesma forma em que signos podem ser mal<br />
compreendidos, variação na escala de objetos reais ou reprodução<br />
de objetos tridimensionais em duas dimensões, mesmo que acompanhados<br />
de texturas realistas, podem causar confusão na leitura.<br />
21
Interpretação tátil é uma questão de complexidade, e as ilustrações<br />
táteis devem ser pensadas de forma que causem o menor<br />
grau de confusão possível.<br />
Os livros da Coleção Adélia de Lia Zatz são exemplos de livros táteis<br />
infantis disponíveis no Brasil. O projeto tátil é resultado de pesquisa<br />
e estudos da designer Wanda Gomes para adequação da coleção ao<br />
leitor cego e de baixa visão.<br />
O conteúdo textual apresenta<br />
escrita em braille e as<br />
ilustrações são acompanhadas<br />
de partes texturizadas que<br />
permitem a leitura tátil dos<br />
elementos. No entanto, apesar<br />
do uso de diferentes texturas<br />
ao longo dos livros, esses elementos<br />
táteis tem o reconhecimento<br />
dificultado pela falta de<br />
clareza dos desenhos. A coleção<br />
ainda usar contraste forte de<br />
cores e dupla-escrita que permite<br />
também a leitura em tinta, expandindo<br />
Figura 10: Livros Coleção Adélia<br />
seu<br />
potencial de leitura a leitores com baixa visão e<br />
visão normal. A coleção também tem páginas com<br />
cheiros estimulando um tipo de comunicação envolvente<br />
que requer o uso de mais de um sentido.<br />
Fonte: wgproduto.com.br<br />
Figuras 11 e<br />
12: Detalhes<br />
de páginas da<br />
Coleção Adélia<br />
22<br />
Fonte: wgproduto.<br />
com.br
Livro Hipermídia<br />
Conforme a versatilidade do livro é explorada, novos formatos são<br />
utilizados com propostas distintas de narrativa. Hoje, é possível encontrar<br />
com facilidade livros digitais ou e-books, muitos ainda voltados<br />
ao público infantil.<br />
Livros em formato digital oferecem uma forma nova de abordar a<br />
ideia de livro: a interface do livro digital permite exploração de diversos<br />
outros recursos de comunicação além do texto. Ela explora sons,<br />
animações e sistemas de interação com o leitor.<br />
A história em hipermídia, quando desenvolvido de forma correta,<br />
não segue a linearidade do livro convencional, abrindo espaço para<br />
exploração e permitindo expansão do universo da narrativa.<br />
Assim como na primeira parte do projeto “<strong>Edifício</strong> <strong>Vagalumes</strong>”<br />
há a exploração extrema da fisicalidade do livro, a próxima etapa irá<br />
desenvolver uma história com o maior aproveitamento dos recursos<br />
tecnológicos digitais possíveis.<br />
Figura 13 e 14: Livro para smartphone O<br />
Menino e o Foguete<br />
Fonte: euleioparaumacriança.com.br<br />
23
DESENVOLVIMENTO
METODOLOGIA<br />
O desenvolvimento do projeto inicia-se com a pesquisa a fim de<br />
estabelecer diretrizes para a produção do livro. Dentre os tópicos de<br />
preocupação do projeto estão:<br />
• Definição de cegueira e baixa visão e estudo a fim de entender<br />
as capacidades e necessidades do leitor cego ou com baixa visão;<br />
• Aprofundamento dos conceitos de acessibilidade e design universal<br />
para aplicação de seus princípios nos elementos do livro;<br />
• Análise de similares e identificação de aspectos positivos e negativos<br />
relevantes ao projeto;<br />
• Estudo dos recursos narrativos utilizados nas histórias criadas<br />
para entreter o público infantil;<br />
• Contato com o Garagem Fab Lab, laboratório de fabricação<br />
digital localizado em São Paulo para contato com as tecnologias<br />
disponíveis e levantamento de opções aplicáveis ao livro.<br />
O conhecimento adquirido nas diversas áreas estudadas foi base para<br />
as escolhas feitas no decorrer da produção até a finalização do livro.<br />
O processo de criação, por sua vez, pode ser dividido em três partes:<br />
a narrativa, o projeto gráfico e o tátil. A narrativa é referente<br />
ao universo desenvolvido para a história e à criação dos personagens.<br />
Dentro do projeto gráfico encontram-se a escolha de cores,<br />
tipografia e elementos gráficos criados. Já na parte tátil do projeto<br />
está a escrita em braille, as intervenções com textura nas páginas e<br />
as peças manuseáveis. O desenvolvimento das três partes é concomitante,<br />
uma vez que escolhas feitas em uma das partes influencia<br />
diretamente as outras.<br />
Inicia-se com a delimitação do universo. A partir daí, são desenvolvidos<br />
esboços de personagens e elaborada a história inicial.<br />
Com a história escrita, é decidido o número de páginas. São feitos<br />
testes de diagramação, tipografias, ilustrações e encadernações. O<br />
texto em braille é redigido e delimita o espaço utilizável do livro. As<br />
ilustrações são divididas entre as páginas, assim como são definidos<br />
os elementos táteis que irão representar cada momento da história.<br />
Por fim, são criados os moldes e as peças manuseáveis são cortadas.<br />
25
FORMATO E MATERIAIS<br />
A Typhlo & Tactus Tactile Book Competition, competição internacional<br />
de livros ilustrados táteis promovido pela Typhlo & Tactus, organização<br />
focada na produção de livros táteis de qualidade e eficientes<br />
estipula requerimentos que devem ser atendidos na submissão<br />
de livros. Um dos requerimentos diz que o livro não deve ser maior<br />
que 11.75 x 8.25 polegadas (300 x 210 milímetros). Para que o espaço<br />
para o braille da reglete fosse otimizado, foi escolhido o formato 240<br />
x 180 mm. O livro tem um total de 44 páginas em impressão digital.<br />
Quanto aos materiais e instrumentos utilizados tanto na produção<br />
do livro quanto nos elementos móveis, segue lista abaixo.<br />
Para a estrutura do livro:<br />
• Papel Couchê fosco 300g/m²<br />
• Papel Paraná 2mm<br />
• Papel Contact<br />
• Papel Pérsico 180g/m²<br />
• Tecido Tricoline<br />
• Linha de algodão<br />
• Cola de silicone<br />
Para as ilustrações táteis:<br />
26<br />
• Papel Pérsico 180g/m²<br />
• Papel Casca de Ovo 180g/m²<br />
• Papel adesivo<br />
• Papel camurça<br />
• Pó para flocagem<br />
• Linha de algodão<br />
• Pano feltro<br />
• EVA com glitter<br />
• EVA toalha<br />
• Esmalte<br />
• Juta<br />
• Tinta para tecido<br />
• Cola branca<br />
• Cola permanente
Para o braille:<br />
• Transparência 75 micras<br />
Para as peças manuseáveis:<br />
• Acrílico 2mm<br />
• Papel camurça<br />
• Pó para flocagem<br />
• Pano feltro<br />
• Juta<br />
• Cola de silicone<br />
• Cola permanente<br />
Instrumentos:<br />
• Tesouras<br />
• Régua<br />
• Estilete<br />
• Palito de metal<br />
• Agulhas de costura<br />
• Alfinetes<br />
• Pincéis<br />
• Garfo<br />
• Reglete<br />
• Punção<br />
• Bastidor para bordar<br />
Figura 15:<br />
Instrumentos e<br />
materiais<br />
Fonte: Elaborada<br />
pela autora<br />
27
NARRATIVA<br />
28<br />
Para facilitar a organização de informações, será considerado<br />
como “história” a fração do universo colocado nesse primeiro livro e<br />
“narrativa” como termo que engloba detalhes ainda não explorados<br />
mas que fazem parte do universo criado.<br />
Considerando que o projeto “<strong>Edifício</strong> <strong>Vagalumes</strong>” tem continuidade<br />
além do livro desenvolvido nessa parte, o universo desenvolvido<br />
para a narrativa ainda pode ser expandido. Ele vai além do explicitado<br />
na história inicial e permite criação de novos episódios a partir dos<br />
mecanismos de funcionamento básicos do mundo criado.<br />
A premissa do universo explorado é a de que todas as criaturas<br />
mitológicas, lendas e aparições paranormais de que se tem registro<br />
nas culturas humanas na verdade são reais. Esses seres fantásticos só<br />
aprenderam a se camuflar entre as pessoas conseguindo viver entre<br />
elas de forma cautelosa.<br />
As criaturas fantásticas não eram limitadas pelas regras comuns.<br />
Suas habilidades refutavam a ciência e suas existências impossíveis<br />
confundiam a lógica humana. Eram guardiões de conhecimentos<br />
muito mais avançados que suas épocas.<br />
O medo do desconhecido e a insegurança frente a seres com capacidades<br />
incomuns causaram o distanciamento entre humanos e<br />
não-humanos. Mesmo entidades tidas como divinas que outrora<br />
eram veneradas, ao passar de poucos séculos passavam a ser vistas<br />
com receio, e até certo ponto, temidas.<br />
Foi então que a perseguição a esses seres diferentes começou.<br />
Expulsos de suas vilas, massacrados em praça pública, perseguidos<br />
além de fronteiras territoriais e queimados em grandes pilhas, foram<br />
caçados até serem reduzidos a meras histórias de faz-de-conta. Os<br />
monstrinhos foram submetidos a uma vida de terror, violência, e no<br />
melhor dos casos, isolamento nos confins do mundo ainda não tocados<br />
pelos barbáricos humanos.<br />
Muitos anos se passaram, e a humanidade prosperou sob a regra<br />
do mais forte. Usando sempre algo ou alguém descartável para subir<br />
um degrau mais alto, as civilizações humanas se desenvolveram<br />
enquanto os seres fantásticos assistiam seu povo, sua cultura, sua<br />
história morrendo cada dia mais.
