REVISTA GALERIA POR MÁRCIA TRAVESSONI - EDIÇÃO #09
Zelma Madeira - A força inspiradora que defende a luta contra o racismo como causa urgente e coletiva A atuação renovadora de Fábio Zech + Cultura, Decoração, Estilo, Empreendedorismo e Gastronomia
Zelma Madeira - A força inspiradora que defende a luta contra o racismo como causa urgente e coletiva
A atuação renovadora de Fábio Zech
+ Cultura, Decoração, Estilo, Empreendedorismo e Gastronomia
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O<br />
combate ao racismo, no Brasil, deve existir de forma individual,<br />
mas também em dimensões coletivas, com alianças entre as<br />
pessoas, proporcionando revoluções cotidianas, com o objetivo<br />
de modificar as estruturas e as relações sociais brasileiras.<br />
Essa definição, bem direta, é da professora da Universidade<br />
Estadual do Ceará (Uece) e titular da Coordenadoria Especial<br />
de Políticas Públicas para a Promoção da Igualdade Racial do Estado<br />
Ceará (Ceppir), Zelma Madeira. “Eu penso que ainda vamos percorrer<br />
muitos anos, décadas. Porque o combate ao racismo não é só meu como<br />
mulher negra, é de todo mundo, é um problema planetário. Mas sou<br />
esperançosa”, diz Zelma, pontuando que as funções que ela desempenha,<br />
enquanto professora e gestora, a fazem acreditar que é possível alterar<br />
essas estruturas. “Nossa luta vem de longe, e precisa de solidariedade.<br />
Preciso de alianças para que eu possa me fazer forte. Acredito na<br />
construção de um outro mundo, mesmo com todas essas dificuldades,<br />
mas não é algo otimista no abstrato, preciso de muito esforço, de luta,<br />
de correlações de força”, garante ela.<br />
De acordo com Zelma, é preciso ultrapassar a ideia que define apenas<br />
a existência do racismo. “Enquanto a gente vai só detectando que tem<br />
racismo, está bom, o problema é a mudança de lugares, porque eles<br />
já estão estruturados política e economicamente. Se você mexe com<br />
essa realidade, incomoda, porque está tentando alterar esse lugar de<br />
privilégio que está há 500 e poucos anos. Falta essa solidariedade e<br />
reconhecimento de que, ao longo de todos esses anos, apenas alguns<br />
tiveram vantagem”, assegura. A disparidade gerada pela cultura racista<br />
vai muito além dessa definição de lugares e tem reflexos de grandes<br />
proporções: a coordenadora afirma que os negros convivem diariamente<br />
com violências, desde o preconceito, passando por xingamentos e até a<br />
morte. Nem mesmo o aumento da escolaridade e a mudança de vida para<br />
melhor de muitos negros os impedem de sofrer, o que reforça a questão<br />
do racismo. “Claro que meu posicionamento de classe mudou muito,<br />
mas isso não me retira, não me coloca em uma posição de destaque que<br />
faça com que eu não sofra o racismo. Eu sofro racismo todo os dias da<br />
minha vida”, reitera.<br />
Em março deste ano, Zelma teve atuação na sociedade cearense<br />
reconhecida ao ganhar o Prêmio RioMar Mulher 2018, na categoria de<br />
Justiça e Cidadania. “Representou muito para mim e eu fiquei feliz,<br />
porque é realmente isso que eu trabalho: com a justiça e a cidadania<br />
mesmo”, destaca a professora, que foi a escolhida para discursar na<br />
cerimônia, representando todas as mulheres homenageadas no evento.<br />
TEMPO DE AÇÃO<br />
Mas, para ela, não bastam apenas as congratulações e homenagens.<br />
“Que esse reconhecimento sirva como uma ponte para a gente poder<br />
não só constatar que tem racismo e que eu tenho uma trajetória de luta,<br />
mas que a gente possa transformar isso em ação. Porque não podemos<br />
mais só nos assustar diante do racismo, precisamos mudar essa realidade.<br />
Temos a necessidade de que as ações de promoção da igualdade racial<br />
aconteçam. Temos ações repressivas, que afirmam que o racismo é<br />
crime e tem legislação, temos as valorizativas, que são de orientar para<br />
uma educação não racista e, por fim, as ações afirmativas, que são as<br />
de afirmar aquele segmento enquanto ele precisa, porque é um tempo<br />
determinado. Caminhos nós temos, só não podemos mais ficar só na<br />
sensibilização. Estamos no momento de agir”, combate Zelma.<br />
46 <strong>GALERIA</strong> CAPA 47