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LUZES DA CIVILIZAÇÃO CRISTÃ<br />
Longa fachada, revestida de imensa<br />
dignidade, serenidade e alta nobreza<br />
O que existe ali de especial?<br />
Não é, por exemplo, o que há de<br />
peculiar na Catedral de Colônia ou<br />
na de Notre-Dame de Paris. A primeira<br />
possui algo de feérico, uma<br />
espécie de explosão de pedra, de<br />
uma imponência extraordinária, na<br />
qual, mais do que a razão, está presente<br />
a imaginação germânica no<br />
que ela tem de categórico. Ou seja,<br />
não se trata de uma concepção suave<br />
nem poética (no sentido doce da<br />
palavra), mas é a idéia de quem desejou<br />
construir uma epopéia grandiosa<br />
e, desse modo, marcar todos<br />
os séculos com uma nota de magnitude<br />
mais celeste do que terrena.<br />
Assim, a característica saliente da<br />
Catedral de Colônia é algo de fantasioso<br />
e imaginativo, que o espírito<br />
possante conseguiu realizar.<br />
Na catedral de Notre-Dame encontramos<br />
a conjugação da fantasia<br />
com a razão. Dir- se-ia que a fantasia<br />
concebeu uma construção magnífica<br />
e que, depois, a razão colocou<br />
os planos em ordem, introduziu simetrias,<br />
bons sensos e harmonias<br />
quase clássicas, sem subtrair nada<br />
do sublime e do extraordinário próprios<br />
ao medieval.<br />
Já a fachada do Parlamento de<br />
Westminster e a torre do relógio representam,<br />
dentro desse conjunto,<br />
algo de diferente. Não é a afirmação<br />
predominante da fantasia, nem<br />
a admiração predominante da razão,<br />
mas é uma reunião de dois valores<br />
diversos que se situam numa<br />
outra ordem de idéias: a força e a<br />
delicadeza.<br />
Sua fachada é toda feita de linhas<br />
longas que se repetem, e de um<br />
grande desdobramento estendido<br />
numa amplitude de horizonte que,<br />
sem ter o élan de Colônia nem a espécie<br />
de harmonia superlativa de<br />
Paris, possui entretanto uma categoria<br />
que lhe é peculiar. Ela se reveste<br />
de imensa dignidade, de superior<br />
elevação e de alta nobreza, com<br />
algo de sereno, de senhor de si, de<br />
afável e, ao mesmo tempo, de sacral<br />
e de sério, reunindo assim extremos<br />
opostos. E toda obra de arte que,<br />
numa fusão, alia extremos opostos<br />
— que um espírito comum poderia<br />
julgar contraditórios —, realiza algo<br />
de supremo no seu próprio gênero.<br />
Supremacia esta que, a meu ver, a<br />
fachada do Parlamento inglês logrou<br />
alcançar.<br />
Nela, o aspecto força se faz notar<br />
também na forma de uma grandeza<br />
estável, que não se entregará a novos<br />
empreendimentos, sem todavia<br />
começar a decair. Ela se senta sobre<br />
seu próprio poder e se põe a meditar<br />
em suas glórias imorredouras...<br />
O mesmo se pode dizer da torre<br />
do relógio, uma verdadeira maravilha<br />
digna de ser justaposta ao edifí-<br />
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