Uma vez ou outra, um monstrinho curioso deixava a proteção de<br />
seu povo para se aventurar mundo humano adentro. Às vezes, nada<br />
de ruim acontecia e ele conseguia voltar para casa com histórias fantásticas<br />
sobre o exótico mundo lá fora. Quando eram avistados por<br />
algum humano, sempre causavam alguma comoção - as aparições<br />
registradas ao longo das épocas eram prova suficiente disso. Em outros<br />
casos, não voltavam e restava aos entes deixados para trás imaginar<br />
o que teria acontecido. A única coisa certa e que mantinha-se<br />
inalterada era o fato de que os humanos no geral ainda não eram<br />
nada receptivos a eles.<br />
No mundo humano, a tecnologia avançava. Apetrechos digitais<br />
e máquinas que pensavam no lugar de pessoas popularizavam-se<br />
e apareciam por toda parte. A vida das pessoas tornava-se cada vez<br />
mais atarefada e agitada. Muitos não tinham sequer tempo para tirar<br />
os olhos das telas de se seus dispositivos eletrônicos.<br />
Ao mesmo tempo, entre os seres confinados, aumentavam os relatos<br />
de monstrinhos que iam para as cidades humanas e conseguiam<br />
passar o dia à vista sem serem descobertos. As pessoas estavam<br />
tão ocupadas olhando para o próprio umbigo que não percebiam o<br />
que acontecia logo do seu lado. As crianças eram as mais atentas,<br />
mas até isso parecia estar se perdendo.<br />
Então, os monstrinhos começaram a se arriscar. Pouco a pouco,<br />
deixaram seus esconderijos para encontrar lares entre os humanos<br />
desatentos. Alguns céticos continuam morando em florestas e grutas<br />
subterrâneas longe dos perigos da humanidade, mas muitos subiram<br />
à superfície com suas famílias.<br />
Hoje, os monstrinhos vivem escondidos em campo aberto entre<br />
os humanos. Eles frequentam os mesmos lugares, trabalham e vivem<br />
em harmonia como se fossem iguais. Apenas porque os humanos<br />
parecem incapazes de percebê-los.<br />
E mesmo quando alguém parece perceber alguma coisa, deixa<br />
passar com um dar de ombros. Tenta encontrar uma explicação<br />
plausível dentro de seus padrões: “é um artista excêntrico”, “é uma<br />
filmagem de um programa de TV”, “é o cansaço e o estresse do trabalho<br />
me fazendo ver coisas”... Nas raras ocasiões em que algué tenta<br />
falar e alertar aqueles ao seu redor, vira motivo de chacota ou é<br />
diagnosticado como louco.<br />
29
Os seres fantásticos vivem protegidos por uma segurança instável<br />
que pode dizimá-los logo que se depararem com uma sequência de<br />
acontecimentos menos favorável. Os humanos podem não perceber<br />
a exisência dos monstrinhos no dia-a-dia normal, mas o perigo de<br />
ser descoberto perdura.<br />
Para manter sua liberdade por um pouco mais de tempo, os monstrinhos<br />
ainda tomam as precauções mínimas para que suas identidades<br />
não causem surpresas alarmantes.<br />
No entanto, o risco de serem descobertos ainda parece para muitos<br />
uma opção melhor para sobreviver. A vida entre humanos é mais<br />
prática, mesmo que eles tenham que esconder uma parte de sua<br />
identidade constantemente. É uma decisão tomada a fim de adiar a<br />
extinção de suas raças.<br />
Numerologia do Universo<br />
A numerologia é um tipo de estudo que analisa a influência dos<br />
números no cotidiano das pessoas. Ela reconhece determinadas<br />
sequências numéricas como influenciadoras de personalidades, relacionamentos,<br />
espiritualidade, decisões, etc.<br />
Existem vários métodos de interpretação numerológica no mundo.<br />
Os números podem ser interpretados a partir de datas, nomes,<br />
endereços ou documentos; cada signo astrológico possui seus números<br />
da sorte; culturas diferentes atribuem significados diferentes<br />
para dados números...<br />
Na narrativa, a numerologia foi utilizada para embasar certos detalhes<br />
de personagens e localizações. Ao longo da expansão do universo,<br />
também é possível determinar situações marcantes a partir de<br />
datas favoráveis a tais acontecimentos.<br />
A escolha dos nomes dos moradores do <strong>Edifício</strong> e dos apartamentos<br />
ocupados pelos mesmos foi feito utilizando a numerologia<br />
pitagórica. O site We Mystic (http://www.wemystic.com.br) dá instruções<br />
para identificar traços de personalidade a partir da contagem<br />
das letras do nome de uma pessoa.<br />
Nesse caso, foi feita uma operação contrária, na qual os nomes foram<br />
encontrados a partir dos tipos de personalidades de cada número.<br />
30
<strong>Edifício</strong> <strong>Vagalumes</strong><br />
O <strong>Edifício</strong> <strong>Vagalumes</strong> era um lugar engraçado.<br />
Para começar, os andares do prédio pareciam<br />
empilhados como as camadas de um bolo.<br />
-trecho da história<br />
Um prédio antigo de nove andares localizado em uma área residencial tranquila de<br />
uma cidade genérica. Foi comprado por um senhor de idade depois da morte de sua<br />
esposa para que o senhor pudesse manter contato com tipos diferentes de pessoas.<br />
A sua localização afastada, a exuberância de verdes e a recepção calorosa de um<br />
senhor com visão fragilizada o suficiente para não julgar seus inquilinos pelas suas<br />
aparências físicas foram fatores que levaram muitos moradores fantásticos a residirem<br />
ali.<br />
Coincidentemente ou não, com exceção do dono do <strong>Edifício</strong>,<br />
todos os moradores até a chegada de Felipe e sua família são<br />
monstrinhos. Apesar de já ter sido a casa de outros moradores<br />
humanos no passado, no momento da história, nenhum<br />
outro reside no <strong>Edifício</strong>. Graças à ausência de humanos, os<br />
moradores não precisam esconder o que são quando no<br />
<strong>Edifício</strong> <strong>Vagalumes</strong>.<br />
O dono do prédio é responsável pela manutenção do<br />
local, mas o restante dos moradores colaboram de bom<br />
grado para manter o <strong>Edifício</strong> <strong>Vagalumes</strong> um local agradável<br />
de se viver.<br />
Curiosidades:<br />
O número 9 na cultura japonesa é um número de<br />
má sorte. O caractere 九 (nove) lido ku tem a mesma<br />
pronúncia de 苦 (sofrimento, agonia). O <strong>Edifício</strong> <strong>Vagalumes</strong><br />
ter nove andares simboliza um lugar de má sorte,<br />
onde estão aglomeradas pessoas que enfrentaram diversos<br />
empecilhos ao longo da vida e acabaram todas<br />
sob o mesmo teto.<br />
Figura 16: <strong>Edifício</strong> <strong>Vagalumes</strong><br />
Fonte: Elaborada pela autora<br />
31
PERSONAGENS<br />
Os personagens da narrativa podem ser divididos em três categorias:<br />
os humanos, os seres fantásticos e os animais.<br />
Dentro da história, os personagens humanos identificados são Felipe,<br />
sua família (Mamãe Ingrid e a bebê Laurinha) e o porteiro Seu Jonas.<br />
Dentre os animais estão os bichos de estimação de Felipe - a gata<br />
Pudim e o peixe Bernardo. Todos os outros moradores do <strong>Edifício</strong> <strong>Vagalumes</strong><br />
caem sob a categoria “seres fantásticos”, ou “monstrinhos”.<br />
A diferenciação entre humanos e não-humanos se dá principalmente<br />
pelas aparências físicas das duas partes. Os não-humanos podem<br />
apresentar caudas, asas, chifres, garras, diversos pares de membros<br />
ou ausência deles que os diferenciam da estrutura genérica de<br />
um humano. Já entre os seres fantásticos e os animais, a separação<br />
se dá pela maior capacidade intelectual dos primeiros. Os seres fantásticos<br />
tem cultura e história; comunicam-se e aprendem assim<br />
como os humanos. São seres racionais.<br />
Existe ainda uma subcategoria, que seria a mistura entre humanos<br />
e seres sobrenaturais. É o caso de Mila, cujos antepassados foram<br />
considerados divindades de corpo humano e cabeças felinas. Lentamente,<br />
a mistura genética faz com que as características não-humanas<br />
sejam cada vez menos evidentes a cada geração.<br />
32
33
Felipe<br />
Figura 17: Felipe<br />
Fonte: Elaborada<br />
pela autora<br />
Significado do nome:<br />
Felipe: “aquele que gosta de cavalos”. Faz paralelo com o livro As<br />
Viagens de Gulliver de Jonathan Swift, 1729. Em Laputa, uma das ilhas<br />
visitadas no livro de Swift, Gulliver encontra uma raça de cavalos<br />
extremamente inteligentes, enquanto os humanóides são animais<br />
selvagens. Em contrapartida, Felipe entra em contato com seres que<br />
não são humanos, mas que possuem capacidades que põem em dúvida<br />
as certezas do conhecimento humano.<br />
Sobre o personagem:<br />
34<br />
É o filho mais velho da família. Tem nove anos. Vivenciou o divórcio<br />
de seus pais sem entender muito bem o que todas as discussões<br />
furtivas tarde da noite significavam. Quando se deu conta, o pai já<br />
não morava mais com eles. É uma criança curiosa e observadora. Entende<br />
os esforços que a mãe faz para conseguir manter a família, e<br />
por ter uma irmã bebê tem um senso de independência e responsabilidade<br />
consideravelmente avançado para sua idade.<br />
Sua mente é mais inclinada para lado lógico do que o emocional<br />
do espectro. Procura por respostas racionais para as situações que<br />
são coladas na sua frente. É uma criança introvertida e sistemática.<br />
Pela mãe estar sempre ocupada, sente que é seu dever cuidar da<br />
irmã menor. É, por isso, uma criança muito responsável.
