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ou nos desertos, como o seu segredo<br />
privado muito íntimo que não desejava<br />
compartilhar com ninguém e alimentava<br />
o seu desejo de ver a realidade em todas<br />
aquelas coisas das revistas.<br />
Um dia a mãe foi ter com ele, muito<br />
lamentosa, a professora queixava-se do<br />
filho querido, que sonhava acordado, as<br />
notas desciam muito e parecia muito<br />
infeliz. A senhora, a que não lhe passara<br />
despercebida as horas que o filho perdia<br />
com as velhas revistas do pai, tinha uma<br />
revista nova na mão. Uma revista atual,<br />
que mandara vir da Terra especialmente<br />
para o efeito e que lhe custara meio<br />
ordenado mensal, devido aos portes de<br />
transporte.<br />
- Adriano. – Chamou. – Ouve o que a<br />
mãe tem para te dizer. A Terra já não é<br />
um lugar muito bonito para se viver, os<br />
mares estão negros, os desertos<br />
radioativos e as montanhas são montes<br />
de terra e pedra estéreis. As florestas<br />
arderam e na Terra já não há oxigénio<br />
para respirar, e os últimos animais vivem<br />
em jardins zoológicos, dentro de cidades<br />
cobertas por um céu artificial, onde as<br />
pessoas vivem entaladas, quase sem<br />
espaço para respirar. A Terra que vês<br />
nessas revistas já não existe há muito<br />
tempo, desde o tempo do teu avô. Ele<br />
teve sorte, veio para a Lua antes da<br />
Guerra, depois desta, a Terra tornou-se<br />
um lugar terrível para se viver. Os<br />
homens destruiram-na.<br />
A senhora deu-lhe então a revista, uma<br />
revista de papel de silicone a 3D, que<br />
revelava a verdade sobre a Terra, a<br />
doença, a fome, a revolta e as pequenas<br />
guerras internas pelo poder. Mas,<br />
mesmo depois de ver tudo isto, de olhar<br />
de frente para uma realidade cruel,<br />
Adriano continuava a suspirar pela Terra,<br />
a Terra das grandes florestas tropicais e<br />
de todos aqueles animais lindos, uma<br />
Terra que já não existia a não ser nos<br />
seus sonhos de menino doce, porque<br />
não acreditava que o homem podesse<br />
destruir algo de tão belo e escolher o<br />
cinzento frio da Lua ao invés do ar fresco<br />
das montanhas e do calor do Sol.<br />
- O Sol já não existe para ninguém.-<br />
Lamentava a mãe.<br />
- Eu quero ver o sol na Terra mãe, levame<br />
a ver o Sol!<br />
A senhora desgostosa já não sabia o<br />
que fazer para acabar com a obcessão<br />
do seu querido filho, que lhe era precioso<br />
acima de todas as coisas, sem lhe dar<br />
um desgosto. Pediu conselho a seu pai e<br />
este sábio senhor, muito resoluto<br />
decidiu:<br />
- Ele quer ir à Terra, então eu levo-o!<br />
- Mas pai, como o pode levar?<br />
- Filha, há muito tempo que decidi que<br />
não ia morrer sem voltar a pisar o chão<br />
onde nasci, tenho algumas economias<br />
de parte para esse efeito, vou apenas<br />
um pouco mais cedo do que esperava e<br />
com companhia.<br />
- Mas será sensato?<br />
- Depois de ele ver e sentir na pele<br />
realmente o esterco que aquilo é,<br />
Adriano não vai voltar a suspirar pela<br />
Terra, nunca mais! Garanto isso!<br />
E o Adriano foi à Terra com o avô.<br />
Em trinta anos era a primeira criança da<br />
Lua a ir à Terra, e todos estavam<br />
entusiasmados com isso. Todos queriam<br />
alguma coisa, os seus amiginhos da<br />
escola, professores, vizinhos e até<br />
desconhecidos iam bater-lhe à porta<br />
para pedir qualquer coisa. Uma menina<br />
queria um cão, sabia que havia muitos<br />
cães na Terra, a maior parte sem dono e<br />
na Lua eram tão caros que só os ricos os<br />
podiam ter, mais por capricho do que por