You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
qual dançou, e no fim da noite se<br />
pôs a caminhar sozinho pela floresta.<br />
E leva consigo alguma coisa da<br />
batalha, da dança e do mato.<br />
O que tem o castelo?<br />
Proporções muito bonitas e um<br />
universo de chaminés de tamanhos<br />
variegados, surdindo como champignons<br />
por toda parte, numa verdadeira<br />
feeria de pequenas cúpulas<br />
e torres, algumas maiores, outras<br />
menores, causando a impressão de<br />
que um certo húmus passou do solo<br />
para o castelo, e deste para o ar.<br />
Esse húmus, indescritível, é o responsável<br />
pela grande fantasia que<br />
existe em Chambord, emoldurada<br />
por uma regra, uma linha e uma<br />
harmonia que nos deixam encantados.<br />
De vez em quando, o silêncio<br />
daqueles instantes era interrompido<br />
por diferentes piados de pássaros.<br />
Ora era um longo trinado, como se<br />
do fundo dos séculos algo dissesse:<br />
“Eu ainda vivo!” Ora era uma ave<br />
que, perseguida por outra, exalava<br />
um grito de desespero, atraindo<br />
nossa atenção para uma espécie de<br />
pungente e oculto drama que se<br />
desenrolava no meio daquele arvoredo.<br />
Dali a pouco os pássaros emudeciam,<br />
o silêncio se recompunha em<br />
“Em Chambord tudo é amabilidade,<br />
harmonia, leveza,<br />
elegância, força e coragem...”<br />
torno do castelo, e Chambord continuava<br />
seu velho sonho, triste, digno,<br />
seguro de si mesmo e abandonado.<br />
E as penumbras do entardecer,<br />
e as derradeiras incidências de um<br />
lindo crepúsculo, tremeluzindo sobre<br />
um extenso gramado de relva<br />
selvagem, mal plantada mas que deveria<br />
ser assim — tudo se tornava<br />
úmido de absoluto, impregnado de<br />
graças celestiais.<br />
Sim, mais uma vez é a graça que<br />
nos faz admirar em Chambord o<br />
que, sem o auxílio dela, não nos seria<br />
perceptível. São expressões do<br />
castelo, são impressões e sentimentos<br />
que ele só transmite a quem é<br />
favorecido com essa assistência sobrenatural.<br />
E deixamos o tempo transcorrer<br />
ali com a intenção de vislumbrar a<br />
graça como uma luz acesa no interior<br />
de Chambord. O próprio castelo<br />
seria o abat-jour, esplendoroso,<br />
extraordinário, porém o mais aprazível<br />
era considerar essa luz celeste<br />
que acentua sua inenarrável beleza,<br />
sua tranqüilidade recolhida, sua majestade.<br />
Era impossível que Chambord fosse<br />
tão belo, tão perfeito, e que Deus<br />
não estivesse presente ali. Era impossível<br />
que aquele castelo possuísse<br />
essa perfeição e essa beleza, se<br />
estas não fossem fruto das lágrimas<br />
de Maria e do preciosíssimo sangue<br />
de Nosso Senhor Jesus Cristo.<br />
35