Felipe é curioso e muito interessado em conhecer cada vez mais<br />
sobre o mundo novo e as criaturas incríveis que existem nele. É através<br />
dele que o universo é apresentado ao leitor.<br />
Sua cor é o vermelho, pois é o protagonista/ líder da história.<br />
Participação na história:<br />
Felipe é o protagonista da história. A narrativa segue seu ponto<br />
de vista. Num primeiro momento, é um herói passivo, o mundo é<br />
apresentado para ele, e o desenrolar da história se dá ao seu redor. O<br />
desenvolvimento do personagem é muito mais interno do que expresso<br />
em ações perceptíveis externamente.<br />
Curiosidades:<br />
O peixe Bernardo foi um presente de despedida da sua melhor<br />
amiga Tatá quando ficou decidido que a família teria que se mudar<br />
para outra cidade.<br />
Tem uma coleção de conchas.<br />
35
Mamãe Ingrid<br />
Figura 18: Mamãe<br />
Ingrid<br />
Fonte: Elaborada<br />
pela autora<br />
Significado do nome:<br />
Ingrid: “a amazona de Ingvi”. Ingvi é um deus germânico relacionado<br />
a novos começos.<br />
Sobre o personagem:<br />
É a mãe de Felipe e a responsável pela família. Tem também uma<br />
filha ainda bebê. Mantém sua aparência impecável em todos os momentos<br />
e a perfeição que emana é intimidante. Veste-se profissionalmente<br />
e anda sempre maquiada.<br />
Desde que se separou do marido, cuida dos dois filhos sozinha<br />
enquanto tenta equilibrar sua carreira como arquiteta. Mudou de<br />
empresa para que pudesse trabalhar de casa enquanto cuida dos<br />
dois filhos. Por se dedicar tanto ao trabalho, acaba deixando de dar<br />
atenção às crianças, apesar de amá-los imensamente.<br />
É uma pessoa muito focada e organizada, mas está sempre ocupada<br />
com pendências do escritório. Frequentemente está no telefone<br />
discutindo coisas relacionadas ao seu trabalho. Por ter muitas<br />
preocupações em seu dia-a-dia, acaba mostrando-se desatenta para<br />
questões de “menor importância” na sua vida comum.<br />
36
Mamãe sempre é escrito em maiúsculo, pois sua função materna<br />
na história é parte inerente ao seu personagem. Mamãe Ingrid<br />
é uma mãe rígida e dedicada, e sua vida é dedicada a seus filhos,<br />
mesmo que a pressão e o esforço demandado de si façam com que<br />
ela perca o foco de seus objetivos no meio do caminho.<br />
Participação na história:<br />
“Por causa do trabalho de<br />
Mamãe, a família de Felipe teve<br />
que se mudar. ”<br />
-trecho da história<br />
Mamãe Ingrid representa a negação - a incapacidade de aceitar<br />
o que lhe foi ensinado como impossível. Suas ações marcam o<br />
momento de crise da história. Depois do ocorrido, o restante dos<br />
moradores tem que tomar cuidado para não chamar atenção. Na<br />
cabeça de Mamãe Ingrid, qualquer coisa fora do comum que acontece<br />
depois da história são alucinações, ou peças pregadas pela sua<br />
mente cansada.<br />
Curiosidades:<br />
Quando Mamãe precisa sair e não pode levar os filhos, deixa os<br />
dois com a mãe de Mila. As crianças aproveitam essas ocasiões para<br />
explorar o prédio e brincar com os outros moradores.<br />
37
Bebê Laurinha<br />
Figura 19: Bebê<br />
Laurinha<br />
Fonte: Elaborada<br />
pela autora<br />
Significado do nome:<br />
Laura: “vitoriosa”, “triunfante”. É sempre chamada no diminutivo<br />
pela família, e muitas vezes é apresentada para desconhecidos como<br />
“Laurinha” ou “a bebê Laurinha”.<br />
Sobre o personagem:<br />
Laurinha é a irmã mais nova de Felipe. Tem entre um e dois anos<br />
de idade e usa um pompom no cabelo.<br />
Apesar de ainda não entender, está sempre imitando o irmão e<br />
gosta de participar das atividades dele. Felipe, sendo irmão muito<br />
paciente, dá atenção para a irmã e cuida dela da melhor forma que<br />
pode. Felipe é seu melhor amigo.<br />
É deixada na creche quando Mamãe sai para trabalhar e Felipe vai<br />
para a escola. Acaba chorando às vezes pedindo pela mãe.<br />
Participação na história:<br />
38<br />
Laurinha é um personagem que é somente apresentado na história<br />
para ser desenvolvido ao longo da narrativa. A função de Laurinha<br />
é primariamente desenvolver em Felipe um instinto fraternal<br />
de responsabilidade.
É mimada tanto pela mãe quanto pelo irmão e acaba se irritando<br />
facilmente quando suas vontades não são satisfeitas imediatamente.<br />
Para Laurinha, é como se a gata Pudim fosse um membro de sua família.<br />
Curiosidades:<br />
Não gosta de ervilhas.<br />
Quando era menor, gostava de brincar com o rabo de Pudim. Um<br />
dia, a gata arranhou Laurinha e ela nunca mais ousou puxar o rabo<br />
de Pudim.<br />
39
Gata Pudim<br />
Figura 20: Gata<br />
Pudim<br />
Fonte: Elaborada<br />
pela autora<br />
Significado do nome:<br />
Originalmente, o nome da gata estava relacionada à sua cor. Pudim<br />
teria pelos da cor de caramelo. No desenvolvimento do livro, a<br />
cor foi alterada, mas o nome foi mantido.<br />
Sobre o personagem:<br />
Uma gata de tamanho médio da raça Azul Russo, seu olhos são<br />
grandes e de um tom azulado escuro e seu pelo curto é acinzentado.<br />
É uma felina adulta de movimentos graciosos.<br />
Pudim é um animal personificado que, apesar de não falar, possui<br />
reações similares às dos humanos, tais como mudança de expressões<br />
faciais quando interage com os outros personagens.<br />
O instinto maternal de Pudim faz com que veja Felipe e sua irmã<br />
Laurinha como sua prole. É um bicho de estimação manso que<br />
aprecia passar as tardes em tranquilidade tomando banhos de sol<br />
preguiçosos no jardim.<br />
A gata é territorialista, e apesar de ser indiferente a humanos ou<br />
mesmo aos outros moradores do <strong>Edifício</strong>, não gosta de Mila. Os impulsos<br />
de Mila de correr para abraçar Pudim a qualquer momento<br />
não ajudam a diminuir o desgosto que a gata sente sobre a garota.<br />
40
Participação na história:<br />
Pudim não tem grande participação na história além de sua apresentação<br />
como parte da família de Felipe. Ao longo da narrativa,<br />
Pudim tem função de babá entretendo a bebê Laurinha e certificando-se<br />
de que Felipe não entre em confusões com a garota nova<br />
vizinha.<br />
Curiosidades:<br />
Inúmeras vezes, Pudim tentou comer o peixe Bernardo.<br />
41
Seu Jonas<br />
Figura 21: Seu<br />
Jonas<br />
Fonte: Elaborada<br />
pela autora<br />
Significado do nome:<br />
Jonas: “Pomba”. O personagem é um símbolo de paz e harmonia<br />
no <strong>Edifício</strong> <strong>Vagalumes</strong>. É o personagem que mantém o equilíbrio entre<br />
os dois mundos em conflito dentro daquele universo.<br />
Sobre o personagem:<br />
“No prédio novo, foram recebidos<br />
por um senhorzinho roliço.”<br />
-trecho da história<br />
42<br />
Um homenzinho baixo de bochechas rechonchudas e óculos de<br />
lentes grossas. Tem cabelos grisalhos e olhos cansados.<br />
Por um longo tempo, foi o único morador humano do <strong>Edifício</strong> <strong>Vagalumes</strong>.<br />
Vez ou outra alguns humanos se mudavam para o prédio,<br />
mas quando Felipe e sua família se mudam, é o único que restou.<br />
A família de Seu Jonas consistia de sua esposa e um filho. Seu único<br />
filho morreu ainda criança e o casal não tentou mais ter nenhum.<br />
A morte de seu garoto deixou uma ferida enorme e até os dias de<br />
hoje, Seu Jonas fala de seu filho com melancolia. Sua esposa morreu<br />
quando já eram ambos idosos. Depois de um longo período internada,<br />
ela recebeu alta para que pudesse passar seus últimos dias na<br />
casa que compartilhava com o marido.
