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amor. A mãe estava disposta a pagar o<br />
transporte que era apenas meio salário e<br />
o avô do Adriano disse logo que não,<br />
pois iriam trazer muitos cães e alguns<br />
gatos para animar, todos os que lhes<br />
fosse permitido e seriam um grande<br />
prazer para ele poder oferecê-los a todas<br />
as crianças da colónia. A menina saltou<br />
de alegria, a mãe da menina chorou<br />
emocionada e Adriano olhou para o avô<br />
em completa adoração todo inchado.<br />
Aquele era o seu avô e como se sentia<br />
orgulhoso por isso...<br />
E o Adriano foi à Terra do avô e visitou<br />
todos aqueles lugares que via nas<br />
fotografias das velhas revistas e viu o<br />
que o homem tinha feito à Terra.<br />
- Foi a ganância Adriano. A doença mais<br />
terrível do universo, é isto o que a<br />
ganância faz. – E abraçou o pequenino<br />
que chorava amargamente perante toda<br />
aquela devastação, enquanto era<br />
obrigado a engolir os mares poluidos, as<br />
florestas destruidas, a vida assassinada.<br />
- O inverno nuclear – Dizia o avô. - Foi<br />
tudo destruído.<br />
E, lá em cima, o céu era cinzento e não<br />
se via o Sol, escondido por detrás de<br />
cortinas radioativas que contaminavam<br />
toda a Terra, e sem Sol, a vida não podia<br />
existir, sem Sol a Terra transformara-se<br />
num túmulo, um túmulo onde milhares<br />
de pessoas ainda eram obrigadas a<br />
viver, enquanto esperavam pela<br />
oportunidade de fugir.<br />
Adriano queria voltar para casa, a sua<br />
casa cinzenta e fria já não lhe parecia<br />
assim muito feia, a paisagem lunar tinha<br />
até um certo encantamento e aí podia<br />
andar, dentro de um escafandro e<br />
brincar com os seus amigos a ver quem<br />
saltava mais alto.<br />
No último dia, o avô, como prometido,<br />
apanhou todos os cães vadios que<br />
conseguiu encontrar e, depois de uma<br />
inspeção veterinária, foram embarcados.<br />
Adriano ficou na rua à espera do avô e,<br />
nessa altura, passou uma menina<br />
pequena como ele, de rosto sujo e<br />
cabelo oleoso que até podia seu louro,<br />
vestida de trapos e pés descalços já<br />
pretos, a planta dos pés semelhante a<br />
cascos. A menina parou, olhou para ele,<br />
o rosto iluminou-se com um sorriso de<br />
orelha a orelha, exibindo uma boca sem<br />
dentes, os olhos, de um azul irreal<br />
iluminaram-se perante o seu sorriso,<br />
toda ela resplandecia. Abraçava um cão<br />
pequenino, uma bola de pelo, de<br />
grandes orelhas, com o focinho negro<br />
poisado nos seus braços, muito<br />
quietinho.<br />
- Toma, é para ti! – Disse numa vózinha<br />
fina e delicada. – Ele só quer muito amor<br />
e carinho.<br />
Adriano abriu a boca espantado<br />
enquanto a garota lhe entregava a vida<br />
que abraçava com tanto medo de a<br />
perder, e antes que tivesse tempo de<br />
dizer alguma coisa, a menina, rindo<br />
delicada, correu, com os seus pés<br />
grotescos, linda como a Terra. Ficou<br />
apenas o pequeno cãozinho agora nos<br />
seus braços, inquieto e ganindo de leve,<br />
já com saudades da sua dona e Adriano<br />
sorriu primeiro tímido, depois à medida<br />
que a compreensão o invadia, sorriu<br />
completamente satisfeito, radiante, os<br />
olhos voltavam a sonhar e ria também,<br />
enquanto chamava eufórico o avô que<br />
logo veio a correr:<br />
- O que foi Adriano? – Perguntou o<br />
velho senhor confuso com a mudança<br />
súbita do estado de espírito do neto.<br />
- Olha! - Disse estendendo a criatura,<br />
invadido por uma felicidade que só as<br />
crianças conseguem sentir. – Eu vi o Sol<br />
e o Céu e ele deu-me a Terra!