Viver sozinho na casa em que tinha passado os momentos mais<br />
felizes, mas também os momentos mais tristes de sua vida fazia com<br />
que os dias se arrastassem um após o outro numa monotonia sem<br />
fim. Foi então que decidiu vender a casa, juntar suas economias e<br />
comprar um prédio praticamente caindo aos pedaços. Nomeou-o<br />
<strong>Edifício</strong> <strong>Vagalumes</strong>.<br />
Graças ao novo trabalho tomando conta do <strong>Edifício</strong>, ele é capaz de<br />
passar os dias conhecendo os outros moradores e mantendo o lugar<br />
aconchegante e receptivo.<br />
Trabalha como porteiro e tem a ajuda de outros funcionários nas<br />
demais atividades de manutenção do prédio, tais como limpeza e jardinagem.<br />
Às vezes, cai no sono enquanto faz seus turnos na portaria.<br />
Seu Jonas é um senhor de idade muito gentil e sorridente. Sempre<br />
cumprimenta os moradores do prédio com um sorriso simpático e<br />
não tem muito no mundo hoje que o faça levantar a voz. Nutre um<br />
carinho enorme pelos moradores do prédio - são como uma nova<br />
família para ele.<br />
Acredita que sua esposa e filho estão em um lugar melhor e espera<br />
se juntar a eles algum dia. Bem-humorado, às vezes faz comentários<br />
sobre sua família falecida: “Ah, se minha velha estivesse aqui,<br />
ela adoraria tirar cochilos debaixo dessa laranjeira”, “Meu filho também<br />
era um sapeca como você, Felipe!”.<br />
Participação na história:<br />
Literalmente abre as portas para a entrada num mundo novo<br />
onde os moradores são diferentes do que se espera comumente. Seu<br />
Jonas tem papel de mentor. Devido a sua idade avançada e experiências<br />
de vida, é uma pessoa sábia procurada para aconselhamentos.<br />
Sua personalidade pacífica e gentileza fazem dele um confidente<br />
importante para muitos moradores.<br />
Curiosidades:<br />
Sua visão é enfraquecida devido a idade, sendo capaz somente<br />
de identificar vultos e formas genéricas mesmo de óculos. Isso deixa<br />
em aberto o grau de ciência do personagem quanto à natureza dos<br />
moradores <strong>Edifício</strong> <strong>Vagalumes</strong>.<br />
43
Mila Baste<br />
Figura 22: Mila<br />
Baste<br />
Fonte: Elaborada<br />
pela autora<br />
Significado do nome:<br />
Mila: “graciosa”, “querida”, “amada pelo povo”, “mensageira dos<br />
deuses”.<br />
Baste: da deusa egípcia Bastet.<br />
O nome foi escolhido para que a numerologia batesse com o tipo<br />
de personalidade de seu nome.<br />
Sobre o personagem:<br />
“...Felipe notou uma coisa na<br />
garota: ela usava orelhas peludas<br />
como as de um gato na cabeça.”<br />
-trecho da história<br />
44<br />
Em anos humanos, é mais nova que Felipe. Tem cabelos alaranjados<br />
e orelhas de gato na cabeça.<br />
Mora com seus pais no apartamento 73. O número do apartamento<br />
foi encontrado a partir da numerologia de seu nome.<br />
Mila é da linhagem de Mafdet, tida como a primeira deusa felina<br />
do Egito e Bastet, filha do deus sol Ra também registrada como mescla<br />
entre corpo humano e cabeça de gato. Madfet é a deusa do julgamento,<br />
justiça e execução, já Bastet é a deusa da fertilidade, da casa,<br />
dos segredos das mulheres e gatos. Bastet é uma entidade que protege<br />
as casas de seus devotos contra espíritos malignos e doenças.
Raramente saiu da área do <strong>Edifício</strong> <strong>Vagalumes</strong>. Foi educada em<br />
casa, e Felipe é a primeira criança com quem tem contato - uma<br />
criança humana ainda por cima. Quando conhece Felipe, Mila não<br />
consegue esconder sua excitação em conhecer alguém tão diferente<br />
do que ela está acostumada.<br />
As feições felinas de sua família são facilmente mascaradas. O<br />
sangue das divindades egípcias já foi muito diluído e Mila e seus pais<br />
são muito mais parecidos com os humanos do que muitos outros<br />
moradores do prédio.<br />
MIla é uma menina orgulhosa e arrogante. No começo, ela não<br />
entende por que Felipe se espanta tanto ao descobrir sobre as<br />
estranhezas do <strong>Edifício</strong> <strong>Vagalumes</strong> e os outros. Para ela, aquele<br />
mundo é comum demais, e o menino humano é a novidade. Por ter<br />
crescido em um espaço em que interagia pouco com humanos, ela<br />
não entende completamente os perigos de se viver em um mundo<br />
que não aceita existências como os moradores do prédio.<br />
Anos vivendo rodeada de adultos fez dela uma criança de língua<br />
afiada e preparada para dar respostas afrontosas. Alguns de seus vizinhos<br />
sentem pavor da garota, por ela ser um turbilhão confuso de<br />
energia que não sabe quando desistir. Felipe vira uma mão apaziguadora<br />
em seu ombro tentando controlar as ações impulsivas de Mila.<br />
Participação na história:<br />
Mila é a mediadora entre os humanos e os seres supernaturais.<br />
É através dela que Felipe, e assim os leitores, são apresentados aos<br />
diferentes tipos de moradores do <strong>Edifício</strong> <strong>Vagalumes</strong>.<br />
Curiosidades:<br />
Ela quer muito ser amiga da Pudim, a gata de Felipe, mas a gata<br />
não gosta da menina.<br />
45
Seu Orácio Villanova<br />
Figura 23: Seu<br />
Orácio Villanova<br />
Fonte: Elaborada<br />
pela autora<br />
Significado do nome:<br />
Orácio: modificação de “Horácio”, que deriva do latim hora.<br />
Villanova: modificação do sobrenome “Villanueva”, do espanhol<br />
“villa” (vila) + “nueva” (nova). Faz paralelo com o sobrenome Newtown,<br />
do inglês “new” (nova) + “town” (cidade). Isaac Newton é um<br />
físico famoso pelas suas leis da mecânica, sendo a primeira delas a<br />
lei da inércia. A Primeira Lei de Newton diz que se todas as forças<br />
agindo sobre o corpo estão em equilíbrio, um corpo em repouso tenderá<br />
a permanecer em repouso e um corpo em movimento tenderá<br />
a continuar em movimento.<br />
As alterações na escrita do nome foram feitas para que a numerologia<br />
fosse condizente com a personalidade do personagem.<br />
Sobre o personagem:<br />
“Ele era grande e corcunda e<br />
andava lentamente como se<br />
tivesse todo o tempo do mundo.”<br />
-trecho da história<br />
46
Seu Orácio mora sozinho no apartamento 34, número extraído da<br />
numerologia de seu nome.<br />
Ele trabalha no banco como contador adicionando número após<br />
número em sua calculadora. Move-se lentamente, na iminência de<br />
parar a qualquer instante, como se o restante do mundo se movesse<br />
a uma velocidade diferente da sua.<br />
De volta a sua casa, passa o restante do dia sentado em uma poltrona<br />
assistindo ao canal de vendas da TV. Caso não haja interrupções<br />
(forças externas), permanece na mesma posição até o dia seguinte,<br />
quando tem que sair para trabalhar novamente.<br />
Por ter movimentos extremamente limitados e metabolismo<br />
lento, Seu Orácio consegue manter o funcionamento de seu organismo<br />
equilibrado sem a necessidade de se alimentar com frequência<br />
por longos períodos de tempo. É o mesmo tipo de fenômeno<br />
observado em alguns seres do reino animal, como espécies de tartarugas<br />
e crocodilos.<br />
É muito calado, e por ser grande e intimidador, acaba facilmente<br />
sendo mal compreendido. No fundo, é muito amigável.<br />
Participação na história:<br />
Seu Orácio é o primeiro vizinho que Felipe conhece com Mila.<br />
Curiosidades:<br />
Tem uma máscara com formato de rosto humano que usa quando<br />
sai. A máscara foi ocultada da história para ser explicada com maior<br />
profundidade no futuro.<br />
Evita atividades em que é obrigado a falar.<br />
47
Seu Juan Fernando Calavera<br />
Figura 24: Seu<br />
Juan Fernando<br />
Calavera<br />
Fonte: Elaborada<br />
pela autora<br />
Significado do nome:<br />
Juan: “agraciado por Deus”, “a graça e misericórdia de Deus”.<br />
Fernando: “ousado para atingir a paz”, “viajante corajoso”.<br />
Cavalera: “caveira” em espanhol.<br />
Sobre o personagem:<br />
“No jardim, o Seu Juan cuidava<br />
da sua horta.”<br />
-trecho da história<br />
48<br />
Mora no apartamento 96 com seu cachorro Raul.<br />
Tecnicamente, já está morto, mas por ainda ter muito o que fazer<br />
para chegar a uma vida plena, atravessou os portões do mundo dos<br />
mortos e voltou com seu cachorro para o mundo físico.<br />
Juan é um ser multitarefas que está sempre à procura de novas<br />
atividades para experimentar. É extrovertido e elegante e cheio de
novidades. É um cavalheiro eloquente que gosta de dançar e fazer<br />
artesanato. É obcecado por saúde: pratica exercícios, faz ioga no jardim,<br />
cultiva uma horta orgânica e testa receitas de sucos verdes naturais<br />
e sem adição de açúcares todos os dias.<br />
Seu cachorro Raul é também um esqueleto e é muito escandaloso.<br />
Eles brincam de frisbe juntos no fim das tardes.<br />
Em algum momento do seu período pós-vida, se esquece que<br />
está morto e não tem memórias de antes de voltar para o mundo<br />
físico. Juan é tão ganancioso que não abre mão da própria vida.<br />
Participação na história:<br />
Juan é apresentado ao leitor enquanto cuida das verduras em seu<br />
pequeno jardim.<br />
Curiosidades:<br />
O personagem é inspirado na comemoração mexicana dos mortos.<br />
O Día de Muertos é uma festividade que celebra a visita dos ancestrais<br />
ao mundo vivo.<br />
Consegue desmontar partes de seu corpo, mas prefere não fazer<br />
isso por achar deselegante.<br />
49
Senhor e Senhora Hong<br />
Figura 25: Sr. e<br />
Sra. Hong<br />
Fonte: Elaborada<br />
pela autora<br />
Significado do nome:<br />
“Hong” do chinês 虹 , que significa arco-íris. O caractere era também<br />
usado para representar o dragão de duas cabeças da mitologia<br />
chinesa. O dragão de duas cabeças era um presságio de tempestades<br />
e má sorte.<br />
Sobre o personagem:<br />
O Senhor e a Senhora Hong são<br />
um casal muito unido sempre<br />
de olho em tudo. Das suas bocas<br />
só saem fofocas, fofocas e mais<br />
fofocas.<br />
-trecho da história<br />
São na verdade dois personagens presos em um corpo só. Ambos<br />
são intrometidos e interessados na vida dos outros. Eles vivem<br />
50
no lobby do prédio assistindo o entra-e-sai dos moradores. Apesar<br />
de passarem o dia fofocando, o Sr. e a Sra. Hong tem abordagens<br />
diferentes em suas conversas. O Sr. Hong é tímido, gentil e positivo,<br />
sentindo orgulho das conquistas e realizações dos outros moradores.<br />
Já a Sra. Hong é esnobe e vaidosa e julga facilmente o que acontece<br />
ao seu redor. Eles estão tão enclausurados dentro de seus próprios<br />
pensamentos que parecem monologar sem ouvir a opinião do outro<br />
enquanto conversam. Vivem falando por cima um do outro numa<br />
discussão confusa e sem fim, mas ainda assim parecem se entender<br />
razoavelmente bem.<br />
Participação na história:<br />
Felipe e Mila conhecem os personagens durante seu passeio<br />
pelo prédio.<br />
Curiosidades:<br />
O casal demoram muito para escolher roupas de manhã. Na maioria<br />
das vezes acabam se revezando para escolher o que vestir.<br />
51
52
HISTÓRIA<br />
O livro conta a história de Felipe, um garoto que se muda com<br />
sua família para um prédio com vizinhos não-humanos e passa a<br />
aprender sobre seus vizinhos inusitados enquanto faz daquele lugar<br />
estranho seu novo lar. Nessa primeira parte do projeto “<strong>Edifício</strong><br />
<strong>Vagalumes</strong>”, o livro introduz os personagens principais e o universo<br />
para que a narrativa possa ser explorada em histórias futuras.<br />
O enredo usa do esquema clássico de solução de conflitos da jornada<br />
do herói teorizada por Campbell (1989). Analisada a jornada do<br />
herói e seus pontos chave, a primeira aventura de Felipe pode ser<br />
dividida em doze etapas.<br />
1. Mundo comum<br />
O mundo comum é o cenário anterior à descoberta. Mesmo depois<br />
de se mudar, Felipe não vê de imediato que as coisas no <strong>Edifício</strong><br />
<strong>Vagalumes</strong> são diferentes do que ele está acostumado.<br />
2. O chamado da aventura<br />
É o momento em que um gatilho é acionado para as coisas começarem<br />
a mudar. Na história, a interação com Mila, uma garota que<br />
mora no prédio, é o chamado para descobrir mais sobre esse mundo<br />
mágico e desconhecido.<br />
3. Recusa do chamado<br />
Felipe nega as palavras de Mila. Indo contra tudo que ele entende<br />
como lógico, a existência de seres fantásticos lhe é inconcebível<br />
a princípio.<br />
4. Assistência<br />
Ao redor de Felipe, muitos personagens assumem o papel de<br />
mentor em diferentes momentos. Na história, Mila vira sua guia,<br />
agindo como mediadora entre o mundo comum e o mundo fantástico<br />
dos moradores do <strong>Edifício</strong>.<br />
5. Partida<br />
A aventura começa com a exploração do novo mundo. Curioso,<br />
Felipe sai com Mila para aprender mais sobre os vizinhos.<br />
53
6. Testes<br />
Situações são colocadas no caminho do herói para que ele possa<br />
evoluir. Conforme vai conhecendo os diferentes moradores do prédio,<br />
Felipe tem que reconsiderar algumas noções que tem do mundo.<br />
Os parâmetros de comportamento e aptidões que Felipe possui<br />
não se encaixam naquele mundo mágico. Seu conflito é interno e ele<br />
tem que reconhecer as diferenças que fazem de cada um dos moradores<br />
do prédio únicos.<br />
7. Aproximação da caverna<br />
O herói cresce. Felipe conhece os moradores e passa a nutrir afeto<br />
por eles. Mesmo tendo se assustado no começo, Felipe passa a entender<br />
a personalidade de cada um dos vizinhos.<br />
8. Crise<br />
O ponto mais baixo da jornada, onde tudo parece estar perdido.<br />
Mamãe (a mãe de Felipe) vive alheia aos outros moradores. Por estar<br />
sempre ocupada com várias coisas ao mesmo tempo, Mamãe não<br />
tem tempo para prestar atenção no que acontece à sua volta. Quando<br />
Mamãe finalmente percebe que seus vizinhos não são humanos,<br />
e são completamente diferentes da imagem que ela tinha em sua<br />
cabeça, ela entra em choque. Mamãe se assusta e não consegue admitir<br />
que as pessoas com quem ela conviveu pelos últimos meses<br />
sejam esses seres aterrorizantes.<br />
9. Recompensa<br />
É uma força adquirida que será necessária no conflito final da<br />
aventura. A recompensa de Felipe é interna. Ao mesmo tempo em<br />
que ambos Felipe e Mamãe se assustam ao descobrir o mundo fantástico,<br />
suas reações diante desse novo conhecimento são opostas.<br />
Felipe é capaz de compreender melhor aqueles que estão ao seu redor<br />
e de ver além do que a aparência física dos personagens mostra.<br />
10. Resultado<br />
54<br />
As consequências do herói enfrentar seus obstáculos. Mesmo que<br />
Felipe tenha atingido a compreensão, o mesmo não acontece com<br />
sua mãe. Mamãe, em estado de choque, tenta deixar o prédio imediatamente,<br />
mas o nervosismo a faz desmaiar.
11. Ressurreição<br />
O momento final da luta do herói. Quando fica claro que Mamãe<br />
não está pronta para fazer parte do mundo do restante dos moradores<br />
do <strong>Edifício</strong>, os vizinhos tomam providências para mantê-la alienada e<br />
alheia ao mundo dos seres sobrenaturais. Eles levam Mamãe desmaiada<br />
de volta para casa e passam a se esconder dela.<br />
12. Retorno com o elixir<br />
Fim da aventura e retorno ao mundo comum. Depois que Mamãe<br />
acorda achando que tudo foi um pesadelo resultado de cansaço e<br />
estresse, as coisas voltam ao normal. Mas o herói está mudado. Felipe<br />
agora entende que as pessoas tem trajetórias de compreensão<br />
diferentes, e que Mamãe é uma das pessoas que ainda não está<br />
pronta para entender o lado fantástico do mundo em que vivem.<br />
O livro, apesar de ser desenvolvido para o público infantil, é pensado<br />
para uma dupla audiência. Adultos e crianças tem níveis de experiências<br />
de mundo diferentes, e a interpretação de um livro é influenciada<br />
por essas diferenças. A história em camadas, que parte da<br />
construção dos personagens até as metáforas utilizadas na narrativa,<br />
permite percepções diferentes a certos detalhes. A história abre espaço<br />
para múltiplas interpretações, e visto que o universo da narrativa<br />
ainda está em expansão, é possibilitada a exploração e aprofundamento<br />
dessa narrativa não-linear.<br />
55
PROJETO TÁTIL<br />
A cela de braille, segundo a norma “ABNT NBR. 9050:2004 - Acessibilidade<br />
a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos”<br />
deve ser estruturada de forma que siga as seguintes diretrizes:<br />
• Diâmetro do ponto na base: 2 mm;<br />
• Espaçamento vertical e horizontal entre pontos – medido a<br />
partir do centro de um ponto até o centro do próximo ponto:<br />
2,7 mm;<br />
• Largura da cela Braille: 4,7 mm;<br />
• Altura da cela Braille:7,4 mm;<br />
• Separação horizontal entre as celas Braille: 6,6 mm;<br />
• Separação vertical entre as celas Braille: 10,8 mm;<br />
• Altura do ponto: 0,65 mm.<br />
No desenvolvimento do livro, no entanto, devido ao uso da reglete<br />
e punção para escrita, as dimensões acima não puderam ser mantidas.<br />
Apesar do tamanho das celas continuar praticamente o mesmo,<br />
a separação entre as celas sofreu alteração. Seguindo as novas dimensões,<br />
a separação horizontal passa a ser de 8,1 mm e a separação<br />
vertical, de 13 mm.<br />
Figura 26:<br />
Comparação de<br />
celas de braille<br />
Fonte: Elaborada<br />
pela autora<br />
56
Reglete e punção são instrumentos utilizados para escrita em<br />
braille ponto a ponto. A reglete é uma placa de metal ou plástico<br />
com demarcação das celas de braille em relevo e o punção é o instrumento<br />
usado para marcar os pontos no papel. No caso da reglete<br />
positiva, as marcações da cela são convexas e a ponta do punção é<br />
côncava, o que permite a formação de pontos em alto relevo. Diferente<br />
da reglete tradicional, a reglete positiva facilita a escrita, pois<br />
permite que os caracteres sejam formados no sentido usual de leitura.<br />
Esses insstrumentos são alternativas manuais para a esrita em<br />
braille, visto que a impressão 3D é um processo de maior custo e cuja<br />
qualidade dos pontos varia de acordo com a máquina utilizada.<br />
Figura 27: Reglete,<br />
punção e teste de<br />
escrita em braille<br />
Fonte: Elaborada<br />
pela autora<br />
As ilustrações táteis foram feitas de forma que os elementos representados<br />
pudessem ser identificados pelas suas silhuetas. As<br />
imagens contidas no livro foram impressas em papel texturizado<br />
com separação em camadas. Cada ilustração tátil do livro tem sua<br />
contraparte cortada a laser em acrílico. Os objetos em acrílico não<br />
são presos ao livro e podem ser manuseados, o que permite melhor<br />
exploração das características de cada personagem e proporciona<br />
novas informaçõe táteis na leitura do livro.<br />
57
PROJETO GRÁFICO<br />
Além da questão tátil do livro, também foi desenvolvida uma<br />
identidade visual para aplicação não só nesse primeiro livro, mas<br />
também na segunda parte do projeto.<br />
Logo<br />
“<strong>Edifício</strong> <strong>Vagalumes</strong>” é o local onde acontece a história e é o ponto<br />
de introdução ao universo criado.<br />
Para a criação do logo, foi utilizada a fonte Bigelow Rules Regular,<br />
uma open font, como base com ajustes de espaçamento e<br />
arredondamento dos cantos das letras individuais. As estrelas que<br />
acompanham o nome foram pensadas para serem utilizadas também<br />
de forma animada, com variação de tamanho e opacidade em<br />
velocidades diferentes.<br />
Figuras 28 e 29: Comparação de logo sem e com<br />
elemento acessório no grid.<br />
Fonte: Elaborada pela autora<br />
Elementos complementares<br />
Além das estrelas do logo que também funcionam como elemento<br />
adicionais, foram criados outros elementos de conexão para uso<br />
ao longo do projeto.<br />
Figura 30: Elementos complementares<br />
- versão contorno<br />
Fonte: Elaborada pela autora<br />
58
Figura 31: Elementos complementares<br />
- versão preenchimentos<br />
Fonte: Elaborada pela autora<br />
A escolha dos elementos foi feita a partida da ideia do vagalume,<br />
um inseto bioluminescente ao qual foram atribuídas diversas simbologias,<br />
dentre as quais está a de “luz que guia”. Partindo dessa ideia,<br />
a lâmpada é uma invenção humana, uma realização da ciência que<br />
também está relacionada à geração de luz. A união dos dois elementos<br />
representa a compreensão mútua entre os dois mundos do universo<br />
do <strong>Edifício</strong> <strong>Vagalumes</strong>.<br />
Figura 32:<br />
Aplicação de<br />
elementos em<br />
pattern<br />
Fonte: Elaborada<br />
pela autora<br />
Cores<br />
Foram escolhidas quatro cores base com contraste forte enre s<br />
para compor a identidade visual do projeto.<br />
C: 69%<br />
M: 94%<br />
Y: 0%<br />
K: 0%<br />
C: 0%<br />
M: 64%<br />
Y: 100%<br />
K: 0%<br />
C: 83%<br />
M: 0%<br />
Y: 37%<br />
K: 0%<br />
C: 8%<br />
M: 0%<br />
Y: 100%<br />
K: 0%<br />
Figura 33:<br />
Aplicação de<br />
cores<br />
Fonte: Elaborada<br />
pela autora<br />
A partir das cores base foram escolhidas as cores dos demais elementos<br />
ilustrados no livro.<br />
59
Tipografia<br />
Para o texto, foi utilizada a fonte Sarala Regular,<br />
de Andrés Torresi e Carolina Giovagnoli. O texto do<br />
livro é escrito em tamanho 18 pt. com entrelinha<br />
de 30 pt. O texto em tinta é sempre posicionado<br />
acima do braille para que a leitura tátil não atrapalhe<br />
a visual.<br />
Também faz parte da identidade visual a versão<br />
Bold da fonte Sarala e a fonte utilizada para a<br />
criação do logo, Bigelow Rules Regular.<br />
Sarala Regular<br />
Sarala Bold<br />
ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZÇÁÀÂÃ<br />
abcdefghijklmnopqrstuvwxyzçáàâã<br />
1234567890<br />
,.;:?/”!@#$%¨&*()-+_=<br />
ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZÇÁÀÂÃ<br />
abcdefghijklmnopqrstuvwxyzçáàâã<br />
1234567890<br />
,.;:?/”!@#$%¨&*()-+_=<br />
Bigelow Rules<br />
ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZÇÁÀÂÃ<br />
abcdefghijklmnopqrstuvwxyzçáàâã<br />
1234567890<br />
,.;:?/”!@#$%¨&*()-+_=<br />
60<br />
As tipografias podem também ser aplicadas sobre as cores da<br />
identidade visual em preto ou em branco conforme indicado.
Por causa do trabalho<br />
de Mamãe,<br />
Por causa do trabalho<br />
de Mamãe,<br />
Por causa do trabalho<br />
de Mamãe,<br />
Por causa do trabalho<br />
de Mamãe,<br />
Grid<br />
Devido à quantidade de informações contidas em cada página do<br />
livro, o grid é flexível. Os elementos são posicionados na página a<br />
partir de duas composições diferentes de elementos. As caixas de<br />
texto variam entre 80 e 140 mm de largura.<br />
Figura 34: Composição de grids<br />
Fonte: Elaborada pela autora<br />
Impressão e Acabamentos<br />
A impressão do livro é digital e a encadernação é feita através<br />
de colagem de páginas com papel adesivo Contact branco. O papel<br />
adesivo cria uma margem nas páginas que também prende o texto<br />
em braille às folhas. A capa é feita com papel Paraná revestido de<br />
tecido e o título do livro é bordado.<br />
61
DECUPAGEM<br />
DO LIVRO
DECUPAGEM DO LIVRO<br />
O processo de decupagem na criiação de roteiros<br />
consiste na fragmentação das cenas e detalhamento<br />
das sequências feito antes do início da<br />
gravação. A seguir, serão apresentadas as páginas<br />
do livro com detalhamento de materiais e informações<br />
representadas.<br />
Figura 35: Capa 1<br />
Fonte: Elaborada pela autora<br />
A capa do livro é feita de<br />
papel paraná revestido com<br />
tecido Tricoline roxo com o<br />
logo bordado em amarelo. O<br />
bordado permite que as linhas<br />
da marca possam ser seguidas com o tato.<br />
Há a aplicação do pattern em amarelo no papel Pérsico para<br />
compor a segunda capa e a folha de guarda.<br />
Figura 36:<br />
Segunda capa e<br />
folha de guarda<br />
Fonte: Elaborada<br />
pela autora<br />
63
Figuras 37, 38 e 39: Colofon e folha de rosto<br />
Fonte: Elaborada pela autora<br />
64
Na página do colofon, são colocadas informações<br />
do projeto tanto em tinta quanto em<br />
braille. Na folha de rosto, o título do livro é<br />
repetido e logo abaixo, o nome das responsáveis<br />
pela produção do livro. Nos cantos inferiores está<br />
localizado o vagalume, um dos elementos da<br />
identidade visual para indicar o sentido pelo qual<br />
o livro deve ser manuseado.<br />
Com exceção do colofon, o suporte da escrita<br />
em braille foi cortado em todas as páginas para<br />
que o reflexo da transparência não prejudicasse<br />
a leitura do texto em tinta.<br />
65
Os desenhos em branco<br />
representam as peças manuseáveis<br />
em acrílico que acompanham<br />
o livro. As primeiras<br />
páginas da história são acompanhadas<br />
de duas dessas peças.<br />
O desenho da página 4 é texturizado<br />
no papel Pérsico e tanto<br />
as ilustrações quanto as peças<br />
apresentam sobreposição de<br />
material para distinguir o tronco<br />
das árvores da folhagem.<br />
As dimensões das peças de<br />
acrílico foram determinadas de<br />
forma que elas fossem proporcionais<br />
à altura dos personagens<br />
introduzidos na história do livro.<br />
66
Figuras 40, 41 e 42: Páginas 3 e 4<br />
Fonte: Elaborada pela autora<br />
67
Cada um dos personagens tem sua contraparte em acrílico. Todas<br />
as ilustrações com mais de uma cor (sem contar a cor de fundo<br />
da página) no livro são feitas com sobreposição de papel texturizado<br />
que permite a identificação de detalhes na leitura tátil.<br />
68
Nos personagens humanos, foi usado papel camurça para os cabelos.<br />
A bebê Laurinha ainda tem um pompom de linha na cabeça.<br />
Os pelos da gata Pudim são de pó para flocagem e o peixe Bernardo<br />
é vazado.<br />
Figuras 43, 44 e<br />
45: Páginas 5 e 6<br />
Fonte: Elaborada<br />
pela autora<br />
69
70
Figuras 46, 47 e<br />
48: Páginas 7 e 8<br />
Fonte: Elaborada<br />
pela autora<br />
Seu Jonas tem destaque nos óculos e o formato<br />
do rosto também é diferenciado. São usadas três<br />
camadas de papel/acrílico para a representação do<br />
elemento da página: corpo, rosto e óculos. A camada<br />
dos óculos é a que vai acima de todas as outras.<br />
Durante a produção do livro, não foi possível<br />
adquirir papel camurça, material usado no cabelo<br />
de todos os outros personagens, na cor cinza. Como<br />
alternativa ao material, foi usado o mesmo pó de<br />
flocagem cinza aplicado nos pelos da gata Pudim no<br />
cabelo e nas sobrancelhas do personagem.<br />
71
Apesar do <strong>Edifício</strong> ter nove<br />
andares, somente os primeiros<br />
foram colocados na ilustração<br />
para que os contornos pudessem<br />
ser identificados.<br />
Figuras 49, 50 e 51: Páginas 9 e 10<br />
Fonte: Elaborada pela autora<br />
72
Figuras 52, 53 e<br />
54: Páginas 11<br />
e 12<br />
Fonte: Elaborada<br />
pela autora<br />
Na página 11, o desenho de<br />
uma lâmpada projetando luz no<br />
chão acompanha o conteúdo<br />
textual. Na página seguinte<br />
estão as sombras dos moradores<br />
do <strong>Edifício</strong>. A lâmpada, por<br />
estar em uma página de texto,<br />
não possui informações táteis,<br />
somente visuais.<br />
73
Devido ao espaço ocupado<br />
pela escrita em braille, muitas<br />
duplas de páginas são acompanhadas<br />
de texto. Nas páginas<br />
de texto, o conteúdo imagético<br />
é somente visual e as cores imagem/fundo<br />
são opostas entre si.<br />
Nas páginas 13 e 14, foram<br />
posicionados objetos que<br />
remetessem à mudança: caixas<br />
e móveis fora do lugar.<br />
Figuras 55, 56 e 57:<br />
Páginas 13 e 14<br />
Fonte: Elaborada<br />
pela autora<br />
74
Figuras 58, 59 e 60:<br />
Páginas 15 e 16<br />
Fonte: Elaborada<br />
pela autora<br />
O cabelo e as orelhas de<br />
Mila são texturizados com<br />
papel camurça laranja tanto<br />
na versão ilustrada quanto na<br />
peça em acrílico.<br />
75
Figuras 61, 62 e 63:<br />
Páginas 17 e 18<br />
Fonte: Elaborada<br />
pela autora<br />
Os elementos escollhidos<br />
para ilustrar as páginas 17 e 18<br />
são itens de decoração utilizados<br />
na ambientação de lares<br />
para continuar com a ideia de<br />
mudança e arrumação.<br />
76
Figuras 64, 65 e 66:<br />
Páginas 19 e 20<br />
Fonte: Elaborada<br />
pela autora<br />
Como o texto faz comparação<br />
entre Mila e um gato, as<br />
imagens também contribuem<br />
na comparação. Na página 19,<br />
são colocados novelos de lã e<br />
na 20, a gata de estimação de<br />
Felipe, Pudim.<br />
77
Para a representação dos<br />
personagens em perfil, os<br />
braços e pernas foram cortados<br />
separadamente e depois colados<br />
ao corpo.<br />
Figuras 67, 68 e 69:<br />
Páginas 21 e 22<br />
Fonte: Elaborada<br />
pela autora<br />
78
Figuras 70, 71 e 72:<br />
Páginas 23 e 24<br />
Fonte: Elaborada<br />
pela autora<br />
A pele do personagem é feita<br />
de papel camurça e os chifres,<br />
dentes e garras foram separados<br />
do restante do corpo para<br />
destaque. A descrição do texto<br />
não indica a natureza não-humana<br />
do personagem. Seus<br />
traços inusitados são informações<br />
que devem ser assimiladas<br />
pela imagem e desenvolvidos<br />
ao longo da narrativa.<br />
79
Não há menção às qualidades<br />
físicas do personagem no texto.<br />
Seu status sobrenatural é compreendido<br />
a partir da sua pela<br />
aparência não-humana.<br />
Foi utilizado o papel casca de<br />
ovo para a textura do esqueleto.<br />
Além dele, na página 26 também<br />
foram ilustradas plantas da<br />
horta do Seu Juan.<br />
Figuras 73, 74 e 75:<br />
Páginas 25 e 26<br />
Fonte: Elaborada<br />
pela autora<br />
80
Figuras 76, 77 e 78:<br />
Páginas 27 e 28<br />
Fonte: Elaborada<br />
pela autora<br />
Como materiais adicionais da<br />
ilustração tátil, foram utilizados<br />
o papel camurça para os cabelos<br />
e feltro para a blusa do Sr. e da<br />
Sra. Hong. Na peça de acrílico, o<br />
feltro foi cortado na cortadora à<br />
laser enquanto que a versão do<br />
livro foi feita manualmente.<br />
81
Figuras 79, 80 e 81:<br />
Páginas 29 e 30<br />
Fonte: Elaborada pela<br />
autora<br />
As páginas 29 e 30 fazem<br />
paralelo com as páginas 11 e<br />
12 do livro. Quando iluminadas<br />
pela lâmpada (uma referência<br />
ao mundo humano), só eram<br />
visíveis as sombras dos moradores<br />
do <strong>Edifício</strong>. Sob a luz dos<br />
pequenos insetos luminescentes<br />
repletos de misticismo presos<br />
dentro do vidro, os traços dos<br />
personagens ficam visíveis.<br />
82
Os elementos ilustrados<br />
nessas páginas fazem parte do<br />
dia-a-dia de Mamãe. São coisas<br />
relacionadas ao seu trabalho e<br />
que a mantém ocupada e alheia<br />
ao mundo inusitado que a cerca.<br />
Novamente, há uma luminária<br />
na ilustração representando<br />
o mundo humano cheio<br />
de tecnologias, ciência e lógica.<br />
Figuras 82, 83 e 84:<br />
Páginas 31 e 32<br />
Fonte: Elaborada pela<br />
autora<br />
83
Na dupla de página, estão representados<br />
Seu Orácio, personagem<br />
já introduzido na história<br />
e as portas do elevador para<br />
ambientação da cena.<br />
Figuras 85, 86 e 87:<br />
Páginas 33 e 34<br />
Fonte: Elaborada pela<br />
autora<br />
84
Além do papel texturizado e<br />
dos materiais adicionais de cada<br />
personagem, também foi utilizado<br />
nessa página o EVA com<br />
glitter para a silhueta dos moradores<br />
do <strong>Edifício</strong> <strong>Vagalumes</strong>.<br />
Para amenizar o brilho do material,<br />
mas ainda manter a textura<br />
áspera, foi aplicada uma camada<br />
de tinta para tecido preta sobre<br />
a superfície do material.<br />
Na ilustração, são representados<br />
personagens não introduzidos<br />
na história, indicando<br />
continuidade da narrativa fora<br />
das páginas do livro.<br />
Figuras 88, 89 e<br />
90: Páginas 35<br />
e 36<br />
Fonte: Elaborada<br />
pela autora<br />
85
Na ilustração tátil, o colchão<br />
da cama é feito de EVA toalha e<br />
o cobertor é de feltro. Para que<br />
a cama pudesse ser compreendida<br />
como um móvel de quatro<br />
pernas, foi utilizada a sobreposição<br />
de quatro camadas de<br />
acrílico com moldes diferentes<br />
na peça manuseável.<br />
A peça em acrílico complementa<br />
o entendimento da<br />
ilustração tátil do livro.<br />
Figuras 91, 92, 93:<br />
Páginas 37 e 38<br />
Fonte: Elaborada pela<br />
autora<br />
86
Figuras 94, 95 e 96:<br />
Páginas 39 e 40<br />
Fonte: Elaborada pela<br />
autora<br />
As imagens que ilustram a<br />
dupla de páginas são elementos<br />
que se relacionam com o<br />
contado no texto. Na página da<br />
esquerda, o despertador indica<br />
a hora que Mamãe acorda. Na<br />
direita está ilustrada uma parte<br />
da cozinha da família.<br />
87
Para ilustrar tatilmente a<br />
pose dos personagens, membros<br />
e corpo foram separados<br />
e colados nos devidos lugares<br />
após o corte. É o mesmo processo<br />
utilizado tanto no papel<br />
quanto no acrílico.<br />
Figuras 97, 98 e 99:<br />
Páginas 41 e 42<br />
Fonte: Elaborada pela<br />
autora<br />
88
Figura 100: Páginas<br />
43 e 44<br />
Fonte: Elaborada pela<br />
autora<br />
Pelo valor da mensagem na fala de Seu Jonas,<br />
a página 43 não tem ilustrações. Espera-se que<br />
a atenção do leitor seja totalmente direcionada<br />
ao texto.<br />
A última frase da história é acompanhada do<br />
elemento da identidade visual que mescla a lâmpada<br />
e o vagalume. O vagalume reforça o desejo<br />
contido no fechamento da história da união<br />
entre o mundo humano e o mundo fantástico.<br />
89
O pattern de vagalumes é utilizado novamente<br />
na folha de guarda e terceira capa do livro, mas<br />
com uma pequena variação. O pattern utiliza dois<br />
tamanhos de vagalume diferentes inclinados para<br />
lados opostos da folha. No seu primeiro uso, o<br />
vagalume com a parte luminescente preenchida é<br />
o menor. No segundo caso, é o maior.<br />
A quarta capa do livro é vazia para que seja<br />
facilmente diferenciável a capa que inicia a<br />
história e a que termina.<br />
Figura 101: Folha de<br />
guarda e terceira<br />
capa<br />
Fonte: Elaborada pela<br />
autora<br />
90
CONSIDERAÇÕES<br />
FINAIS
92<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
O desenvolvimento do projeto foi uma jornada contínua de descobertas<br />
e aprendizado que mudou a minha percepção do mundo<br />
como uma designer próxima de se formar.<br />
Tentar produzir um objeto inclusivo mostrou-se um desafio mais<br />
complicado do que o esperado. A tentativa de comunicar informações<br />
complexas através do tato deixou claro o peso que o conteúdo<br />
visual tem no meu processo criativo.<br />
A forma como se dá a leitura tátil e os cuidados necessários para<br />
adequação do livro ao leitor cego e de baixa visão foram questões<br />
que exigiram estudo e que acabaram atrasando o projeto.<br />
Ao mesmo tempo em que buscava criar uma narrativa divertida e<br />
que pudesse comunicar uma mensagem que não estivesse limitada<br />
à história explicitada, o livro também deveria ser compreendido pela<br />
criança leitora. A materialidade do livro tinha que ser adequada à<br />
leitura tátil, mas também agradável visualmente. O livro deveria ter<br />
informações suficientes para contar uma história ao mesmo tempo<br />
em que fisicamente adequado ao manuseio infantil. As intervenções<br />
manuais deveriam ser capazes de complementar os recursos tecnológicos<br />
e vice-versa.<br />
As variáveis eram infinitas.<br />
Ao longo do projeto, ideias foram descartadas a fim de simplificar<br />
o livro. Foram escolhas feitas na narrativa, nas ilustrações, no projeto<br />
tátil e editorial para que a mensagem passada pudesse ser compreendida<br />
da melhor maneira possível.<br />
Conseguir finalizar o livro foi uma conquista. Mesmo que não seja<br />
o idealizado a princípio, é gratificante afirmar que ele conta uma história,<br />
apresenta escrita em braille e é um livro tátil que pode ser lido<br />
pelo público infantil.<br />
Por outro lado, não houve análise de resultados. Não é possível<br />
comprovar a eficácia das soluções encontradas sem que o livro seja<br />
submetido à prova. Assim, mesmo que essa parte do projeto esteja<br />
se encerrando, ainda serão feitos testes de leitura no futuro.<br />
Esse livro é apenas a primeira parte do projeto “<strong>Edifício</strong> <strong>Vagalumes</strong>”.<br />
Apesar de ser o fim de um ciclo, questões em aberto ainda<br />
podem ser respondidas e uma conclusão concreta ainda está longe<br />
de ser encontrada.
REFERÊNCIAS<br />
ABNT, NBR. 9050: 2004. Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos.<br />
2004. Disponível em: .<br />
Acesso<br />
em: 15 abr. 2018.<br />
AMERICAN PRINTING HOUSE FOR THE BLIND [APH]. Designing Tactile Illustration. Disponível em:<br />
.<br />
Acesso em: 11 fev. 2018.<br />
BROWN, Peter. Sr. Tigre Solto na Selva. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2016<br />
___________. Minha Professora É Um Monstro! (Não sou, não.). Rio de Janeiro : Intrínseca, 2015.<br />
CAMBIAGHI, Silvana. Desenho Universal: métodos e técnicas para arquitetos e urbanistas. São Paulo:<br />
Senac, 2007.<br />
CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. São Paulo: Pensamento, 1989.<br />
DEMOGRÁFICO, IBGE Censo. Principais resultados - Características gerais da população, religião e<br />
pessoas com deficiência. Disponível em: .<br />
Acesso em: 14 mai. 2018.<br />
FUNDAÇÃO DORINA NOWILL PARA CEGOS. O que é visão subnormal ou baixa visão? Disponível em:<br />
.<br />
Acesso em: 14 mai. 2018.<br />
GABRILLI, Mara. Manual de convivência: pessoas com deficiência e mobilidade reduzida. São Paulo,<br />
2007. Disponível em: . Acesso<br />
em: 16 abr. 2018.<br />
HUNT, Peter. Crítica, teoria e literatura infantil. São Paulo: Cosac Naify, 2010.<br />
LIDWELL, William; HOLDEN, Kritina; BUTLER, Jill. Princípios universais do design. Porto Alegre:<br />
Bookman, 2010.<br />
LINDEN, Sophie Van Der. Para ler o livro ilustrado. São Paulo: Cosac Naify, 2011.<br />
MUNARI, Bruno. Das coisas nascem as coisas. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008.<br />
NAÇÕES UNIDAS NO BRASIL. A ONU e as pessoas com deficiência. Disponível em: . .<br />
Acesso em: 23 abr. 2018.<br />
NATIONAL DISABILITY AUTHORITY. What is Universal Design. Disponível em: . Acesso em: 20 mai. 2018.<br />
NIKOLAJEVA, Maria; SCOTT, Carole. Livro ilustrado: palavras e imagens. São Paulo: Cosac Naify, 2011.<br />
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE [OMS]. <strong>Relatório</strong> mundial sobre a deficiência. 2012. Disponível<br />
em: .<br />
Acesso em: 16 abr. 2018.<br />
PIAGET, Jean. Psicologia e pedagogia: a resposta do grande psicólogo aos problemas do ensino. São<br />
Paulo: Forense, 2003.<br />
SENDAK, Maurice. Onde vivem os monstros. São Paulo: Cosac Naify, 2009.<br />
UNITED NATIONS [ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS - ONU]. Convention on the Rights of Persons<br />
with Disabilities. 2006. Disponível em: . Acesso em: 14 mai. 2018.<br />
YAMADA, Kobi. O que você faz com uma ideia? Vooinho, 2016.<br />
ZATZ, Lia. Adélia cozinheira. Ilustração Luise Weiss. São Paulo: WG produto, 2010.<br />
_______. Adélia esquecida. Ilustração Luise Weiss. São Paulo: WG produto, 2011.<br />
_______. Adélia sonhadora. Ilustração Luise Weiss. São Paulo: WG produto, 2012.<br />
93
AGRADECIMENTOS<br />
Agradeço a minha família por não desistir de<br />
mim e por todo o apoio, apesar de ter decidido fazer<br />
um curso estranho como Design.<br />
A minha orientadora Cassia, uma das melhores<br />
professoras com quem tive aulas ao longo dos<br />
meus quatro anos e meio de UNESP.<br />
A Kaellen por ter concordado em pular nesse<br />
último projeto suicida comigo.<br />
Aos amigos que aguentaram meu desespero e<br />
reclamações nesses momentos de crise. Obrigada<br />
Guilherme, Édipo e Thayna pelos momentos de bipolaridade<br />
e sentimentos conflitantes.<br />
Ao Sérgio por ser sempre essa alma boa cuidando<br />
da estabilidade mental de todos.<br />
A família LAB pelos traumas compartilhados.<br />
A turma do diurno de 2014 e aos amigos que<br />
fiz nesses longos, mas ao mesmo tempo não tão<br />
longos, anos universitários.<br />
94
95
96